Uma espanhola casada com um jihadista marroquino deu a luz ao primeiro cidadão espanhol nascido no Estado Islâmico.
O pai, Mohamed Hamdouch de 28 anos, é famoso pela extrema crueldade e selvageria tanto no campo de batalha quanto fora dele. Conhecido na Espanha como "Degolador de Castillejas", em reconhecimento à sua forte inclinação de postar fotografias nas quais aparece sorrindo, segurando cabeças decapitadas de soldados sírios.
A mãe da criança, Asia Ahmed Mohamed, nativa de Ceuta, um tipo de enclave espanhol no norte da África. Ela se casou com Hamdouch após receber dele um colete para suicidas como dote.
A lei de cidadania espanhola estipula que todos aqueles nascidos de pai ou mãe espanhol(a) são espanhóis de nascença, inclusive os nascidos no Estado Islâmico. De acordo com uma contagem mais de 100 cidadãos espanhóis se juntaram ao Estado Islâmico, incluindo pelo menos três mulheres, indicando que mais "bebês jihadistas" podem estar a caminho.
Um novo relatório do jornalista investigativo espanhol José María Gil Garre, que conduziu uma série de entrevistas exclusivas com Hamdouch ao longo do ano passado, mostra um vislumbre preocupante na mentalidade religiosa e ideológica de Hamdouch e de sua esposa, cujo compromisso com a jihad parece ser completo e total.
O relatório transmite uma sensação de desafio a ser enfrentado pela Espanha e demais países ocidentais diante de uma geração de pais com passaportes ocidentais que estão, ao que tudo indica, doutrinando seus filhos "ocidentais" com valores fundamentalmente anti-ocidentais.
O relatório também mostra como os jihadistas ocidentais justificam sua crueldade baseada em claras instruções encontradas no Alcorão e em outras escrituras islâmicas. Como tal o relatório efetivamente acaba com as alegações do Presidente dos EUA Barack Obama e de outros líderes ocidentais que o Estado Islâmico nada tem a ver com o Islã.
Garre descreve Hamdouch como um dos jihadistas "mais tenebrosos e desprezíveis" vivos hoje que "posta consistentemente fotografias nas quais ele está balançando cabeças decapitadas, crucificando homens e decapitando-os em seguida, além de vídeos exibindo torturas e assassinatos com extrema crueldade".
Hamdouch cujos apelidos são Abu Tasnim Al Magribi, Kokito Castillejas and Kokito Yu, nativo de uma cidade castigada pela miséria no norte de Marrocos chamada Fnideq (Castillejas em espanhol) situada a apenas dois quilômetros de Ceuta (território espanhol).
Acredita-se que Hamdouch tenha sido recrutado por Mustafá Maya Amaya, um espanhol convertido ao Islã nascido na Bélgica, que se mudou posteriormente para Melilla, outro tipo de enclave no norte da África. Amaya foi preso em março de 2014.
Segundo seus pais, Hamdouch, que chegou à Síria em 2013, se radicalizou na Internet, onde descobriu o takfirismo, ramo do salafismo dedicado a uma interpretação literal imutável do Alcorão que avaliza atos de extrema violência com o objetivo de recriar o Califado islâmico.
Em seu relatório, Garre registra o conteúdo de uma entrevista na qual ele questiona Hamdouch sobre as decapitações. Hamdouch respondeu:
"não viemos para matar civis ou muçulmanos. Muito pelo contrário, viemos ajudar os muçulmanos sírios e garantir que nossa religião e nossos irmãos triunfem. Viemos para que a lei da Sharia seja implementada, é a nossa constituição, adotar um modelo do Califado para que esteja de acordo com o Profeta Maomé. Essas cabeças decapitadas pertencem aos traidores e agentes dos Estados Unidos e Al Salul (termo depreciativo usado para aqueles que são leais aos sauditas), que recebem ajuda dos Estados Unidos e de países da Europa e do Golfo Pérsico para garantir que o Estado Islâmico não se alastre para o Iraque, Sham (grande Síria) e brevemente Roma. Estamos lutando na Síria, mas nossos olhos estão fixados na Palestina".
Em outra entrevista, Hamdouch deu uma explicação mais detalhada:
"eu sou muçulmano. A primeira coisa que você precisa fazer é estudar. O Islã é a melhor de todas as religiões. A decapitação é permitida no Islã. Eu recomendo que você leia as Suras (capítulos) do Al-Anfal (8), At-Tawbah (9) e Maomé (47). Se você ler essas Suras, você verá que Alá nos autorizou a decapitar determinada categoria de indivíduos, como por exemplo apóstatas e traidores, como aqueles que executamos".
Hamdouch acrescentou:
"minhas convicções emanam das palavras de Alá: é necessário matar os infiéis, independentemente se são muçulmanos ou ateus. Nós lutamos contra todos os infiéis, menos aqueles que retornam ao Islã. Esses nós perdoaremos porque Alá é clemente e misericordioso. No entanto, lutaremos contra qualquer um que se oponha a nós, não os perdoaremos. Iremos matá-los imediatamente".
Garre pediu a Hamdouch que comentasse a respeito da noção de que o Islã avaliza a violência que está ocorrendo na Síria. Hamdouch respondeu:
"eu juro em nome de Alá que isso não é violência. Nós estamos defendendo nossa religião. A imprensa está contra nós. Eu juro por Alá, nós somos os mais pacíficos e clementes. Nós decidimos lutar para que não haja mais injustiça. Não tenho certeza se você sabe disso, mas o Estado Islâmico libertou milhares de prisioneiros, entre eles mulheres, crianças e idosos. Além disso, muitas mulheres foram estupradas nas prisões pelos xiitas e em consequência disso deram a luz nas prisões".
Em outra entrevista, Hamdouch citou a Sura 9:24 do Alcorão, que conclama todos os muçulmanos, homens e mulheres a se juntarem à jihad. Ele disse o seguinte:
"há uma unanimidade global de que a jihad é uma obrigação, não há nenhuma necessidade de se obter permissão dos pais. Esposas também estão obrigadas a se oferecerem à jihad, sem a autorização de seus esposos".
Quando Garre questionou Hamdouch sobre as metas futuras do Estado Islâmico, Hamdouch novamente enfatizou a primazia de "libertar" a Palestina. "Nós estamos agora focados na Palestina, depois será a Europa e posteriormente o mundo inteiro, se Alá assim o desejar".
Quando questionado se planeja voltar para o Marrocos, Hamdouch respondeu:
"sim!". Eu quero voltar. Não para lá morar e sim para conquistar. E não somente o Marrocos, mas o mundo inteiro. Essas não são minhas palavras, são as palavras do profeta. Escute! Esta é a minha religião e estou muito consciente disso. Esse é o nosso Alcorão, que consideramos ser a nossa constituição. O quarto verso da Sura de Maomé preconiza: portanto quando se defrontar com aqueles que não acreditam, golpeie os pescoços deles até que você os tenha subjugado. Consequentemente, mate-os com toda a sua força".
Depois que as fotografias emergiram mostrando Hamdouch balançando as cabeças decapitadas de cinco soldados sírios, Garre enviou um email a Hamdouch.
Garre: "Kokito, você não quer falar comigo? Eu vi uma foto em que você estava com as cabeças decapitadas de vários homens. Você é um criminoso. Seu destino é o inferno. Você está com medo de conversar ou o que?
Hamdouch: "não tenho medo de ninguém a não ser de Alá! Por intermédio do terrorismo chegaremos até você na Espanha. Também chegaremos aos Estados Unidos".
Hamdouch: "você tem duas opções. Converta-se ao Islã, nesse caso você será honrado ou então pague o tributo dos humilhados (jizya). Se você se recusar a aceitar uma das duas opções, nosso relacionamento futuro será sangrento. Será um relacionamento que acabará em sua decapitação".
Garre: "você é um terrorista. Você é um criminoso. Você é um apóstata".
Hamdouch: "e Israel não é terrorista? Você verá que no futuro Israel será varrido do mapa do mundo! Primeiro destruiremos todos aqueles que protegem Israel, como o Líbano, Jordânia, Arábia Saudita e Egito. Esses países estão protegendo Israel. Eles são cachorros dos israelenses e traíram a Palestina".
De acordo com Garre, Hamdouch conheceu sua esposa Asia por meio das redes sociais quando ela tentava obter informações sobre seu irmão de 19 anos, Younes Ahmed Mohamed, que foi morto no campo de batalha, aparentemente no início de 2014. Hamdouch disse a ela que seu irmão tinha morrido como homem bomba.
Asia e Hamdouch acabaram se casando em uma cerimônia religiosa na qual ele se encontrava fisicamente em Ceuta e ela na Síria. O casamento foi validado na Espanha, aparentemente por meio de uma procuração. Segundo Garre, Asia chegou na Síria em junho de 2014 e os dois foram morar em al-Atareb, uma cidade estratégica no norte da Síria. Ela deu a luz a um menino em 15 de março de 2015. Ele se tornou o primeiro cidadão espanhol nascido no Estado Islâmico.
Garre perguntou a Hamdouch se é verdade que ele a presenteou com um colete para suicidas. Hamdouch respondeu: "sim, é verdade. O dote foi um colete para suicidas. Esse foi o pedido dela".
Quando foi perguntado se a sua esposa estava preparada para usar o colete, Hamdouch respondeu: "espero que Alá a ajude. De qualquer maneira estamos preparados para uma operação porque estamos em um país de guerra e traição. Espero que Alá nos ajude a nos mantermos inquebrantáveis".
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter.