Se esta tivesse sido a primeira vez que o Hamas provocou deliberadamente Israel a tomar medidas de autodefesa que acabaram com a morte não intencional de civis em Gaza, a mídia poderia ser desculpada por fazer o jogo do Hamas. As mais recentes provocações do Hamas, ao posicionar 40 mil moradores de Gaza na fronteira com o propósito de destruírem a cerca e penetrarem em território israelense com coquetéis Molotov e outras armas improvisadas, fazem parte de uma tática recorrente do Hamas que eu chamo de "estratégia do bebê morto". O objetivo do Hamas é fazer com que Israel mate o maior número possível de habitantes de Gaza, de modo que as manchetes sempre comecem e muitas vezes terminem com a contagem de corpos. O Hamas envia deliberadamente mulheres e crianças para a linha de frente, enquanto seus próprios combatentes se escondem atrás desses escudos humanos.
Os líderes do Hamas há muito confirmam o uso dessa tática. Fathi Hammad, membro do Conselho Legislativo Palestino do Hamas, declarou já em 2008:
"Para o povo palestino a morte virou uma indústria na qual as mulheres se destacam, assim como todas as pessoas que vivem nesta terra. Os idosos se destacam nisso, bem como os mujahidin e as crianças. É por isso que eles formam escudos humanos de mulheres, crianças, idosos e dos mujahidin, com o propósito de desafiar a máquina de bombardeio sionista. É como se estivessem dizendo ao inimigo sionista: "almejamos a morte assim como vocês almejam a vida".
O Hamas usou essa tática para provocar duas guerras contra Israel nas quais seus combatentes disparavam foguetes a partir de áreas civis, incluindo hospitais, escolas e mesquitas. Quando Israel respondeu, deu o máximo de si para evitar baixas civis, lançando de aviões panfletos de advertência, telefonando para moradores sobre alvos em potencial, lançando bombas sonoras não letais sobre telhados das casas que estavam sendo usadas para o lançamento de foguetes e armazenamento de explosivos. Inevitavelmente civis foram mortos e a mídia culpou Israel por essas mortes, apesar das precauções tomadas.
O mesmo aconteceu quando o Hamas construiu túneis para atividades terroristas usados para sequestrar civis israelenses. As entradas desses túneis também se encontravam em áreas civis, incluindo mesquitas e escolas. Usar seus próprios civis como escudos humanos enquanto alvejam civis israelenses é um duplo crime de guerra. No entanto, a mídia geralmente dirige o foco na reação de Israel a esses crimes de guerra, em vez dirigir o foco nos crimes de guerra cometidos pelo Hamas.
A cruel realidade é que toda vez que Israel mata acidentalmente um civil em Gaza, Israel perde. E toda vez que Israel mata um civil em Gaza, o Hamas vence. Os israelenses lamentam cada morte de civil que seu exército causa acidentalmente. O Hamas se beneficia de todas as mortes que Israel causa acidentalmente. É por isso que ele encoraja as mulheres e crianças a se tornarem mártires.
Chamar isso de "estratégia do bebê morto" pode parecer cruel, visto que é cruel. Mas não culpe o mensageiro por descrever com exatidão essa tática. Culpe aqueles que cinicamente a utilizam. E culpe a mídia por fazer o jogo daqueles que a usam, divulgando somente a contagem de corpos e não a tática deliberada do Hamas que leva à tendenciosa contagem de corpos.
É verdade que a situação de Gaza é desesperadora e atormentadora. Mas o tormento foi causado por ela mesma. Quando Israel terminou a ocupação da Faixa de Gaza, retirando todos os soldados e colonos, Gaza poderia ter se tornado a Cingapura do Mediterrâneo. É uma região maravilhosa, com praias espaçosas. Gaza recebeu injeções de dinheiro e outros tipos de ajuda da Europa. Israel deixou para trás equipamentos agrícolas e estufas. Mas em vez de usar esses recursos para alimentar, abrigar e educar os cidadãos, o Hamas construiu foguetes e túneis para atividades terroristas. Ele jogou dissidentes de cima de telhados e assassinou membros da Autoridade Palestina que estavam dispostos a reconhecer Israel e negociar a paz.
O Hamas rejeita a solução de dois estados ou qualquer solução que permita Israel existir. A única solução do Hamas é a violência e os eventos que ocorreram nos últimos dias são uma manifestação dessa violência. Algum país no mundo permitiria que 40 mil pessoas, comprometidas em destruir, derrubassem a cerca da fronteira e atacassem seus cidadãos que estão vivendo pacificamente perto da fronteira? Obviamente que não. Israel poderia ter feito mais para reduzir as baixas entre aqueles que tentaram romper a cerca da fronteira? Não sei e nem as legiões de generais do exterior, sem nenhuma experiência nesse tipo de situação, que estão no momento criticando Israel pelas medidas necessárias que tomou para evitar que uma catástrofe caísse sobre os moradores de aldeias e cidades próximas à cerca da fronteira o sabem.
Uma coisa é indiscutível: o Hamas continuará usando a estratégia do bebê morto enquanto a mídia continuar relatando as mortes da maneira como as vem relatando nas últimas semanas. Muitos na mídia são cúmplices dessas mortes porque suas reportagens tendenciosas encorajam o Hamas a mandar mulheres e crianças inocentes para a linha de frente.
Talvez Israel possa encontrar um método mais aceitável para defender seus civis, mas é certo que a mídia pode fazer um trabalho de melhor padrão ao relatar com exatidão a estratégia do Hamas que culmina em tantas mortes de inocentes.
Existe uma charge maravilhosa que ilustra a diferença entre o Hamas e Israel. Ela mostra um soldado israelense em pé na frente de um carrinho de bebê protegendo o bebê. Ao lado mostra um terrorista do Hamas em pé atrás de um carrinho de bebê usando o bebê para se proteger. Essa charge ilustra melhor a realidade que está ocorrendo na cerca de Gaza do que a maioria das reportagens "objetivas" da mídia.
Alan M. Dershowitz, Professor de Direito da Cátedra Felix Frankfurter, Harvard Law School e autor do livro "Trumped Up, How Criminalization of Political Differences endangers Democracy."