Em 12 de março, a China enviou à Itália nove equipes médicas chinesas, juntamente com cerca de 30 toneladas de equipamentos em um voo organizado pela Cruz Vermelha Chinesa. Foto: Francesco Vaglia, chefe da equipe médica de doenças infecciosas do Hospital Spallanzani (direita) fala perante integrantes de uma delegação de médicos chineses em Roma em 14 de março de 2020. (Foto: Andreas Solaro/AFP via Getty Images) |
O governo chinês criou uma linha expressa para o envio de equipamentos médicos e hospitalares para a Europa que já virou o epicentro da pandemia do coronavírus, que apareceu pela primeira vez na cidade de Wuhan na China. Pelo visto tal generosidade faz parte de um programa para melhorar a imagem pública do presidente chinês Xi Jinping e do Partido Comunista cujo intuito é desviar a atenção às críticas em relação à sua responsabilidade pelo surto letal.
A campanha de Pequim para mostrar ser benfeitor global pode dar resultados positivos na Europa, onde líderes políticos subservientes temem profundamente se indispor com o segundo maior parceiro comercial da União Europeia. O que não se sabe ainda ao certo é se a população europeia, que está sofrendo as consequências causadas pela epidemia, também estará tão disposta assim a deixar para lá a maleficência das autoridades chinesas.
Num gesto que só pode ser visto como humilhação geopolítica, Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, braço administrativo da União Europeia, que se vangloria de ser a "maior economia do mundo", jogou confete sobre a China comunista por ela doar uma pequeníssima quantidade de equipamentos médicos e hospitalares ao bloco europeu. Em 18 de março, ela tuitou:
"conversei com o primeiro-ministro chinês Li Keqiang, que anunciou que a China fornecerá dois milhões de máscaras cirúrgicas, 200 mil máscaras N95 e 50 mil kits para testes. Em janeiro, a União Europeia ajudou a China com a doação de 50 toneladas de equipamentos. Hoje, somos gratos ao apoio da China. Precisamos do apoio um do outro em tempos de crise."
A União Europeia não tem condições de dar assistência de verdade à Itália, o terceiro maior membro do bloco europeu, que foi o mais duramente castigado pelo vírus. Depois que a Alemanha, o membro mais poderoso da UE, proibiu a exportação de equipamentos médicos de proteção para evitar a falta de máscaras, luvas e jalecos em seu país, a China resolveu prestar socorro.
Em 12 de março, a China enviou à Itália nove equipes médicas chinesas, juntamente com cerca de 30 toneladas de equipamentos em um voo organizado pela Cruz Vermelha Chinesa. O chefe da Cruz Vermelha Italiana, Francesco Rocca, salientou que a remessa "revelou a força da solidariedade internacional". Ele adiantou:
"nessa hora de grande estresse, de grande dificuldade, estamos aliviados pela chegada de suprimentos. É verdade que isso ajudará apenas temporariamente, mas ainda assim ela é importante. Nesse momento estamos com uma desesperada necessidade dessas máscaras. Precisamos de respiradores que a Cruz Vermelha irá doar ao governo. Esta é com certeza uma doação realmente importante para o nosso país".
Nos últimos dias, a China também enviou ajuda para os seguintes países:
- Grécia , 21 de março. Uma aeronave da Air China com oito toneladas de equipamentos médicos e hospitalares, incluindo 550 mil máscaras cirúrgicas e outros itens como equipamentos de proteção, óculos, luvas e propés descartáveis, aterrizou no Aeroporto Internacional de Atenas. O embaixador chinês na Grécia, Zhang Qiyue, citando palavras de Aristóteles disse: "o que é um amigo? Uma única alma vivendo em dois corpos". Ele ressaltou que "tempos difíceis revelam verdadeiros amigos" e que China e Grécia estão "trabalhando em estreita colaboração na luta contra o coronavírus". Isso, salientou ele, "confirma mais uma vez as excelentes relações e amizade entre os dois povos".
- Sérvia, 21 de março. A China enviou seis médicos, respiradores e máscaras de proteção para a Sérvia para ajudar Belgrado a conter a disseminação da infecção pelo coronavírus. "Um muito obrigado ao presidente Xi Jinping, ao Partido Comunista Chinês e ao povo chinês", realçou o presidente sérvio Aleksandar Vucic. O embaixador da China em Belgrado, Chen Bo, disse que a ajuda é um sinal da "amizade de ferro" entre os dois países. A agência de notícias da China Xinhua relatou: "o presidente Xi atribui enorme importância à evolução das relações China-Sérvia e acredita que por meio da luta conjunta contra a epidemia, a tradicional amizade dos dois países já testada pelo tempo, obterá um apoio ainda mais caloroso de seu povo e a ampla parceria estratégica crescerá mais e atingirá um patamar mais alto.
- Espanha, 21 de março. O fundador e presidente da empresa chinesa de tecnologia Huawei, Ren Zhengfei, doou um milhão de máscaras. Programadas para chegar ao aeroporto de Zaragoza, região nordeste da Espanha, em 23 de março. As máscaras serão armazenadas em um armazém pertencente à rede espanhola de lojas Zara. A partir daí, a Zara colocará sua rede logística a serviço do governo espanhol. Esse embarque deverá ser o primeiro de uma série, uma vez que dezenas de fornecedores chineses que trabalham com a Zara há anos mostraram interesse em enviar material. Os Estados Unidos vêm alertando a Espanha sobre o risco de segurança inerente à abertura de suas redes de comunicações de quinta geração a provedores chineses de tecnologia móvel, incluindo a Huawei.
- República Tcheca, 21 de março. Um avião de carga ucraniano com 100 toneladas de suprimentos médicos da China aterrizou no aeroporto de Pardubice, uma cidade situada a 100 quilômetros a leste de Praga. Em 20 de março, uma aeronave da China com um milhão de máscaras aterrizou na República Tcheca, que segundo consta, encomendou mais 5 milhões de máscaras da China juntamente com outras 30 milhões de máscaras e 250 mil conjuntos de roupas de proteção.
- França, 18 de março. A China enviou à França, o segundo país mais poderoso da União Europeia um lote de suprimentos médicos, incluindo máscaras de proteção, máscaras cirúrgicas, roupas de proteção e luvas médicas. A embaixada da China na França tuitou o seguinte: "Unidos Venceremos!" No dia seguinte, a China enviou um segundo lote de suprimentos. A embaixada da China tuitou: "o povo chinês está com o povo francês. Solidariedade e cooperação nos permitirão superar essa pandemia".
- Holanda, 18 de março. A China Eastern Airlines, China Southern Airlines e a Xiamen Airlines, parceiras de codeshare com a KLM Royal Dutch Airlines, doou 20 mil máscaras e 50 mil luvas. A remessa chegou ao aeroporto de Schiphol em Amsterdã num voo da Xiamen Airlines. "Estamos passando por um período extremamente difícil em nosso país e na nossa empresa, de modo que estamos muito felizes com essa ajuda à KLM e à Holanda", salientou o CEO da KLM, Pieter Elbers. "Há menos de dois meses, a KLM fez uma doação à China e agora estamos recebendo essa maravilhosa e generosa ajuda".
- Polônia, 18 de março. O governo chinês se comprometeu a enviar à Polônia dezenas de milhares de itens de proteção além de 10 mil kits para testes de coronavírus. Em 13 de março, a embaixada da China em Varsóvia patrocinou uma videoconferência na qual especialistas da China e da Europa Central dividiram seus conhecimentos sobre o combate ao coronavírus. O Ministro das Relações Exteriores da Polônia Jacek Czaputowicz agradeceu a China pelo seu apoio e enfatizou a necessidade de contínua cooperação com Pequim, incluindo o compartilhamento de experiências no combate à pandemia.
- Bélgica, 18 de março. Um avião de carga da China com 1,5 milhão de máscaras aterrissou no aeroporto de Liège. As máscaras, que serão enviadas para a Bélgica, França e Eslovênia, foram doadas por Jack Ma, fundador do Alibaba, uma gigante chinesa do ecommerce conhecida como a "Amazon da China".
- República Tcheca, 18 de março. Um avião com 150 mil kits de testes para o coronavírus aterrizou em Praga. O Ministério da Saúde pagou cerca de CZK 14 milhões (US$550 mil) por 100 mil kits de testes, outros 50 mil kits foram pagos pelo Ministério do Interior. O Ministério da Defesa se encarregou do transporte.
