
"A União Europeia é uma das regiões menos corruptas do mundo", se vangloria a Comissão Europeia em seu site.
Sério? Vamos dar uma olhada na organização da UE, que, mais uma vez, se encontra no centro de um novo escândalo de corrupção.
Em março a polícia belga invadiu mais de 20 locais na Bélgica e em Portugal, numa investigação sobre a suposta "corrupção ativa dentro do Parlamento Europeu", em prol da gigante tecnológica chinesa Huawei, de acordo com o Ministério Público Federal da Bélgica. O principal escritório do lobby da Huawei em Bruxelas foi invadido pela polícia, bem como os escritórios do Parlamento Europeu.
A companhia chinesa, ao que consta ligada ao regime comunista chinês, "ao que parece subornava políticos para que apoiassem a expansão de 5G da empresa na Europa", segundo a Euractiv. Ao que tudo indica, a investigação está em andamento há mais de dois anos. Não é o primeiro lugar na Europa onde as autoridades investigam escritórios e políticos ligados à Huawei. Em fevereiro do ano passado, autoridades francesas invadiram os escritórios da Huawei na França sob supostas acusações de corrupção e tráfico de influência.
Embora a Huawei tenha sido efetivamente banida dos Estados Unidos e tenha encerrado todas as suas operações oficiais e diretas de lobby em Washington no início de 2024. A companhia goza da liberdade de promover o tráfico de influência na UE, onde não foi banida. A influência da China na Europa em diversas áreas já é bem presente, tendo influenciado ou cooptado elites em toda a Europa, de acordo com um relatório de outubro de 2021 do Instituto de Pesquisa Estratégica do renomado Colégio Militar da França:
"0 Partido Comunista Chinês sempre estabeleceu laços com políticos de países cujas posições, ou pelo menos, cujas representações da China, queriam influenciar. Essas práticas também faziam parte do repertório soviético de medidas ativas e estão entre as atividades da Frente Unida."
A recente corrupção é mais marcante ainda porque um alto funcionário da UE na Comissão Europeia, órgão executivo não eleito da UE, alertou inequivocamente a UE quanto ao tráfico de influência chinês. O Politico noticiou em maio de 2023 o seguinte:
"há muito tempo Pequim tem como alvo a propaganda contra a União Europeia, busca minar a unidade transatlântica e promover a sua visão (de Pequim) sobre as questões mundiais", salientou Ivana Karásková, acadêmica tcheca e especialista em influência estrangeira que assessora a vice-presidente da Comissão Europeia, Věra Jourová.
"Questionada sobre quais partes do continente estavam mais alheias à influência chinesa, ela acrescentou: 'a Europa Ocidental como um todo não está nem aí. E, no entanto, há casos que saltam aos olhos.'"
A operação belga ocorreu cerca de dois anos após o assim chamado Qatargate: em dezembro de 2022, as autoridades belgas descobriram o suborno de membros do Parlamento Europeu efetivado pelo Catar e, em certa medida, pelo Marrocos e pela Mauritânia, quando realizaram uma operação em 20 endereços na Bélgica e na Itália e encontraram € 1,5 milhão em dinheiro vivo em malas e outros locais, o que levou à prisão de vários altos funcionários da UE: Eva Kaili, então vice-presidente do Parlamento Europeu pela Grécia e Antonio Panzeri, ex-deputado italiano do Parlamento Europeu que, ironicamente, lidera uma ONG chamada Fight Impunity, bem como Niccolò Figà-Talamanca, chefe da ONG No Peace Without Justice.
Foi descoberto que o Catar vinha subornando essas autoridades para influenciar a legislação e as políticas da UE a seu favor, manipulando decisões do Parlamento Europeu. Panzeri recebia propina do Catar desde 2019 e admitiu que buscava a isenção de visto para catarenses na Europa, e que Panzeri teria recebido € 200 mil do então presidente da Mauritânia, Mohamed Ould Abdel Aziz, para melhorar a imagem negativa do país, onde a escravidão ainda está profundamente arraigada.
Foi assim que a vice-presidente do Parlamento Europeu, Eva Kaili, mentiu em nome do Catar em troca de milhões em dinheiro vivo para melhorar a imagem do país diante das críticas por ter permitido que aquele país sediasse a Copa do Mundo da FIFA de 2022: "eu mesma disse que o Catar é líder em direitos trabalhistas, que aboliu a kafala e que introduziu o salário mínimo."
O Politico noticiou os arquivos vazados, apelidados de "arquivos Qatargate", em dezembro de 2023:
"Entre as ações registradas nos documentos se encontram algumas com impacto significativo no funcionamento da União Europeia, como por exemplo conspirar para anular seis resoluções parlamentares que condenavam o histórico de direitos humanos do Catar e trabalhar para fechar um acordo de isenção de visto entre Doha e a UE.
Mas as operações também podem ser de uma baixeza repugnante... todos os exemplares de um livro pouco lisonjeiro sobre o Catar que poderiam ser encontrados no Parlamento foram diligentemente 'destruídos'...
