Enquanto o movimento Black Lives Matter (BLM) e seus puxa-sacos debatem interminavelmente a mudança de nomes de ruas e a remoção de estátuas, ignoram ao mesmo tempo os impressionantes 40 milhões de vítimas da verdadeira escravidão no mundo de hoje, entre eles cerca de 9,2 milhões de homens, mulheres e crianças, hoje escravizados na África. Foto: vândalos tentando derrubar a estátua do presidente americano Andrew Jackson na Lafayette Square, em 22 de junho de 2020, próximo à Casa Branca em Washington, DC. (Foto: Tasos Katopodis/Getty Images) |
Os noticiários estão repletos de reportagens sobre os apoiadores do movimento Black Lives Matter (BLM) que vandalizam e derrubaram estátuas de mercadores de escravos, donos de escravos e qualquer um que eles consideram ter alguma ligação histórica com a escravatura. Em Bristol na Inglaterra, uma estátua do mercador de escravos Edward Colston foi derrubada e jogada no rio. Na Bélgica, estátuas do rei Leopoldo foram desfiguradas.
Os atos fizeram com que algumas autoridades locais aventassem a possibilidade de retirar todas as estátuas consideradas ofensivas às atuais suscetibilidades. O prefeito de Londres Sadiq Khan anunciou a formação de uma comissão para examinar o futuro dos marcos da cidade, como estátuas e nomes de ruas da capital do Reino Unido.
O que não está claro é como atacar antigas estátuas de personagens que já estão mortos há muito tempo irá ajudar alguém, particularmente milhões de negros e não negros que ainda hoje são escravizados. Ao que tudo indica, os zelosos ativistas do BLM e seus inúmeros apoiadores prostrados de joelhos, não dão a mínima para o tormento dos escravos modernos, que somam uma multidão de cerca de 40 milhões de escravos existentes nos dias de hoje. Obviamente, é muito mais fácil e provavelmente mais agradável, destruir monumentos históricos do Ocidente do que embarcar na difícil missão de realmente abolir a escravidão moderna.
No próprio Reino Unido há uma gama estarrecedora de escravos modernos, algo que os zelosos do pedaço ignoram alegremente ao mesmo tempo em que atacam corajosamente estátuas de pedra e metal. De acordo com o Relatório Anual sobre a Escravidão Moderna de 2019 do governo do Reino Unido, há pelo menos 13 mil vítimas em potencial submetidas à escravidão no Reino Unido, embora esse dado remonte a 2014, o que o torna um tanto duvidoso. Segundo estimativas do Índice Global de Escravidão de 2018, há 136 mil pessoas submetidas à escravidão moderna só na Grã-Bretanha.
A escravidão no Reino Unido toma a forma de trabalho forçado e exploração doméstica e sexual. Entre os grupos que compõem a maioria dos escravos se encontram os albaneses e vietnamitas. Os veículos de comunicação britânicos divulgaram inúmeros casos quanto à estimativa que soma milhares de vietnamitas, metade dos quais com menos de 18 anos de idade, que são sequestrados e traficados para o Reino Unido, onde são forçados a trabalhar como escravos em fazendas de maconha. Lá eles formam uma pequena peça da engrenagem da "gigantesca máquina criminosa que abastece o mercado negro da maconha no Reino Unido calculado em £2.6 bilhões". Os que não são forçados a trabalhar na indústria da maconha são escravizados em "salões de beleza de manicure e pedicure, bordéis e restaurantes ou então são mantidos em cativeza doméstica em residências particulares". Em janeiro, a BBC News publicou uma história de um menino vietnamita chamado Ba, sequestrado por uma gangue chinesa e traficado para o Reino Unido onde seu patrão chinês o deixava passar fome além de espancá-lo sempre que uma das plantas da maconha não dava o resultado esperado.
O BLM pode até não estar nem aí com a vida dos vietnamitas no Reino Unido, afinal de contas eles só ligam para o que acontece com os negros, que tal então darmos uma olhada e ver o que acontece com os escravos negros na África? Calcula-se que haja atualmente, cerca de 9,2 milhões de homens, mulheres e crianças submetidos à escravidão moderna na África, de acordo com o Índice Global de Escravidão, que engloba trabalho forçado, exploração sexual e casamento forçado.
"De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) da ONU, há hoje mais de três vezes o número de pessoas em servidão forçada do que o número de capturados e vendidos durante os 350 anos de tráfico negreiro transatlântico", segundo reportagem da Time Magazine publicada em março de 2019. Segundo a OIT, a escravidão moderna conta com 25 milhões de pessoas em servidão por dívida e 15 milhões mantidas em casamentos forçados.
A escravidão moderna aufere às redes criminosas cerca de US$150 bilhões por ano, pouco menos do que o contrabando de drogas e o tráfico de armas. "A escravidão moderna é de longe muito mais lucrativa hoje do que em qualquer outro período da história da humanidade", afirmou Siddharth Kara, economista do Carr Center for Human Rights Policy, à Time. De acordo com o Índice Global de Escravidão de 2018, "os países do G-20 importam cerca de US$354 bilhões a cada ano de produtos suscetíveis de terem sido produzidos por meio da escravidão moderna".
Em 2017 apareceram imagens estarrecedoras de leilões de escravos na Líbia: a CNN documentou um incidente no qual homens falando em árabe venderam doze nigerianos. Em 2019, a Time Magazine entrevistou o migrante africano chamado Iabarot, que tinha sido vendido como escravo quando estava a caminho da Europa:
"quando Iabarot chegou à fronteira sul da Líbia, ele conheceu um motorista de táxi aparentemente amigável que se ofereceu para levá-lo de graça à capital, Trípoli. Em vez de levá-lo conforme combinado, ele foi vendido a um 'líbio branco' ou árabe por US$200. Ele foi forçado a trabalhar em um canteiro de obras para pagar a 'dívida', uma prática que se repetiu toda vez que ele era vendido e revendido."
O tráfico sexual é um segmento considerável da escravidão moderna. A máfia nigeriana, por exemplo, segundo uma reportagem do Washington Post de 2019, trafica dezenas de milhares de mulheres:
"especialistas salientam que cerca de 20 mil mulheres nigerianas, algumas menores de idade, chegaram à Sicília entre 2016 e 2018, traficadas com a ajuda de nigerianos na Itália e na Nigéria".
De acordo com um relatório de julho de 2017 da Organização Internacional de Migração da ONU (OIM):
"nos últimos três anos, a OIM Italy observou um aumento de quase 600% no número de potenciais vítimas de tráfico sexual que desembarcaram na Itália por via marítima. Essa escalada se manteve durante os primeiros seis meses de 2017, sendo que a maioria das vítimas veio da Nigéria " No relatório, a OIM estima que 80% das meninas, muitas vezes menores, vindas da Nigéria, cujo contingente saltou vertiginosamente de 1.454 em 2014 para 11.009 em 2016, era composto de "vítimas em potencial de tráfico para exploração sexual".
Em determinadas regiões do continente africano, principalmente no Sahel, a escravidão ainda se encontra arraigada na cultura tradicional, embora oficialmente ela tenha sido proibida. Em países como o Mali e a Mauritânia, a assim chamada escravidão com base na descendência ou escravidão com "base em castas", na qual a escravidão é passada de geração em geração, em que os escravos já nascem nessa condição, continua sendo praticada por alguns.
Em 2013, estimou-se que cerca de 250 mil pessoas viviam em condição análoga à de escravo no Mali, onde a escravidão não é ilegal. Raichatou, escrava malinesa, contou ao jornal The Guardian em 2013, que ela se tornou escrava aos sete anos de idade quando a sua mãe, também escrava, morreu. "Meu pai presenciou, sem poder fazer nada, o dono da minha mãe buscar a mim e meus irmãos", disse ela. Ela trabalhou como serva da família sem remuneração por quase 20 anos, foi forçada a se casar com outro escravo sem saber quem ele era, para que ela pudesse gerar mais escravos ao seu mestre.
Calcula-se que na Mauritânia o número de escravos atinja 20% da população, embora a escravidão tenha sido oficialmente proibida em 1981. Os escravos são principalmente integrantes da minoria haratina, africanos negros, diferentemente de quase metade da população que é árabe ou berbere. De acordo com uma reportagem do The Guardian de 2018:
"a escravidão tem uma longa história nesta nação desértica do norte da África. Durante séculos, os mouros de língua árabe invadiam aldeias africanas, resultando num sistema rígido de castas que existe até hoje, resultando em habitantes de pele mais escura, sempre em dívida para com seus "mestres" de pele mais clara. O status de escravo é passado de mãe para filho e ativistas abolicionistas são via de regra torturados e detidos. No entanto, o governo rotineiramente nega que haja escravidão na Mauritânia, botando banca por ter erradicado a prática".
O relatório também descreve a terrível sorte de alguns escravos haratinos:
"Aichetou Mint M'barack era escrava por descendência na região de Rosso. Assim como sua irmã, ela foi arrancada da mãe e levada para longe, na sequência ela foi entregue a um membro da família do mestre para ser serva. Ela se casou na casa dos seus senhores e teve oito filhos, dois dos quais foram levados para serem escravos de outras famílias. Em 2010, a irmã mais velha de Aichetou conseguiu libertá-la... após ela mesma ter fugido de seus mestres quando derramaram água fervente sobre seu bebê, assassinando-o."
O movimento BLM e inúmeros CEOs, professores universitários, mídia, personalidades esportivas e culturais que estão se ajoelhando em apoio ao movimento, parecem estar totalmente impassíveis com a sorte de pessoas como Aichetou. Muito provavelmente eles sequer ouviram falar dela ou de tantos outros que padecem como ela. Estas são, aparentemente vidas negras que não importam a ninguém a não ser para aqueles com coragem que trabalham nas organizações locais de combate à escravidão.
Em vez disso, o BLM e seus bajuladores discutem incessantemente a mudança dos nomes de ruas e universidades e a remoção de estátuas, que não representam nada além de sinalização infantil de virtude. Eles perdem tempo debatendo se as pessoas que nunca foram escravas deveriam receber reparações de pessoas que nunca tiveram um escravo.
Fazer parte de toda essa dissimulação e ao mesmo tempo ignorar os impressionantes 40 milhões de vítimas da verdadeira escravidão que acontece aqui a agora, não só representa as profundezas incomensuráveis da hipocrisia do zelo como também configura um insulto extremo àqueles que sofrem da escravidão em silêncio, que morrem lentamente de abuso físico, abuso sexual e emocional por conta do que estão sendo forçados a suportar. De qualquer maneira, "abominável" para valer é isso.
, ilustre Senior Fellow do Gatestone Institute.