As igrejas armênias que se encontravam sob controle do Azerbaijão foram profanadas, já desde o início do conflito armado de Nagorno-Karabakh no final de 2020, não obstante as promessas das autoridades azerbaijanas de protegê-las. Foto: Catedral de Ghazanchetsots (Santíssimo Salvador) em Shusha, Nagorno-Karabakh, 13 de outubro de 2020, logo após ter sido bombardeada. (Foto: Aris Messinis/AFP via Getty Images) |
Hoje, 24º dia de abril, é o Dia da Memória do Genocídio Armênio, que marca 106 anos do início do Genocídio Armênio, quando os turcos otomanos massacraram aproximadamente 1,5 milhão de armênios durante a Primeira Guerra Mundial.
A maioria dos historiadores objetivos que examinaram o assunto concorda inequivocamente que foi um genocídio deliberado e calculado.De acordo com o The Genocide Education Project:
"Mais de um milhão de armênios morreram executados, de fome, doenças, exposição a condições extremas e abusos físicos. Um povo que viveu na região leste da Turquia por quase 3 mil anos (mais do que o dobro de tempo que os invasores turcos islâmicos ocuparam a Anatólia, hoje chamada de "Turquia"), perdeu sua terra natal e foi dizimado em larga escala no primeiro genocídio de enormes proporções do Século XX. No início do ano 1915, havia cerca de 2 milhões de armênios na Turquia, hoje somam menos de 60 mil."
"Em que pese o enorme volume de evidências que apontam para a realidade histórica do Genocídio Armênio, relatos de testemunhas oculares, arquivos oficiais, evidências fotográficas, relatórios de diplomatas e depoimentos de sobreviventes, a negação do Genocídio Armênio por sucessivos regimes turcos tem se perpetuado de 1915 até os dias de hoje."
A Turquia não só negou reiteradamente a culpabilidade pelo genocídio armênio como, ao que tudo indica, intenciona repeti-lo, visto que recentemente vem ajudando o Azerbaijão na guerra contra a Armênia pelo controle da região de Nagorno-Karabakh, que novamente eclodiu em conflito armado no final de 2020.
Conforme Nikol Pashinyan, primeiro-ministro da Armênia observou em outubro de 2020: "por que a Turquia voltou ao Sul do Cáucaso 100 anos após a dissolução do Império Otomano? Para dar prosseguimento ao Genocídio Armênio."
No decorrer deste recente conflito, que não lhe dizia respeito, a Turquia enviou "grupos jihadistas", comandos para fazer valer a lei da sharia. De acordo com o presidente francês Emmanuel Macron, eles, incluindo a Divisão Hamza pró-Irmandade Muçulmana, foram enviados da Síria e da Líbia para aterrorizar e massacrar os armênios. A Divisão Hamza, segundo consta, manteve mulheres nuas na prisão enquanto operava na Síria.
Estes mercenários e seus parceiros azerbaijanos, entre outros grupos de conduta no melhor estilo da tradição do ISIS, "torturaram com requintes de crueldade desfigurando" uma mulher armênia de 58 anos com deficiência intelectual, cortaram suas orelhas, mãos e pés antes de assassiná-la. A família dela só conseguiu identificá-la pelas roupas.
"Armênios", de acordo com um relatório de dezembro de 2020, "estão sendo brutalizados" além de "perderem território para seus vizinhos jihadistas antes de concordarem com um cessar-fogo imposto pela Rússia... Antes de violarem o assim chamado acordo de paz, os muçulmanos turcos do Azerbaijão fizeram como Maomé ordenou decapitando cristãos."
O relatório disponibilizou o link de um vídeo mostrando soldados camuflados jogando no chão um armênio idoso que se debatia, impassivelmente cortando sua garganta com uma faca.
"O Azerbaijão acusou a Armênia de primeiro violar o acordo de paz", continua o relatório, "mas os observadores denotam que a única provocação que os muçulmanos precisam para atacar os armênios é a continuidade deles estarem vivos".
A retórica anti-infiel reforça esta visão. Um terrorista capturado confessou que lhe foi "prometido uma mesada de 2 mil dólares para que ele lutasse contra os 'kafires' em Artsakh e outros 100 dólares para cada 'kafir' decapitado". (Kafir, frequentemente traduzido como "infiel" é um termo árabe usado para denotar aqueles que não se sujeitam à autoridade islâmica, que por padrão os torna inimigos dignos de serem escravizados ou mortos.)
As igrejas armênias que se encontravam sob controle do Azerbaijão foram profanadas, não obstante as promessas das autoridades azerbaijanas de protegê-las. Certa ocasião, um soldado, não está claro se ele era azerbaijano ou mercenário jihadista da Síria ou do Iraque, foi filmado no topo de uma capela de igreja, onde a cruz havia sido quebrada, gritando triunfantemente "Allahu Akbar!" As forças azerbaijanas também bombardearam e destruíram o Santo Salvador, uma icônica catedral armênia que foi "consagrada em 1888, depois danificada em meio ao massacre de armênios ocorrido na cidade em março de 1920 pelos azerbaijanos, logo passando por um declínio que durou décadas."
Mais recentemente, de acordo com um relatório de 29 de março de 2021, em apenas duas semanas, pelo menos três igrejas armênias na região de Nagorno-Karabakh foram vandalizadas ou destruídas pelas forças do Azerbaijão, ainda que um cessar-fogo tivesse sido declarado em novembro. Um vídeo da profanação de uma dessas igrejas mostra tropas azerbaijanas entrando no local de culto cristão e, na sequência, rindo, zombando, chutando e desfigurando representações cristãs, incluindo um afresco da Última Ceia. A bandeira da Turquia aparece nos uniformes dos militares do Azerbaijão, implicando ainda mais o envolvimento do governo de Erdogan. Ao se aproximarem, um dos soldados muçulmanos diz: "vamos agora entrar na igreja deles, onde farei uma namaz" referindo-se às orações muçulmanas, quando muçulmanos oram em um templo não muçulmano, ele vira imediatamente uma mesquita.
Respondendo ao vídeo, Arman Tatoyan, um ativista armênio dos direitos humanos emitiu o seguinte comunicado:
"o Presidente do Azerbaijão e as autoridades do país têm implementado uma política de ódio, inimizade, limpeza étnica e genocídio contra a Armênia, cidadãos da Armênia e o povo armênio há anos. As autoridades turcas fizeram o mesmo ou estimularam abertamente a mesma política."
A título de exemplo, ele ressaltou que Aliyev, presidente do Azerbaijão, orgulhosamente declarou no início de março que "a geração mais jovem cresceu odiando o inimigo", ou seja, os armênios.
Tal ódio, precursor do genocídio, marca presença onde quer que vá. Basta ouvir o discurso de um turco em um vídeo de que todos os armênios são "cães" e que qualquer armênio encontrado na Turquia deveria ser massacrado:
"o que é que um armênio está fazendo em meu país? Ou o estado os expulsa ou nós os mataremos. Por que os deixamos viver?... Vamos massacrá-los quando chegar a hora... Este solo é turco. Somos ou não netos dos otomanos?... O povo da Turquia... tem honra, dignidade e Alá deve cortar as cabeças dos armênios que estão na Turquia. É desonroso para qualquer um encontrar um armênio e não matá-lo... Se formos humanos, vamos matá-los, vamos matá-los por Alá... Todos que estiverem ouvindo, se vocês amam Alá, por favor, espalhem meu vídeo para todos... "
Respondendo à pergunta: "se você pudesse se safar por ter feito alguma coisa, qual seria esta coisa?", pergunta feita aleatoriamente nas ruas da Turquia, uma mulher recentemente respondeu na frente da câmera: "o que eu faria? Decapitaria 20 armênios." Ela então olhou diretamente para a câmera, sorrindo e gesticulando positivamente a cabeça.
Muito desse ódio genocida não deveria pegar ninguém de surpresa: livros didáticos de escolas públicas turcas, conforme constatou um recente estudo, continuam demonizando os armênios, bem como judeus e cristãos.
Se os turcos, que não sentem os efeitos do conflito armênio/azerbaijano, pensam assim, por que então deveria chocar que muitos azerbaijanos também pensem assim? "Nós azerbaijanos", observou Nurlan Ibrahimov, chefe da assessoria de imprensa do clube de futebol Qarabag do Azerbaijão, "temos que matar todos os armênios: crianças, mulheres, idosos. Temos que matá-los sem distinção. Sem arrependimentos, sem compaixão".
Hoje, portanto, comemorando a data do início do Genocídio Armênio, seria bom não apenas lembrar o que aconteceu então e sim o que está fragorosamente sendo preparado para acontecer novamente.
Raymond Ibrahim, autor do livro Sword and Scimitar, The Al Qaeda Reader, e Crucified Again, é Ilustre Senior Fellow do Gatestone Institute, Shillman Fellow do David Horowitz Freedom Center e Judith Rosen Friedman Fellow do Middle East Forum.