A União Europeia se curvou à pressão da China e moderou os termos de um comunicado sobre a investida chinesa de se distanciar da culpa quanto à pandemia do coronavírus. Autoridades de Pequim ameaçaram bloquear a exportação de suprimentos médicos para a Europa se o comunicado fosse publicado na íntegra. Foto: Ministro das Relações Exteriores da China Wang Yi na sede da UE em Bruxelas, em 17 de dezembro de 2019. (Foto: John Thys/AFP via Getty Images) |
A União Europeia se curvou à pressão da China e moderou os termos de um comunicado sobre a investida chinesa de se distanciar da culpa quanto à pandemia do coronavírus. Autoridades de Pequim ameaçaram bloquear a exportação de suprimentos médicos para a Europa se o comunicado fosse publicado na íntegra.
As revelações acontecem ao mesmo tempo em que diplomatas chineses mundo afora empreendem uma agressiva campanha de desinformação, no melhor estilo da diplomacia "Lobo Guerreiro", lembrando a série de filmes de ação nacionalistas chineses, cujo objetivo é controlar a narrativa sobre as origens do coronavírus.
Os enviados chineses têm sido especialmente agressivos no Twitter, usando a plataforma para atacar, intimidar e silenciar jornalistas, legisladores e consagrados think tanks ocidentais, no fundo, qualquer um que entre em contradição com a versão oficial chinesa sobre os acontecimentos.
No ano passado, mais de 60 diplomatas chineses e missões diplomáticas chinesas criaram contas no Twitter ou no Facebook de acordo com a agência de notícias Reuters, apesar das duas plataformas serem proibidas na China e as têm usado para atacar os que criticam Pequim, em todo o mundo.
Em 21 de abril, a agência distribuidora de notícias de Bruxelas Politico Europe revelou que recebeu uma minuta de um relatório da UE sobre as atividades de desinformação chinesas e russas relacionadas à doença do coronavírus (Covid-19). O relatório, que a UE planejava publicar no mesmo dia, continha o seguinte parágrafo:
"a China continua com a campanha global de desinformação no sentido de se isentar da culpa pelo surto da pandemia e para melhorar sua imagem internacional. É possível observar as táticas às claras e as às escondidas".
Mais do que depressa as autoridades chinesas entraram em contato com os representantes da União Europeia em Pequim para neutralizar o relatório de acordo com o New York Times, que também havia recebido o texto integral.
O Serviço de Ação Externa da UE acabou publicando o relatório chamado de Desinformação Covid-19 em 24 de abril, mas o tom usado em relação à China foi bem abrandado. O New York Times esclarece:
"O texto original citava os esforços de Pequim no sentido de tolher as menções quanto às origens do vírus ser da China, em parte por culpar os Estados Unidos pela disseminação da doença mundo afora. O texto observava que Pequim criticou a França pela lentidão em responder à pandemia e que fomentava falsas acusações segundo as quais os políticos franceses fizeram uso de calúnias racistas dirigidas contra o presidente da Organização Mundial da Saúde."
"Mas a China agiu a toque de caixa para bloquear a divulgação do documento e a União Europeia recuou. O relatório estava prestes a ser publicado, quando as autoridades do alto escalão da UE determinaram que fossem realizadas alterações e que baixassem a bola..."
"A sentença que trata da campanha de 'desinformação global' da China foi retirada, assim como qualquer menção ao embate entre China e França. O restante do tom também foi mais comedido..."
Sob pressão das autoridades chinesas, Esther Osorio, consultora de comunicações de Josep Borrell, chefe do serviço diplomático da UE, interveio pessoalmente para adiar a divulgação do texto original. O New York Times ressaltou:
"Osorio, a consultora de Borrell, pediu aos analistas que revisassem o documento e se concentrassem menos na China e na Rússia, a fim de evitar acusações de tendenciosidade, de acordo com um e-mail e entrevistas. Ela pediu aos analistas para que diferenciassem forçar a desinformação e a agressividade da narrativa e documentar cada uma delas 'pois estamos sob forte pressão da CN' — abreviação da palavra China".
Ao que consta a UE esperava obter mais consideração em relação às empresas europeias que se estabeleceram na China. Em 25 de abril, no entanto, o South China Morning Post, que também obteve uma cópia do texto original, revelou que Pequim havia ameaçado não enviar suprimentos médicos para a Europa se aquele parágrafo sobre a China não fosse retirado.
O analista geopolítico indiano Brahma Chellaney resumiu as implicações mais abrangentes das atitudes da UE:
"a UE autocensura o seu próprio relatório cedendo à pressão da China. Ao adoçar o relatório, a UE apagou referências à 'campanha de desinformação' chinesa relacionada à pandemia. A UE continua sendo o elo fraco na montagem de uma aliança de democracias frente ao forte autoritarismo da China".
Nesse ínterim, diplomatas chineses ao redor do mundo, liderados pelo Ministro das Relações Exteriores Wang Yi, vêm criticando duramente governos e indivíduos que eles consideram terem insultado a China. Alguns analistas ressaltam que isso reflete a crescente influência da China em assuntos internacionais. "A China quer que os países saibam quem é o mandachuva" escreveu a observadora Bethany Allen-Ebrahimian Beobachterin sobre a China.
Já outros analistas argumentam que a intransigência da China reflete a fragilidade do Partido Comunista Chinês e que o presidente chinês Xi Jinping está alimentando o nacionalismo para consolidar seu controle em meio à crescente insatisfação interna pela má gestão da crise do coronavírus. "Todos os governos se preocupam com a sobrevivência a essa praga, mas para um governo autoritário de um só partido, o temor é "existencial", observou Kevin Libin, colunista e editor executivo da revista canadense National Post.
De qualquer maneira, as táticas de pressão chinesas têm dado certo em alguns casos, como por exemplo com a União Europeia e as Filipinas. Com outros, a fanfarronice chinesa deu com os burros n'água espetacularmente.
Em 15 de abril, o jornal de maior circulação da Alemanha, Bild, publicou um artigo com o título: "O Que a China Nos Deve Até Agora", que sugeria que a China deveria pagar à Alemanha €150 bilhões (US$162 bilhões) em indenizações pela pandemia do coronavírus. O artigo continha uma lista detalhada de danos econômicos, incluindo € 50 bilhões em perdas de pequenas empresas e € 24 bilhões em turismo que foi por água abaixo.
A Embaixada da China em Berlim respondeu acusando o Bild de racismo. Em uma carta, a porta-voz da embaixada Tao Lili escreveu o seguinte:
"seu artigo não só carece de fatos importantes e cronogramas precisos, como também de um mínimo zelo jornalístico e imparcialidade. Aqueles que agem como vocês no artigo de hoje alimentam o nacionalismo, preconceito, xenofobia e animosidade contra a China. Menospreza a tradicional amizade entre nossos dois povos ou faz pouco caso de uma séria compreensão do que é jornalismo. Nesse contexto eu me pergunto: de onde na redação do jornal vem a antipatia ao nosso povo e ao nosso país?"
Em vez de morrer de medo e se prostrar, o redator-chefe do Bild, Julian Reichelt, rebateu com uma carta escrita por ele mesmo: "Você Está Pondo em Perigo o Mundo Inteiro". Isso foi publicado em alemão e inglês e endereçado diretamente ao presidente Xi Jinping. Reichelt escreveu:
"Você governa por meio de monitoramento. Você não seria presidente sem a vigilância. Você monitora tudo, todos os cidadãos, mas se recusa a monitorar as feiras livres enfermas de seu país."
"Você fechou todos os jornais e sites que criticam seu governo, mas não as bancas onde a sopa de morcegos é vendida. Você não está só monitorando seu povo, está colocando-o em perigo, e com ele, o restante do planeta."
"A vigilância é a negação da liberdade. E uma nação que não é livre, não é criativa. Uma nação que não é inovadora, não inventa nada. É por isso que você fez do seu país o campeão mundial de roubo de propriedade intelectual."
"A China se enriquece com as invenções de outros, em vez dela mesma inventar. A razão pela qual a China não inova e não inventa é porque você não deixa os jovens de seu país pensarem livremente. O maior sucesso de exportação da China (que ninguém gostaria de ter, mas que, apesar de tudo permeia o mundo inteiro) é o Corona..."
"Você criou uma China impenetrável e sem transparência. Antes do Corona, a China era conhecida como o país da vigilância. Agora, a China é conhecida como o país da vigilância que infectou o mundo com uma doença letal. Esse é o seu legado político."
"Sua embaixada me diz que não estou à altura da 'tradicional amizade dos nossos povos'. Suponho que você considera uma grande 'amizade' quando envia generosamente máscaras ao redor do mundo. Isso não é amizade, eu chamaria isso de imperialismo escondido atrás de um sorriso, um cavalo de Troia."
"Você planeja fortalecer a China através de uma praga que você exportou. Você não irá se sair bem. O Corona será seu fim político, mais cedo ou mais tarde."
Outros exemplos recentes de investidas de diplomatas chineses para intimidar e silenciar aqueles no exterior que desafiam o governo chinês:
Austrália
Em 23 de abril, o Primeiro Ministro da Austrália, Scott Morrison pediu a todos os países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) que apoiem a instauração de uma investigação independente sobre a pandemia do coronavírus. Ele salientou que todos os membros da OMS deveriam ser obrigados a participar de uma reavaliação e adiantou que a Austrália pressionaria pelo inquérito durante a Assembléia da OMS a ser realizada em 17 de maio.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, respondeu: "a assim chamada investigação independente proposta pela Austrália é na realidade uma manipulação política. Aconselhamos a Austrália a desistir de seus preconceitos ideológicos".
Brasil
O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, postou um tuíte, mais tarde excluído, chamando a família do Presidente Jair Bolsonaro de "enorme veneno", depois que seu filho Eduardo culpou a "ditadura chinesa" pela pandemia do coronavírus. O tuíte foi criticado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, que salientou que o tuíte foi desproporcional e feriu a boa prática diplomática.
Canadá
Em 19 de abril, a Embaixada da China em Ottawa teceu duras críticas ao Macdonald-Laurier Institute (MLI), um dos principais think tanks canadenses, depois dele ter publicado uma carta aberta acusando as autoridades chinesas de acobertarem a pandemia. A Embaixada da China escreveu:
"recentemente o Instituto Macdonald-Laurier publicou uma assim chamada carta aberta, sustentando falsamente que as raízes da pandemia estão sendo encobertas pela China, fazendo calúnias ofensivas e ataques ao Partido Comunista da China e ao governo chinês e interferindo flagrantemente em assuntos internos da China. O lado chinês expressa sua firme oposição a essas atitudes do MLI... Nós exortamos o MLI a respeitar a ética profissional, focar no trabalho que um think tank deveria fazer, abster-se de politizar o trabalho de pesquisa e deixar de lado essas bobagens contra a China".
Kaveh Shahrooz, conceituado especialista do MLI, tuitou:
"a embaixada chinesa no Canadá emitiu um comunicado no qual ataca o @MLInstitute, onde eu trabalho como Senior Fellow. Somos uma pedra no sapato de governos como os da China, Irã e Rússia. Tenho muito orgulho disso."
Shuvaloy Majumdar, outro especialista do MLI, tuitou:
"tenho a honra de parabenizar a Embaixada da RPC em Ottawa por ajudar a chamar a atenção em relação à intimidação praticada pelo Partido Comunista em cima de seu próprio povo e ao contínuo abuso que comete no exterior".
O governo canadense permanece calado a esse respeito. Charles Burton, Senior Fellow e especialista do MLI em assuntos relacionados à China, realçou que o silêncio de Ottawa só irá estimular Pequim a fomentar ainda mais as investidas para reprimir a liberdade de expressão no Canadá:
"é de se esperar que o governo do Canadá convoque a embaixada chinesa para que ela dê explicações sobre aquele comunicado. Trata-se de uma inequívoca interferência na liberdade de expressão de um think tank canadense e proferir alegações contra o think tank sem qualquer fundamento para tanto".
Em 19 de abril, o Primeiro Ministro de Alberta, Jason Kenney tuitou:
"fiquei estarrecido em saber que meu amigo de longa data Martin Lee, fundador do Partido Democrático de Hong Kong foi preso hoje juntamente com inúmeros cidadãos, entre eles a fina flor do #Hong Kong. Martin é um dos líderes mais respeitados da democracia de Hong Kong. Espero que ele seja libertado imediatamente."
O Consulado Geral da China em Calgary respondeu:
"o primeiro-ministro de Alberta comentou no Twitter sobre a prisão, de acordo com a lei, de um baderneiro anti-China pela polícia de Hong Kong. Ninguém está acima da lei. Ignorar os fatos e defender abertamente os baderneiros só pode mesmo corroer o estado de direito, o que não é do próprio interesse do Canadá. Pedimos aos políticos locais que respeitem as normas básicas que regem as relações internacionais, que respeitem a aplicação da lei de exceção SAR em Hong Kong e parem imediatamente de interferir nos assuntos internos da China".
A resposta de Kenney:
"eu reconheço que Alberta não possui uma política externa e também não sou freelancer em política externa, mas vou apenas dizer o seguinte: quando um amigo pessoal meu é encarcerado como preso político, não posso, em sã consciência, ficar calado."
Quando a China recuperou dos britânicos em 1997 a soberania sobre Hong Kong, Pequim concordou em permitir que Hong Kong desfrutasse de suas liberdades até 2047, em um acordo que ficou conhecido como "um país, dois sistemas".
Em 14 de abril, The Globe and Mail, o jornal de maior circulação do Canadá, publicou um editorial com o seguinte título: "A Cultura de Corrupção e Repressão do Partido Comunista Chinês Custou Vidas ao Redor do Mundo". O artigo acusou o PCC de ocultar, destruir, falsificar, inventar, suprimir e deturpar informações sobre a epidemia, de silenciar e criminalizar dissidentes e de sumir com quem soasse o alerta, "isso tudo reflete a amplitude da criminalidade e corrupção dentro do partido". O artigo pede à comunidade internacional que responsabilize as autoridades chinesas e as faça prestar contas pelo seu papel na criação de "uma das maiores crises humanitárias da história".
A Embaixada da China em Ottawa respondeu que o artigo estava "repleto de ódio e preconceito" contra o Partido Comunista da China (PCC):
"Como é possível alguém falar em prestar contas? O 'vírus político' da estigma é mais perigoso que a própria doença. Aqueles que querem atribuir a chamada 'criminalidade' ao PCC estão vendo a China com preconceito ideológico e o 'motivo político' por trás disso é de caráter duvidoso."
"Aconselhamos essas pessoas a concentrarem seus esforços nacionais na prevenção e controle de epidemias. Jogar a culpa nos outros não ajudará conter a epidemia em casa, nem ajudará a cooperação internacional na prevenção e controle da pandemia".
Em 1º de abril, The Globe and Mai lpublicou o seguinte editorial: "Por que Deveríamos Nós Confiar nos Dados Oficiais da China sobre a COVID-19?" O jornal perguntou:
"o primeiro instinto do governo chinês sempre foi o de ocultar os fatos, especialmente quando estes revelam seus próprios fracassos, então por que cargas d'água alguém deveria agora acreditar nos dados divulgados pela China sobre a COVID-19?... A legitimidade do governo comunista está condicionada à sua capacidade de convencer os cidadãos chineses de que ela se sai melhor do que os governos democraticamente eleitos quanto à proteção dos interesses de seus cidadãos. Para tanto, há muito inflaciona as estatísticas de crescimento econômico do país ao mesmo tempo em que as desidrata quanto às emissões de gases de efeito estufa. Por que então esperar que ela seja sincera em relação à própria epidemia da COVID-19?"
A resposta da Embaixada da China em Ottawa:
"o artigo enxerga que os Estados Unidos são um país democrático e a China é um país liderado pelo governo comunista, levando à ridícula conclusão de que os dados dos EUA são mais transparentes do que os da China. Trata-se de um flagrante caso de uso de dois pesos e duas medidas. Exortamos o The Globe and Mail a abandonar o preconceito, respeitar os fatos e parar de fazer comentários irresponsáveis contra os esforços da China em combater a COVID-19".
França
Em 14 de abril, o Ministro das Relações Exteriores da França Jean-Yves Le Drian convocou o embaixador chinês na França, Lu Shaye, para expressar sua discordância com algumas observações recentes de representantes chineses na França em relação à pandemia de coronavírus. "Certas declarações públicas emitidas recentemente por representantes da Embaixada da China na França não estão em conformidade com a qualidade do relacionamento bilateral entre nossos dois países", ressaltou ele.
Em uma série de declarações recentes à mídia, Lu acusou "um certo veículo de imprensa francesa" de denegrir a imagem da China por meio de "mentiras" sobre seu papel na atual pandemia do coronavírus. Esse meio de comunicação, segundo ele, jamais dando nome aos bois, ao que parece, em sua opinião, representar toda a imprensa francesa, "achincalhou a China", violando "toda a ética midiática e a mais elementar boa-fé", com uma abordagem que, nas palavras de Lu, "beiram a paranoia".
Falando no canal de TV a cabo Mandarin TV em 15 de março, Lu acusou a mídia de usar métodos de "propaganda" com o intuito de "fazer lavagem cerebral" na população. Em declarações publicadas no site da embaixada em 14 e 29 de fevereiro, ele condenou os comentários "irresponsáveis" e "absurdos", ditos na mídia francesa a respeito da China.
O secretário-geral dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Christophe Deloire salientou:
"esta 'lição de jornalismo' dada à imprensa francesa é inapropriada, principalmente vinda de um representante da República Popular da China, país que ocupa a 177ª posição entre 180 países no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da RSF além de ser um dos países que mais prende jornalistas no mundo. A censura de Pequim sobre a mídia chinesa teve um impacto muito negativo ao postergar a resposta do regime chinês quando do início da epidemia do coronavírus".
O RSF realçou em um comunicado à imprensa:
"as declarações do embaixador refletem uma política coordenada no mais alto nível do governo chinês visando controlar a cobertura da mídia internacional, conforme demonstrado pelo RSF em um estudo intitulado 'Busca da China de uma Nova Ordem Midiática Mundial' em 2019".
Alemanha
Em 12 de abril, o jornal Welt am Sonntag publicou uma reportagem segundo a qual ele havia recebido documentos vazados do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, que revelavam que as autoridades chinesas haviam contatado diretamente autoridades e funcionários de vários ministérios federais pedindo que "se manifestassem de forma positiva" sobre a gestão da China em relação à crise do coronavírus. As autoridades chinesas também "se aproximaram de tomadores de decisão do meio político, entre eles lobistas", com o objetivo de usá-los "em prol dos interesses chineses na Alemanha para promover o programa político do Partido Comunista". A Embaixada da China em Berlim respondeu acusando o Welt am Sonntag de estar "inclinado a caluniar e difamar" a China. "É necessário parar com qualquer tipo de enxovalhamento dirigido à China."
Índia
O embaixador chinês na Índia, Ji Rong, dirigiu pesadas críticas inúmeras vezes às autoridades e veículos de imprensa da Índia. Em 8 de abril, ele postou o seguinte tuíte:
"o assim chamado protesto de certas organizações indianas ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC), pedindo indenizações à China para compensar as perdas causadas pela #COVID19, é ridícula, salta aos olhos e ultrapassa as raias do absurdo. É neste momento difícil que precisamos trabalhar juntos em vez de macular e jogar a culpa nos outros".
Em 10 de abril, Ji tuitou o seguinte:
"é lamentável que certos meios de comunicação indianos tenham publicado artigos sobre a #COVID19 novamente se referindo ao vírus como 'WuhanVirus' e 'ChineseVirus'. É claro o consenso da comunidade internacional que um vírus não deve ser vinculado a nenhum país, região ou grupo étnico. Essa estigmatização é inaceitável."
Filipinas
Em 29 de março, o Departamento de Saúde pediu desculpas pelos comentários proferidos na véspera, de que dois lotes de kits de testes de coronavírus fornecidos pela China eram de má qualidade. A Subsecretária da Saúde Maria Rosario Vergeire salientou que os kits fabricados pelos fabricantes chineses BGI Group e Sansure Biotech apresentavam um índice de precisão de apenas 40% no diagnóstico da Covid-19 e que alguns destes kits teriam que ser descartados. A Embaixada da China em Manila postou o seguinte tuíte:
"a Embaixada da China refuta energicamente qualquer comentário irresponsável e qualquer tentativa de minar a nossa cooperação nessa questão".
Suécia
Em 18 de janeiro, a Ministra das Relações Exteriores da Suécia, Ann Linde convocou o embaixador chinês na Suécia, Gui Congyou, depois que ele comparou a cobertura da mídia sueca sobre a China a um lutador de boxe peso pena que "provoca rusgas" com um peso pesado. Congyou, que se tornou conhecido por não ter papas na língua, disse à emissora estatal SVT que os "frequentes e execráveis ataques ao Partido Comunista Chinês e ao governo chinês por parte de alguns meios de comunicação suecos" eram comparáveis a um lutador de boxe peso pena de 48kg provocando um lutador quase o dobro do seu peso:
"o pugilista de 86kg, em um mero gesto de boa vontade com o intuito de proteger o pugilista peso pena, aconselha-o a tirar o time e não se meter na vida dos outros, mas este se recusa a ouvir e até invade a casa do pugilista peso pesado. O que você espera do peso pesado? Que opção ele tem?"
Utgivarna, um grupo que representa a mídia do setor público e privado da Suécia, divulgou o seguinte comunicado:
"vira e mexe, o embaixador da China Gui Congyou tenta minar a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão ao amparo da constituição sueca com declarações falsas e ameaças. É inaceitável que a maior ditadura do mundo procure impedir o jornalismo livre e independente em uma democracia como a da Suécia. Esses recorrentes ataques têm que cessar imediatamente."
Venezuela
Em 18 de março, a Embaixada da China na Venezuela publicou uma furiosa "declaração" composta de 17 tuítes depois que legisladores venezuelanos não identificados se referiram ao coronavírus como "coronavírus chinês" ou "coronavírus de Wuhan". A Embaixada da China ressaltou que os legisladores foram contaminados com um "vírus político" e recomendaram que "procurassem tratamento". O primeiro passo, tuitou ele, seria "colocar uma máscara e calar a boca".
Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque.