Uma tática comumente utilizada pelo Antifa nos Estados Unidos e na Europa é o uso de extrema violência e destruição de propriedades públicas e privadas para provocar a reação da polícia, o que na sequência "prova" a asserção do Antifa de que o governo é "fascista". Foto: Um idoso se retira após ser violentamente espancado por integrantes do Rose City Antifa em 29 de junho de 2019 em Portland, Oregon. (Foto: Moriah Ratner/Getty Images) |
O procurador-geral dos EUA William Barr acusou o Antifa, movimento "antifascista", pela explosão da violência nos protestos ligados à morte de George Floyd nos Estados Unidos. "A violência instigada e praticada pelo Antifa e por outros grupos similares nos tumultos é terrorismo doméstico e assim será tratado", salientou ele.
Barr também adiantou que o governo federal tem evidências de que o Antifa "sequestrou" os legítimos protestos ao redor do país com o intuito de "cometer atos ilegais, tumultos violentos, incêndios criminosos, saques a lojas e ataques contra propriedades públicas, policiais e pessoas inocentes chegando até ao assassinato de um agente federal." Mais cedo, o Presidente dos EUA, Donald J. Trump, instruiu o Departamento de Justiça dos EUA a considerar o Antifa uma organização terrorista.
Acadêmicos e meios de comunicação simpáticos ao Antifa argumentam que o grupo não pode ser classificado como organização terrorista porque, segundo eles, trata-se de movimento de protesto vagamente definido, carente de estrutura centralizada. Mark Bray, eloquente defensor do Antifa nos Estados Unidos, autor do livro "Antifa: The Anti-Fascist Handbook" (Antifa: O Manual Antifascista) afirma que o Antifa "não é uma organização abrangente com uma estrutura hierárquica".
Indícios casuais e empíricos mostram que o Antifa é de fato fortemente conectado em rede, pesadamente financiado, presente globalmente. O movimento conta com uma estrutura organizacional horizontal com dezenas, provavelmente centenas de grupos locais. Não é de se estranhar que o Departamento de Justiça dos EUA esteja agora investigando pessoas ligadas ao Antifa como medida para desmascarar a organização no sentido mais amplo da palavra.
Nos Estados Unidos, a ideologia, táticas e objetivos do Antifa, longe de serem novos, são emprestados quase inteiramente de grupos do Antifa na Europa, onde os chamados grupos antifascistas, de uma forma ou de outra, têm sido ativos, quase sem interrupção, por um século.
O que é o Antifa?
O Antifa pode ser descrito como movimento transnacional de insurgência que não mede esforços, via de regra com extrema violência, para subverter a democracia liberal, cujo objetivo é substituir o capitalismo global pelo comunismo. O objetivo de longo prazo declarado pelo Antifa, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior, é o de estabelecer uma ordem mundial comunista. Nos Estados Unidos, o objetivo imediato do Antifa é levar a efeito o fim da administração Trump.
Entre os inimigos do Antifa figuram os agentes da lei e da ordem, que são vistos como agentes da ordem estabelecida. Uma tática comumente utilizada pelo Antifa nos Estados Unidos e na Europa é o uso de extrema violência e destruição de propriedades públicas e privadas para provocar a reação da polícia, o que na sequência "prova" a asserção do Antifa de que o governo é "fascista".
O Antifa afirma se opor ao "fascismo", termo que costuma usar abrangentemente de forma pejorativa com o intuito de enxovalhar aqueles que possuem crenças políticas diversas. O significado tradicional do termo "fascismo", conforme definido pelo Webster's Dictionary, é: "um sistema governamental totalitário liderado por um ditador, enfatizando um nacionalismo agressivo, militarismo e muitas vezes racismo".
O Antifa subscreve à definição marxista-leninista segundo a qual o fascismo equivale ao capitalismo. "A luta contra o fascismo só será vencida quando o sistema capitalista for esfarelado e uma sociedade sem classes for estabelecida", segundo o grupo alemão Antifa, Antifaschistischer Aufbau München.
A Agência de Inteligência Interna da Alemanha BfV, observa em um informe especial sobre o extremismo de esquerda:
"a luta do Antifa contra os extremistas de direita é mera cortina de fumaça. O verdadeiro alvo continua sendo o 'estado democrático-burguês' que, na leitura dos extremistas de esquerda, aceita e promove o 'fascismo' como possível forma de governo e, portanto, não o combate suficientemente. No frigir dos ovos, argumentam, que o 'fascismo' está enraizado nas estruturas sociais e políticas do 'capitalismo". Consequentemente, os extremistas de esquerda, em suas atividades 'antifascistas', dirigem o foco, acima de tudo, na eliminação do 'sistema capitalista'."
