Muitos árabes manifestaram profunda preocupação em relação ao acordo nuclear alcançado, nesta semana, entre o Irã e as potências mundiais, inclusive os EUA.
Líderes árabes e chefes de estado foram bastante corteses ao não censurarem publicamente o acordo quando o Presidente Barack Obama telefonou para eles informando-os sobre o acordo. Mas isso não impediu que políticos árabes, analistas políticos e colunistas que refletem as posições dos governos no mundo árabe, de censurarem duramente o que eles descrevem de "mal e perigoso acordo de Obama com o Irã".
U momento feliz para o Irã. Líderes do P5+1 posam com o Ministro das Relações Exteriores do Irã Javad Zarif depois das negociações sobre o programa nuclear em Lausanne na Suíça em 5 de abril de 2015. (imagem: Departamento de Estado dos EUA) |
Os árabes, principalmente aqueles que vivem na região do Golfo, entendem o esboço do acordo como sinal de "fraqueza" dos EUA e luz verde para o Irã prosseguir com seu programa "expansionista" no mundo árabe.
"Alguns países árabes se opõem ao acordo nuclear porque ele apresenta uma ameaça aos seus interesses", segundo o jornal egípcio Al-Wafd em um artigo intitulado "Políticos: o acordo de Obama com o Irã ameaça o mundo árabe".
O jornal cita Hani al-Jamal, analista regional e político egípcio, que teria dito que o acordo significa que a comunidade internacional aceitou o Irã como potência nuclear. Ele previu que o esboço do acordo colocará o Irã e alguns países árabes como o Egito e a Arábia Saudita em rota de colisão.
Al-Jamal aconselhou os países árabes a formarem uma "OTAN Sunita" que lhes garantiria o status do Paquistão como potência nuclear e aliado árabe diante da "ameaça iraniana e israelense".
Jihad Odeh, professor egípcio de ciência política, disse que as "realizações" de Obama têm como objetivo desmantelar o mundo árabe. Obama quer realizar conquistas históricas antes do fim de seu mandato destruindo a Al-Qaeda, procurando a reaproximação com Cuba e alcançando um acordo nuclear com o Irã".
Embora a Arábia Saudita, que trava no momento uma guerra contra as milícias houthis no Iêmen, apoiadas pelos iranianos tenha "recebido bem" o acordo nuclear, em particular expressou preocupação em relação ao acordo.
Paralelamente vários países do Golfo que inicialmente receberam bem o acordo, estão começando a expressar certa preocupação quanto às repercussões na região. Nos últimos meses os árabes vêm soando alertas contra o contínuo empenho do Irã em se apoderar de seus países.
"Os EUA, com certeza, não querem ver uma hegemonia mais poderosa do Irã na região, mas ao mesmo tempo não parecem se importar com certa influência iraniana na região", segundo Nasser Ahmed Bin Ghaith, analista dos Emirados Árabes Unidos. "O Irã tem procurado recuperar seu papel de outrora de polícia da região". Bin Ghaith disse ser óbvio que o reconhecimento pelo Ocidente da influência regional iraniana virá às custas dos países do Golfo. "Os países do Golfo deveriam construir parcerias estratégicas com as potências regionais como o Paquistão e a Turquia, que compartilham os temores das nações do Golfo quanto às ambições iranianas na região", segundo ele.
Ecoando o temor generalizado entre os árabes quanto às ambições iranianas no Oriente Médio, o analista político Hassan al-Barari escreveu o seguinte no jornal Al-Sharq do Qatar contra a política de acomodação em relação a Teerã:
"O Irã se empenhou em intervir no Iraque, Líbano e Síria e julga que não está valendo a pena, em sentido contrário, há investidas das grandes potências de chegar a um entendimento com o Irã. Além disso, também há uma sensação em Teerã que os EUA estão evitando uma confrontação militar com os iranianos e suas milícias". Os países do Golfo aprenderam com as lições do passado em várias áreas. A política de acomodação só resultou em guerras. Qualquer tipo de acomodação com o Irã só fará com que ele peça mais e que provavelmente interfira nos assuntos internos dos países árabes e aumente sua arrogância".
Até os jordanianos engrossaram o coro dos árabes que expressam temor em relação à crescente ameaça do Irã ao mundo árabe, especialmente na esteira do acordo nuclear com os EUA e as grandes potências.
Salah al-Mukhtar, colunista jordaniano, escreveu um artigo intitulado "ah árabes acordem, seu inimigo é o Irã", no qual ele acusa os EUA de facilitarem as guerras de Teerã contra os países árabes.
Descrevendo o Irã como "Israel Oriental", al-Mukhtar afirmou que o aspecto mais perigoso do esboço do acordo é que ele permite ao Irã continuar com suas "guerras destrutivas" contra os árabes. "Trata-se de um acordo perigoso, particularmente para a Arábia Saudita e para as forças de oposição no Iraque e na Síria", conforme alerta o colunista jordaniano. "Esse acordo proporciona ao Irã o que ele mais necessita para colocar em prática suas guerras e seu expansionismo contra os árabes: fundos. Levantar as sanções é a maneira americana de apoiar as guerras perigosas e diretas contra os árabes, o fim das sanções também propicia que os iranianos obtenham os fundos necessários para que expandam o avanço persa. Os EUA querem drenar a Arábia Saudita e os países árabes do Golfo com o objetivo de dividi-los".
O jornal de língua inglesa do Líbano, Daily Star também manifestou ceticismo em relação ao acordo nuclear. "Apesar de tudo que foi dito sobre esse acordo contribuir para um mundo mais seguro, se Obama estiver verdadeiramente preocupado com seu legado, especialmente no Oriente Médio, ele deve trabalhar com o Irã a fim de incentivá-lo a se tornar novamente um membro, como qualquer outro, da comunidade internacional e não um país que patrocina conflitos pela região, seja direitamente seja por meio de milícias", segundo o editorial do jornal. "Senão o acordo apenas fará com que o Irã se sinta mais incentivado em suas intenções expansionistas".
Além dos árabes, personalidades da oposição iraniana também se manifestaram contra o acordo nuclear.
Maryam Rajavi, político iraniano e presidente do Conselho Nacional da Resistência comentou que:
uma declaração de aspectos gerais sem a assinatura do líder Khamenei e a aprovação oficial, não bloqueia o caminho de Teerã à bomba nuclear nem impede seu engodo intrínseco.
A continuidade das conversações com o fascismo religioso do Irã, como parte da acomodação, não tornará a região e o mundo seguro contra a ameaça da proliferação nuclear.
Somente o cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança da ONU impedirá que os mulás obtenham armas nucleares.
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Condescendência e concessões injustificadas pelo P5+1 ao regime menos confiável do mundo hoje, apenas concederá mais tempo além de aumentar os perigos que ele apresenta ao povo iraniano, à região e ao mundo como um todo.