Na semana passada, o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP em inglês) conquistou uma vitória memorável na eleição parcial de Rochester & Strood. Com essa vitória, o UKIP assegurou seu segundo Membro no Parlamento. O candidato do UKIP, Mark Reckless, conquistou 42,1% dos votos, sobrepujando os Conservadores (34,8%), Trabalhistas (16,8%) e os Liberais Democratas (0,9%). É a primeira vez que o UKIP aparece no Rochester & Strood. O partido tirou votos de todos os partidos grandes. Os Conservadores perderam 14,4% dos votos, os Trabalhistas 11,7% e os Liberais Democratas levaram um golpe de 15,5%.
A previsão é a de que o UKIP se saia bem nas eleições gerais britânicas em maio do ano que vem. No mês passado uma pesquisa de opinião previu que o partido podia conquistar até 25% dos votos nessas eleições. Nas eleições gerais de 2010, o partido contava com apenas 3,1%.
O UKIP defende a preservação da identidade nacional da Grã-Bretanha. Opõe-se à União Européia (UE) e quer que a Grã-Bretanha continue sendo uma nação soberana e não se torne um estado de uma Europa federal. O partido também não vê com bons olhos a imigração em massa, particularmente da Europa Oriental. Embora Nigel Farage, líder do UKIP, evite cuidadosamente a questão do Islã, o partido também se tornou um refúgio de votos daqueles que se preocupam com a islamização. Acima de tudo, o partido personifica a insatisfação do eleitorado com o establishment político tradicional.
Nigel Farage, líder do Partido da Independência do Reino Unido [UKIP] (imagem: Euro Realist Newsletter/Wikimedia Commons) |
Como tal, o UKIP faz parte de uma ampla vertente que já pode ser vista em toda a Europa Ocidental.
Uma pesquisa de opinião realizada esta semana na Espanha revelou que o Podemos, um novo partido, criado há apenas nove meses, já é o maior partido do país com 28,3% dos votos. O Partido Popular do Primeiro Ministro Mariano Rajoy, conservador, ora no poder, ficará em segundo lugar com 26,3% e o Partido Socialista ficará com apenas 20,1%. Há três anos, nas eleições gerais de novembro de 2011, o Partido Popular conquistou 44,6% dos votos.
Diferentemente do UKIP, o Podemos é um partido que, sem a menor sombra de dúvida, faz parte da esquerda na escala política. O Podemos foi formado por acadêmicos "anticapitalistas" e sindicalistas que querem se "opor à política dominante de esquerda da UE". Diferentemente do UKIP, o Podemos não quer abolir a UE. Pelo contrário, já que a Espanha está recebendo bilhões de euros na forma de subsídios da UE, a maioria dos espanhóis, obviamente, quer que o país continue sendo um estado membro da UE.
Entretanto, o partido se opõe à política de austeridade que a UE está impondo à Espanha, como pré-requisito para que os subsídios da UE continuem fluindo. Tanto o Partido Socialista Espanhol quanto o Partido Popular do Primeiro Ministro Rajoy são vistos pelos eleitores como condutores da implementação da mesma política prescrita pela UE. Quanto a isso, o Podemos se parece com o UKIP, que também acusa o establishment político da Grã-Bretanha de simplesmente implementar a política compulsória da UE. No caso da Grã-Bretanha, a insatisfação com a UE deriva principalmente do fato dos contribuintes britânicos terem que pagar bilhões para a UE, que então são transferidos a países no sul da Europa, onde os governos os usam para financiar programas de assistência social. Nesse sentido, o crescimento de partidos de esquerda que defendem aumento nos impostos e aumento nos gastos do governo (melhor dizendo taxar outros países e gastos do governo) reforça o crescimento de partidos como o UKIP no norte da Europa.
De fato, ao longo do Mediterrâneo, partidos que se opõem à política de austeridade compulsória imposta pela UE estão se multiplicando de forma impressionante. Um dos oradores programáticos no primeiro congresso do partido Podemos, ocorrido recentemente, foi Alexis Tsipras líder do partido neocomunista Syriza da Grécia. Nas eleições européias do último mês de maio, o Syriza se tornou o maior partido da Grécia com 26,5% dos votos, na frente do partido da situação Nea Demokrati do Primeiro Ministro Antonis Samaras. O Syriza se inspira nos mesmos sentimentos que o Podemos e é popular exatamente pelos mesmos motivos. O mesmo vale para o Movimento Cinco Estrelas da Itália, liderado pelo comediante Beppe Grillo, que com 21,2% dos votos, se tornou o segundo maior partido do país nas últimas eleições européias, ocorridas em maio. E o mesmo também vale até para a Frente Nacional de Marine Le Pen na França. A Sra. Le Pen alega que sem o euro, a moeda comum da UE, não haveria a "necessidade de austeridade". Inspirando-se em sentimentos anti-UE, a Frente Nacional se tornou o maior partido da França nas eleições européias do último mês de maio, atingindo 24,8% dos votos.
A popularidade desses partidos continua crescendo. Uma recente pesquisa de opinião realizada na França revelou que Marine Le Pen poderá vencer as próximas eleições presidenciais na França, não só no primeiro turno, mas também no decisivo segundo turno. É a primeira vez que a FN lidera as pesquisas presidenciais em relação aos dois maiores partidos da França, o Socialista PS e o Centro-Direita UMP.
Nos países mais ao norte, a popularidade dos partidos que se opõem aos subsídios da UE para os países do sul também está aumentando de forma impressionante. Na Holanda, o Partido pela Liberdade (PVV), anti-establishment, de Geert Wilders, já é o maior partido segundo as pesquisas de opinião. Wilders tem se oposto, de maneira consistente, a resgatar países como a Grécia e a Espanha com dinheiro dos contribuintes holandeses.
Na vizinha Alemanha, o Alternativa para a Alemanha(AfD), partido formado no ano passado que se opõe à ajuda de emergência, está sacudindo a política com suas vitórias impressionantes nas últimas eleições estaduais. Na Suécia, o Democratas Suecos (SD), que se opõem tanto à imigração quanto à UE, conquistou 13% dos votos nas eleições gerais no último mês de setembro, mas a sua popularidade continua crescendo. Na semana passada, o porta-voz do SD afirmou que o partido agora espera conquistar até 18% dos votos.
Por toda a Europa, o eleitorado está profundamente insatisfeito e desiludido tanto com o Partido Conservador quanto com o Partido Social-Democrata do establishment político. Os eleitores já não veem mais muita diferença entre os protagonistas políticos tradicionais, que são vistos como partidos que impõem o programa da UE e que, por diversas razões, é considerado ruim para o país.
Julgando pelas pesquisas de opinião na Europa, vitórias esmagadoras estão a caminho.