Um exame mais minucioso sobre os padrões de votação da Alemanha nas Nações Unidas nos últimos anos, revela um preocupante duplo padrão de dois pesos e duas medidas em uma série de matérias, especialmente aquelas envolvendo direitos humanos que o governo alemão alega ser "a pedra angular" de sua política externa. Foto: Ministro das Relações Exteriores da Alemanha Heiko Maas (esquerda) e o Embaixador para as Nações Unidas Christoph Heusgen durante uma reunião no Conselho dos Direitos Humanos da ONU em 28 de março de 2018 em Nova Iorque. (Foto: Angela Weiss/AFP via Getty Images) |
O mandato de dois anos da Alemanha como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas terminou em 31 de dezembro de 2020. O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, ao se autoelogiar sobre as inúmeras realizações da sua atuação no sentido de "fortalecer a ordem internacional", declarou que a Alemanha agora fez por merecer um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Um exame mais minucioso sobre os padrões de votação da Alemanha nas Nações Unidas nos últimos anos, no entanto, revela um preocupante duplo padrão de dois pesos e duas medidas em uma série de matérias, especialmente aquelas envolvendo direitos humanos, que o governo alemão alega ser "a pedra angular" de sua política externa.
Os registros mostram que durante sua permanência no Conselho de Segurança da ONU, a Alemanha votou em dezenas de resoluções, muitas das quais ao sabor do antissemitismo, ao estigmatizar apenas e tão somente Israel, a única democracia no Oriente Médio.
As resoluções anti-Israel apoiadas pela Alemanha eram patrocinadas, via de regra por países muçulmanos não democráticos, como Argélia, Bahrein, Bangladesh, Brunei, República Federal dos Comoros, Djibouti, Egito, Indonésia, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Mali, Mauritânia, Marrocos, Namíbia, Nigéria, Omã, Catar, Arábia Saudita, Senegal, Sudão, Síria, Tanzânia, Tunísia, Emirados Árabes Unidos e Iêmen, bem como por ditaduras como Cuba, Coreia do Norte e Venezuela e pela Tailândia a serviço da China.
Além disso, a Alemanha permaneceu muda enquanto inúmeros e contumazes violadores dos direitos humanos, como China, Cuba, Líbia, Mauritânia, Paquistão, Rússia, Somália e Venezuela, entre outros, foram eleitos para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, órgão máximo de direitos humanos da ONU.
A Alemanha também votou a favor de resoluções condenando os Estados Unidos, que garantia não somente a segurança, estabilidade e prosperidade alemãs, como também as europeias.
Em 2020 a Alemanha votou 13 vezes condenando Israel, contudo sequer apresentou uma única resolução referente à situação dos direitos humanos na China, Cuba, Paquistão, Arábia Saudita, Turquia ou Venezuela, nem em relação a 175 outros países de acordo com o UN Watch, grupo não governamental, independente, com sede em Genebra, encarregado de defender os direitos do cidadão.
Uma das resoluções que a Alemanha votou a favor se referia ao Monte do Templo em Jerusalém ser chamado somente de Haram al-Sharif, seu nome muçulmano. O diretor executivo do UN Watch, Hillel Neuer, salientou:
"hoje a ONU mostrou desprezo tanto em relação ao judaísmo quanto ao cristianismo ao aprovar uma resolução que não faz nenhuma menção ao nome Monte do Templo, o local mais sagrado do judaísmo, sagrado para todos aqueles que veneram a Bíblia, no qual o antigo Templo era de importância central."
Em um comunicado à imprensa, o UN Watch também ressaltou:
"muito embora praticamente todos os países da UE tivessem votado a favor de 13 das 17 resoluções da AGNU (Assembleia Geral das Nações Unidas) que estigmatizavam apenas e tão somente Israel este ano, não apresentaram nem uma única resolução a favor dos ativistas dos direito (sic) das mulheres presas e torturadas na Arábia Saudita, artistas dissidentes presos em Cuba, jornalistas jogados atrás das grades na Turquia, minorias religiosas atacadas no Paquistão e membros da oposição perseguidos na Venezuela, onde mais de cinco milhões de pessoas fugiram da repressão governamental, da fome e do colapso econômico."
Em 2019, a Alemanha votou em 15 ocasiões a favor da condenação de Israel e não apresentou nenhuma condenação a violadores de direitos humanos, como China, Cuba, Paquistão, Arábia Saudita, Turquia e Venezuela, de acordo com o UN Watch. Um dos textos aprovados pela Alemanha denota Israel "ocupando" o bairro judeu de Jerusalém e os locais mais sagrados do judaísmo.
Em 15 de novembro, em um só dia, a Alemanha votou a favor de sete resoluções contra Israel e se absteve de votar em outra, porém não a rejeitou. Não houve nenhuma condenação de nenhum outro país do planeta naquele dia. Os textos condenavam Israel por impor "medidas repressivas" contra cidadãos sírios nas Colinas de Golã, renovavam o mandato da corrupta Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e renovavam o mandato de um comitê especial da ONU para investigar "práticas israelenses que afetam os direitos humanos dos palestinos." Nenhuma das resoluções mencionava o Hamas nem a Jihad Islâmica Palestina.
Neuer apresentou o contexto:
"O ataque da ONU contra Israel com uma torrente de resoluções unilaterais é surreal. Dias depois que o grupo terrorista Jihad Islâmica Palestina atacou civis israelenses com uma rajada de 200 foguetes, a Assembleia Geral da ONU e o Conselho de Direitos Humanos não deram nem um pio e, como se isso não bastasse, o organismo mundial adota oito condenações iníquas, cujo único propósito é demonizar o estado judeu."
"Ao mesmo tempo em que, pelo andar da carruagem, França, Alemanha, Suécia e outros países da UE irão apoiar 15 de um total de 20 resoluções a serem adotadas contra Israel até dezembro, estes mesmos países europeus não apresentaram uma única resolução à AGNU sobre a situação dos direitos humanos na China, Venezuela, Arábia Saudita, Bielorrússia, Cuba, Turquia, Paquistão, Vietnã, Argélia, nem em outros 175 países."
"Quatro das resoluções apresentadas hoje dizem respeito à UNRWA, no entanto nenhuma delas traz à baila o fato do chefe da agência ter acabado de ser demitido depois que membros da alta administração se envolveram no que a própria investigação interna da ONU retrata de 'assédio sexual, nepotismo, represália, discriminação e demais abusos de autoridade, tudo em benefício pessoal.' Todos os países da UE são cúmplices nesta conspiração do silêncio."
"Uma das resoluções de hoje, elaborada e copatrocinada pela Síria, condena fraudulentamente Israel por 'medidas repressivas' contra cidadãos sírios nas Colinas de Golã. É obsceno. A resolução condena Israel por controlar as Colinas de Golã e exige que Israel entregue o território e seus habitantes à Síria."
"É de causar perplexidade. Depois que o regime sírio assassinou meio milhão de seus próprios cidadãos, como a ONU pode pedir que mais gente seja entregue ao governo de Assad? O texto é moralmente o fim da picada e, pela lógica, totalmente absurdo."
"As resoluções de hoje afirmam preocupação em relação aos palestinos, no entanto a ONU é indiferente ao fato de mais de 3 mil palestinos terem sido massacrados, mutilados e expulsos pelas forças de Assad."
"A farsa de hoje na Assembleia Geral ressalta um fato simples: a maioria automática na ONU não tem nenhum interesse em verdadeiramente ajudar os palestinos, nem em proteger os direitos humanos de ninguém, é o que mostra este ritual de condenações unilaterais, ao fazer de Israel o bode expiatório."
"O desproporcional ataque da ONU contra o estado judeu mina a credibilidade institucional de um órgão internacional que deveria ser imparcial. A politização e a seletividade causam danos à sua missão fundadora, corroendo a promessa da Carta da ONU de tratamento igual a todas as nações, grandes e pequenas."
A votação veio depois que o ministro das relações exteriores da Alemanha Heiko Maas tuitou seu apoio supostamente inabalável a Israel:
"FM @HeikoMaas no 70º aniversário da admissão de Israel à ONU: queremos reiterar hoje mais uma vez que a Alemanha está, também na ONU, lado a lado com Israel, cuja segurança e o direito de existir jamais devem ser postos em questão por ninguém em nenhum lugar."
A Alemanha seguiu a mesma linha política de aprovação de resoluções anti-Israel na ONU em 2018,2017 e 2016, quando votou a favor de uma resolução extraordinariamente vergonhosa para a ONU, copatrocinada pelo grupo de países árabes juntamente com a delegação palestina, que escolheu a dedo apenas e tão somente Israel como o único violador mundial da "saúde mental, física e ambiental".
Ao que tudo indica, o histórico de votação anti-Israel da Alemanha na ONU conta com amplo apoio do establishment político alemão. Em março de 2019, o Bundestag (Parlamento da República Federal da Alemanha) se opôs de forma esmagadora a uma resolução do Partido Liberal Democrata (FDP) para instar o governo da chanceler Angela Merkel a reverter seu histórico de votos anti-Israel nas Nações Unidas.
Com uma votação de 408 a 155 e 65 abstenções, o Bundestag rejeitou o apelo do FPD para que o governo "se distancie inequivocamente de iniciativas e alianças unilaterais, principalmente as com motivação política, de estados membros da ONU contrários aos israelenses e que proteja Israel e os interesses legítimos de Israel da condenação unilateral".
A cruzada anti-Israel da Alemanha vem sendo liderada pelo ministro das relações exteriores da Alemanha, Heiko Maas, que asseverou que entrou na política por causa de Auschwitz, o maior dos campos de concentração nazistas alemães. Na posse como ministro das relações exteriores ele ressaltou:
"para mim, a história germano-israelense não implica somente em responsabilidade histórica. Pessoalmente, para mim, é a profunda motivação da minha atividade política. Com todo o respeito, não entrei na política por causa do (ex-chanceler) Willy Brandt. Também não entrei na política por causa do movimento pela paz ou por problemas ecológicos. Entrei na política por causa de Auschwitz. E é também por isso que esta parte do nosso trabalho é especialmente importante para mim."
Maas vem sendo assistido e incitado pelo embaixador da Alemanha na ONU, Christoph Heusgen, que foi apontado pelo Simon Wiesenthal Center em 2019 como um dos dez maiores antissemitas do mundo.
Bild, o jornal de maior circulação da Alemanha, perguntou: "por que a Alemanha vota reiteradamente contra Israel nas Nações Unidas?" Ele próprio respondeu:
"É um vergonhoso ritual: todos os anos, países autoritários como Síria, Iêmen e Arábia Saudita apresentam inúmeras resoluções na ONU dirigidas contra um país, Israel. Mas o amargo é: a Assembleia Geral da ONU pactua e adota quase todas as resoluções anti-israelenses."
"A República Federal quase sempre vota a FAVOR das resoluções e, portanto, CONTRA Israel. E isso apesar do fato do governo federal enfatizar, sem parar, que está ao lado de Israel."
"Heusgen é considerado um ferrenho crítico da política de assentamentos israelense, posição legítima que, no caso de Heusgen, não leva a nenhuma crítica em relação aos palestinos e leva a comparações entre as atuações de israelenses e palestinos, lançando dúvidas sobre sua bússola moral.
"As declarações de Heusgen causaram um escândalo em março de 2019 quando ele equiparou os foguetes lançados pelo grupo terrorista islâmico Hamas com as escavadeiras israelenses, com as quais Israel derruba casas ilegais tanto palestinas quanto israelenses. Ele fez estas declarações justamente na semana em que o Hamas desfechou extensos ataques com foguetes contra Israel, ferindo sete civis israelenses.
"Nenhuma crítica às declarações antissemitas de políticos palestinos, nenhuma crítica ao pagamento de pensões a terroristas palestinos, para Heusgen, os culpados pela complicada situação estão somente em Washington e Jerusalém."
Volker Beck, político de esquerda, disse o seguinte em relação a Heusgen:
"sempre tomo cuidado com o rótulo 'antissemita'. Mas uma coisa é certa: qualquer um que seja responsável pela condenação de Israel por meio do voto da Alemanha, assiduamente, dezenas de vezes mais do que em relação a qualquer um os países párias do planeta nas Nações Unidas, faz uso do tal padrão de dois pesos e duas medidas, uma para o democrático estado judeu, outra para os demais, portanto, participa de uma campanha antissemita. Na política, na prática, Heusgen joga por terra as inequívocas declarações da chanceler sobre a existência e segurança de Israel."
O prefeito de Frankfurt Uwe Becker salientou:
"A inclusão de Heusgen na lista do Centro Wiesenthal é mais do que um cartão amarelo para o modo de votar da Alemanha nas Nações Unidas. A Alemanha precisa mostrar mais solidariedade para com Israel na ONU e recusar consistentemente resoluções anti-israelenses daqui para a frente."
"Os anos de teatro da difamação política contra Israel só podem ser rebatidos com um inabalável 'NÃO'. A comparação feita por Heusgen entre as ações de Israel e o terrorismo do Hamas causou danos à solidariedade com Israel e, lamentavelmente, só serve para promover o antissemitismo com respeito a Israel. A Alemanha também não deve ser a palavra-chave do antissemitismo em relação a Israel".
Em sua mais recente declaração, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha declarou:
"a Alemanha deseja continuar fazendo sua parte na preservação da paz global, como membro permanente do Conselho de Segurança. 'Nos últimos dois anos, demonstramos que somos capazes de ocupar um assento no Conselho de Segurança da ONU por um bom tempo', salientou o Ministro das Relações Exteriores Heiko Maas. 'Portanto, não queremos somente nos candidatar novamente a um assento não permanente em oito anos, queremos sim nos tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU antes disso.'"
Indícios de que os afagos alemães não alcançaram seus objetivos podem ser vistos nos questionamentos da Rússia e da China sobre a conveniência da Alemanha obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O vice-embaixador russo Dmitri Polyansky ressaltou sem a menor cerimônia: "não vamos sentir sua falta." O representante chinês Yao Shaojun realçou que o caminho alemão para ocupar um assento permanente "será bem complicado".
Heusgen, que planeja se aposentar depois de mais de 40 anos servindo como diplomata alemão, apelou para a China no sentido de libertar no Natal dois canadenses detidos no país:
"deixe-me encerrar meu mandato no Conselho de Segurança apelando aos meus colegas chineses para que peçam a Pequim a libertação de Michael Kovrig e Michael Spavor. O Natal é o momento certo para este tipo de gesto."
O vice-embaixador da ONU na China, Geng Shuang, acusou Heusgen de abusar do Conselho de Segurança ao desfechar ataques "maliciosos" a outros membros "na esperança de envenenar o clima de trabalho". Ele ainda salientou: "quero dizer algo do fundo do meu coração: já vai tarde."
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque .