Equivalência moral deve ser uma das principais maldições da nossa era. Até mesmo aqueles que são capazes de fazer julgamentos morais, agora acham mais fácil fazer equivalências entre as partes do que estudar os fatos e descobrir quem pode estar certo e quem pode estar errado. De modo que, sempre que começar um conflito, dá para se confiar na maior parte do mundo, das Nações Unidas para baixo (ou para cima), para que recomendem a cessação no "ciclo de violência". Na semana passada na Grã-Bretanha, houve um exemplo especialmente gritante dessa tendência, cortesia da nobre Condessa Warsi.
Essa é a mulher que foi promovida pelo líder do Partido Conservador David Cameron há sete anos, quando o Partido Conservador se tornou o partido do governo em 2010, ela foi a primeira muçulmana a ser recepcionada pelo Gabinete na Grã-Bretanha. Ela poderia ter feito muitas coisas boas nessa função. Ela poderia ter liderado tendências reformistas dentro das comunidades muçulmanas do Reino Unido. Ela poderia ter atuado como uma mostra de que os muçulmanos podem ser leais cidadãos britânicos sem que interesses secionais, religiosos ou tribais suplantem outros interesses. Mas não, ela mostrou ser uma força de extraordinário retrocesso, uma pessoa tão previsível que bateu nas teclas já previstas.
No verão, quando Israel foi mais uma vez forçado a entrar em ação em uma operação minuciosa, tanto em terra quanto no ar, contra os terroristas do Hamas em Gaza, o governo britânico manteve um firme apoio ao nosso aliado, Israel, para que fizesse o que tinha que ser feito a um grupo terrorista que estava sequestrando e assassinando adolescentes, além de lançar pesadas barragens de foguetes contra Israel.
Mas a Baronesa Warsi, que só chegou ao Gabinete porque David Cameron a promoveu pessoalmente, renunciou em sinal de protesto. Ela alegava, em seu pedido de renúncia, que o contínuo apoio da Grã-Bretanha a Israel era moralmente indefensável.
É sempre fascinante ver esse tipo de tranco acontecer na identidade política de alguém que se apresenta como "progressivo". O país de origem dos pais da Baronesa Warsi é o Paquistão e ela exerceu bem suas funções durante o período em que esteve no cargo, como alguém que poderia, como ninguém, promover a causa da Grã-Bretanha no Paquistão e em outros países de maioria muçulmana. Mas foi Israel que causou a renúncia dela.
No corrente mês ela voltou à cena quando quatro civis foram assassinados, da forma mais hedionda, enquanto estavam rezando em uma sinagoga na vizinhança de Har Nof em Jerusalém Ocidental. O massacre, ocorrido em uma área em que todo e qualquer plano de paz, sem a menor sombra de dúvida, colocará sob jurisdição israelense, incluiu o assassinato de um policial druzo, três rabinos americanos e o Rabino Avraham Shmuel Goldberg, nascido na Grã-Bretanha, que possui um passaporte britânico e outro israelense.
Apesar do sangue resultante do ataque ainda estar no chão da sinagoga, Sayeeda Warsi já estava a postos. Ela começou a enviar tweets a grupos britânicos pró-Israel e também de modo crítico a figuras públicas judaicas britânicas, para expressar a equivalência moral entre aqueles que acabaram de esquartejar até a morte quatro rabinos enquanto rezavam em uma sinagoga com os israelenses que protestavam ser ultrajante que ao Monte do Templo em Jerusalém, lugar santo tanto para muçulmanos quanto para judeus, seja permitida a presença apenas de muçulmanos.
Primeiro ela tweetou: "Extremistas israelenses invadiram Al Aqsa e intimidaram crentes. Extremistas palestinos invadiram uma sinagoga e mataram 4 crentes #Trágico #paznãoguerra". Em seguida ela tweetou: "Tanto @David_Cameron quanto @Ed_Miliband dizem que a vida de um palestino é igual a vida de um israelense, portanto vamos condenar TODA a matança, de AMBOS os lados".
O mais fascinante é que tudo isso faz parte de um padrão da baronesa. Em seu Twitter feed, tanto antes quanto depois de deixar o cargo, ela tem usado o site de redes sociais para comentar sobre tudo relacionado a Israel. Sequer um conservatório pode ser construído em Israel sem que a baronesa se intrometa de Londres para condenar Israel.
Como é de seu direito, é claro. Até pessoas pagas com dinheiro de contribuintes para não cumprirem nenhum propósito perceptível em particular são livres, quando ociosas, para dar vazão às suas opiniões no Twitter. O que parece estranho é essa obsessão com Israel. Não é um país ou uma região com o qual ela mantém algum tipo de laço em especial. Ela não tem nenhuma reputação como especialista no conflito ou em acabar com conflitos em geral. No entanto aqui está ela, entra semana sai semana, tecendo comentários sobre Israel. Dada a janela que o Twitter abre para dentro da alma, parece ser injusto perguntar o porquê dessa obsessão? E de levantar uma disparidade curiosa.
O que é estranho é que essa baronesa, que alega estar motivada unicamente pela afronta moral, fique tão quietinha quando se trata de afrontas morais muito piores que ocorrem diariamente em um país com o qual ela mantém relações, que ela transformou em virtude enquanto estava no cargo.
Agora, a baronesa Warsi ignora totalmente as horríveis e contínuas violações de direitos humanos na terra natal de sua própria família, o Paquistão. Quer sejam cristãos sendo queimados vivos ou quer seja a prática do assim chamado "trabalho cativo" (escravidão), Warsi parece totalmente indiferente.
Aqui não há críticas... Acima: Baronesa Warsi se encontra com Shahbaz Sharif, Ministro Chefe de Punjab, Paquistão, outubro de 2012. (imagem: UK Foreign and Commonwealth Office) |
Há cerca de 350.000 refugiados paquistaneses desde que foi lançada a grande ofensiva militar paquistanesa na região tribal do Norte do Waziristão. No entanto, nenhum pio de Warsi. Ela também não se interessou em saber quantos paquistaneses morreram em consequência dos ataques aéreos. Esse lapso, revelador, ocorre apesar do fato de que se existe uma coisa que podemos ter certeza é a de que os militares do Paquistão não avisam antecipadamente os civis sobre a iminência de um ataque, como o faz a Força Aérea de Israel. Como resultado, as campanhas aéreas do Paquistão irão, sem a menor sombra de dúvida, matar mais civis em relação a terroristas em uma proporção muito mais alta do que em Gaza.
No momento, uma mãe cristã no Paquistão, será enforcada por blasfêmia. Não consigo achar nenhuma campanha ou comentário comovente por parte da nobre baronesa. Também não consigo achar nenhuma campanha persistente, dirigida por ela, a fim de ressaltar o desprezível processo, ora em andamento, contra uma cristã no Paquistão, Asia Bibi, acusada pelo delito capital da "blasfêmia". E apesar do fato de haver muçulmanos na Grã-Bretanha que apóiam o processo contra Asia Bibi e que poderiam mudar de ideia vendo a oposição de uma importante muçulmana britânica.
Por que a baronesa Warsi não usa sua influência para combater essas injustiças e violações que acontecem diariamente, cometidas em um país com o qual ela é tão fortemente ligada? Enforcamentos por "blasfêmia", bem como deslocamentos de centenas de milhares de pessoas, podem até ser ocorrências comuns no Paquistão, mas o que obceca, cada vez mais Warsi, parece ser somente Israel.
Nisso ela não está sozinha. Equivalências morais no que tange Israel e seus inimigos hoje, quase sempre andam de mãos dadas com o ponto cego em relação às verdadeiras atrocidades quanto aos direitos humanos que ocorrem praticamente em todos os cantos do Oriente Médio menos em Israel, isso sem falar de muitos países mais além.
Em muitos aspectos a história de Sayeeda Warsi é mais uma história sobre o encolhimento de uma figura já encolhida. Só que aponta para algo muito mais importante: as obsessões e pontos cegos da baronesa Warsi são obsessões e pontos cegos sendo passados para toda uma geração.
Persuadir as pessoas de que a violação dos direitos humanos, nos dias hoje, não estão acontecendo em países como o Paquistão, onde ela realmente poderia fazer algo de bom e sim em Israel, onde as alegadas violações são frequentemente comprovadas de sequer terem existido, como por exemplo no caso do Relatório Goldstone ou na absolvição de Israel pela ONU no caso do barco Mavi Marmara da flotilha turca.
Uma pessoa de caráter enfrentaria com coragem o rumo que as coisas estão tomando. Mas não, Warsi usa sua influência para incitar atividades anti-Israel e acidentalmente ou não, ajuda a desenvolver os crescentes pontos cegos éticos do mundo. Ela se tornou uma demonstração, de uma mulher ambulante, do porquê a Câmara dos Lordes da Grã-Bretanha necessita de uma reforma.