Foto: Catedral de Notre Dame em Paris em chamas enquanto os bombeiros tentam apagar o fogo, em 15 de abril de 2019. (Foto: Veronique de Viguerie/Getty Images) |
As autoridades francesas correram contra o tempo para excluir qualquer possibilidade de incêndio criminoso que deixou em ruínas a Catedral de Notre Dame em Paris em 15 de abril. Qualquer que seja a conclusão da investigação, muitos muçulmanos extremistas na Turquia foram tão céleres em comemorar o incêndio que destruiu boa parte da estrutura histórica quanto as autoridades francesas em negar que o incêndio tenha sido criminoso.
Por exemplo, a página oficial do Facebook do jornal Sabah, pró-governo, está repleta de elogios por conta da destruição da catedral.
Comentários de alguns leitores:
"Enquanto as chamas se alastravam, orei a Deus, dizendo: 'queime ainda mais, ah Deus, amaldiçoe e que reste somente escombros'. Quer saber por que? O sentimento é de regozijo com o incêndio da França, bárbara e colonialista, que derramou o sangue de cerca de 1,5 milhão de muçulmanos e na sequência de mais um milhão de muçulmanos, que foram decapitados e tiveram suas cabeças expostas em museus e que falsamente acusa a Turquia de massacrar os armênios. O que se pode dizer à França que achincalha nosso profeta e que quer modificar os versículos do Alcorão?
"Se você não respeita minhas mesquitas, meu livro sagrado, meu profeta, então sinta a punição da pior maneira possível. Eu não estou triste, de modo algum."
"Eles destruíram os monumentos no Oriente Médio que pertenciam a nós. Talvez isso lhes dê uma lição".
"Por que eu deveria estar triste? Eles destruíram Bagdá, tantas mesquitas e madrassas (escolas islâmicas) não existem mais. Que eles (cristãos) sintam o inferno austral. Espero que notícias maravilhosas como esta cheguem do Vaticano, se Deus quiser, o mais rápido possível."
"Quem se importa? Muitos muçulmanos foram mortos na Nova Zelândia e ainda estão sendo mortos. É apenas um edifício. Ele pode ser reconstruído. Quem sabe eles mesmos o incendiaram. Quem sabe talvez eles quisessem reformá-la, mas não tiveram permissão, então resolveram incendiá-la".
Outros sugeriram a destruição de outros monumentos e nações não muçulmanas:
- "É uma cena maravilhosa. Tomara que mais lugares de ícones cristãos tenham a mesma sorte."
- "Enviem-me as cinzas. Plantarei feijão. Eu posso espalhar as cinzas debaixo dos grãos".
- "Vamos pegar alguns pedaços de madeira. A catedral ainda não foi totalmente consumida pelo fogo. Vamos colocar mais lenha na fogueira..."
- "Que toda a França arda em chamas. Eles são inimigos do Islã, inimigos da humanidade".
- "Que a catedral seja reduzida a cinzas. Aí então que caia uma tempestade e faça com que as cinzas desapareçam, se Deus quiser."
Muitos disseram que o incêndio era um castigo pelos "crimes" cometidos contra o Islã, como os ataques às mesquitas na Nova Zelândia, intervenções militares da França em países muçulmanos, a recente designação do dia 24 de abril pelo governo francês como "dia nacional em memória do genocídio armênio" e o manifesto de 2018 dos intelectuais franceses conclamando que se declare "obsoletos" os versos violentos do Alcorão.
Até agora não há nenhuma evidência de que o incêndio tenha sido provocado pelo extremismo islâmico. De modo geral, no entanto, ao se tentar entender a base teológica do ódio subjacente tantas vezes visto, é difícil não se perguntar o que os extremistas muçulmanos fariam se tivessem poder suficiente. Após séculos de rotina jihadista que culminaram em ataques claramente praticados por motivos religiosos, como os ocorridos nos Estados Unidos em 11 de setembro, na Grã-Bretanha em 7 de julho, na Espanha nos atentados aos trens, no Sri Lanka nos atentados às igrejas em 21 de abril e assim por diante, nós realmente deveríamos acreditar que somos nós que temos motivação genocida ou que são eles? Para muitos muçulmanos, é sempre o kuffar (os não muçulmanos) que são os criminosos, assassinos e corruptos. Para eles, os muçulmanos são sempre inocentes. A leitura deles da história e das questões contemporâneas muitas vezes parece totalmente centrada neles mesmos.
O Imã Suleiman Hani, por exemplo, um clérigo islâmico radical de Michigan, EUA, sustentou em seu programa na Huda TV em 2015 que o kuffar (não muçulmanos) serão condenados à "morada no fogo do inferno". ... É o que eles semearam do seu mal. "Ele declarou que 'os infiéis', são o povo do mal... eles serão espancados, triturados, transformados em pó e depois retornarão. Eles receberão uma cama de fogo, cheia de escuridão".
Há incontáveis exemplos desse tipo. Lamentavelmente, tais enfoques são amplamente difundidos e ainda estimulados em todo o mundo muçulmano.