- Espanha, 17 de março. Uma aeronave chinesa com 500 mil máscaras chegou no aeroporto de Saragoça. "O sol sempre nasce após a chuva", disse o presidente chinês Xi Jinping ao primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez. Ele salientou que a amizade da China com a Espanha sairá fortalecida e os laços bilaterais terão um futuro melhor após a luta em parceria contra o vírus. Xi ressaltou que após a pandemia, os dois países deveriam intensificar o intercâmbio e a cooperação em uma ampla gama de segmentos.
- Bélgica, 16 de março. Outra remessa de suprimentos médicos doado pela Jack Ma Foundation e Alibaba Foundation para prevenção de epidemias na Europa chegou ao aeroporto de Liège.
Fortune a revista de negócios explicou a motivação por trás da propaganda chinesa:
"Para a China, dar uma força à Europa faz parte da cartada para recuperar o papel de liderança internacional, depois que o acobertamento no início ajudou o vírus a se espalhar além de suas fronteiras. O governo do presidente Xi Jinping procurou silenciar os críticos, como repórteres e comentaristas online, além de disseminar teorias da conspiração sobre a origem do vírus.
"Em termos geopolíticos, a decisão da China de se arvorar salvador da Europa visa melhorar sua imagem no cenário internacional à medida que os chineses e europeus trocam farpas com o governo de Donald Trump. Tanto a China quanto os EUA continuaram ampliando a rixa em torno da influência mundial, Pequim expulsou mais de uma dozena de jornalistas americanos só nesta semana, enquanto procura se blindar da culpa pela maneira de lidar com a doença."
Em entrevista concedida ao jornal britânico Guardian, Natasha Kassam, ex-diplomata australiana, salientou:
"agora vemos autoridades chinesas e a mídia estatal do país sustentando que a China ajudou o mundo a ganhar tempo para que pudesse se preparar para enfrentar a pandemia. Sabemos que a máquina de propaganda chinesa é capaz de reescrever a história, só que desta vez ela a reescreve no exterior, diante dos nossos olhos. A vitória da China sobre o Covid-19 já foi escrita e as autoridades não estão medindo esforços para que essa mensagem chegue aos quatro cantos da terra".
Em um ensaio para o site espanhol Libertad Digital, o comentarista Emilio Campmany explica de maneira bem perspicaz:
"A China pôs em ação o imenso aparato de propaganda chinesa. Os italianos, com toda razão, se sentem abandonados pela União Europeia e agradecem a ajuda que o país asiático está disponibilizando. E isso foi convenientemente ampliado pela mídia italiana."
"Trata-se de uma operação propagandística que oculta inúmeras verdades. A primeira e a mais importante delas é que o culpado dessa pandemia é o regime chinês. Não é preciso nenhuma teoria da conspiração para corroborar isso. Todo mundo sabe que os mercados chineses de animais vivos são um grave risco epidemiológico. O rigoroso regime comunista da república popular, que controla tudo em nome do bem-estar dos cidadãos, não conseguiu fechar os mercados. Quando surgiram os primeiros casos, o Partido Comunista, altamente eficiente, levou uma eternidade para reagir e dedicou seus inúmeros recursos somente para ocultar a verdade. Quando viu que não iria conseguir mais esconder o que estava acontecendo, interveio brutalmente e só assim conseguiu deter a epidemia, não sem antes, devido à sua negligência, dar ao vírus a oportunidade de se espalhar pelo mundo afora."
"A segunda é que a bestialidade comunista não é necessariamente dirigida para combater com propriedade o vírus. Resultados infinitamente melhores podem ser alcançados com a inteligência capitalista, como demonstrado pela Coreia do Sul que, sendo muito mais competente que a China, não se dedica a pagar por suprimentos no Ocidente. Durante dias o país mostrou a importância de realizar testes em larga escala. Por ora essa é a melhor maneira de lidar com o coronavírus e o mais incrível é o tempo que os italianos e espanhóis levaram para perceber isso. No entanto, essa demora não se deve ao fato desses dois regimes não serem abençoados pelo comunismo e sim por serem governados por incompetentes que, sobretudo neste caso, serem socialistas e comunistas."
"A China quer se aproveitar da calamidade para arrancar a liderança mundial dos Estados Unidos. Será o país comunista que desenvolverá os remédios mais eficientes para combater o vírus. A China descobrirá a vacina antes que qualquer outro país o faça e a distribuirá ao mundo em tempo recorde. Ela comprará nossos ativos e investirá em nossos países para resgatar nossas economias. Ao fim e ao cabo, ela dirá ser nosso salvador".
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque.