As articulações da inteligência chinesa, influência e infiltração estão sobrecarregando os Estados Unidos. A China conta com centenas, quiçá milhares de agentes nos Estados Unidos que identificam, atraem, dão suporte, influenciam, comprometem e corrompem os americanos em questões políticas e demais áreas do interesse de Pequim. Foto: consulado da China em Houston em 22 de julho de 2020, um dia antes do governo americano ordenar seu fechamento por ser um "centro de espionagem e roubo de propriedade intelectual," nas palavras do Secretário de Estado Mike Pompeo. (Foto: Mark Felix/AFP via Getty Images) |
As revelações do deputado democrata Eric Swalwell da Califórnia, que vieram à tona no corrente mês, destacam a profusa penetração de Pequim na sociedade americana.
As articulações da inteligência chinesa, influência e infiltração estão sobrecarregando os Estados Unidos. Dada a emergência, Washington deveria fechar imediatamente todas as bases de operação da China nos EUA, incluindo os quatro consulados que ainda restam.
Talvez o aspecto que mais chama a atenção nas notícias sobre as revelações de Swalwell seja o de Fang Fang, suspeita de ser agente do Ministério para a Segurança do Estado Chinês, também conhecida como "Christine", que entrou em contato com ele pela primeira vez quando ele era membro do conselho da cidade de Dublin na Califórnia e ainda não fazia parte do Comitê de Inteligência da Câmara.
Fang seguiu e promoveu a carreira dele quando ele foi eleito para a Câmara dos Representantes, apontado para um comitê de grande interesse para a China.
A China conta com centenas, quiçá milhares de agentes nos Estados Unidos que identificam, atraem, dão suporte, influenciam, comprometem e corrompem os americanos em questões políticas e demais áreas do interesse de Pequim.
Para identificar e trabalhar com todos os Swalwells, os coletores de dados da China chegam à casa de centenas de milhares. Darrell Issa, republicano, salientou à Fox News em 11 de dezembro, ao voltar da Califórnia para o Congresso, que há "centenas de milhares de pessoas atuando como espiões direcionados pela China."
A China usa a abordagem do tipo "juntar as peças do quebra-cabeça", entrevistando estudantes, turistas, homens de negócios e mulheres que retornam à China, coletando informações aparentemente inocentes. Pequim no entanto, tem condições de juntar o material coletado, fazendo uso da inteligência artificial cada vez mais aperfeiçoada além de outros recursos.
Ao que tudo indica, Fang é mais do que só uma coletora casual de informações. Ela pode até ter "seduzido" Swalwell, que ainda não negou os rumores de ter tido um relacionamento sexual com ela. Fang veio para os Estados Unidos por volta de 2011 para estudar na Cal State University East Bay, onde encabeçava um grupo político, uma divisão local da organização Asian Pacific Islander American Public Affairs. No presente momento, a China conta com aproximadamente 370 mil estudantes espalhados em faculdades e universidades americanas. O número de estudantes chineses triplicou em uma década.
Cada estudante é um agente em potencial porque todos estão sob obrigação legal de espionar os Estados Unidos. Os artigos 7 e 14 da Lei de Inteligência Nacional da China de 2017 obriga qualquer cidadão a espionar se solicitado. Além disso, nenhum cidadão chinês tem o direito de se negar a espionar ou praticar qualquer outro ato, segundo o sistema hierárquico de cima para baixo do Partido Comunista.
A China, não é de se admirar, usa de maneira sistemática seus cidadãos, além de usar também as dependências diplomáticas para manejá-los. Fang, por exemplo, enquanto sediada no consulado de São Francisco estava em contato com um diplomata suspeito de ser agente do Ministério para a Segurança do Estado.
O consulado até deu refúgio a um fugitivo procurado pelo FBI. Tang Juan acabou se rendendo às autoridades americanas em 24 de julho depois de ter fugido para aquelas dependências em busca de abrigo um mês antes. Ela é suspeita de ocultar vínculos com os militares chineses, enquanto trabalhava como pesquisadora de biologia na Universidade de California Davis.
Em julho, o Departamento de Estado ordenou o fechamento do consulado chinês em Houston. O Secretário de Estado Mike Pompeo disse que o lugar era um "centro de espionagem e roubo de propriedade intelectual." Há rumores que o consulado estava sendo usado para obter ilicitamente, entre outras coisas, tecnologia para a prospecção de petróleo de empresas próximas do Texas.