E não para por aí, há diversos versos no Alcorão que tratam do ódio de Alá em relação aos não muçulmanos e do castigo que os aguarda por não crerem Nele. Por exemplo, o Alcorão diz aos muçulmanos "combatei, pela causa de Alá"(verso 2:190), "estimula os fiéis ao combate" (verso 8:65), "matai-os (descrentes) onde quer se os encontreis" (versículo 2: 191) e "combatei os vossos vizinhos incrédulos para que sintam severidade em vós"(versículo 9:123), entre os inúmeros versos violentos.
Ao passo que certas escrituras de outras religiões também têm versos violentos, tais versos são de natureza histórica, referindo-se a um incidente específico e são descritivas e não prescritivas. Fora isso, conforme escreve o autor Bruce Bawer :
Às vezes, quando alguém aponta tais versos, as pessoas respondem: "veja bem, a Bíblia diz isso e aquilo". A questão não é se essas coisas constam nas escrituras islâmicas, mas que as pessoas ainda vivem segundo esses preceitos.
Muitos, evidentemente, ainda consideram esses versos como instruções divinas. Lamentavelmente, a julgar pelos gritos frequentes de "Allahu Akbar" e pelas inúmeras pesquisas de opinião muçulmanas, muitos da fé muçulmana ainda apoiam a violência política em nome da religião e da Lei Islâmica (Sharia).
Desafortunadamente, a supremacia islâmica não visa apenas igrejas de cristãos ocidentais. Ela também tem como alvo os templos yazidis, zoroastristas, budistas e hindus. Essas minorias religiosas no mundo muçulmano são totalmente vulneráveis, indefesas e brutalmente perseguidas. Mesmo assim, seus lugares de culto são vistos pelos muçulmanos extremistas como símbolos da "adoração de ídolos" que precisam ser destruídos. Em muitos países muçulmanos, a violência entre os próprios muçulmanos também é bastante comum, extremistas muçulmanos sunitas atacam mesquitas xiitas e extremistas xiitas atacam mesquitas sunitas. O ódio islâmico entre diferentes grupos religiosos não tem nada a ver com a geografia, o Oriente ou o Ocidente. O ódio gira em torno da fé religiosa.
Em conformidade com essa visão de mundo, o jornal islamista pró-governo Yeni Akit, não se contendo de alegria destacou em letras garrafais a seguinte manchete sobre o incêndio: "A Famosa Catedral de Notre Dame da França Arde em Chamas" e na sequência o atribuiu então ao reconhecimento da França ao "assim chamado genocídio armênio".
Outras mídias pró-governo, como o Haberturk e o Gzt.com, davam a entender que como o Conquistador Otomano Sultan Mehmet não conseguiu se apoderar e islamizar a Catedral de Notre Dame, ela acabou sendo destruída em consequência do incêndio.
Atacar monumentos não muçulmanos tem sido uma prática islâmica amplamente difundida desde o século VII, lamentavelmente enraizada no Alcorão e nos hádices para evitar o shirk, a adoração de objetos ou qualquer outra coisa que não seja a Alá.
Segundo o Dr. Bill Warner, fundador e presidente do Centro de Estudos do Islã Político:
"O discurso do Islã é dualista. Há uma divisão da humanidade em crente e kafir (incrédulo). A humanidade é dividida entre aqueles que acreditam que Maomé é o profeta de Alá e aqueles que não acreditam nisso.
"Kafir é a palavra que o Alcorão usa para os não muçulmanos. Ela é geralmente traduzida como incrédulo ou infiel, mas essas traduções estão erradas. A palavra incrédulo é neutra, ao passo que a postura do Alcorão em relação aos incrédulos é extremamente negativa. Segundo o Alcorão o Kafir é odiado por Alá. Um muçulmano nunca é um amigo de verdade de um kafir. Os kafires podem ser escravizados, estuprados, decapitados, aterrorizados, humilhados e pode-se conspirar contra eles. Um Kafir não é um humano completo.
"Ao lermos a doutrina islâmica do Alcorão na íntegra, Sira (a biografia de Maomé) e os Hádices (as tradições de Maomé), veremos que o Islã é obcecado pelo Kafir. Mais da metade do Alcorão é sobre o Kafir, não sobre os muçulmanos. É o propósito declarado da textual doutrina islâmica: aniquilar todo Kafir por meio da conversão, subjugação ou morte. A Jihad (guerra santa islâmica) pode ser travada contra o Kafir".
Portanto, não causa espécie que os muçulmanos radicais na Turquia e em qualquer outro lugar tenham comemorado a cena da Catedral de Notre Dame em chamas. O que é de cortar o coração é que os incêndios criminosos e outras formas de profanação de igrejas vem acontecendo na França e em outros países por séculos a fio, com parca cobertura da mídia ou menção de qualquer governo ocidental.
Uzay Bulut, jornalista da Turquia, Ilustre Colaboradora Sênior do Instituto Gatestone.