Em 7 de Outubro, quando o grupo terrorista Hamas lançou um ataque bárbaro contra Israel, assassinando mais de 1.400 homens, mulheres e crianças israelenses (além de ferir outros milhares), o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, diferentemente de suas habituais e inflamatórias críticas anti-Israel, atipicamente pediu contenção a ambos os lados.
Contudo, a ascensão do Islã político na Turquia nas últimas duas décadas e o antissionismo inerente a Erdoğan, ele certa vez chamou o sionismo de crime contra a humanidade, ao que tudo indica, deixaram uma marca indelével na psique turca. Além do pedido equilibrado e ostensivamente imparcial de contenção, Erdoğan também disse que um estado palestino é um requisito que não pode ser adiado.
O professor Ali Erbaş, o mais importante clérigo muçulmano da Turquia, que responde diretamente a Erdoğan, já foi menos imparcial. Erbaş, presidente do Conselho Administrativo para Assuntos Religiosos da Turquia (Diyanet), órgão governamental que comanda um orçamento de mais de 12 ministérios, salientou que Israel deveria "se retirar dos territórios palestinos ocupados", acrescentando: "apoiamos o oprimido povo palestino e a sua luta pela liberdade da Mesquita de Al-Aqsa..."
"A luta dos palestinos pela resistência é legítima" comentou o parceiro da coalizão de Erdogan, Zekeriya Yapıcıoğlu, líder do partido HUDA-PAR.
O ataque assassino do Hamas, que o grupo chamou de "Operação Tempestade Al-Aqsa", revelou mais uma vez o sentimento dominante turco sobre o conflito árabe-israelense. O quão bizarro a Turquia é, uma nação que sofreu nos últimos 40 anos ataques terroristas que resultaram em 50.000 mortos, e mesmo assim carecer tão radicalmente do mínimo indício de empatia face a indescritíveis ataques terroristas contra outra nação. No entanto, empatia não é uma das extraordinárias qualidades da Turquia.
O jornal militante islamista Yeni Akit classificou a campanha terrorista do Hamas uma "vitória histórica". Sua matéria entrou em detalhes: "foi assim que tantos sionistas foram mortos". Provavelmente, quanto mais corpos dos sionistas, melhor. Os jornalistas deste jornal são normalmente assíduos hóspedes do jato particular de Erdoğan.
Quando um político curdo local se referiu aos palestinos como "filhos de uma tribo que enterrou meninas recém-nascidas vivas ",Yeni Akit o atacou chamando-o de "lixo israelense".
O diário pró-Erdoğan Yeni Şafak escreveu que o "estado terrorista de Israel está atacando alvos civis". O que?! A "pós-verdade" atinge novos patamares.
Star, outro diário pró-Erdoğan, apontou toda a espiral de violência de "opressão israelense". Enquanto o Hamas assassinava centenas de civis israelenses e fazia reféns pelo menos 100 homens, mulheres e crianças, a manchete no Star dizia: "Israel ataca um prédio de 14 andares em Gaza."
Sabah, outro diário de carteirinha pró-Erdoğan, alegremente anunciou que "multidões de israelenses estão fugindo do país".
Yeni Akit comunicou que os "sionistas estão visando jornalistas... isso não é só uma violação dos direitos humanos, mas também uma tentativa de censurar a imprensa e uma traição à lei universal." É sério? Vocês respeitam os direitos humanos esfregando as mãos e contando o número de mortos israelenses.
Enquanto isso, multidões organizadas por três ONGs islamistas turcas se concentraram na Mesquita Fatih, em Istambul, para demonstrar solidariedade com os "heróis de Al-Aqsa". Foram realizadas orações para os terroristas. Yeni Akit divulgou que "os jihadistas que romperam o cerco estão em Istambul". A manchete dizia: "sionismo apunhalado no coração."
De acordo com o jornal, o que aconteceu a partir de 7 de outubro é "mais uma onda de terrorismo israelense." E segundo outro diário pró-governo, o Türkiye, "Israel está massacrando pessoas por terra e ar."
A emissora estatal TRT da Turquia explicou em uma matéria jornalística porque tudo isso teve que acontecer: "... depois que um palestino foi morto durante confrontos com colonos ilegais na cidade ocupada de Huwara, na Cisjordânia." E entre aspas: "foi lançado um ataque para que Israel pague pela sua agressão."
Yeni Akit reclamou que os sionistas cortaram a energia elétrica em Gaza. Yeni Akit disse que o ataque do Hamas ara a "jihad contra o estado terrorista de Israel". Os islamitas turcos acusam Israel de não ajudar o Hamas ao se recusar em fornecer energia elétrica, dinheiro, armas, equipamento e formação aos residentes de Gaza para matarem mais israelenses.
Em meio a toda essa baboseira, o canal de notícias, HaberTürk , transmitiu uma entrevista ao vivo com Irit Lillian, Embaixadora de Israel na Turquia. O islamista Milli Gazeta reagiu: "como você ousa! Enquanto os combatentes da liberdade do Hamas estão mandando dezenas de ocupadores para o inferno..." Segundo o Milli Gazeta, este é um "apocalipse para Israel", e as baixas palestinas são "mártires."
Há uma paz frágil entre Ancara e Jerusalém. Teoricamente, Erdoğan se reconciliou com Israel, mas as relações diplomáticas só foram totalmente restauradas depois que sua promessa de isolar Israel internacionalmente trouxe à Turquia um pesado custo geopolítico.
O fanático legado anti-israelense de Erdoğan envenenou "com sucesso" uma sociedade já xenófoba, provavelmente levará gerações para arrumar isso.
Burak Bekdil, um dos principais jornalistas da Turquia, foi recentemente despedido do jornal mais conhecido do país, após 29 anos, por escrever para o Gatestone Institute o que está acontecendo na Turquia. Ele é Fellow no Middle East Forum.