Mais de uma dozena de países espalhados nos quatro continentes comunicaram que estavam enfrentando problemas com os testes de coronavírus e equipamentos de proteção individual fabricados na China. Os problemas vão de kits de testes contaminados com o coronavírus a jalecos contaminados com insetos. Máscaras defeituosas foram compradas pelo Ministério da Saúde espanhol e distribuídas em hospitais e asilos em todo o país e mais de 100 profissionais da saúde que as usaram testaram positivo para o coronavírus Covid-19. Foto: Um carregamento da China com 8,6 milhões de máscaras de proteção facial e 150 toneladas de materiais sanitários chega ao Aeroporto Paris-Vatry na França, em 19 de abril de 2020. (Foto: Francois Nascimbeni/AFP via Getty Images) |
Recentemente o Gatestone Institute publicou um artigo relatando que milhões de equipamentos médicos e hospitalares comprados da China por governos europeus para combater a pandemia do coronavírus estavam defeituosos e não serviam para nada.
Desde então, mais de uma dozena de países espalhados em quatro continentes comunicaram que estavam enfrentando problemas com os testes de coronavírus e equipamentos de proteção individual fabricados na China. Os problemas vão de kits de teste contaminados com o coronavírus a jalecos contaminados com insetos.
As autoridades chinesas se recusam a assumir a responsabilidade pelos equipamentos defeituosos e, em muitos casos, jogam a culpa nos países que compraram os suprimentos. Elas também exortam as nações do planeta a pararem de "politizar" o problema, ao mesmo tempo em que o presidente chinês Xi Jinping e o seu Partido Comunista tentam usar a pandemia como alavanca com o intuito de asseverar seu direito à liderança global.
A Espanha, epicentro da crise do coronavírus na Europa, experimentou o maior número de problemas com os equipamentos médicos e hospitalares comprados da China.
Depois que a epidemia castigou a Espanha, o governo espanhol comprou suprimentos médicos da China no valor de US$470 milhões. Para despachar qualquer suprimento os fornecedores chineses exigiam pagamento antecipado. Agora, ao que tudo indica, grande parte dos suprimentos fornecidos pela China eram de má qualidade.
No final de março, por exemplo, o Ministério da Saúde da Espanha revelou que mais de meio milhão de testes de coronavírus comprados de um fornecedor chinês estavam com defeito. Os testes, fabricados pela Shenzhen Bioeasy Biotechnology, empresa sediada na província de Guangdong, na China, apontavam um índice de precisão de menos de 30%. A Bioeasy afirmou, por escrito, que os testes apontavam um índice de precisão de 92%.
Depois que a trapaça ganhou destaque nas manchetes mundo afora, a Bioeasy concordou em substituir os testes. Em 21 de abril, no entanto, o jornal espanhol El País publicou que todos os 640 mil testes que foram substituídos também não serviam para nada. Agora o governo espanhol quer reembolso.
A Embaixada da China em Madri culpou o governo espanhol por este ter adquirido os testes de um fornecedor não autorizado. Aparentemente, a Bioeasy não tem alvará para vender testes de coronavírus. A Espanha, no entanto, também relatou problemas com suprimentos adquiridos de fornecedores que têm alvará para tanto do governo chinês.
Em 15 de abril, o Ministério da Saúde da Espanha fez o recall de 350 mil máscaras assim chamadas de tipo FFP2 depois que testes de laboratório determinaram que elas eram de má qualidade. As máscaras defeituosas foram fabricadas pela Garry Galaxy Biotechnology, empresa que consta na lista do governo chinês de fabricantes aprovados para a fabricação de equipamentos de proteção individual. As máscaras do tipo FFP2 são necessárias para filtrar no mínimo 94% dos aerossóis, mas as entregues na Espanha filtram somente de 71% a 82% dos aerossóis.
As máscaras defeituosas foram compradas pelo Ministério da Saúde espanhol e distribuídas em hospitais e asilos em todo o país. Após o recall das máscaras defeituosas, mais de 100 profissionais da saúde que as usaram testaram positivo para a doença do coronavírus (Covid-19).
Em 18 de abril na Catalunha, localizada na região nordeste da Espanha, os agentes da saúde locais fizeram o recall de 180 mil testes de anticorpos para o Covid-19, também conhecidos como testes sorológicos, devido ao baixo índice de precisão. Os testes produzidos pelo fabricante chinês Guangzhou Wondfo Biotech, foram adquiridos pelo governo central de Madri e distribuídos às autoridades sanitárias regionais para detectar o Covid-19 em dois grupos prioritários: profissionais da saúde e idosos em asilos. Ao que consta os testes de Wondfo deram resultados negativos em pessoas que já haviam testado positivo para a Covid-19 e também não distinguiram dois tipos de anticorpos, incluindo os que dão imunidade.
Na Cidade de Alicante, situada na região oriental do país, o Hospital Geral fez o recall de 640 macacões descartáveis porque em uma das caixas da mercadoria chinesa havia baratas. O hospital revelou que recebeu um total de 3 mil macacões em 75 caixas e encontrou os dois insetos em uma delas. O hospital realçou que, dada a escassez de suprimentos médicos, os macacões serão esterilizados e não destruídos.
Outros países, na Europa e fora dela, também criticaram a qualidade dos suprimentos médicos chineses:
- Austrália. Em 1º de abril, a Australian Broadcasting Corporation (ABC) informou que a Australian Border Force (ABF) confiscou cerca de um milhão de máscaras de proteção facial defeituosas fabricadas na China e outras roupas de proteção exportadas para a Austrália para ajudar a conter a disseminação do coronavírus. O material foi avaliado em US$760 mil. "O material começou a chegar há cerca de três semanas, quando as notícias sobre pandemia estavam realmente decolando", salientou um funcionário da ABF à ABC. "O material duvidoso veio por transporte aéreo porque há um atraso no frete marítimo em portos australianos".
- Áustria. Em 6 de abril, o Ministério de Assuntos Econômicos confirmou que 500 mil máscaras encomendadas da China para serem usadas na região sul do Tirol eram "totalmente imprestáveis" pois não atendiam aos padrões de segurança: "o resultado da checagem do controle de qualidade mostrou que as máscaras não atendiam ao padrão FFP. É impossível obter um bom ajuste das máscaras na região do queixo e das bochechas." A Ministra da Economia Margarete Schramböck reclamou que os fornecedores internacionais de máscaras FFP2 e FFP3 de necessidade urgente, não entregaram os suprimentos com a qualidade exigida em nove a cada dez casos. Em 9 de abril, a mídia austríaca relatou que o problema das máscaras defeituosas era de longe muito maior do que se acreditava inicialmente. A Cruz Vermelha Austríaca encomendou 20 milhões de máscaras do mesmo fabricante chinês que produziu as máscaras defeituosas para o Sul do Tirol.
- Bélgica. Em 31 de março, o Hospital Universitário de Lovaina rejeitou um carregamento de 3 mil máscaras da China porque o equipamento era de má qualidade.
- Canadá. Em 7 de abril, a Cidade de Toronto fez o recall de mais de 60 mil máscaras cirúrgicas fabricadas na China. As máscaras, avaliadas em mais de US$200 mil, foram fornecidas ao staff de instituições de atendimento de longa duração. As autoridades de saúde de Toronto estavam investigando se os cuidadores foram expostos ao Covid-19 quando do uso do equipamento. As máscaras representavam cerca de 50% do estoque de máscaras cirúrgicas de Toronto, de acordo com Matthew Pegg, comandante do corpo de bombeiros de Toronto e gerente geral de gestão de emergências.
- República Tcheca. Em 23 de março, o site de notícias tcheco iRozhlas relatou que 300 mil kits de testes do coronavírus entregues pela China apresentavam um índice de erro de 80%. O Ministério do Interior tcheco pagou US$2,1 milhões pelos kits defeituosos.
- Finlândia. Em 10 de abril, o diretor executivo da Agência Nacional de Suprimentos de Emergência da Finlândia, Tomi Lounema, pediu demissão após ter reconhecido que gastou US$11 milhões em equipamentos de proteção defeituosos da China.
- Geórgia. Em 27 de março, a Ministra da Saúde Ekaterine Tikaradze cancelou um pedido de 200 mil testes de coronavírus fabricados pela Shenzhen Bioeasy Biotechnology Company, sediada na China. A medida foi tomada depois que a Espanha informou que 640 mil testes comprados daquela mesma empresa estavam com defeito. Ela salientou: "a Geórgia tinha um contrato com a empresa, mas hoje o pedido foi cancelado. O dinheiro não foi transferido. Estamos negociando com outra empresa e primeiro eles enviarão dois mil testes. Se a confiabilidade for comprovada por nós, compraremos mais".
- Índia. Em 16 de abril, o Economic Times de Mumbai informou que 50 mil equipamentos de proteção individual doados pela China estavam com defeito e não serviam para nada.
- Irlanda. Em 6 de abril, o Health Service Executive (HSE) divulgou que grande parte da entrega de 200 milhões de euros em equipamentos de proteção individual fornecidos pela China foi considerada sem condições de ser utilizado pelos profissionais da saúde. O HSE avisou a empresa chinesa responsável pela entrega que, a menos que a qualidade do equipamento enviado seja garantida, não haverá mais negócios entre os dois países com respeito às EPIs. O governo insistiu que quer o dinheiro de volta.
- Malásia. Em 16 de abril, as autoridades da Malásia aprovaram o uso de kits de testes de coronavírus da Coreia do Sul depois que foram encontrados kits similares da China com defeito. Noor Hisham Abdullah, autoridade do alto escalão do Ministério da Saúde, adiantou que a precisão dos testes chineses "não era muito boa". Ele expressou otimismo em relação aos testes sul-coreanos: "Agora temos um kit de testes rápidos, portáteis e baratos, isso é que fará a diferença".
- Holanda. Em 28 de março, a Holanda fez o recall de 1,3 milhão de máscaras de proteção facial produzidas na China porque elas não atendiam aos requisitos mínimos de segurança para os profissionais da saúde. As assim chamadas máscaras KN95 são uma alternativa chinesa mais barata às N95 padrão americano, que no momento estão em falta no mercado mundial. A KN95 não se ajusta tão bem ao rosto como a N95, expondo potencialmente os profissionais da saúde ao coronavírus.
- Filipinas. Em 29 de março, o Departamento da Saúde se retratou por comentários feitos um dia antes, a respeito de dois lotes de kits de testes de coronavírus fornecidos pela China ao dizer que eram de má qualidade. A Subsecretária da Saúde Maria Rosario Vergeire havia dito que os kits fabricados pela BGI Group e Sansure Biotech da China apresentavam uma precisão de apenas 40% no diagnóstico do Covid-19 e que alguns tiveram que ser descartados. A Embaixada da China em Manila contestou as acusações, garantindo que os kits estavam em conformidade com os padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde. "A Embaixada da China repudia fortemente qualquer comentário irresponsável e qualquer tentativa de minar nossa cooperação nesse quesito", tuitou um porta-voz.
- Eslováquia. Em 1º de abril, o primeiro ministro Igor Matovič divulgou que mais de um milhão de testes de coronavírus fornecidos pela China, pagos à vista em dinheiro vivo no valor de US$16 milhões, não eram precisos e sem condições de identificar o Covid-19. "Temos uma tonelada de testes que não servem para nada", assinalou ele. "Eles deveriam ser jogados diretamente no Danúbio." A China acusou o pessoal da área médica eslovaca de usar os testes de forma incorreta.
- Turquia. Em 27 de março, o Ministro da Saúde Fahrettin Koca salientou que a Turquia havia testado os testes de coronavírus fabricados na China, mas as autoridades "não estavam satisfeitas com os resultados". O professor Ateş Kara, membro da força-tarefa encarregada do coronavírus do Ministério da Saúde da Turquia, ressaltou que o lote de kits de teste tinha uma precisão de apenas 30 a 35%: "nós os experimentamos. Eles não funcionam. A Espanha cometeu um enorme erro ao usá-los".
- Reino Unido. Em 6 de abril, o jornal londrino The Times informou que 17,5 milhões de testes para identificar anticorpos do coronavírus fornecidos pela China estavam com defeito. Os fabricantes chineses dos testes culparam funcionários e políticos britânicos por não entenderem ou exagerarem quanto ao aproveitamento dos testes. O governo britânico, que segundo consta pagou no mínimo US$20 milhões pelos testes, disse que queria um reembolso. Enquanto isso, outros testes de coronavírus destinados ao Reino Unido estavam contaminados com o coronavírus.
- Estados Unidos. Em 17 de abril, a diretora do Departamento de Segurança Pública do Missouri, Sandy Karsten, revelou que 3,9 milhões de máscaras KN95 fabricadas na China estavam com defeito. O Estado do Missouri assinou um contrato de US$16,5 milhões com um fornecedor de máscaras não identificado e pagou adiantado a metade do valor. O fornecedor se recusa a devolver os US $ 8,25 milhões. O Governador do Missouri Mike Parson realçou: "fomos enganados aqui em nosso estado, vamos correr atrás do prejuízo, procurar recuperar nosso dinheiro e fazer com que os responsáveis prestem contas". Na vizinha Illinois, o governador JB Pritzker salientou que o Estado pagou US$17 milhões por máscaras KN95 que podem estar sem condições de uso: "É de conhecimento geral que os suprimentos chegam em remessas de milhões, não é possível inspecionar uma por uma, de modo que se coleta amostras, verifica-se se a mercadoria bate com o pagamento". No estado de Washington foi feito um recall de 12 mil kits de testes de coronavírus produzidos na China, depois que veio à tona que alguns estavam contaminados com o coronavírus.
Em 30 de março, a China exortou os países europeus a não "politizarem" os problemas sobre a qualidade dos suprimentos médicos da China. "Os problemas devem ser adequadamente resolvidos com base em fatos, não em interpretações políticas", salientou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Hua Chunying.
Em 1º de abril, o governo chinês mudou de posição e anunciou que estava aumentando a supervisão nas exportações de kits de testes de coronavírus fabricados na China. Os exportadores chineses de testes de coronavírus agora precisam obter um certificado da Administração Nacional de Produtos Médicos (NMPA) para que possam ser liberados pela agência alfandegária da China.
Em 16 de abril, o Wall Street Journal publicou uma matéria segundo a qual milhões de equipamentos médicos destinados aos Estados Unidos encontravam-se retidos em armazéns na China devido às novas restrições de exportação impostas pelo governo chinês. "Agradecemos os esforços para garantir o controle de qualidade", salientou o Departamento de Estado dos EUA. "Mas não queremos que isso vire um obstáculo para a rápida exportação de suprimentos de suma importância".
A senadora americana Kelly Loeffler da Geórgia acusou a China de reter remessas de kits de testes: "a realização de testes é essencial para que o nosso país volte a funcionar. Estou preocupada que a China esteja retendo kits de testes. Eles estão brincando com a política comercial para impedir que os Estados Unidos possam realizar os testes que tanto precisam".
A pandemia de coronavírus expôs os pontos fracos da globalização, escancarando como o Ocidente se tornou perigosamente dependente da China comunista para o fornecimento de produtos essenciais de saúde e assistência médica.
Andrew Michta, reitor do College of International and Security Studies do George C. Marshall European Center for Security Studies, explica:
"o Vírus de Wuhan e a presente desgraça que a China comunista lançou no mundo (incluindo de forma flagrante seu próprio povo) pôs a nu o cerne do problema estrutural das suposições que sustentam a globalização. Acontece que o entrelaçamento radical dos mercados, que deveria levar à "complexa interdependência" que os teóricos das relações internacionais previam para a melhor parte do século, o que levaria a um aumento da estabilidade global... ao contrário, criou uma estrutura inerentemente tímida e hesitante que está exacerbando a incerteza em tempos de crise..."
"Se sobrar algo de bom do impacto devastador em nossa nação desta pandemia provocada pelo regime comunista chinês por meio das suas más intenções e incompetência, será o provável fim do entusiasmo pela globalização tal qual nós conhecemos no Ocidente. Após três décadas de ginástica intelectual cujo objetivo de convencer os americanos de que a terceirização da manufatura e a concomitante desindustrialização do país seriam boas para nós, chegou a hora do acerto de contas.
"Desde o fim da Guerra Fria, as elites do Ocidente parecem estar dominadas pela ideia de que várias 'forças naturais' tanto na economia quanto na política estavam nos impulsionando para um admirável mundo novo interconectado digitalmente, no qual tradicionais considerações de interesse nacional, política econômica nacional, segurança nacional e cultura nacional em breve seriam eclipsadas por uma emergente realidade pacífica mundial. Esta crise do vírus é um sinal de alerta e, enquanto alguns argumentam que estamos acordando tarde demais para combater efetivamente as tendências atuais, tenho plena convicção na capacidade do povo americano de enfrentar a crise e na resiliência das instituições democráticas ocidentais.
"Hoje, embora o combate ao Vírus de Wuhan absorva a atenção de nossos órgãos do governo e sistemas de saúde, não devemos perder de vista o crucial desafio estratégico que o Ocidente enfrenta na emergente era pós-globalização: estamos numa longa e tenebrosa competição com o regime comunista chinês, luta da qual não podemos fugir, gostando ou não. Agora é a hora de acordar, desenvolver uma nova estratégia para a vitória e seguir em frente".
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque .