De Washington a Riad, sem falar de Jerusalém, estadistas estão rangendo os dentes só em pensar na possibilidade de um acordo entre os EUA e o Irã demasiadamente generoso para o estado teocrático/terrorista da república islâmica.
Representantes dos países do P5+1 posam com o Ministro das Relações Exteriores do Irã Javad Zarif depois das negociações sobre o programa nuclear em Lausanne na Suíça em 5 de abril de 2015. (imagem: Departamento de Estado dos EUA) |
A maioria dos analistas e jornalistas da inteligência acredita que pelo simples fato da liderança iraniana endossar as negociações e gozar dos benefícios de várias concessões importantes abonadas pelo P5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha), um acordo está prestes a ser assinado. Cronistas vêm prevendo quais serão as consequências de um acordo como este: negativas.
E se os iranianos abandonarem as negociações?
As sanções jamais prejudicaram a classe governante do regime, levantá-las apenas ajudará o regime a solidificar seu poder sobre o povo.
Um acordo nuclear combinado com a melhora nas relações comerciais com o Ocidente será desfavorável aos interesses do Corpo de Elite da Guarda Revolucionária Islâmica (EGRI).
O Corpo de Elite da Guarda Revolucionária Islâmica (EGRI), a guarda pretoriana do regime controla a maior parte da economia bem como o mercado negro, a economia alternativa. Os conglomerados controlados pelo EGRI operam ilegalmente amealhando lucros gigantescos através de seu controle sobre o mercado negro. Portanto o EGRI na realidade se beneficia com as sanções, são as empresas privadas, como aquelas que participam do comércio internacional, que são prejudicadas.
Além disso, as embarcações do EGRI e os navios particulares sob seu controle, efetuam transações de importação que contornam as sanções por toda a extensão das águas do Golfo Pérsico até Dubai. O EGRI por sua vez vende os produtos mediante um grande lucro filtrando-os por meio de diversas instituições sob seu controle no Irã.
O exemplo mais recente de como o EGRI contorna as sanções envolveu a aquisição ilegal de aeronaves através de organizações de fachada em escritórios tanto na Europa quanto na Península Arábica. Mahan Air, empresa de fachada do EGRI, conseguiu comprar 15 aeronaves comerciais usadas por US$300 milhões. Outra empresa de fachada, al-Naser Air, estava prestes a comprar mais duas aeronaves, desta vez pertencentes a um americano. A inteligência israelense contudo passou os detalhes da planejada venda para o governo dos EUA e em 21 de maio o negócio foi tornado sem efeito pelo Departamento de Fiscalização das Exportações do Ministério do Comércio.
Por que os agentes do EGRI iriam querer ver o espaço de manobra ser reduzido pelo investimento privado, transparência e economia competitiva?
Além disso, se um acordo nuclear resultar em uma melhora nas relações com os Estados Unidos, os iranianos linha-dura, clérigos revolucionários ou agentes da inteligência, temerão a erosão de sua legitimidade ideológica. O último reduto de legitimidade do regime iraniano é a sua hostilidade antiamericana, juntamente com a promessa de "proteger" os interesses iranianos contra a "aliança" EUA/Israel/Sunita".
A melhora nas relações com Washington poderia levantar falsas esperanças nos cidadãos iranianos de que o regime irá, em última análise, melhorar seu desempenho em relação aos direitos humanos. Resta ainda um pequeno resquício do controle clérigo sobre a sociedade iraniana, se as tão desejadas reformas sociais e políticas não forem implementadas, como consequência poderá emergir um ambiente político desestabilizador, prejudicial aos interesses do regime.
Outro engano abraçado por muitos analistas no "ambiente social e político em Washington" é o de que, como o Líder Supremo Aiatolá Khamenei endossou as negociações, é provável que haja um acordo legítimo.