O consulado da China em Nova Iorque também é um centro de espionagem. James Olson, ex-chefe da contrainteligência da CIA, disse "reservadamente" que a China, nas palavras do New York Post, "conta invariavelmente com mais de 100 agentes da inteligência operando na cidade." A cidade de Nova Iorque, ressaltou ele, está "sob ataque jamais visto."
Pompeo salientou ao jornal de Nova Iorque que os agentes da inteligência estão operando a partir do consulado de Nova Iorque e da missão chinesa nas Nações Unidas.
Os agentes chineses estão sufocando os profissionais da área de segurança pública dos EUA. O diretor do FBI Christopher Wray, realçou em um evento patrocinado em julho pelo Hudson Institute, que "quase a metade" dos casos de contrainteligência do departamento estão relacionados à China. O FBI abre um caso de contrainteligência "relacionado à China" mais ou menos a cada dez horas."
Em fevereiro de 2018, diante da Comissão de Inteligência do Senado, Wray declarou que a China está usando "coletores de informações não tradicionais, principalmente na esfera acadêmica, sejam eles professores, cientistas ou estudantes," algo que "vemos em quase qualquer escritório regional do FBI espalhado pelo país."
Às vezes diplomatas se envolvem diretamente na espionagem. Eles estão, de acordo com um estudo realizado pela Anastasya Lloyd-Damnjanovic para o Woodrow Wilson International Center for Scholars, "sondando docentes e staff em busca de informações consistentes com a coleta de inteligência."
Conforme Dan Hoffman, ex-chefe de divisão da CIA salientou a Harris Faulkner da Fox News, em 10 de dezembro que a "China está inundando a érea."
Há um jeito de resolver esta emergência de espionagem em larga escala: fechar as bases operacionais chinesas nos Estados Unidos. Isso se traduz no fechamento dos quatro consulados de Pequim que ainda restam: Chicago, Los Angeles, Nova Iorque e São Francisco, além de reduzir drasticamente o staff da embaixada. Na realidade, a embaixada precisa apenas do embaixador, familiares próximos e adidos militares e não centenas de funcionários como é hoje o caso.
Aproveitando o ensejo do corte de staff da embaixada para o mínimo necessário, o Departamento de Estado deveria também expulsar o atual embaixador, Cui Tiankai. Ele e outro elemento do consulado de Nova Iorque tentaram recrutar um cientista de Connecticut para espionar para eles.
Washington poderia dizer a Pequim que o governo americano aceitaria outro embaixador, mas deixar claro aos chineses que ela ou ele será expulso já no primeiro sinal de conduta inapropriada.
Será que Pequim irá simplesmente transferir os espiões a bancos e empresas chinesas que operam nos Estados Unidos? Provavelmente, mas isto levará tempo e de qualquer maneira, Washington também poderia ordenar o fechamento de postos avançados não diplomáticos. A este respeito, o Presidente Donald Trump usaria o Enemy Act de 1917 e o International Emergency Economic Powers Act of 1977 para acabar com o comércio, investimento e cooperação tecnológica com um regime que usa as relações para fazer espionagem.
A China irá retaliar, é óbvio, fechando os consulados americanos e reduzindo o tamanho do staff da embaixada americana em Pequim. Analistas irão argumentar que dado que os Estados Unidos é uma sociedade aberta e a China uma sociedade fechada, Washington precisa mais de postos avançados na China do que os chineses nos Estados Unidos.
É um forte argumento, mas os Estados Unidos deveriam, mesmo assim, tomar providências para mostrar a Pequim que o país está absolutamente determinado a se defender. Nada diz mais sobre a "vontade política" do que estar disposto a dar a cara para bater.
Outros dirão que os negócios na China precisam de suporte consular. Não resta dúvida que precisam. Minha resposta é que é do interesse dos Estados Unidos tirar suas empresas daquele país, por razões morais e por outras razões também. A perda de apoio consular será mais uma razão para que elas arrumem as malas e saiam de lá voando.
Os espiões chineses estão atropelando os Estados Unidos, medidas menos drásticas deram com os burros n'água. Chegou a hora, portanto, de tomar medidas efetivas.
Gordon G. Chang é o autor do The Coming Collapse of China, Ilustre Senior Fellow do Gatestone Institute e membro do Conselho Consultivo.