Tendo fracassado clamorosamente nas tentativas de impedir a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Administração Biden, ao que tudo indica, está prestes a redobrar sua reputação global de fraqueza ao concordar com mais um inconveniente acordo nuclear com o Irã. Foto: Ali Bagheri Kani, negociador-chefe do Irã, fala à mídia no Palais Coburg, foro das negociações sobre a questão nuclear iraniana, em Viena em 27 de dezembro de 2021. (Foto: Alex Halada/AFP via Getty Images) |
Tendo fracassado clamorosamente em tentativas de impedir a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Administração Biden, ao que tudo indica, está prestes a redobrar a reputação global de fraqueza ao concordar com mais um inconveniente acordo nuclear com o Irã.
As negociações ora em andamento em Viena cujo propósito é retomar o Plano de Ação Conjunta (JCPOA), acordo de 2015 para limitar as investidas do Irã em adquirir armas nucleares, estão chegando à etapa conclusiva, com a possibilidade de que o novo acordo possa ser anunciado nas próximas semanas.
Na realidade, as autoridades iranianas e ocidentais estão sinalizando que um acordo está próximo de ser concluído, cujo único obstáculo, ao que parece, são as demandas de última hora da Rússia para que Moscou possa, não obstante as sanções, desfrutar de futuras negociações comerciais com Teerã.
Na qualidade de signatário do acordo original JCPOA negociado pela Administração Obama, a Rússia participou ativamente nas últimas negociações para relançar o acordo, como negociadora em nome dos EUA. Negociadores ocidentais alegaram que Moscou estava efetivamente apoiando o Irã para que este resistisse à pressão dos EUA para que fizesse concessões.
A decisão da Rússia de invadir a Ucrânia, no entanto, complicou as coisas: o Ocidente respondeu impondo pesadas sanções a Moscou, sanções estas que se aplicariam a quaisquer futuros acordos comerciais que a Rússia possa fazer com Teerã caso haja um novo acordo nuclear e caso as sanções contra o Irã sejam levantadas.
No começo, Washington salientou que não tinha intenção de pegar leve em relação às sanções contra a Rússia. Mas o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, ressaltou durante uma visita a Teerã nesta semana, que Moscou recebeu garantias por escrito de Washington quanto às sanções ocidentais à Rússia relacionadas à Ucrânia. A observação sugere que a Rússia poderá continuar negociando com o Irã, independentemente das sanções americanas.
"Recebemos garantias por escrito", enfatizou Lavrov. "Elas estão incluídas no próprio texto do acordo sobre a retomada do JCPOA sobre o programa nuclear iraniano."
Se isto for verdade, o fato da Rússia ter garantias de Washington de que as sanções não afetarão seus negócios com o Irã é mais uma evidência do desespero da Administração Biden de fechar um novo acordo com Teerã, mesmo que isso signifique fazer concessões intragáveis sobre as atividades nucleares do Irã.
As últimas avaliações sobre o progresso feito pelo Irã no programa de enriquecimento de urânio, processo vital no desenvolvimento de armas nucleares, mostram, sem a menor sombra de dúvida, que contém detalhes horripilantes. Depois que o Irã abandonou os compromissos no final de 2020 do JCPOA de limitar o enriquecimento de urânio, já se estima que o regime possua quantidades suficientes de urânio enriquecido para quatro ogivas nucleares.
Além disso, a Guarda Revolucionária do Irã atingiu novos recordes de sofisticação do potencial de seus mísseis balísticos demonstrado no lançamento do segundo satélite ao espaço no início deste mês. Os EUA insistem que os lançamentos de satélites violam uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, ao passo que especialistas em inteligência acreditam que o programa espacial do Irã está sendo usado para desenvolver mísseis balísticos intercontinentais capazes de transportar ogivas nucleares.
O gradativo armazenamento de urânio enriquecido do Irã, juntamente com a aprimorada sofisticação do desenvolvimento de mísseis, estão sem dúvida nenhuma causando profunda preocupação nas altas autoridades ocidentais que participam das negociações de Viena, parece que elas estão mais perdidas que cego em tiroteio.
Conforme Corinne Kitsell, Representante Permanente do Reino Unido na Agência Internacional de Energia Atômica, realçou no início deste mês:
"o programa nuclear do Irã continua avançando a pleno vapor quanto à multiplicação de seu estoque de urânio enriquecido e à realização de atividades que proporcionam a obtenção de conhecimento permanente e irreversível. O programa nuclear iraniano nunca avançou tanto, o que expõe a comunidade internacional a níveis de risco sem precedentes."
Mesmo assim, ao que tudo indica, é improvável que a Administração Biden peça a Teerã que preste contas pelo flagrante desrespeito ao JCPOA e, em vez disso, seguirá em frente para fechar um novo acordo, custe o que custar.
Isto porque, com a disparada dos preços globais de energia resultantes da crise na Ucrânia, a prioridade nº1 de Washington é suspender as sanções contra o Irã para que o regime possa começar a produzir petróleo, aumentar a produção global e reduzir o preço da gasolina e do óleo de calefação nos EUA antes das próximas eleições legislativas de 8 de novembro.
O problema de Biden é que, ao não abordar a ameaça real e verdadeira representada pelas ambições nucleares do Irã, ele estará simplesmente presidindo a maior erosão na posição dos Estados Unidos como potência global.
A relutância de Biden em enfrentar a realidade das ambições nucleares do Irã já criou tensões com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, dois países produtores de petróleo do Golfo que anteriormente mantinham estreitos laços com Washington. O infortúnio deles em relação à conduta da Administração Biden se refletiu na recente recusa dos líderes de ambos os países atender as chamadas de Biden para conversar sobre a crise energética global.
A Casa Branca deveria entender que a recusa desses dois antigos aliados americanos de conversar com Biden sobre uma questão tão vital como o fornecimento global de energia é consequência direta de sua equivocada abordagem em relação ao acordo com o Irã, que, se for adiante do jeito que está, será mais um descalabro da presidência de Biden.
Con Coughlin é o Redator de Defesa e Relações Exteriores do Telegraph e Shillman Journalism Fellow do Gatestone Institute.