Alguns manifestantes banalizavam o Holocausto ao se colocarem no mesmo patamar dos judeus perseguidos pelo regime nazista e ao se referirem a si próprios como combatentes da resistência que se opõem a um governo hipoteticamente não democrático. Entre os manifestantes também havia aqueles que alegavam que as quarentenas impostas pelo governo eram idênticas aos campos de prisioneiros da era nazista Foto: um manifestante com um cartaz comparando a Lei de Proteção ao Cidadão do governo da Chanceler Angela Merkel ao Decreto para a Proteção do Povo e do Estado de 1933 de Adolf Hitler, enquanto a polícia dispersa uma manifestação contra as medidas destinadas a limitar a disseminação do coronavírus, em 18 de novembro de 2020 em Berlim. (Foto: Tobias Schwarz/AFP via Getty Images) |
Um sem-número de crimes de ódio antissemita atingiu o auge de duas décadas em 2020 na Alemanha, de acordo com novas estatísticas divulgadas pelo governo alemão. O antissemitismo na Alemanha vem aumentando gradativamente nos últimos anos, alimentado em parte por ativistas anti-Israel de extrema esquerda e pela migração em massa do mundo muçulmano. Agora o problema está sendo exacerbado pela pandemia do Coronavírus, que os teóricos da conspiração de extrema direita estão culpando os judeus e Israel.
A polícia alemã reportou um total de 2.275 crimes de ódio antissemita, seis por dia em média em 2020, de acordo com dados preliminares fornecidos pelo governo federal. Este número representa um aumento de mais de 10% em relação ao mesmo período do ano passado no número de crimes antissemitas, o que por si só já foi um recorde para esse tipo de crime. Os dados oficiais representam apenas e tão somente os crimes com registros de boletim de ocorrência, o número verdadeiro de incidentes é provavelmente muito mais alto.
Os novos dados, publicados em 11 de fevereiro pelo jornal Tagesspiegel, mostram que a polícia conseguiu identificar 1.367 suspeitos, no entanto somente cinco pessoas foram presas. As estatísticas também mostram que 55 (cerca de 2,5%) dos crimes envolveram violência. Isto sugere que a maioria dos demais incidentes envolveram discurso de ódio antissemita na Internet, danos à propriedade ou crimes de propaganda, como pichações antissemitas.
O número de crimes antissemitas registrados em 2020 foi o maior desde que a Polícia Federal Criminal (Bundeskriminalamt, BKA) introduziu o assim chamado sistema de gravação para Crimes de Motivação Política (Politisch motivierte Kriminalität, PMK) em 2001.
Identificando os Criminosos
Ainda não está claro porque um número infinitesimal de criminosos pagou pelos seus crimes, acima de tudo quando funcionários do governo afirmam reiteradamente que combater o antissemitismo é prioridade máxima. Uma razão talvez seja por ser politicamente incorreto identificar os verdadeiros suspeitos.
As estatísticas sobre o antissemitismo de 2020 não incluem informações sobre o background dos criminosos. O Tagesspiegel, para variar, como é comum nos meios de comunicação alemães, automaticamente culpa a extrema direita:
"Do ponto de vista da polícia, a maioria dos crimes antissemitas pode ser atribuída a criminosos de direita. Islamistas, esquerdistas e outros que odeiam judeus aparecem apenas como minúscula minoria nas estatísticas."
Estudos independentes, no entanto, constataram que extremistas de direita foram responsáveis por somente uma fração dos ataques antissemitas ocorridos na Alemanha nos últimos anos. O Departamento de Pesquisa e Informação sobre o Antissemitismo, com sede em Berlim (Recherche- und Informationsstelle Antisemitismus, RIAS), por exemplo, relatou que a extrema direita foi responsável por menos de 20% dos crimes de ódio antissemitas em Berlim em 2018.
Um levantamento realizado em 2017 sobre judeus alemães conduzido pela Universidade de Bielefeld constatou que 60% dos ataques antissemitas teriam sido perpetrados por muçulmanos, em comparação com 19% perpetrados por radicais de extrema esquerda e também 19% por perpetradores de extrema direita. Segundo consta, os muçulmanos também são responsáveis por 81% dos ataques antissemitas envolvendo violência física. O levantamento constatou que 70% dos judeus alemães acreditam que a migração em massa do mundo muçulmano jogou mais lenha na fogueira do antissemitismo na Alemanha.
Mesmo assim, a polícia alemã, provavelmente atuando segundo as ordens das autoridades políticas, sistematicamente atribui os crimes de ódio antissemita não resolvidos à extrema direita. Em um caso bastante conhecido, a polícia culpou extremistas de extrema direita por entoar as palavras de ordem nazistas "Sieg Heil" em um comício islamista al-Quds em Berlim.
O diretor da RIAS, Benjamin Steinitz, ressaltou que palavras de ordem do tipo "Sieg Heil "ou" fora judeus", que são automaticamente atribuídos a extremistas de direita, também são muito usadas nos meios islamistas. Ele ainda frisou que a maioria dos incidentes antissemitas são atribuídos a cidadãos alemães, mas as estatísticas não revelam se eles são imigrantes muçulmanos que obtiveram a cidadania alemã.
Um estudo de abril de 2017 do Grupo de Especialistas Independentes acerca do Antissemitismo (Unabhängigen Expertenkreises Antisemitismus), que assessora o governo alemão, apurou que:
"os crimes xenófobos e antissemitas são sempre atribuídos à extrema direita se não der para obter mais detalhes e se nenhum suspeito for encontrado. Isso poderá ter como consequência uma imagem distorcida da motivação para o crime e também dos culpados."
Em maio de 2019, depois que o Ministério do Interior alemão atribuiu 90% dos ataques antissemitas ocorridos na Alemanha a perpetradores de "direita", o influente blog alemão Tichys Einblick publicou o seguinte:
"Houve uma escalada exponencial no número de ataques antissemitas na Alemanha atingindo um patamar alarmante... Entre estes ataques antissemitas se encontram pichações ou danos materiais, ameaças contra judeus ou agressões físicas violentas. O antissemitismo é vergonhoso para o país inteiro. Segundo as estatísticas, 90% dos crimes são cometidos por extremistas de direita. Contudo... a maioria dos culpados se escondem atrás do anonimato e não são pegos nunca. Como saber se uma pichação com suástica ou um insulto a judeus vem de sicrano ou de beltrano alemão de direita? A polícia meramente 'acha' que é assim."
"Somente de uns tempos para cá, um inquérito parlamentar revelou que uma grande parcela dos crimes antissemitas na Alemanha, 120 de 253 casos, foram atribuídos à 'direita' nas estatísticas, muito embora a motivação dos criminosos seja desconhecida..."
"O conhecido historiador e especialista em antissemitismo Michael Wolfssohn classificou o antissemitismo muçulmano como a ameaça mais perigosa para os judeus tanto na Alemanha quanto na Europa."
"Por que a maioria dos ataques antissemitas são atribuídos aos alemães de 'direita'? Dá para desconfiar de motivação política por trás disso, o recrudescimento do antissemitismo pode ser usado politicamente como arma 'contra a direita'."
Em julho de 2019, depois que a polícia forneceu ao senado alemão estatísticas imprecisas sobre os responsáveis pelos crimes de ódio antissemitas, o jornal Die Welt salientou:
"há muito tempo que ocorrem críticas de especialistas de que a atribuição da vasta maioria dos casos de antissemitismo a extremistas de direita é incorreta e que a outros grupos de marginais, como por exemplo, nos círculos islamistas e muçulmanos, é dada pequeníssima atenção."
Em janeiro de 2021, o Ministério de Assuntos da Diáspora de Israel assinalou o seguinte em relação ao antissemitismo na Alemanha:
"Não é raro a polícia sequer interferir em incidentes antissemitas e somente ficar assistindo de camarote. Na maioria dos casos os policiais não reagem porque não se dão conta de que está ocorrendo um incidente antissemita ou não entendem que fazer declarações antissemitas seja problemático e, portanto, não veem nenhum motivo para interferirem. Esta falta de conscientização também contribui para o fato da maioria das reclamações das vítimas de crimes antissemitas não ser levada em frente pela polícia."
"Concomitantemente, a polícia continua atribuindo incidentes antissemitas à 'direita' quando os fatos não são esclarecidos e quando ninguém sabe sequer quem são os suspeitos. Os informes do Bundestag (Parlamento), que se baseiam em dados fornecidos pela polícia, atribuem a esmagadora maioria (94%) dos incidentes a motivação de direita. A exemplo de anos anteriores, estes dados estão sendo contestados por organizações que monitoram o antissemitismo: políticos, líderes judeus e especialistas em antissemitismo, bem como o Comissário Federal para o antissemitismo, que argumentam que o sistema policial de categorizar incidentes resulta numa imagem distorcida sobre a motivação e sobre o círculo dos criminosos e que, portanto, dificulta a formulação de políticas eficazes."