O outrora Ministério do Líder Supremo não controla mais todas as decisões. O atual regime iraniano parece mais uma junta militar ou um estado policial tanto quanto uma teocracia. Embora a penetração do poder do Aiatolá Khamenei, através de sua rede de representantes ainda abarque todas as dimensões da sociedade iraniana, ele não dá a palavra final sobre as mais importantes questões de segurança. Os recursos estratégicos do regime, por exemplo, como os programas de mísseis balísticos, estão sob controle do EGRI. As decisões relacionadas à presença expansionista do Irã na região são tomadas pelo Comandante Qasem Soleimani da Força Quds do EGRI. O papel do representante de Khamenei frente ao EGRI parece mais o de um encarregado do que de um agente.
A principal tarefa do regime é encontrar um meio de abandonar as negociações e evitar levar a culpa. Os esforços do Irã em se retirar das negociações podem estar em andamento já faz algumas semanas, o ritmo do desinteresse parece estar acelerando. O Irã tem aumentado suas exigências, ao que tudo indica, na esperança que serão aceitas ou rejeitadas como "inaceitáveis", como a não permissão da entrada de inspetores em instalações militares.[1]
Outra maneira de fazer com que as negociações não sejam mais aceitáveis para a Administração Obama é criar um incidente hostil com os Estados Unidos no Golfo Pérsico, como já tentou fazer, ao seguir de forma agressiva navios de guerra americanos. Embarcações iranianas associadas à Marinha do EGRI também se apossaram de um navio comercial, o Maersk Tigris, no Estreito de Hormuz, detendo temporariamente a embarcação e a tripulação. Feito isso, em 14 de maio, barcos do EGRI dispararam vários tiros de alerta contra uma embarcação de bandeira de Cingapura, mas ela escapou ilesa.
Por meio desse comportamento irresponsável, a Marinha do EGRI parece ter a intenção de provocar um confronto com embarcações americanas nas águas do Golfo. Os negociadores ocidentais devem se lembrar apenas da presidência de Mohammad Khatami, quando o EGRI e Ministério da Inteligência e Segurança do Irã agiram de forma independente quando sentiram que os reformadores tinham ido longe demais, ameaçando com o controle linha-dura do regime. O EGRI pode bem ter concluído que Rouhani juntamente com o Ministro das Relações Exteriores Zarif, este educado nos EUA, atingiram um ponto crucial semelhante. Essa iniciativa independente do EGRI está sendo executada ainda que um acordo liberasse ativos monetários que por sua vez estimulariam a economia que está em queda livre.[2]
A postura belicosa do Irã contra a navegação internacional nas águas do Golfo também é um desafio direto à lei marítima internacional que garante a liberdade de navegação em rotas de navios do mundo como o Estreito de Hormuz. Um dos princípios mais importantes da política externa dos EUA é fazer valer essa liberdade de navegação caso seja ameaçada por alguma potência estrangeira, o que também se espera que os Estados Unidos façam no Mar do Sul da China.
O porta-voz da forças armadas iranianas também aumentou a temperatura ultimamente quanto à sua retórica antiamericana e anti-israelense. Integrantes importantes do regime, incluindo o Líder Supremo Ali Khamenei, continuam repetindo "Morte aos Estados Unidos" bem como sua obrigação "teológica" de destruir Israel. Enquanto a Administração Obama alega que essas ameaças servem apenas para "consumo interno" a antiga máxima persa diz o seguinte: "eles cospem em seu olho e ele diz que é chuva".
Mojtaba Zolnour, representante adjunto do Aiatolá Khamenei para o EGRI, declarou que República Islâmica do Irã "tem a permissão divina de destruir Israel". Essa agressão dos órgãos de imprensa contra Israel tem o objetivo de ampliar as divergências entre a Administração Obama e o governo israelense em relação à eficiência do esboço do acordo nuclear negociado até o presente momento.
Fora isso, várias figuras importantes iranianas traçaram "limites" com o propósito de fazer com que os americanos abandonem as negociações, como a assertiva que o Irã jamais aceitará inspeções em suas declaradas instalações militares. Outra é a repetida declaração de Teerã de que não aceitará o levantamento gradual das sanções. Líderes iranianos vêm insistindo no imediato e irreversível fim de todas as sanções após a assinatura de um acordo nuclear. O objetivo dessas duas exigências é o de que seja aceito ou que torne impraticável à Administração Obama enviar ao Congresso um acordo que possa ser aceito, assim colocando a culpa pelo colapso das negociações nos Estados Unidos.
Representantes linha-dura do regime do majlis (parlamento iraniano) já mobilizaram seus membros a condenarem as negociações por serem prejudiciais à soberania nacional do Irã. Oitenta membros do majlis assinaram uma petição em 12 de maio, pedindo que o regime suspenda as negociações sobre o programa nuclear até que Washington pare com as ameaças contra o Irã. Membros da linha-dura no majlis e em outras agremiações dentro da burocracia do regime provavelmente continuarão a fazer lobby contra qualquer acordo.
Analistas ocidentais deveriam prestar mais atenção aos comentários dos veículos internos de mídia da linha-dura do regime iraniano, condenando alegadas trapaças dos EUA nas negociações como motivo para abandonarem as conversações.
O golpe fatal nas negociações nucleares poderia vir de jornais como o Kayhan, pró iraniano dirigido por Hossein Shariatmadari, retratado como porta-voz de Khamenei.
Os imãs das rezas de sexta-feira do regime em cidades iranianas também poderão começar a se opor às conversações. Os temas dos seus sermões khutbahs do meio-dia provavelmente irão apelar para o patriotismo do povo iraniano, indicando que é mais importante para o Irã suportar a continuação das sanções do que se submeter ao monitoramento invasivo que agride a soberania do Irã.
Para encerrar, os linhas-duras que se apõem a qualquer possibilidade de melhorar as relações do Irã com os EUA, poderão lançar ataques contra os negociadores do Irã nas negociações nucleares em um esforço para desacreditá-los, colocar em cheque sua lealdade à revolução iraniana. O ponto central do ataque no que tange à lealdade do Ministro das Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif poderá ser seu comportamento excessivamente atencioso para com o Secretário de Estado John Kerry. Zarif, por conta de ter residido por muitos anos e ser formado nos Estados Unidos, pode ser retratado como iraniano americanizado.
Os Estados Unidos também devem estar atentos em relação à crença dos mulás de que a Administração Obama é fraca, tanto politicamente quanto em fazer uso da força. Os mulás terão enorme prazer em humilhar Obama como já fizeram com o Presidente Jimmy Carter, quando protelaram de tal forma as negociações da crise dos reféns que elas duraram até o término de seu mandato. Obviamente eles acreditam que a Administração Obama, simplesmente para dizer que chegaram a um "acordo", está disposta a assinar qualquer coisa.
Dr. Lawrence A. Franklin foi Funcionário da Divisão do Irã do Secretário da Defesa Rumsfeld. Ele também serviu no serviço ativo do Exército dos EUA e como Coronel da Reserva da Força Aérea, onde serviu como Adido Militar na Embaixada dos Estados Unidos em Israel.
[1] "A poderosa guarda iraniana rejeita inspeção em instalações militares" por Ali Akhbar Dareini, Associated Press, 19 de abril de 2015. Comandante Adjunto do EGRI General Hossein Salami é citado e várias outras declarações proferidas por autoridades do EGRI repetiram, desde então, as mesmas declarações proibitivas em relação às instalações militares do Irã.
[2] "Os EUA Deverão Conceder ao Irã US$11,9 Bilhões Até o Final das Negociações Nucleares", Washington Free Beacon, 21 de janeiro de 2015. Na primeira de várias denúncias subsequentes, o Senador Mark Clark de Illinois atacou o plano da Administração Obama de liberar os ativos congelados caso seja assinado um acordo nuclear.