Os dois grupos palestinos, Hamas e Fatah, estão mais uma vez provando que em se tratando de terrorismo, são mestres no discurso ambíguo dizendo uma coisa para a comunidade internacional, que tem sido generosa com eles, enquanto praticam o oposto em casa. A condenação de Mahmoud Abbas ao ataque terrorista em Paris e sua decisão de participar do comício antiterrorismo na capital francesa também são sinais da contínua hipocrisia e duplo padrão moral, tanto da Fatah quanto do Hamas.
O Hamas deveria ser o último a condenar os ataques contra jornalistas e a liberdade de expressão. Suas forças de segurança na Faixa de Gaza continuam a prender e intimidar regularmente jornalistas palestinos.
Ambos os grupos têm uma longa história de condenar ataques terroristas no exterior e ao mesmo tempo fazer o máximo para suprimir e punir a liberdade de expressão em casa, por menor que seja. Jornalistas palestinos têm sido frequentemente alvos das forças de segurança da Autoridade Palestina por postarem comentários criticando-a no Facebook, por relatarem casos que reflitam negativamente em Mahmoud Abbas ou em outras autoridades palestinas.
A condenação proferida pelo Hamas ao ataque à revista francesa Charlie Hebdo coincidiu com um relatório publicado pelo grupo de direitos humanos palestino Addameer, que acusa o movimento islamista de torturar várias autoridades do alto escalão da Fatah, na Faixa de Gaza.
Segundo o relatório, os líderes da Fatah foram deixados seminus apenas de cuecas, forçados a ficarem no frio por várias horas. O relatório também revela que os interrogadores do Hamas bateram neles com tubos de plástico, além de jogarem água gelada em cima deles.
Somente no ano passado, quando a oportunidade de serem aceitos pela União Européia se aproximava, tanto o Hamas quanto a Fatah intensificaram as intimidações, prisões e torturas de jornalistas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. A intimidação e a supressão da liberdade de expressão em casa, não fez com que nem o Hamas nem a Fatah parassem de condenar o brutal assassinato de jornalistas franceses na redação da revista satírica Charlie Hebdo.
Ironicamente, o Hamas, que realizou centenas, senão milhares de ataques terroristas contra civis nos últimos 27 anos, se apressou em emitir um comunicado condenando o assassinato dos jornalistas franceses. Em um comunicado publicado em francês, o Hamas declara que "condena o ataque contra a revista Charlie Hebdo e insiste que diferenças de opinião e pensamento não justificam assassinatos".
Contudo, o Hamas foi extremamente cuidadoso em não condenar o ataque terrorista ao supermercado kosher em Paris, pelo fato do Hamas acreditar que ataques contra judeus são legítimos. Condenar o assassinato de judeus implicaria que o Hamas também teria que condenar seus próprios ataques terroristas contra judeus em Israel.
Em mais uma ironia do destino, justamente poucas horas antes do comunicado do Hamas ser entregue às redações dos veículos de mídia estrangeira na Faixa de Gaza, o Website associado ao Hamas, Al-Resalah, tweetou uma foto de três terroristas franceses assassinados, retratando-os como "mártires".
O tweet de um Website associado ao Hamas retratando os terroristas de Paris como "mártires". |
A foto foi posteriormente retirada para evitar constrangimentos ao Hamas, que está fazendo o máximo para mostrar à França e aos demais países europeus que é merecedor da recente decisão do tribunal da UE de removê-lo da lista de organizações terroristas da União Européia.
A condenação do terrorismo pelo Hamas, que aparentemente enganou muitas pessoas de bem que tinham a esperança de que talvez "desta vez" o Hamas estivesse realmente passando por uma reformulação, deve ser vista apenas como esforços para apaziguar a UE e persuadir seus governos de que eles estavam certos em retirar o movimento da lista de organizações terroristas.
Se você estiver pensando que esses abusos se aplicam apenas ao Hamas, fontes próximas a Abbas disseram que sua imediata condenação aos ataques terroristas de Paris se deve ao recente apoio da França à petição a favor do estado palestino no Conselho de Segurança da ONU. "Os palestinos estão em dívida com a França pelo seu apoio à resolução palestina no Conselho de Segurança", de acordo com algumas fontes. "Esperamos que o povo francês não mude de atitude em relação à questão palestina em virtude dos recentes ataques terroristas em Paris."
A Autoridade Palestina dominada pela Fatah tem o mesmo histórico de supressão e punição à liberdade de expressão na Cisjordânia. No começo do mês, a Fatah de Abbas "comemorou" o 50º aniversário do primeiro ataque terrorista contra Israel postando uma charge em sua página oficial no Facebook, mostrando uma enorme pilha de crânios e esqueletos com estrelas de Davi. Assim como o Hamas, a Fatah posteriormente também removeu a imagem, como parte dos esforços de impedir que o mundo veja o quão orgulhosos os palestinos estão do grande número de judeus que eles assassinaram nas últimas décadas.
Imagem da Fatah em sua página oficial no Facebook, comemorando o assassinato de judeus. |
Abbas está disposto a condenar ataques terroristas desde que seja em seu próprio interesse. Após o ataque terrorista a uma sinagoga em Jerusalém no último mês de novembro, somente depois de muita pressão do Secretário de Estado John Kerry Abbas foi forçado a emitir um comunicado condenando o ataque.
Membros da Fatah de Abbas admitiram posteriormente que sua condenação não foi nada sincera e foi feita unicamente em consequência da pressão internacional.
Na realidade, as autoridades do alto escalão e os responsáveis pela mídia de Abbas, ainda glorificam regularmente palestinos que cometem ataques terroristas como aqueles perpetrados pelos terroristas franceses. Eles nunca deixam de retratar os perpetradores como "mártires" e "heróis". Apesar de sua condenação a ataques terroristas contra Israel, Abbas não poupa elogios aos palestinos que atacam israelenses. Um bom exemplo do discurso ambíguo de Abbas aconteceu no último mês de novembro, quando ele enviou uma carta de condolências à família de um palestino que baleou, ferindo gravemente um ativista israelense, Rabino Yehuda Glick, em Jerusalém. Na carta, Abbas disse que o agressor, que foi morto posteriormente em um tiroteio com a polícia, "irá para o céu como mártir por defender os direitos de nosso povo e seus lugares sagrados".
O Hamas e a Fatah estão novamente tentando ludibriar os europeus e o resto do mundo fazendo de conta que estão do lado daqueles que se opõem à violência e ao terrorismo. Isso acontece enquanto ambos os grupos continuam a avalizar o terrorismo e a glorificar terroristas.
Bassam Tawil é um pesquisador estabelecido no Oriente Médio.