Matthew Knouff, autor do An Outsider's Guide to Antifa: Volume II, explica a ideologia do Antifa da seguinte maneira:
"a filosofia básica do Antifa se concentra na batalha envolvendo três forças básicas: fascismo, racismo e capitalismo, de acordo com o Antifa, as três estão inter-relacionadas. O fascismo é considerado a expressão ou estágio final do capitalismo, sendo o capitalismo um meio de oprimir e o racismo um mecanismo opressor relacionado ao fascismo".
No ensaio, "o que o Antifa e os fascistas originais têm em comum", Antony Mueller, professor alemão de economia que atualmente leciona no Brasil, descreveu como o anticapitalismo militante do Antifa, disfarçado de antifascismo, revela seu próprio fascismo:
"Depois que a esquerda se apoderou do conceito de liberalismo e o transformou no oposto do seu significado original, o movimento Antifa usa uma terminologia falsa para esconder seu verdadeiro propósito. Ao mesmo tempo em que se autodenominam 'antifascistas' e declaram ser o fascismo seu inimigo, o próprio Antifa é que é o suprassumo do movimento fascista."
"Os integrantes do Antifa não são os opositores do fascismo e sim seus genuínos representantes. O comunismo, o socialismo e o fascismo estão unidos pela liga comum do anticapitalismo e antiliberalismo."
"O movimento Antifa é um movimento fascista. O inimigo desse movimento não é o fascismo e sim a liberdade, a paz e a prosperidade."
Origens ideológicas do Antifa
As origens ideológicas do Antifa remontam à União Soviética de mais ou menos um século atrás. Em 1921 e 1922, a Internacional Comunista (Comintern) desenvolveu a assim chamada tática da frente unida para "unificar as massas trabalhadoras por meio da agitação e da organização"... "na esfera internacional e em cada país individualmente", contra o "capitalismo" e o "fascismo", dois termos que costumavam ser usados como se fossem a mesma coisa.
O primeiro grupo antifascista do planeta, o Arditi del Popolo (Milícia Corajosa do Povo), foi fundado na Itália em junho de 1921 para resistir à ascensão do Partido Nacional Fascista de Benito Mussolini, que foi estabelecido para evitar a possibilidade de uma revolução bolchevique na península italiana. Muitos dos 20 mil integrantes do grupo, compostos por comunistas e anarquistas, mais tarde se juntaram às Brigadas Internacionais durante a Guerra Civil Espanhola (1936/1939).
Na Alemanha, o Partido Comunista da Alemanha criou a força paramilitar Roter Frontkämpferbund (Aliança dos Combatentes da Frente Vermelha) em julho de 1924. O grupo foi banido devido à sua extrema violência. Muitos de seus 130 mil integrantes continuaram suas atividades na clandestinidade ou em organizações que a sucederam, como a Kampfbund gegen den Faschismus (Aliança de Combate ao Fascismo).
Na Eslovênia, foi criado em 1927 o movimento militante antifascista TIGR, com o objetivo de se opor à "italianaização" das regiões étnicas eslovenas após o colapso do Império Austro-Húngaro. O grupo, que foi dissolvido em 1941, se especializou em assassinar policiais e militares italianos.
Na Espanha, o Partido Comunista fundou o Milicias Antifascistas Obreras y Campesinas (Milícias de Trabalhadores e Camponeses Antifascistas), ativos na década de 1930.
O moderno movimento Antifa deriva seu nome de um grupo chamado Antifaschistische Aktion, fundado em maio de 1932 por líderes stalinistas do Partido Comunista da Alemanha. O grupo foi criado para combater os fascistas, termo usado pelo partido para retratar todos os demais partidos políticos pró-capitalistas da Alemanha. O objetivo primordial do Antifaschistische Aktion era o de eliminar o capitalismo, de acordo com uma detalhada história do grupo. O grupo, que tinha mais de 1.500 membros fundadores, entrou na clandestinidade depois que os nazistas tomaram o poder em 1933.
O panfleto escrito em alemão - "80 anos de ações antifascistas" (80 Jahre Antifaschistische Aktion) ", descreve nos mínimos detalhes a linha histórica do movimento Antifa, desde suas origens ideológicas na década de 1920 até os dias atuais. O documento assinala:
"fundamentalmente o antifascismo sempre foi uma estratégia anticapitalista. É por isso que o símbolo do Antifaschistische Aktion nunca perdeu seu poder inspirador... O antifascismo está mais para estratégia do que para ideologia".
Durante o período pós-guerra, o movimento Antifa da Alemanha reapareceu em várias manifestações, como por exemplo no movimento radical de protesto estudantil na década de 1960 e nos grupos de insurgência esquerdista que permaneceram ativos nas décadas de 1970, 1980 e 1990.
A Facção do Exército Vermelho (RAF), também conhecida como Gangue Baader-Meinhof, era um grupo guerrilheiro marxista urbano que cometia assassinatos, atentados à bomba e sequestros com o objetivo de promover a revolução na Alemanha Ocidental, que o grupo considerava uma herança fascista da era nazista. Ao longo de três décadas, a RAF assassinou mais de 30 pessoas e feriu outras 200.
Após o colapso do governo comunista na Alemanha Oriental em 1989-1990, descobriu-se que a RAF recebia treinamento, abrigo e suprimentos da Stasi, a polícia secreta do antigo regime comunista.
John Philip Jenkins, professor emérito de História da Universidade de Baylor salientou que as táticas do grupo lembram as usadas pelo Antifa de hoje:
"o objetivo da campanha terrorista do grupo era o de provocar uma reação agressiva do governo, o que segundo os integrantes do grupo iria desencadear um movimento revolucionário mais abrangente".
Ulrike Meinhof, Fundador da RAF explicou a relação entre o extremismo violento de esquerda e a polícia: "o cara de uniforme é um porco, não um ser humano. Isso significa que não temos que conversar com ele, aliás é totalmente errado conversar com essas pessoas. E claro, você pode atirar."
Bettina Röhl, jornalista alemã e filha de Meinhof, afirma que o movimento Antifa moderno é a continuidade da Facção do Exército Vermelho. A principal diferença é que, ao contrário da RAF, os integrantes do Antifa têm medo de revelar suas identidades. Em um ensaio de junho de 2020 publicado pelo jornal suíço Neue Zürcher Zeitung, Röhl também chamou a atenção para o fato do Antifa não ser só oficialmente tolerado, mas também ser financiado pelo governo alemão para combater a extrema direita:
"A RAF idolatrava as ditaduras comunistas da China, Coreia do Norte, Vietnã do Norte e Cuba, que foram transfiguradas pela Nova Esquerda como os melhores países que estão no caminho certo para o comunismo melhor...."
"O radicalismo de esquerda encontra-se em franco crescimento no Ocidente, ataca com violência a inauguração da sede do Banco Central Europeu em Frankfurt, em todas as cúpulas do G-20 ou todos os anos no dia 1º de maio em Berlim, alcançou o mais alto nível de status de establishment no país, em particular graças ao apoio de inúmeros parlamentares, jornalistas e especialistas de renome."
"Comparado à RAF, o militante Antifa não põe a cara para bater. Por conta da covardia, seus integrantes cobrem os rostos e mantêm os nomes em segredo. O Antifa constantemente ameaça com violência e ataques contra políticos e policiais. Promove danos monumentais, sem o menor sentido, a propriedades. Mesmo assim, a parlamentar Renate Künast (Verdes) recentemente reclamou no Bundestag (parlamento da República Federal da Alemanha) que os grupos Antifa não vêm sendo financiados adequadamente pelo Estado nas últimas décadas. Ela estava preocupada com o fato das 'ONGs e grupos Antifa nem sempre disporem de recursos e precisarem angariar dinheiro e por conseguirem somente fechar contratos de trabalho de curto prazo, ano a ano'. Houve aplausos da Aliança 90/Verdes, da esquerda e de deputados do SPD."
"Alguém pode perguntar se Antifa é algo como uma RAF oficial, um grupo terrorista com dinheiro do estado sob o pretexto de 'lutar contra a direita'".
A Agência de Inteligência Interna da Alemanha BfV explica a glorificação da violência do Antifa:
"Para os extremistas de esquerda, 'capitalismo' é interpretado como provocador de guerras, racismo, desastres ecológicos, desigualdade social e gentrificação. 'Capitalismo' é, portanto, mais do que uma mera ordem econômica. No discurso extremista de esquerda, o capitalismo determina a forma social e política, bem como a visão de uma reorganização social e política radical. Seja anarquista ou comunista: a democracia parlamentar, assim chamada forma burguesa de governo deve ser 'derrubada' de qualquer maneira."
"Por essas e por outras, extremistas de esquerda, via de regra, ignoram ou legitimam as violações dos direitos humanos que ocorrem nas ditaduras socialistas e comunistas e em países que eles, ao que tudo indica, se veem ameaçados pelo 'Ocidente'. Até hoje, comunistas ortodoxos e ativistas autônomos justificam, enaltecem e festejam a organização terrorista de esquerda Facção do Exército Vermelho ou terroristas de esquerda estrangeiros como verdadeiros 'movimentos de libertação' ou até mesmo 'combatentes da resistência'".
Enquanto isso, na Grã-Bretanha, o Anti-Fascist Action (AFA) um grupo militante antifascista fundado em 1985, deu origem ao movimento Antifa nos Estados Unidos. Na Alemanha, a Organização Antifascística da Organização Bundesweite (AABO) foi fundada em 1992, para unir esforços de pequenos grupos do Antifa espalhados pelo país.
Na Suécia, o Antifascistisk Aktion (AFA), grupo militante do Antifa, fundado em 1993, estabeleceu um histórico de três décadas de uso de extrema violência contra seus opositores. Na França, o grupo Antifa L'Action antifasciste, é conhecido por sua feroz oposição ao Estado de Israel.
Após a queda do Muro de Berlim em 1989 e o colapso do comunismo em 1990, o movimento Antifa abriu uma nova frente contra a globalização neoliberal.
O Attac, fundado na França em 1989 com o objetivo de promover um imposto global sobre transações financeiras, agora lidera o assim chamado movimento alterglobalização, assim como o Movimento pela Justiça Global, é contra o capitalismo. Em 1999 o Attac esteve presente em Seattle durante as violentas manifestações que levaram ao fracasso das negociações da OMC. O Attac também participou de manifestações anticapitalistas contra o G7, o G20, a OMC e contra a guerra no Iraque. Hoje, a associação atua em 40 países, com mais de mil grupos locais e centenas de organizações que apoiam a rede. A estrutura organizacional descentralizada e não hierárquica do Attac parece ser o modelo usado pelo Antifa.
Em fevereiro de 2016, o Comitê Internacional da Quarta Internacional adiantou os fundamentos políticos do movimento global antiguerra, que, como o Antifa, culpa o capitalismo e o globalismo neoliberal pela existência de conflitos militares:
"o novo movimento antiguerra tem que ser anticapitalista e socialista, porque não é possível haver luta séria contra a guerra, exceto na luta pelo fim da ditadura do capital financeiro e do sistema econômico por serem a causa fundamental do militarismo e da guerra".
Em julho de 2017, mais de 100 mil manifestantes antiglobalização e Antifa convergiram para a cidade alemã de Hamburgo para protestar contra a cúpula do G20. Uma multidão de vândalos esquerdistas destruíram o centro da cidade. Um grupo do Antifa chamado "G20 Bem-vindo ao Inferno" se gabaram por terem conseguido mobilizar grupos do Antifa mundo afora:
"as mobilizações relativas à cúpula se transformaram em momentos preciosos de encontro e cooperação de grupos e redes de esquerda e anticapitalistas de toda a Europa e do planeta. Compartilhamos experiências e lutamos juntos, participando de reuniões internacionais, sendo atacados por policiais apoiados pelas forças armadas, reorganizamos nossas forças e revidamos. O movimento antiglobalização mudou, mas nossas redes estão de pé. Atuamos localmente em nossas regiões, cidades, vilarejos e florestas. Também estamos lutando transnacionalmente. "
O serviço de segurança interna da Alemanha, num informe anual, salientou:
"as estruturas extremistas de esquerda tentaram virar o debate público sobre os violentos protestos da cúpula do G20 a seu favor. Distribuindo fotos e relatos de medidas policiais teoricamente desproporcionais ocorridas nos protestos durante a cúpula, eles promoveram a imagem de um Estado que censura protestos legítimos e os reprime com a violência policial. Contra um estado desses, dizem eles a 'resistência militante' não é apenas legítima, como também necessária".
A parte II desta série examinará as atividades do Antifa na Alemanha e nos Estados Unidos.
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque.