Candidatos a asilo estão incrementando o uso de táticas como greve de fome, ações na justiça e ameaças do uso de violência na tentativa de forçar as autoridades alemãs a aceitarem uma série cada vez maior de exigências.
Muitos migrantes, insatisfeitos com as condições de vida nos abrigos para refugiados da Alemanha, estão exigindo que lhes sejam fornecidos imediatamente casas ou apartamentos. Já outros estão furiosos porque os burocratas alemães estão demorando muito para processarem seus pedidos de asilo. E há também os descontentes em relação aos atrasos quanto a obtenção dos estipêndios da assistência social.
Embora a maioria dos candidatos a asilo na Alemanha tenham um teto para se abrigar, recebem três refeições por dia, bem como roupas e assistência médica, tudo gratuitamente, muitos ainda exigem: mais dinheiro, camas mais confortáveis, mais água quente, mais comida típica de seus países de origem, mais instalações recreativas, mais privacidade e, como não podia deixar de ser, suas próprias moradias.
Segundo estimativas do governo, a Alemanha irá receber nada menos que 1,5 milhão de candidatos a asilo em 2015, incluindo 920.000 somente no último trimestre de 2015. Esse número equivale praticamente ao dobro da estimativa anterior, realizada no mês de agosto desse ano, que projetava 800.000 candidatos a asilo para todo o ano de 2015. A título de comparação, a Alemanha abrigou 202.000 pessoas nos doze meses de 2014.
Considerando que os abrigos para refugiados espalhados pelo país já atingiram sua capacidade máxima e que mais de 10.000 novos migrantes ingressam na Alemanha todos os dias, a Alemanha luta para cuidar de todos os recém-chegados, muitos dos quais mostram ser hóspedes impacientes e mal-agradecidos.
Em Berlim, 20 candidatos a asilo processaram a Agência Estatal da Saúde e Bem-Estar Social (Landesamt für Gesundheit und Soziales, Lageso) na tentativa de forçar as autoridades locais a acelerarem o pagamento dos benefícios do bem-estar social.
Berlim espera receber 50.000 candidatos a asilo em 2015. Os contribuintes alemães irão desembolsar 600 milhões de euros (US$680 milhões) para custear a subsistência deles.
Também em Berlim, mais de 40 migrantes, em sua maioria do Paquistão, tomaram o controle do observatório da torre de televisão da cidade exigindo a suspensão das deportações, emprego e o fim da residência compulsória (Residenzpflicht), um requisito legal dispondo que os candidatos a asilo residam em determinadas áreas, definidas pelas autoridades da imigração. Mais de 100 policiais foram enviados à torre de televisão para retirar os manifestantes. Após serem interrogados, eles foram liberados. A polícia informou que não foi cometido nenhum crime pelo fato dos migrantes terem comprado ingressos para visitarem o observatório, que fica a uma altura de aproximadamente 200 metros acima da capital alemã.
No distrito de Kreuzberg em Berlim, mais de 400 migrantes, em sua maioria procedentes da África, ocuparam uma escola abandonada porque eles não queriam mais viver em tendas na praça ao lado. Quando 900 policiais chegaram para desocupar o edifício, alguns migrantes jogaram gasolina no interior do prédio da escola e ameaçaram atear fogo em si mesmos, enquanto outros ameaçavam pular do telhado. "No momento estamos negociando com as autoridades locais sobre o que fazer", segundo declarou um migrante sudanês chamado Mohammed. "Nós não arredaremos pé até que nossas exigências sejam atendidas (emendar as leis de asilo da Alemanha de modo que eles possam permanecer no país)".
Em Dortmund, 125 migrantes se queixaram das "catastróficas condições" nas dependências do ginásio de esportes de Brügmann, que agora tem a função de abrigar refugiados. A lista de reclamações inclui: comida ruim, camas desconfortáveis e falta de chuveiros.
Poucas horas após chegarem à municipalidade de Fuldatal, 40 candidatos a asilo procedentes do Afeganistão, Paquistão e Síria começaram a se queixar sobre as condições existentes no abrigo e exigiram que lhes fossem entregues suas próprias moradias. O coordenador regional para refugiados Hans-Joachim Ulrich, disse que os migrantes estão indo para a Alemanha com expectativas fora da realidade. "Traficantes de seres humanos e a mídia na terra natal dos refugiados estão fazendo promessas que não correspondem à realidade", segundo ele.
Em Hamburgo, mais de 70 candidatos a asilo iniciaram uma greve de fome na tentativa de pressionar as autoridades locais a lhes fornecerem melhores moradias. "Estamos em greve de fome", declarou o refugiado sírio Awad Arbaakeat. "A cidade mentiu para nós. Ficamos chocados quando aqui chegamos". Os migrantes dizem que estavam furiosos porque tiveram que dormir em um grande armazém em vez de apartamentos privativos. Em Hamburgo, a segunda maior cidade da Alemanha, as autoridades afirmam que não há mais apartamentos desabitados.
Também em Hamburgo, mais de 100 migrantes se aglomeraram em frente a prefeitura para protestar contra a falta de aquecimento em seus abrigos. As autoridades municipais afirmam que elas foram pegas de surpresa pelo frio fora de hora e que todas as tendas serão equipadas com aquecimento antes do inverno. Segundo o Prefeito de Hamburgo Olaf Scholtz, cerca de 3.600 migrantes passarão o inverno deste ano em tendas devido a escassez de moradias na cidade.
De acordo com as autoridades de Hamburgo, 35.021 migrantes ingressaram na cidade nos primeiros nove meses de 2015. Nesse mesmo período, a polícia de Hamburgo foi enviada para os abrigos para refugiados mais de 1.000 vezes, incluindo 81 vezes para controlar tumultos, 93 vezes para investigar agressões físicas e assédio sexual e 28 vezes para impedir que migrantes cometessem suicídio.
Enquanto isso, um documento confidencial vazado para o jornal alemão Bild revela que o Departamento Estadual de Transito de Hamburgo (Hamburger Verkehrsverbund, HVV) determinou que os responsáveis pela fiscalização das passagens "façam vista grossa" sempre que encontrarem migrantes fazendo uso do transporte público sem as devidas passagens. A medida tem como objetivo proteger o HVV da "má publicidade".
Segundo o documento vazado, os fiscais deviam ser tolerantes com os candidatos a asilo porque muitos migrantes são "vítimas de falsificadores profissionais de bilhetes" e outros "mal têm conhecimento" da estrutura tarifária do HVV.
O especialista em meios de transporte da União Democrata Cristã (CDU) Dennis Thering, disse que a política do HVV não pode continuar do jeito que está. "Essa política de vista grossa tem que acabar. Em Hamburgo é possível adquirir bilhetes do HVV com desconto, esse desconto é concedido especialmente para aqueles que recebem benefícios segundo a Lei de Benefícios para Candidatos a Asilo". Cada refugiado recém-chegado recebe uma mesada de 149 euros, todos os meses. Isso inclui 25,15 euros especialmente destinados a aquisição de bilhetes para transporte.
Na cidade de Halle, quatro seguranças ficaram feridos ao tentarem impedir que uma multidão de candidatos a asilo da África e da Síria entrassem no gabinete de bem-estar social da cidade antes do expediente. Os migrantes que lá se encontravam para receber o pagamento de benefícios ficaram furiosos quando parecia que outros migrantes estavam cortando a fila. Mais tarde ficou claro que alguns migrantes estavam lá por outras razões e por isso não deveriam entrar naquela fila.
Em Munique, 30 migrantes iniciaram uma greve de fome para protestar contra os alojamentos coletivos nos abrigos para refugiados. Dois deles foram levados às pressas para o hospital após desmaiarem. "O estado de direito não pode aceitar ser chantageado", afirma Marcel Huber um político da Baviera. "Para esse tipo de atitude nossa tolerância é zero".
Em Nürnberg, seis migrantes do Afeganistão, Etiópia e Irã iniciaram uma greve de fome para protestar contra a rejeição de seus pedidos de asilo. Os grevistas, que estão alojados já há alguns meses em tendas no centro da cidade de Nürnberg, exigem conversar com as autoridades locais. Os pedidos de asilo foram rejeitados há seis anos, mas eles ainda permanecem na Alemanha.
Em Osnabrück, um candidato a asilo da Somália venceu uma ação judicial contra a Agência Alemã para Migrantes e Refugiados (Bundesamt für Migration und Flüchtlinge, BAMF) por demorar muito para processar seu pedido de asilo. O juiz determinou que a BAMF tome uma decisão sobre seu pedido de asilo no máximo em três meses ou então lhe forneça uma compensação financeira.
O homem disse que estava aguardando há 16 meses uma resposta da BAMF. Em sua defesa a BAMF disse estar no momento com um acúmulo de 250.000 pedidos não processados e espera que esse número vá disparar à medida que mais candidatos a asilo forem ingressando na Alemanha.
Um porta-voz do tribunal afirmou que a decisão abre um precedente e que provavelmente mais candidatos a asilo entrarão com ações na justiça contra a BAMF em futuro próximo.
Em Walldorf, uma cidade do Estado de Baden-Württemberg, um grupo de migrantes exigiu que as autoridades locais providenciassem imediatamente apartamentos privativos porque eles estavam cansados de viver em um abrigo para refugiados juntamente com outros 200 candidatos a asilo. O líder do grupo, um refugiado de 46 anos de idade da Síria, disse que ele esperava mais da Alemanha. Já está mais do que na hora dos alemães começarem a "nos tratar como seres humanos", disse ele.
Dando acompanhamento às reclamações, autoridades locais e estaduais inspecionaram o abrigo e constataram que ele estava em condições "totalmente aceitáveis", com espaços reservados para maior privacidade, além de comida e roupas à vontade.
Em Wetzlar, uma cidade no estado de Hesse, migrantes ameaçaram iniciar uma greve de fome na tentativa de forçar as autoridades locais a transferi-los para uma habitação permanente. As autoridades locais disseram que os atrasos se deviam a uma quarentena depois que vários migrantes foram diagnosticados com Hepatite A.
Em Zweibrücken, 50 candidatos a asilo procedentes da Síria iniciaram uma greve de fome para protestar contra o ritmo lento no processo de aprovação dos pedidos de asilo. "Nós temos condições de aceitar as condições de vida nos campos de refugiados, contudo, precisamos de esperança", disse um deles. As autoridades locais disseram que houve um colapso no processo de aprovação devido ao enorme número de pedidos.
Candidatos a asilo também entraram em greve de fome em Birkenfeld, Böhlen, Gelsenkirchen, Hannover, Walheim e Wittenberg.
Enquanto isso, professores na Gemeinschaftsschule St. Jürgen, uma escola primária na cidade de Lübeck localizada no norte da Alemanha, determinaram que alunos da oitava série passassem uma manhã no campo de refugiados local e "ajudassem" os migrantes arrumando suas camas, separando suas roupas e trabalhando na cozinha.
Alguns pais se queixaram que estão pedindo aos seus filhos que tragam presentes e alimentos para os refugiados, que já estão recebendo auxílio financiado pelos contribuintes alemães. Uma senhora salienta: "às vezes eu não sei nem como fazer para colocar comida na minha própria mesa".
Outra senhora assinala: "isso está indo longe demais. Espera-se que os alunos arrumem as camas e façam a limpeza em abrigos para refugiados. Estão mandando que o filho de 14 anos de idade de um amigo meu faça esse trabalho!!! Não sou nenhum agitador, sou tolerante, mas isso está indo longe demais. Há um novo curso nas escolas de Lübeck chamado: escravidão???
O diretor da escola Stefan Pabst disse que a reação negativa é uma "catástrofe". Ele disse que fazer com que as crianças trabalharem em um abrigo para refugiados é a melhor maneira delas "compreenderem o comportamento social". A revista alemã Stern se mostrou contrariada alegando que os pais que discordavam da ideia de crianças trabalharem em abrigos pertenciam a "círculos da direita" e que estavam "espalhando slogans absurdos".
Em Bad Kreuznach, uma família de candidatos a asilo da Síria marcou um encontro para avaliar um imóvel de quatro quartos para alugar, mas a dita família se recusou a visitar a casa porque a profissional era do sexo feminino. Aline Kern a corretora conta que:
"Um dos homens que falava um alemão macarrônico, disse que eles não estavam interessados em ver o imóvel porque eu era uma mulher, loira e também porque eu olhava nos olhos deles. Que era um despropósito terem enviado uma mulher. Minha empresa deveria ter enviado um homem para mostrar o imóvel.
"Fiquei perplexa. Queremos ajudar e somos desprezados, indesejados em nosso próprio país".
Em Idar-Oberstein, uma cidade do Estado de Rhineland-Palatinate, um imã de um abrigo para refugiados se recusou a apertar a mão de Julia Klöckner, uma autoridade pública que visitava o abrigo porque se tratava de uma mulher. Depois que Klöckner, vice-presidente da União Democrata Cristã (CDU), compartilhou com a revista alemã Focus o que ela tinha passado, ela recebeu mais de 800 e-mails de mulheres do país inteiro retratando como elas também já foram destratadas por migrantes muçulmanos.
Klöckner está exigindo que a Alemanha aprove uma nova lei que obrigue migrantes e refugiados a se integrarem na sociedade alemã. Ela disse o seguinte: "precisamos de uma lei de integração. Nosso país é livre e liberal. Se nós desistirmos dos fundamentos da nossa liberalidade, iremos acordar em um país diferente".
Klöckner insiste que os migrantes devem ser informados sobre "as regras do jogo" na Alemanha, já no primeiro dia que chegam ao país. "É necessário que aqueles que querem aqui ficar estejam cônscios, desde o primeiro dia, que devem aceitar e saber que nesse país as religiões coexistem pacificamente e que não é aceitável o uso da força para resolver conflitos", disse ela.
Uma mulher contou como homens muçulmanos cortaram a fila, repetidas vezes, em um caixa de um supermercado. "Enquanto eu estava fazendo as compras em um supermercado alemão, me foi mostrado que eu era cidadã de segunda classe", ela assinalou. Em uma ocasião, um muçulmano adulto com um carrinho repleto de mercadorias furou a fila bem na frente dela. Em um alemão macarrônico ele disse o seguinte: "eu homem. Você mulher. Eu primeiro". Em outra ocasião, um jovem muçulmano deu uma cotovelada em uma mulher enquanto furava a fila na frente dela. "Quando eu disse a ele que eu o deixaria passar na frente se ele me pedisse, sua irmã me informou que rapazes não precisam pedir nada, eles exigem a ponto final".
Uma professora de uma escola vocacional salienta: "os alunos mais problemáticos são os jovens do sexo masculino, que não admitem a autoridade das professoras e que fazem algazarras durante as aulas".
Uma mãe reporta que quando visitava a escola da filha, ela se aproximou de uma mulher, refugiada, toda coberta por um véu e perguntou se ela poderia ajudá-la. "Um homem vestindo um terno impecável e barba por fazer, parecendo ter saído de uma revista de moda da Hugo Boss, se aproximou e disse: minha esposa não fala a língua dos impuros. Quando perguntei quem aqui era impuro, ele respondeu que era eu. Eu lhe perguntei o que isso queria dizer. Ele respondeu que não era nada pessoal contra a minha pessoa, isso porque todos os alemães são impuros e que a esposa dele não deve falar o idioma dos impuros, para que ela possa permanecer pura".
Em Berlim, mais de 150 jovens migrantes do norte da África e da Europa Oriental têm como ocupação, em período integral, arrancar bolsas dos transeuntes e bater carteiras. Também conhecidas como klau-kids (crianças ladras), elas publicam posts dos produtos de seus roubos (smartphones, laptops, óculos escuros de grife) na Internet, provavelmente para provocar a polícia. Um garoto de 16 anos de idade conhecido como Ismat O. foi detido mais de 20 vezes sob suspeita de roubo, mas foi liberado todas as vezes. Walid K. foi detido mais de 10 vezes, também sempre foi liberado.
De acordo com o diretor do sindicato de polícia de Berlim Bodo Pfalzgraf, "não dá para entender que criminosos contumazes desse tipo não sejam mantidos em prisão preventiva". A polícia diz que os jovens são liberados porque os juízes alemães não estão preparados para emitir mandados de prisão para pequenos delitos como roubos de bolsas. E por enquanto, jovens só podem ser deportados se tiverem sido sentenciados a pelo menos três anos de prisão.
Na Bavaria, a Câmara de Comércio de Munique (Handwerkskammer München und Oberbayern) reportou que 70% dos migrantes do Afeganistão, Iraque e Síria que participaram de programas para trainees não completaram o estágio. Normalmente a desistência média é de 25%. Segundo o diretor da câmara Lothar Semper, muitos migrantes mais jovens acreditam que eles estão acima dos programas de aprendizado. "Temos que dedicar um esforço descomunal para convencer os jovens a ingressarem em um programa de aprendizado", disse ele. "Muitos alimentam a expectativa de rapidamente ganharem muito dinheiro na Alemanha".
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter. Seu primeiro livro, Global Fire, estará nas livrarias no início de 2016.