O Curdistão iraquiano é cheio de surpresas. Provavelmente a descoberta mais inesperada é como a vida funciona na capital, Erbil. Apesar do susto no final do verão pelas conquistas militares do Estado Islâmico (EI) no norte de Mossul e a ameaça de atentados suicidas, a disciplina social dos cidadãos do Curdistão é admirável. Há um relaxado estado de tensão. A vida segue seu ritmo "como de costume".
Há também uma sensação de otimismo, penetrante e contagiante. O espírito empreendedor está vivo e indo bem. Embora tenha havido um êxodo de empresários após as conquistas territoriais iniciais do EI, investidores estrangeiros estão retornando. O Governo Regional do Curdistão (GRC) já esboçou planos para projetos em alta escala com o objetivo de melhorar a infraestrutura. Veículos para serviço pesado estão por toda parte. O projeto que mais chama a atenção é a rodovia que está sendo construída no entorno da cidade.
Vista aérea de Erbil, no Curdistão iraquiano, destacando no centro a Fortaleza de Erbil. (imagem: Wikimedia Commons/Jan Kurdistani) |
O pluralismo político também chegou ao norte curdo. Embora o Partido Democrático do Curdistão (KDP em inglês) e a União Patriótica do Curdistão (PUK em inglês) permaneçam como as duas forças políticas mais importantes, agora já têm companhia. Nenhum partido domina o parlamento. Há muita barganha, coalizões efêmeras e novas personalidades políticas já são ouvidas. No entanto, os líderes mais influentes e respeitados ainda vêm da grande família Barzani, que preside o KDP. O falecido Mustafa Barzani (1903-1979) é reverenciado como o padrinho-guerreiro do Curdistão moderno.
Os curdos, em sua maioria, são receptivos. O assentamento metódico e rápido de dezenas de milhares de refugiados da região do Iraque controlada pelo EI, precisou da liderança corajosa do governo liderado por Barzani, principalmente da hierarquia católica do Curdistão. Esse sucesso também se reflete na compaixão de um povo autoconfiante. Por exemplo, a população da região de Dohok duplicou devido à chegada de refugiados. Não há tensão discernível entre os recém-chegados e a população nativa do país. Apesar do ressentimento inveterado dos excessos dos regimes árabes passados, o Curdistão é uma sociedade multiétnica e multireligiosa. Esse aspecto se fortificou ainda mais com a emigração de outras partes do Iraque, de turcomenos, yazidis e cristãos assírios e árabes. Também é uma sociedade que rejeita o fanatismo religioso. A maioria dos curdos são muçulmanos sunitas e é possível ouvir a convocação muçulmana para as orações, cinco vezes ao dia, mas é inaudível e ignorada pela maioria.
Homens, na maioria dos casos, andam pelas ruas de Erbil, Dohok e Zako, principalmente à noite. Contudo, o Curdistão não é uma sociedade que reprime as mulheres. Há muitas mulheres no parlamento e elas expressam abertamente suas opiniões sobre o problema da violência contra as mulheres na sociedade curda. Em uma conferência, em meados de novembro, pelo menos metade dos palestrantes eram mulheres de destaque no Curdistão. Mulheres que se voluntariam para o serviço militar são amplamente admiradas. A mídia curda enaltece as combatentes curdas do Peshmerga. Uma mulher, veterana da violenta batalha para salvar a cidade curdo/síria de Kobane (perto da fronteira com a Turquia) das mãos do EI, que recentemente visitou Erbil, foi recepcionada como heroína nacional. Mulheres yazidis que escaparam após serem torturadas pelos operativos do EI também são muito admiradas.
Zako, outrora centro da população judaica do Curdistão, ainda convida os descendentes daqueles que há muito tempo foram para Israel a voltarem. As aldeias isoladas de Zako são o faroeste do Curdistão. Sua extrema beleza, em meio a uma cadeia de montanhas, poderá se tornar um ímã turístico tanto pelas milenares atrações históricas quanto pelas possibilidades recreativas.
Por todas as razões citadas acima, o Curdistão lembra Israel. Como Israel, o Curdistão não é dominado nem pelos árabes nem pelo Islã. Como Israel, o Curdistão é mais democrático do que qualquer um de seus vizinhos. Como Israel, o Curdistão está cercado de inimigos que não querem que ele exista. Como Israel, o Curdistão dirige seus olhos para o Ocidente. E como Israel, o Curdistão tem mantido o equilíbrio ainda que o mundo inteiro o traia.
Dr. Lawrence A. Franklin serviu no serviço ativo do Exército dos EUA e como coronel da Reserva da Força Aérea, onde serviu como adido militar em Israel.