Em 2020 o incidente antissemita que mais chamou a atenção na Alemanha envolveu o Rabino Chefe de Munique, Shmuel Aharon Brodman. Em 9 de julho, ao descer de um bonde, foi agredido verbalmente por quatro homens que o insultaram e fizeram comentários depreciativos sobre o Estado de Israel. De acordo com Brodman, os homens falavam inglês e árabe. Mais tarde a polícia salientou que os supostos suspeitos tinham entre 20 e 30 anos de idade e que eram de descendência árabe.
Para que não paire nenhuma dúvida no ar, a extrema direita também tem sua parcela de culpa pelo antissemitismo na Alemanha, mas não toda a culpa, como se alardeia por aí. Uma das principais estudiosas do antissemitismo da Alemanha, Monica Schwarz-Friesel, observa que o que torna a extrema direita particularmente assustadora e, portanto, mais chamativa, é o fato dela ser completamente aberta quanto ao seu ódio aos judeus e a Israel. Em contrapartida, salienta ela, os que odeiam judeus na extrema esquerda tendem a ocultar seu antissemitismo sob o disfarce de antissionismo e ativismo palestino.
Antissemitismo relacionado ao Coronavírus
A escalada do antissemitismo na Alemanha em 2020 também está relacionada à pandemia do Coronavírus, que grupos periféricos usam como pretexto para disseminar teorias da conspiração antissemitas. Algumas das teorias da conspiração equivalem aos bodes expiatórios medievais antijudaicos requentados em uma nova rotulagem adequada para uma pandemia moderna. Uma sustentação comum é que os judeus fabricaram o Coronavírus para propagar seu suposto controle global.
Em grande medida o antissemitismo relacionado ao Coronavírus é disseminado na Internet. Uma avaliação abrangente sobre o antissemitismo relacionada ao Coronavírus na Alemanha pode ser acessada clicando em 2020 Annual Report on Anti-Semitism publicado pelo Ministério de Assuntos da Diáspora de Israel em 27 de janeiro de 2021:
"Em 2020, um total de 42,3 mil postagens alemãs, escritas por 11,24 mil usuários, foram categorizadas como antissemitas pelo ACMS (Sistema de Monitoramento Cibernético do Antissemitismo). O novo antissemitismo (manifestado pela oposição ao sionismo e crítica ao governo israelense, 39,1%) e o antissemitismo clássico (manifestado pela demonização dos judeus, teorias da conspiração judaica e chamamento à violência explícita contra os judeus, 40,5%) representaram quase a mesma parcela do discurso antissemita e a negação e distorção do Holocausto representaram 20,4%..."
"O volume de postagens banalizando o Holocausto e de teorias da conspiração antissemitas com respeito à Covid-19 tem aumentado desde o mês de março. Os tipos mais comuns de postagens antissemitas estão relacionados a diferentes formas de teorias da conspiração e entre elas 53,4% continham o antissemitismo clássico..."
"Entre as máximas antissemitas feitas sob medida encontram-se teorias acerca da 'influência judaica' e alardeamentos de que a pandemia atende aos interesses dos judeus de acumular enormes lucros com as vacinas e, assim, assumir o controle da economia mundial e, ao fim e ao cabo, a dominação mundial..."
"Destacadas personalidades judaicas, como membros da família Rothschild ou de George Soros, chamados de patrocinadores, mentores ou tubarões da pandemia por causa de sua pretensa influência na indústria farmacêutica."
"Os antivacinas também comparam as pretensas 'estações de vacinação' a Auschwitz e afirmam que a polícia está elaborando uma ditadura que perseguirá aqueles que se recusarem a tomar vacina e os enviarão a campos de concentração..."
Protestos ao Combate ao Coronavírus
A exemplo de outros países europeus, os governos central e local da Alemanha tentam conter a pandemia com lockdowns além de rigorosas restrições para evitar aglomerações. As medidas de distanciamento social ampliadas, que causaram acentuados problemas econômicos e financeiros, geraram protestos antigovernamentais.
Os alemães que se opõem aos lockdowns impostos pelo governo se encontram em todas as vertentes políticas: esta não é uma questão estritamente de esquerda ou de direita e sim quanto à liberdade de expressão e liberdade de reunião para protestar contra o que muitos entendem ser um ataque massivo do governo às liberdades civis.
Algumas manifestações estão sendo organizadas por um pequeno, porém crescente movimento popular chamado Querdenker ("Pensadores Não Convencionais" ou "Pensadores Out-of-the-Box") que se opõe à "ditadura Merkill Corona" da chanceler alemã Angela Merkel.
O movimento Querdenker foi fundado por Michael Ballweg, um empresário do ramo de software sediado em Stuttgart, com o objetivo de pressionar o governo de Merkel para levantar as restrições relacionadas ao Coronavírus em relação aos direitos constitucionais básicos. O manifesto salienta:
"não arredamos pé quanto ao respeito aos primeiros 20 artigos de nossa constituição: direitos humanos, direitos individuais, liberdade de crença e consciência, liberdade de opinião, liberdade de reunião, liberdade de ir e vir. Somos apartidários e não excluímos nenhuma opinião".
O movimento, que já conta com 70 unidades espalhadas por toda a Alemanha, organizou mais de 100 manifestações contra as medidas restritivas relacionadas ao Coronavírus que, de acordo com o grupo, tiveram a participação de pelo menos 100 mil pessoas.
Uma das maiores manifestações do Querdenker até o momento ocorreu em Berlim em 29 de agosto de 2020. Cerca de 40 mil pessoas, entre elas: libertários, constitucionalistas, verdes, esotéricos, naturopatas, ativistas LGBT, negadores da pandemia, ativistas antivacinas e antimáscara e famílias com crianças, se aglomeraram para protestar contra as políticas do governo relacionadas Coronavírus. Os protestos descambaram para a violência quando houve a infiltração de centenas de agitadores de extrema direita balançando bandeiras da era nazista.
Desde então, foram relatados dezenas de incidentes antissemitas nestes comícios. Manifestantes foram vistos usando camisetas com estrelas amarelas da era nazista, nas quais a palavra "judeu" foi substituída por "não vacinado". Outros carregavam cartazes com os seguintes dizeres: "A Vacinação Liberta", uma referência ao slogan "O Trabalho Liberta" colocado na entrada do campo de concentração de Auschwitz. Alguns se referiam à "solução final da questão Corona", bem como à "vacinação em Dachau".
Outros manifestantes banalizavam o Holocausto ao se colocarem no mesmo patamar dos judeus perseguidos pelo regime nazista e ao se referirem a si próprios como combatentes da resistência que se opõem a um governo hipoteticamente não democrático. Entre os manifestantes também havia aqueles que alegavam que as quarentenas impostas pelo governo eram idênticas aos campos de prisioneiros da era nazista. Já outros ressaltavam que depois de ficarem em quarentena, agora sabiam como Anne Frank se sentia.
"A comparação das providências tomadas para conter a pandemia com o Holocausto, o Shoah (Holocausto) está sendo banalizado", salientou Alexander Rasumny da RIAS. "Esse tipo de coisa é dolorosa para todos que têm um ponto de referência pessoal em relação ao Shoah, na realidade, para todos os judeus."
O Ministro das Relações Exteriores Heiko Maas alertou recentemente que muitas das teorias da conspiração sobre a pandemia do Coronavírus não deixaram dúvidas: "mesmo hoje, o antissemitismo não é apenas um fenômeno existente nos rincões da extrema-direita. Ele marca presença no coração da nossa sociedade."
Felix Klein, comissário do governo alemão encarregado de monitorar o antissemitismo, avisou que a pandemia do Coronavírus está virando solo fértil para a agitação antissemita:
"Lamentavelmente, não causa espécie que os judeus e Israel sejam os principais alvos. O discurso de ódio antissemita se espalha rapidamente na Internet e, em particular, nas plataformas das redes sociais."
"Estamos falando aqui sobre o controle da economia mundial pelos judeus, lucros judaicos de uma provável vacina, armas biológicas desenvolvidas por Israel ou uma cartada judaica para reduzir a população mundial. Estão irrompendo as formas mais afrontosas de antissemitismo."
"O passado mostrou de forma trágica que palavras podem se transformar em ações. Convocamos todo e qualquer indivíduo a interceder e relatar aos operadores das plataformas qualquer difamação antissemita."
A Ministra da Justiça, Christine Lambrecht anunciou providências mais abrangentes a respeito de comentários contra judeus na Internet. "Exigiremos mais responsabilidade das plataformas digitais. Elas não podem aceitar que sejam usadas para agitação e disseminação de teorias da conspiração."
Nesse ínterim, o analista alemão Stefan Frank esmiuçou como a mídia de esquerda na Alemanha e em outros lugares também são responsáveis por promover memes anti-Israel e antissionistas relacionados à pandemia:
"Na mídia, ativistas anti-Israel estão no momento fazendo uma campanha com bombásticas fake news cujo objetivo é dar ao público a falsa informação de que os palestinos não estão sendo vacinados e que a culpa é de Israel. Não é só a AP e a ZDF, mas também um sem-número de outros estão envolvidos..."
