Quando o General Douglas MacArthur assumiu o comando da defesa da Austrália em 1942, diante da iminente invasão japonesa, um dos planos rejeitados por ele foi a de se retirar e lutar atrás da linha Brisbane, um passo que daria aos japoneses grandes extensões de território.
Em vez disso, ele preferiu a política de defesa progressiva: avançar para o norte partindo da Austrália para atacar os japoneses na ilha da Nova Guiné. MacArthur seguiu em frente, desempenhando um papel fundamental na derrota do império japonês.
No final do ano passado, durante as negociações israelenses/palestinas envolvendo o Secretário de Estado dos EUA John Kerry, outro general americano, John Allen, extremamente competente e amplamente respeitado, esboçou um plano para que Israel retirasse suas forças da Cisjordânia, de forma progressiva, e que uma combinação de forças árabes-palestinas, monitores internacionais e dispositivos tecnológicos cuidassem da defesa progressiva de Israel.
Dada a amplitude das ameaças existenciais emanando, ou vindo através da Cisjordânia hoje, ameaças conhecidas ou ameaças que serão desenvolvidas amanhã e a excepcional vulnerabilidade geográfica do Estado de Israel, tais propostas são totalmente impraticáveis. Nenhum país assumiria o risco de colocar em perigo a vida de seu povo e a integridade de seu território deixando nas mãos de terceiros, dessa forma, sua defesa, nem deveria.
Por exemplo, a Grã-Bretanha, onde não há ameaças existenciais dessa natureza, se recusa até em adotar os acordos de Schengen da UE, que deixariam a segurança das fronteiras do Reino Unido sob responsabilidade da Polônia, Eslováquia, Hungria, Espanha, Itália e demais vizinhos europeus. É uma opção antiga a de deixar as coisas como estão, que parece ser a mais sábia com o passar do tempo, à medida que a agressão jihadista internacional contra o Ocidente só aumenta.
O General MacArthur jamais recomendaria o "Plano Allen". Entretanto, MacArthur não se encontrava debaixo da mesma pressão política que o General Allen. Se estivesse, o teria rejeitado. Em 1934, na qualidade de Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, ele se opôs, com tal veemência, à intenção do Presidente Franklin D. Roosevelt de cortar drasticamente o orçamento das forças armadas que acabou vomitando nas escadarias da Casa Branca ao sair da reunião.
Será que o General Allen, ou outro general, hoje em dia, recomendaria um plano semelhante ao seu presidente, se não fosse a segurança de Israel e sim a segurança dos Estados Unidos que estivesse correndo perigo? É óbvio que não.
A bem da verdade, os generais dos EUA sustentaram, sem sucesso, o rumo oposto quando o Presidente dos EUA Barack Obama optou pela retirada total das forças americanas do Iraque em 2011, um passo que tornou inevitável o ressurgimento da jihad violenta em larga escala.
O General Allen comanda agora as operações de defesa progressiva dos americanos e aliados contra o Estado Islâmico da Síria e do Iraque (EIIS). A despeito de ter definido como um "perigo claro e iminente para os EUA", ele não recomenda a retirada das forças americanas para os Estados Unidos, nem passa a responsabilidade para proteger os interesses dos EUA às forças árabes, forças de paz e tecnologia. A verdade é justamente o contrário.
O contrário também é verdade para as operações defensivas progressivas dos EUA e seus aliados Ocidentais contra a jihad violenta no Iêmen, Paquistão, Afeganistão, Mali, Somália e em outros lugares. São todas ameaças significativas para o Ocidente, mas nenhuma é tão iminente e perigosa quanto a ameaça à Israel de uma Cisjordânia sem a devida presença israelense.
Apesar da determinação, de tantos no Ocidente, entenderem, erroneamente, o conflito israelense/palestino como uma mera disputa territorial que poderia ser solucionada se ao menos a assim chamada "ocupação" acabasse, as medidas de defesa progressiva indispensáveis, para as demais nações ocidentais, são da mesma maneira indispensáveis para Israel. A dura realidade militar é que Israel não pode retirar suas forças da Cisjordânia, nem agora nem em um futuro próximo.
Para aqueles que desejam enxergar com clareza e falar com honestidade, trata-se de uma conclusão óbvia já há muitos anos. Ela é ainda mais óbvia, talvez, para líderes com responsabilidade direta, como a que o General MacArthur tinha na Austrália em 1942, do que para aqueles que como o General Allen não teriam que sofrer as consequências de suas atitudes em Israel em 2013.
Acontecimentos recentes tornaram essa realidade ainda mais palpável. Fazendo uso de incessantes lançamentos de foguetes e da construção de um sistema sofisticado de túneis para sequestrar e massacrar civis israelenses, em grande escala, o Hamas acaba dar mais uma poderosa lição prática das consequências de uma retirada das Forças de Defesa de Israel (IDF).
Os líderes do Fatah podem até assumir uma postura um tanto diferente, para consumo internacional, mas se aliam com os proscritos terroristas do Hamas. E, na realidade, assim como o Hamas, eles continuam a rejeitar a própria existência do Estado de Israel. Ao que parece eles continuam querendo apenas a solução de um estado: domínio árabe do rio até o mar e a limpeza étnica dos judeus que viria em seguida.
Eles são consistentemente estimulados em direção a esse intento, tanto intencionalmente quanto não intencionalmente, pelas nações ocidentais, particularmente da Europa. Não menos importante é o compromisso feito pela Suécia em setembro, de apoiar um estado palestino unilateral, a recente votação no parlamento do Reino Unido no mesmo sentido e passos semelhantes por toda a Europa, que provavelmente ocorrerão nas semanas e meses vindouros.
Com incentivos dessa magnitude, não há a menor possibilidade dos líderes políticos árabes-palestinos modificarem a sua rejeição a um estado judeu, em um futuro próximo. A plataforma de lançamento que a Cisjordânia teria sem a presença da IDF, propiciaria ataques tão perigosos contra Israel que fariam com que Gaza parecesse tão ameaçadora quanto a Suíça.
As ameaças externas são pelo menos tão sérias quanto as da Cisjordânia. Não obstante as autoilusões de muitos líderes ocidentais e os sorrisos sedutores de Teerã, o regime iraniano continua dedicado a debilitar e, em última análise, destruir o Estado de Israel. Ao financiar e fomentar a violência, a liderança iraniana continuará a tirar vantagem das populações árabe-palestinas tanto em Gaza quanto na Cisjordânia com o propósito de atingir esse objetivo.
Aqueles que, a esta altura, defendem a retirada militar israelense da Cisjordânia e o estabelecimento de um estado soberano, não devem ter percebido que há uma guerra em andamento e que o General Allen está combatendo o Estado Islâmico (EI) e seus asseclas jihadistas na fronteira da Síria. O Estado Islâmico também tem Israel na mira e, sem sombra de dúvida, usaria a Cisjordânia como ponto estratégico para atacar, se estivesse disponível a ele. Nas mãos de monitores internacionais e de forças árabes-palestinas, a Cisjordânia estaria totalmente aberta para ele.
Basta olhar para ver a reação à agressão de praticamente todas as forças de paz internacionais, ao longo das décadas, para saber que não durariam nem cinco minutos. Ademais, basta olhar para o desempenho dos exércitos sírios e iraquianos, exaustos pelos combates, ao serem confrontados pelos combatentes do Estado Islâmico, para saber por quanto tempo as forças árabes-palestinas conseguiriam resistir a tal agressão, seja por infiltração seja por ataque frontal.
O que quer que aconteça ao Estado Islâmico no futuro, essa ressurgente beligerância islamista não é fogo de palha. Pelo contrário, ela vem se avolumando por décadas e o Presidente Obama, o Primeiro Ministro do Reino Unido David Cameron e demais líderes mundiais sabem que se trata de uma batalha geracional.
Isso significa que para Israel, na medida em que concernir à Cisjordânia, tanto o inimigo de dentro quanto o inimigo de fora estão aqui para ficar. E se a IDF não tiver outra escolha senão permanecer na Cisjordânia para defender Israel, não poderá haver a solução de dois estados, nem um estado árabe-palestino soberano a oeste da Jordânia, por mais desejáveis que sejam esses desejos.
Nem tampouco poderá haver uma solução de um estado com direitos democráticos para todos, porque isso resultaria no fim do único estado democrático e judaico e o início de uma nova autocracia e o novo êxodo dos judeus.
Para aqueles que não querem que isso aconteça, a dura realidade é a continuação do status quo. Agora, o status quo pode ser melhorado, e muito, por meio do aumento gradual e progressivo da autonomia da AP na Cisjordânia, ao ponto do estado existir virtualmente em todos os aspectos, menos em relação à segurança militar. Tal progresso só poderá ser alcançado por meio de negociações bilaterais discretas e concessões de ambos os lados. Não pode ser alcançado por meio de processos de paz, do tipo Kerry, que demandem feitos espetaculares, que levem a comunicados revolucionários, para entrarem nos anais da história.
O progresso também não pode ser alcançado a despeito de um mundo ocidental condenar reflexivamente cada passo dado por Israel, e estimular os árabes palestinos a acreditarem que a fantasia de uma solução de dois estados ou de um estado nos termos deles pode se tornar realidade em futuro próximo.
E como acontece frequentemente no mundo paradoxal da geopolítica, as medidas e palavras bem intencionadas de líderes nacionais e de organizações internacionais produzem efeitos colaterais. Quanto à situação israelense/palestina, os efeitos colaterais das ações do Ocidente são a de desprover os árabes palestinos de maior liberdade e prosperidade e de enfraquecer a segurança do único estado estável, liberal e democrático do Oriente Médio. Se o Ocidente realmente quiser ajudar, seus líderes devem encarar essa realidade desagradável, em vez de continuar iludindo o povo palestino e a si mesmos.
Ao contrário, os líderes ocidentais deveriam usar todos os meios diplomáticos e econômicos disponíveis, para deixar claro aos palestinos que eles nunca terão um estado independente e soberano enquanto estiverem determinados a destruir o Estado de Israel e enquanto continuarem a fazer lavagem cerebral nas gerações futuras para acreditarem nesse objetivo.
O Coronel Richard Kemp passou a maior parte de seus 30 anos de carreira no exército britânico, comandando tropas na linha de frente, no combate ao terrorismo e à insurgência em zonas de perigo incluindo o Iraque, os Bálcãs, Sul da Ásia e Irlanda do Norte. Foi Comandante das Forças Britânicas no Afeganistão em 2003. De 2002 a 2006 chefiou a equipe internacional de combate ao terrorismo do Comitê Conjunto de Inteligência do Gabinete do Primeiro Ministro Britânico.