Não obstante as duras sanções do Ocidente impostas à Rússia, a guerra do presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia já dura mais de um mês e Putin não mostra sinais de recuar. A potência que o ajuda a resistir aos efeitos das sanções e a continuar a guerra é o seu aliado mais poderoso: a China. Foto: Putin com o presidente chinês Xi Jinping em Moscou em 5 de junho de 2019. (Imagem: kremlin.ru) |
Não obstante as duras sanções do Ocidente impostas à Rússia, a guerra do presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia já dura mais de um mês e Putin não mostra sinais de recuar. A potência que o ajuda a resistir aos efeitos das sanções e a continuar a guerra é o seu aliado mais poderoso: a China.
Na véspera da invasão da Ucrânia pela Rússia ocorrida em 24 de fevereiro, a Rússia e a China firmaram contratos no valor de centenas de bilhões de dólares. Em 4 de fevereiro, Putin anunciou novos acordos de petróleo e gás com a China no valor estimado de US$117,5 bilhões. Em 18 de fevereiro, seis dias antes da invasão, a Rússia anunciou ter fechado um acordo de US$20 bilhões para fornecer 100 milhões de toneladas de carvão para a China. No dia da invasão, a China, levantando as restrições que estavam em vigor, concordou em comprar trigo russo, devido a temores de doenças de plantas.
Estes acordos, ao esvaziarem as sanções ocidentais à Rússia, são os salva-vidas de Putin e da sua guerra contra a Ucrânia. "A China pode emergir como grande comprador de trigo e óleo de girassol russos, já que ampla gama de sanções financeiras ameaçam os fluxos comerciais agrícolas da Rússia para seus mercados tradicionais na Europa", escreveu a S&P Global Commodity Insights.
Quem sabe a cobiça da China voltada a Taiwan, não condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia e tem declarado reiteradamente ser contrária às sanções contra a Rússia. O vice-ministro de relações exteriores da China Le Yucheng classificou as sanções do Ocidente como "execráveis". A China sequer tentou ocultar que continua fazendo negócios com a Rússia. Conforme ressaltou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin na coletiva de imprensa: "a China e a Rússia continuarão a conduzir a habitual cooperação comercial no espírito de respeito mútuo, igualdade e benefício mútuo".
Não há nada de novo nem surpreendente na decisão da China de fornecer a tábua de salvação que possibilitará que Putin não fique à deriva. Depois que a Rússia anexou a Península da Crimeia em março de 2014 e o Ocidente impôs sanções, a Rússia apelou para a China. Em maio de 2014, a Rússia e a China assinaram um acordo de fornecimento de gás no valor de US$400 bilhões, tornando a China o segundo maior comprador de gás da Rússia, atrás somente da Alemanha. Um relatório de fevereiro de 2015 do Conselho Europeu de Relações Exteriores informou:
"após a imposição de sanções contra a Rússia pela União Europeia e pelos Estados Unidos em 2014, o presidente Vladimir Putin exortou a China de forma dramática e assinou uma série de acordos, incluindo o de US$400 bilhões para a exportação de gás para a China em maio do ano passado. Agora Moscou procura reorientar toda a economia russa para a Ásia no sentido de atenuar o impacto negativo das sanções ocidentais. Nesse ínterim, para a China a crise ucraniana apresenta uma oportunidade ímpar para incrementar o acesso aos recursos naturais da Rússia, em especial o de gás, obter contratos de projetos de infraestrutura, além de novos mercados para a tecnologia chinesa e transformar a Rússia em sócio minoritário no relacionamento entre os dois países."
Além de esvaziar as sanções por meio do comércio de commodities, provavelmente a China também está ajudando a Rússia a ocultar seu dinheiro. De acordo com a revista Foreign Affairs:
"a Rússia pode ter guardado dezenas de bilhões de dólares em ativos de reserva em nebulosas contas offshore, onde mantém títulos em dólares que estão fora do alcance de sanções internacionais e congelamentos de ativos... Também há sinais de que a Rússia teria transferido dólares com a ajuda de um governo estrangeiro... Ainda não está claro quem seriam os intermediários da Rússia que foram usados para ocultar os títulos do Tesouro no exterior. Uma forte probabilidade, no entanto, é que seja a China, com a qual Putin agora, ao que tudo indica, é aliado."
Apesar do exposto acima, a Administração Biden continua falando a respeito da China como se ainda fosse necessário ter provas de que ela está esvaziando as sanções impostas à Rússia. O Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan salientou em 13 de março o seguinte:
"estamos em contato direto e confidencial com Pequim, avisamos que haverá, sem a menor sombra de dúvida, consequências caso as amplas sanções sejam contornadas ou que haja apoio à Rússia para compensá-las. Não iremos permitir que estas coisas sigam adiante e aceitar marmelada quanto às sanções econômicas impostas à Rússia e que elas sejam manipuladas por qualquer país que seja, qualquer que seja o lugar do planeta."
Após uma reunião de sete horas de Sullivan com o diplomata chinês Yang Jiechi em 14 de março, um alto funcionário do governo Biden ressaltou aos repórteres:
"quero reiterar que neste momento estamos profundamente preocupados com o alinhamento da China com a Rússia e o conselheiro de segurança nacional foi direto quanto a estas preocupações e as possíveis implicações e consequências de certas ações".
Em 18 de março, em uma chamada de vídeo com o presidente chinês Xi Jinping, o presidente dos EUA Joe Biden alertou que haverá "implicações e consequências se a China fornecer apoio material à Rússia", sem entrar em detalhes. Um alto funcionário dos EUA que não quis se identificar realçou, "o presidente realmente não estava fazendo nenhum pedido específico à China. Acho que nossa opinião é que a China tomará suas próprias decisões."
É óbvio que a China vem dando ajuda material à Rússia. Então, cadê as "consequências"?
O mais perto que os EUA chegaram além das palavras foi a declaração conjunta com outros líderes do G7, de uma "iniciativa implementar" no sentido de impedir que a Rússia contorne as sanções, mas não está claro, provavelmente de forma deliberada, a implicação da iniciativa. Antes da viagem de Biden à Europa, Sullivan ressaltou aos repórteres em 23 de março:
"amanhã os líderes do G7 concordarão com uma iniciativa para coordenar a aplicação das sanções para que os esforços russos de se desvencilhar delas ou das iniciativas de outros países em ajudar a Rússia a dar um jeitinho a quanto à aplicação delas possam ser tratadas de forma eficaz e coordenada."
Após a reunião do G7, a Casa Branca divulgou um comunicado do G7, que apenas salienta:
"continuaremos a cooperar conjuntamente, inclusive com outros governos na adoção de medidas restritivas semelhantes às já impostas pelos membros do G7 e impedir que elas sejam contornadas, desvencilhadas e compensadas com o propósito de esvaziar ou mitigar os efeitos das sanções".
Não houve nenhuma menção à China, de novo, tudo parecia além de tardio, demasiadamente tímido.
"A China é a mão invisível por trás de Putin", salientou Michael Pillsbury, autor de The Hundred-Year Marathon.
"São eles que estão financiando a guerra. Cerca da metade das reservas de ouro e moeda da Rússia são agora controladas pelos EUA e pelo Ocidente, ele (Putin) não tem condições de ter acesso a elas. Mas a outra metade os chineses têm condições de dar acesso e é o que eles têm feito... O comércio e a compra de recursos energéticos de longo prazo esvaziam as sanções, porque mostram a Putin que ele tem alguém ao seu lado pelos próximos cinco anos ou mais. Há uma série de formas de o apoio da China ser crucial a Putin. Acredito que os chineses teriam como parar a guerra apenas com um telefonema a Putin. É como se o banco ligasse para você... mas até agora nada... Provavelmente a única maneira de avançar é impor sanções americanas à China... a guerra continuará porque o banco não fará a ligação".
A Administração Biden, ao ameaçar reiteradamente com "consequências" e emitir "alertas" à China, "se ajudar a Rússia a esvaziar as sanções, apenas continua projetando indecisão, fraqueza e falta de liderança. A constante repetição desses avisos sem ações de acompanhamento por parte da Administração Biden só resultará em mais perda de credibilidade e degradação ainda maior da dissuasão dos EUA em detrimento do Ocidente.
, ilustre Senior Fellow do Gatestone Institute.