"Por trás disso não está apenas a aversão generalizada a Israel, mas também a sagaz estratégia de nunca relatar nada de positivo em relação a Israel. Se a vacinação começou em Israel, os leitores poderão achar que é uma coisa boa. É por isso que a mensagem tem que ser diametralmente oposta, omitindo informações relevantes, distorcendo-as e disseminando mentiras deslavadas."
Comentários Seletivos
O Relatório Anual de 2020 sobre o Antissemitismo publicado pelo Ministério de Assuntos da Diáspora de Israel em 27 de janeiro de 2021 observa:
"Em 2021, a Alemanha celebrará 1.700 anos de vida judaica em seu território (a primeira evidência documental de assentamento de comunidades judaicas ao norte dos Alpes ocorreu no ano 321. Em um Édito, o Imperador Constantino permitiu que o magistrado de Colônia aceitasse membros judeus), mas ainda se vê às voltas com o antissemitismo..."
"Identificamos um salto astronômico quanto à exposição à narrativa de teorias da conspiração, que alegam que os judeus buscam lucrar com o Coronavírus por meio da indústria farmacêutica, que os judeus foram desproporcionalmente responsáveis pela disseminação do vírus ou que os judeus estão usando o vírus para criar uma Nova Ordem Mundial que irá endurecer seu controle sobre as economias mundiais. Os antivacinas usavam estrelas amarelas em manifestações e as postaram em seus perfis nas redes sociais, comparando as restrições em relação ao coronavírus às restrições nazistas impostas aos judeus durante o Holocausto, ao mesmo tempo que afirmavam que estavam sendo conduzidos à vacinação como ovelhas ao abate.'"
Josef Schuster, presidente do Comitê Central dos Judeus na Alemanha, assinalou:
"em vista dos inúmeros incidentes antissemitas ocorridos nas manifestações de negação do Corona no ano passado e dos mitos da conspiração na Internet, infelizmente era de se esperar que o número de crimes antissemitas aumentasse novamente. Agora se trata de uma triste certeza. As estatísticas preliminares mostram que a radicalização da sociedade está avançando e o respeito às minorias está despencando."
O Comissário Federal para o antissemitismo do governo alemão, Felix Klein, reforçou :
"A escalada no antissemitismo deve ser um alerta para nós. No decorrer dos assim chamados protestos Corona, os limites do que pode ser dito foram alterados, o Shoah foi relativizado e as conhecidas imagens de ódio antissemitas foram requentadas."
"O salto no número de crimes é um indubitável sinal de que a democracia precisa se defender, especialmente em crises como a pandemia ora em curso. A coesão social é medida, em especial aqui na Alemanha, pela firmeza com que nos posicionamos como nação contra o ódio aos judeus."
Em um ensaio no jornal Die Welt, "Mais de Dois Mil Crimes e só Cinco Prisões?", o colunista Henryk Broder concluiu:
"Com exceção de Bremen e Hamburgo, cada estado federal tem um 'oficial responsável por assuntos relacionados ao antissemitismo' e em Berlim há quatro. Todos concordam: 'não há lugar para o antissemitismo na Alemanha.' Consequências negativas do Iluminismo? Os que se apegam a teorias da conspiração podem se sentir tentados a acreditar em uma correlação, provavelmente até mesmo em uma causalidade: quanto mais o antissemitismo é combatido, mais ele se espalha. As campanhas de conscientização também podem ter consequências negativas. As pessoas fazem exatamente o contrário ao que são instruídas a fazer. Fumar, beber, ter relações sexuais sem proteção, ingerir alimentos saudáveis, dirigir acima dos limites de velocidade. É por isso, por exemplo, que suicídios são reportados com extrema cautela e ninguém deve ser encorajado a imitá-los."
"Se este também fosse o caso em relação ao antissemitismo, o conceito de antissemitismo teria que ser repensado. As receitas tradicionais mostraram ser de pouca ajuda: a leitura dos diários de Anne Frank, Elie Wiesel e Imre Kertész, visitas a campos de concentração e conversas com testemunhas contemporâneas. O filme 'A Lista de Schindler' chegou aos cinemas alemães em 1994 e teve mais de seis milhões (!) de espectadores. O filme 'mudou a imagem da ditadura nazista e a conscientização histórica do assassinato de judeus europeus '(Deutschlandfunk Kultur). Vista por este ângulo, a Alemanha deveria ter sido zona livre de antissemitismo há muito tempo, um modelo para o mundo inteiro, com um ministro das Relações Exteriores que 'entrou na política por causa de Auschwitz'. É muito ruim que não seja possível forçar a realidade a se comportar de acordo com a teoria."
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque.