O "genocídio qualificado" de cristãos na Nigéria, conforme tem sido caracterizado por vários observadores internacionais, está atingindo níveis sem precedentes, de acordo com dois relatórios separados.
"Combatendo o mito da indiferença religiosa no terror nigeriano (10/2019 – 9/2023)", um relatório abrangente de 136 páginas publicado pelo Observatório para a Liberdade Religiosa na África em 29 de agosto de 2024, constatou que militantes muçulmanos massacraram 16.769 cristãos só nos quatro anos entre 2019 e 2023. Isso significa 4.192 cristãos mortos em média por ano, ou seja: um cristão assassinado por causa da sua fé a cada duas horas.
Mais da metade desses assassinatos (55%) foram cometidos por pastores muçulmanos Fulani radicalizados, que na última década se tornaram os maiores perseguidores de cristãos do que grupos terroristas mais reconhecidos internacionalmente, como o Boko Haram e a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP), muito embora a ISWAP também esteja fazendo a sua parte no genocídio: os Fulani assassinaram 9.153 cristãos entre 2019 e 2023; os outros grupos terroristas juntos mataram 4.895 cristãos.
O segundo relatório, "NO ROAD HOME: cristãos deslocados internamente (IDPs) pela violência extremista na Nigéria", publicado pela Open Doors em 1º de setembro de 2024, afirma que a perseguição, o massacre e o desalojamento de cristãos na Nigéria são "implacáveis" e "uma bomba-relógio". Visto que "grupos militantes Fulani têm deliberadamente como alvo cristãos ou comunidades cristãs, seus meios de subsistência, líderes religiosos e locais de culto", os cristãos estão se tornando "uma espécie em extinção" na Nigéria, onde antes representavam mais da metade da população do país da África Ocidental (a outra metade é muçulmana).
A violência chegou a ponto, segundo o relatório, de muitas crianças cristãs traumatizadas dormirem em árvores para não serem massacradas durante a noite, quando os Fulani são mais propensos a ataques. "Meus filhos", salienta um pai, "toda vez que ouvem alguma coisa, entram em pânico ou se escondem porque isso desencadeia o trauma. O terror dos ataques não parou, muito pelo contrário, aumentou."
Só na última década, o número de pessoas deslocadas pela destruição e pelo caos causados pelos grupos islâmicos triplicou: em 2014, havia 1,1 milhão de deslocados internos na Nigéria; em 2023, já são 3.4 milhões.
Uma dessas pessoas deslocadas, Benjamin Barnabas, um pastor cristão, que mora numa pequena tenda há cinco anos, contou a sua história. Ele e sua família estavam trabalhando na fazenda deles quando os militantes Fulani "apareceram com armas de fogo, facões e pedaços de paus", espancaram o pastor e também sua famíia:
"perdemos tudo. Tudo em minha casa e no vilarejo foi queimado, fiquei sem nada... Ficamos deslocados por causa da violência. Os noticiários não estão nem aí com isso, permanecemos nas trevas, esquecidos, ao Deus dará."
O fato da mídia ser indiferente, ou pior ainda em relação à situação dos cristãos, e o fato dela ofuscar a identidade dos atormentados, foi enfatizado pelo Observatório:
"por mais de uma década, as atrocidades cometidas contra civis na Nigéria foram consideradas coisas de somenos ou estão minimizadas. Isso provou ser um grande obstáculo para os que buscam entender a violência. Eufemismos que douram a pílula, como "pastores armados" e "pastores do gado", são usados para retratar ondas contínuas de invasão, tortura e matança nas comunidades rurais. As descrições dos ataques como "confrontos étnicos", "confrontos entre agricultores e pastores" ou ataques de retaliação são absolutamente destinados a subverter a realidade. O uso da frase "bandidos" para se referir às milícias que realizam sequestros em massa e a imposição de servidão às comunidades é outro exemplo disso. E a política de ocultar a identidade religiosa (cristã) das vítimas também serve para distorcer a realidade dos fatos".
Por trás de todos esses eufemismos destinados a subverter a realidade, os fatos permanecem: os assassinos são muçulmanos e suas vítimas são predominantemente cristãos. Embora o relatório do Observatório se concentre principalmente na distorção dos fatos pela mídia nigeriana, a grande mídia ocidental também se recusa, com devoção, a usar o óbvio e o mínimo de bom senso para identificar os agressores (muçulmanos) e as vítimas (cristãos).
Quando terroristas muçulmanos massacraram quase 200 cristãos no Natal do ano passado, a Associated Press não mencionou as identidades dos agressores e as de suas vítimas. Deram um jeito de apresentar a atrocidade, como muitos fazem hoje em dia, como um lamentável subproduto da mudança climática, que está, ostensivamente, forçando os "pastores" (muçulmanos) a invadir as terras dos "agricultores" (cristãos).
Em outra reportagem da AP, sobre o atentado contra a igreja no Domingo de Pentecostes de 2022 que deixou 50 cristãos mortos, as palavras "muçulmano" e "Islã", mesmo "islamista", nunca aparecem. Em vez de relatar o ocorrido, os leitores foram informados do seguinte: "não ficou imediatamente claro quem estava por trás do ataque à igreja". Para manter a ambiguidade, a AP não mencionou que terroristas islâmicos invadiram centenas de igrejas e massacraram milhares de cristãos "por diversão" ao longo dos anos na Nigéria, fato este que pode ser uma dica sobre "quem estava por trás do ataque".
Ou então vamos nos lembrar das palavras do então Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Africanos do Presidente Barack Obama, Johnnie Carson, depois que terroristas muçulmanos massacraram 50 cristãos no domingo de Páscoa de 2012: "quero aproveitar a oportunidade para enfatizar um ponto-chave: que a religião não está fomentando a violência extremista (na Nigéria)".
Em seu lugar, a "desigualdade" e e "pobreza", citando o ex-presidente dos EUA William J. Clinton, são "o que estão alimentando todas essas coisas" ("essas coisas" sendo o genocídio muçulmano dos cristãos).
De volta à Nigéria, a maioria dos cristãos vê esses contínuos ataques pelo que eles realmente são. Conforme a freira, Irmã Monica Chikwe, certa vez observou:
"fica difícil dizer aos cristãos nigerianos que não se trata de um conflito religioso, já que o que eles veem são combatentes Fulani vestidos inteiramente de preto (como o ISIS), entoando 'Allahu Akbar!' e gritando 'morte aos cristãos'".
Os recentes relatórios também incluem citações e historietas que ressaltam a verdadeira fonte da hostilidade. Segundo um sobrevivente:
"quando os pistoleiros Fulani vieram atacar, podia-se ouvi-los gritando 'Allahu Akbar (Alá é o maior), vamos acabar com todos os cristãos".... Os Fulani começaram a atirar, incendiar as casas. Eles queimaram nossos animais e plantações de milho.
Conforme a Associação Cristã da Nigéria certa vez perguntou retoricamente:
"como é possível ser um confronto (secular ou econômico), quando um grupo (muçulmanos) ataca, mata, mutila, destrói sem parar, e o outro grupo (cristãos) é assassinado, mutilado sem parar e seus locais de culto destruídos?"
Em 2018, quando os ataques não eram nem de longe tão intensos e fortes quanto agora, o Fórum Nacional de Anciãos Cristãos da Nigéria resumiu sucintamente a fonte, de uma vez por todas, por trás do genocídio de cristãos na Nigéria:
"a JIHAD foi lançada na Nigéria pelos islamistas do norte da Nigéria liderados pelo grupo étnico Fulani. Esta Jihad se baseia na Doutrina do Ódio pregada em mesquitas e madrassas islâmicas no norte da Nigéria, bem como na ideologia supremacista dos Fulani. Usando tanto a Jihad convencional (violenta) quanto a Jihad furtiva (civilização), os islamistas do norte da Nigéria, ao que tudo indica, estão determinados a transformar a Nigéria em um sultanato islâmico e substituir a democracia liberal pela Sharia como ideologia nacional. Queremos uma Nigéria onde os cidadãos sejam tratados como iguais perante a lei em todos os níveis..."
Ambos os relatórios concordam que todos os dias, muitas vezes muçulmanos de coração, são vistos pelos terroristas como alguém um tantinho melhor do que os apóstatas, que estão sofrendo e sendo deslocados pelo caos. Os cristãos "foram escolhidos para serem atormentados pela violência, amargurados pelas duras condições de vida e obrigados a passarem por desafios por conta da fé ao longo da jornada de deslocamento". O Observatório aponta que "desde 2015, tem havido relatos consistentes de tratamento único dispensado a cristãos e muçulmanos cativos por membros de grupos terroristas":
- Trabalho forçado: cristãos cativos, incluindo homens, mulheres e crianças, são rotineiramente submetidos a trabalhos forçados e tarefas físicas extenuantes, muitas vezes em condições desumanas. Em contraste, seus pares muçulmanos são normalmente poupados de tal tratamento.
- Violência sexual: mulheres e meninas cristãs são frequentemente estupradas, abusadas sexualmente e outras formas de violência sexual infligidas pelos captores. As mulheres muçulmanas, por outro lado, via de regra, não são submetidas a tais atrocidades.
- Pedidos de Resgate e Libertação: os muçulmanos cativos que não têm condições de pagar resgates são às vezes libertados sem o pagamento, uma forma preferencial de tratamento. Os cristãos cativos, no entanto, raramente recebem tal clemência.
- Riscos de Execução: de acordo com relatos da mídia e pesquisas realizadas nos últimos 10 anos, os cristãos cativos têm maior probabilidade de serem executados do que os muçulmanos cativos mantidos pelos mesmos grupos terroristas. Há inúmeros casos em que cristãos cativos foram brutalmente assassinados pelos sequestradores, mesmo depois que os resgates foram pagos.
A "radicalização" na Nigéria é tal que até mesmo as autoridades locais discriminam e perseguem os cristãos: foram retratadas "algumas tentativas de pressionar, coagir ou forçar a conversão para o Islã pelo governo local e por membros da população". Por exemplo, "para obter acesso ao apoio expressivo" nos campos do Estado de Borno, "alguns se sentiram forçados a se converterem para o Islã ou esconder deliberadamente a fé... e em determinados locais de ensino eles não podiam ter acesso se tivessem nomes cristãos.
aLamentavelmente, a perseguição continua. Abaixo estão algumas manchetes que aparecerão em agosto e setembro de 2024, bem na época da publicação desses dois relatórios e, portanto, não incluídas neles:
- 3 de outubro: Pastores Matam Cristãos no Norte e no Centro da Nigéria
- 1 de outubro: pastores matam cristãos no Estado de Plateau, no centro da Nigéria
- 23 de setembro: pastores Fulani Matam Cristãos em Cultos na Nigéria: o Pastor eOutros 30 são Sequestrados.
- 2 de setembro: pastores Fulani Matam Seis Cristãos no Centro da Nigéria
- 20 de agosto: Desconhecido o Destino do pastor e da Filha Sequestrada na Nigéria: captores recebem pagamento de resgate, mas exigem outro.
- 14 de agosto: Muçulmanos Incendeiam Prédio da igreja no Centro da Nigéria: Auditório de Rezas da RCCG foi destruído pela segunda vez.
- 13 de agosto: a Nigéria continua tolerando o terrorismo, afirma a USCIRF
- 12 de agosto: Bandidos Matam Clérigo da Igreja, Outros Sequestram Oito Pessoas na Comunidade do Estado de Kaduna
- 9 de agosto: Pastores e Gangues Criminosas Matam pelo menos 50 Cristãos na Nigéria
- 7 de agosto: Ppastores Ferem Quatro Cristãos no Estado de Plateau na Nigéria: Um Fazendeiro que foi baleado quebra uma mão.
- 1 de agosto: Importante Mulher Cristã Sequestrada da Igreja na Nigéria: Policial e Motorista são mortos no ataque.
Em 2020, o presidente Donald J. Trump colocou a Nigéria na Lista de Países de Particular Preocupação do Departamento de Estado, ou seja, nações que se adotam ou toleram violações da liberdade religiosa. Além disso Trump, com a sua característica franqueza, perguntou ao então presidente nigeriano Muhammadu Buhari: "por que você está matando os cristãos?"
Por outro lado, durante o mandato do presidente Joseph R. Biden, inexplicavelmente, o Departamento de Estado retirou a Nigéria da lista, onde um cristão é massacrado a cada duas horas. O secretário de Estado, Antony Blinken, ao que tudo indica, fez essa concessão três dias antes de se encontrar com Muhammadu Buhari.
Na época, inúmeros observadores reagiram criticando o governo Biden. Conforme observou Sean Nelson, Consultor Jurídico para Liberdade Religiosa Global da Alliance Defending Freedom International (ADF):
"a indignação quanto à retirada do status de País de Particular Preocupação pelas violações da liberdade religiosa da Nigéria pelo Departamento de Estado é totalmente justificada. Nenhuma explicação foi dada que possa justificar tal decisão. A bem da verdade, no ano passado a situação na Nigéria piorou. Milhares de cristãos, bem como muçulmanos que se opõem aos objetivos de grupos terroristas e milícias, são alvos, são mortos e sequestrados, e o governo está simplesmente relutante em impedir essas atrocidades. Retirar o status de País de Particular Preocupação da Nigéria só fortalecerá cada vez mais o governo autoritário daquele país.
Esse é o estado atual das coisas: há muitos anos, uma jihad de proporções genocidas foi imposta contra a população cristã da Nigéria, mesmo quando a mídia e o governo americano apresentam bizarramente os problemas da Nigéria em termos puramente econômicos.
Para a grande mídia que para os políticos, cristãos mortos por muçulmanos não têm a menor importância.
Raymond Ibrahim, autor de Defenders of the West, Sword and Scimitar, Crucified Again, e The Al Qaeda Reader, é Distinguished Senior Shillman Fellow do Gatestone Institute e Judith Rosen Friedman Fellow do Middle East Forum.