Após a invasão e ocupação do norte de Chipre pela Turquia, mosaicos milenares foram roubados da Igreja de Panagia Kanakaria (foto), localizados na zona ocupada pela Turquia. Os mosaicos foram encontrados nos Estados Unidos e posteriormente devolvidos a Chipre em 1989. (Imagem: Julian Nitzsche/Wikimedia Commons) |
Um mosaico de São Marcos do Século VI, roubado de uma igreja quando as forças armadas da Turquia invadiram Chipre em 1974, foi recentemente recuperado em um apartamento em Mônaco e devolvido às autoridades cipriotas. A milenar obra-prima foi descrita por Arthur Brand, investigador holandês que a localizou, como "um dos últimos e mais belos exemplos de arte desde os primórdios da era bizantina".
Inúmeras relíquias culturais cipriotas de igrejas e outros sítios arqueológicos, foram roubadas de Chipre por invasores turcos e contrabandeadas para o exterior. No passado, uma parcela dessas relíquias foi recuperada e devolvida. Em 1989, mosaicos roubados da Igreja de Panagia Kanakaria, localizados nos Estados Unidos, foram devolvidos a Chipre.
No verão de 1974 a Turquia realizou duas campanhas militares de vulto contra Chipre, ocupando a região norte da ilha (que a Turquia agora chama de "República Turca do Norte de Chipre", reconhecida somente pela Turquia). Desde a invasão turca, muitas informações surgiram, não só com respeito às atrocidades cometidas contra os cipriotas, mas também no tocante à destruição de monumentos históricos, culturais e religiosos.
Segundo o relatório, "A Perda de uma Civilização: Destruição do Patrimônio Cultural no Chipre Ocupado", publicado em 2012:
"A Turquia vem cometendo dois monumentais crimes internacionais contra Chipre. A Turquia invadiu e dividiu um país europeu minúsculo, fraco, mas moderno e independente (desde 1º de maio de 2004, a República de Chipre é membro da UE), a Turquia também mudou o caráter demográfico da ilha e tem se dedicado à sistemática destruição e erradicação do patrimônio cultural das regiões sob seu controle militar..."
"Este é um dos aspectos mais trágicos do problema de Chipre e é também uma prova taxativa da determinação de Ancara de 'turquificar' a região ocupada e de manter uma presença permanente em Chipre."
"A força de ocupação e seu regime fantoche, desde 1974 até hoje tem trabalhado metodicamente para apagar tudo o que é grego e/ou cristão na Chipre ocupada..."
Um documento da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos de 2015 confirma o relatório:
"Equipes arqueológicas do exterior que participavam de escavações em Chipre foram forçadas a descontinuar o trabalho após os eventos de 1974. Seus valiosos achados foram saqueados e as equipes não tiveram permissão de voltar e retomar o trabalho de escavação."
"Calcula-se que devido às escavações ilegais na região norte de Chipre, mais de 60 mil objetos de arte cipriotas foram roubados e levados ao exterior para serem vendidos em casas de leilões ou por marchands. O exemplo de um milenar sítio arqueológico que data da era neolítica em Cabo San Andres ilustra a assertiva. O sítio, que já havia sido escavado sob a égide do Departamento de Arqueologia antes de 1974, foi posteriormente danificado pelo exército turco quando da instalação e içamento das bandeiras da Turquia e da TRNC (República Turca do Norte de Chipre)."
Em 2016 um relatório do Ministério das Relações Exteriores de Chipre observou que:
"Mais de 550 igrejas ortodoxas gregas, capelas e mosteiros localizados em cidades e aldeias das regiões ocupadas foram saqueados, deliberadamente vandalizados e em alguns casos, demolidos. Muitos lugares de culto cristãos foram transformados em mesquitas, depósitos do exército turco, currais e celeiros de feno. Esses fatos provam de forma contundente que a herança religiosa nas regiões ocupadas são e tem sido alvo do regime de ocupação como parte de sua política de erradicar o caráter cultural daquele setor da ilha. Além disso, inestimáveis monumentos culturais e locais de culto continuam a ser inacessíveis porque estão localizados dentro das 'zonas militares' do exército de ocupação turco..."
"A destruição não se limita aos monumentos pertencentes à Igreja de Chipre, mas também se estende aos monumentos religiosos pertencentes ao Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém e às Igrejas armênias, maronitas e católicas de Chipre, como por exemplo o Mosteiro Armênio Sourp Magar em Halefka e o Monastério Maronita do Profeta Elias em Skylloura."
Um artigo da Artnet de 2017, que desvenda as barbaridades do Estado Islâmico (ISIS) na destruição de relíquias em museus, mesquitas, igrejas e sítios arqueológicos na Síria e no Iraque, ressalta que "a UNESCO considera a destruição intencional do patrimônio cultural um crime de guerra".
A Turquia, que vem empreendendo intencionalmente a destruição da herança cultural na zona ocupada de Chipre há mais de quatro décadas, continua membro da OTAN e candidata a membro da União Europeia. Trata-se de um quadro que o Ocidente tem o dever de forçar a Turquia a abordar e não apenas quando um objeto de arte em particular é saqueado, como é o caso do mosaico de São Marcos, e resgatado.
Uzay Bulut, jornalista da Turquia, Ilustre Colaboradora Sênior do Instituto Gatestone. Ela está atualmente radicada em Washington DC