"Mais de 300 trabalhos pelos quais os suspeitos receberam exorbitantes honorários. Eles, ao que tudo indica, alcançaram seus objetivos usando uma rede de associados que trabalhavam dentro do Parlamento, a quem chamavam de 'soldados', segundo os arquivos."
O Qatargate está longe de acabar. Os julgamentos estão programados para começar somente no final de 2025. De modo que a UE, no momento tem não só um, mas dois gigantescos escândalos de corrupção em suas mãos.
A podridão vai direto para o alto escalão. A presidente da Comissão Europeia não eleita, Ursula von der Leyen, em seu segundo mandato no cargo, chegou a este cargo pela primeira vez após servir como ministra da Defesa na Alemanha por muitos anos, está sob escrutínio no que ficou conhecido como "Pfizergate":
Durante a pandemia da COVID-19, von der Leyen negociou pessoalmente um acordo de € 20 bilhões com o CEO da Pfizer, Albert Bourla, pago com dinheiro dos contribuintes da UE, para 1,8 bilhão de doses da vacina contra a COVID-19. Ela fechou o acordo de maneira bastante irregular, por meio de mensagens de texto, mas se recusou em submeter essas mensagens de texto ao escrutínio parlamentar ou público, e posteriormente alegou que elas tinham sido extraviadas.
Alexander Fanta, jornalista a quem a Comissão Europeia recusou o acesso às mensagens de texto, escreveu:
"na qualidade de repórter investigativo, eu apresentei um pedido de acesso, ao abrigo da lei de liberdade de informação da UE, à troca de mensagens entre von der Leyen e Bourla. Essas mensagens, se nós as tivéssemos, poderiam fornecer informações importantes sobre como o controverso acordo sobre vacinas que salvariam vidas foi concretizado. Elas também poderiam ajudar a responder a perguntas como por exemplo o porquê da UE ter virado o maior cliente individual da Pfizer, que supostamente pagou um valor exorbitante por este lote de vacinas se comparado com o primeiro lote de vacinas contra a Covid que ela tinha adquirido.
Também há um princípio maior em jogo aqui: os cidadãos da UE têm o direito de saber o que estava sendo negociado em seu nome durante uma emergência de saúde pública. Será que o contrato envolveu doses excessivas da vacina compradas a um preço fixo, sem margem para revisão à medida que a pandemia ia se desenvolvendo? Milhões de vacinas caras foram desperdiçadas por causa dos termos que Bourla obteve da compradora em pânico, von der Leyen?
"Mas a comissão recusou o pedido de abertura das mensagens, alegando que os textos eram 'por natureza, de curta duração' e não estavam cobertos pela lei da liberdade de informação da UE. O sigilo da comissão em relação às suas comunicações é rigorosamente guardado a sete chaves que agora ela defende a se recusa em disponibilizar os textos no tribunal da UE."
De acordo com o Politico, investigadores do Ministério Público Europeu estão investigando Von der Leyen por "interferência em funções públicas, destruição de SMS, corrupção e conflito de interesses". Um juiz europeu chamou o sigilo da Comissão Europeia de "bizarro".
Estes são somente os casos de corrupção que vieram à tona.
É óbvio que a corrupção não se limita às instituições antidemocráticas da UE. Grande parte das elites europeias, incluindo políticos, acadêmicos, jornalistas e outros, também teriam sido "comprados" por atores estatais como a China e o Catar. Segundo Clive Hamilton e Mareike Ohlberg, autores de Hidden Hand: Exposing How the Chinese Communist Party is Reshaping the World, (Mão Oculta: Expondo como o Partido Comunista Chinês está remodelando o mundo), a China "prepara" elites para que elas cumpram as suas ordens, especialmente em lugares como o Reino Unido (embora não seja mais membro da UE após o Brexit), onde o Partido Comunista Chinês (PCC) utilizou o grupo de networking "48 Group Club" para influenciar elites, incluindo ex-ministros, ex-embaixadores britânicos na China, empresários de destaque, diretores de grandes instituições culturais e professores:
"nenhum grupo na Grã-Bretanha desfruta de mais intimidade e confiança com a liderança do PCC do que o 48 Group Club... Ele se tornou o instrumento mais poderoso de influência e coleta de inteligência de Pequim no Reino Unido. Trafega nos mais altos escalões das elites políticas, empresariais, midiáticas e universitárias britânicas, o clube desempenha um papel decisivo na formação das atitudes britânicas em relação à China... promovendo com entusiasmo os interesses do PCC no Reino Unido."
O Catar não só comprou e investiu em grandes regiões imobiliárias europeias, como também é um enorme fator que contribui para a islamização da Europa. O Catar destinou, segundo uma estimativa extremamente conservadora, pelo menos US$ 78 milhões para construir 140 mesquitas e centros islâmicos na Europa apenas em 2014, de acordo com o mais recente relatório sobre o assunto, do Almanaque de 2019 do conceituado "Qatar Papers", dos jornalistas franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot. Mais de uma década depois, esses dados seriam provavelmente muito mais altos. Quanto os políticos europeus, que não param de bajular o islamismo, receberam em propinas do Catar? Será que saberemos algum dia?
Robert Williams reside nos Estados Unidos.