No início, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) era uma pequena agência cujo mandato era prover ajuda humanitária básica aos palestinos, incluindo a votação para a renovação a cada três anos. Após setenta e três anos e quatro gerações, com mais de 30 mil funcionários, um orçamento anual de mais de um bilhão de dólares, por incrível que pareça, ela virou uma das maiores agências da ONU.
Na Faixa de Gaza governada pelo Hamas, a UNRWA funciona, há muito tempo, como governo de fato. Ao dispor de inúmeros serviços aos moradores da Faixa de Gaza, a UNRWA dispensou o Hamas das suas responsabilidades de órgão governamental, como a criação de uma economia funcional que pagaria a educação e a saúde pública, possibilitando, ao contrário do esperado, investir os recursos na construção de túneis e fabricação de armas. Se a UNRWA não existisse, o Hamas teria sido forçado a preencher o vazio e, por exemplo, construir hospitais e escolas e encontrar soluções para os problemas econômicos, incluindo o desemprego e a miséria.
Conforme salientou Mousa Abu Marzouk, membro do alto escalão do Hamas, ao explicar porque nenhum cimento poderia ser cedido dos túneis terroristas para construir abrigos antiaéreos para os gazenses:
"os túneis foram construídos para proteger os combatentes do Hamas dos ataques aéreos israelenses. Como se sabe, 75% dos residentes da Faixa de Gaza são refugiados. É de responsabilidade das Nações Unidas proteger os refugiados."
O que o Hamas estava dizendo com propriedade era: somos responsáveis pelo que acontece debaixo da superfície, ao passo que a UNRWA é responsável pelo que acontece em cima da superfície.
Além de evoluir para uma gigantesca agência, a UNRWA também se transformou numa incubadora muito dispendiosa para o terrorismo. As escolas administradas pela UNRWA enfatizam e promovem o "direito de retorno", um eufemismo para inundar Israel com milhões de palestinos e transformar o país num Estado islamista de maioria muçulmana apoiado pelo Irã.
Mais de 50% do orçamento anual da UNRWA, de 1,6 bilhão de dólares, é dedicado ao financiamento de escolas palestinas. Estas escolas têm fomentado o ódio belicista contra Israel e contra os judeus em geral, desde a mais tenra idade quando são mais impressionáveis, ao longo dos anos escolares, ao mesmo tempo em que produzem, previsivelmente, o seu produto final: terroristas e simpatizantes de terroristas.
"Eles, (da UNRWA) nos ensinam que a Mesquita Al-Aqsa pertence a nós (muçulmanos), que a Palestina nos pertence", ressaltou Atif Sharha, estudante de uma escola da UNRWA no campo de refugiados de Shuafat, ao norte de Jerusalém.
"Odeio os judeus", disse Yousef, outro estudante de uma escola da UNRWA no campo de refugiados de Kalandia, ao sul de Ramala.
"Sim, eles nos ensinam que os sionistas são nossos inimigos", disse Nur Taha, outro estudante de Kalandia. "Devíamos realizar uma operação (terrorista) contra eles (sionistas)."
Marcus Sheff, CEO do Instituto de Monitoramento da Paz e da Tolerância Cultural na Educação Escolar (IMPACT-se), que estuda essas políticas do ódio, lamenta:
"os exames de admissão palestinos se tornaram uma escola de aperfeiçoamento do extremismo. É como se a Autoridade Nacional Palestina estivesse inserindo o máximo de ódio possível nos testes, para garantir que os doze anos anteriores de doutrinação irão acompanhá-los na vida adulta."
A UNRWA então insere novamente muitas destas pessoas, já cheias de ódio, em suas instituições, perpetuando assim o que a ONU faz questão de culpar Israel: "o ciclo de violência".
Em inúmeras ocasiões as escolas da UNRWA têm sido alvo de minuciosas avaliações conduzidas pela mídia. Os livros escolares da UNRWA, compilados pela Autoridade Nacional Palestina, vêm recebendo pesadas críticas pelos materiais sedutores, provocadores de ódio e incitadores ao terror, como por exemplo "um exercício de gramática que incentiva os palestinos a 'sacrificarem seu sangue para libertar Jerusalém'".
Os livros escolares dos palestinos produzidos pela UNRWA contêm "passagens antissemitas, odiosas e violentas", segundo o IMPACT-se. Algumas destas passagens em um exercício de educação islâmica rotulam os judeus de inerentemente traiçoeiros. Um poema que fazia parte do conteúdo educacional glorificava o assassinato de israelenses e retratava a morte de mártires que matavam israelenses de "hobby".
Em um exercício de gramática, fica implícito que os judeus são impuros e que supostamente contaminam a mesquita de Al-Aqsa. (Isto não é verdade. Os judeus percorrem pacificamente o lado externo, chamado Monte do Templo, um planalto onde hoje fica a mesquita de Al Aqsa. Trata-se do terceiro lugar mais sagrado do Islã, e o mais sagrado do judaísmo. No planalto havia dois templos judaicos, mencionados na Bíblia, antes de serem destruídos, o primeiro foi destruído pelo rei da Babilônia Nabucodonosor em 586 a.C., o segundo pelo Império Romano em 70 dC).
Apesar de anos de considerável condenação dos livros escolares, as novas edições, aprovadas pela UNRWA, são exponencialmente piores.
"As atividades terroristas perpetradas contra civis israelenses também fazem parte da luta contra a ocupação sionista da Palestina. Assim, os novos livros exaltam os terroristas palestinos que participaram de ações terroristas. Por exemplo, Dalal al-Mughrabi, morta num ataque terrorista liderado por ela mesma contra um ônibus de passageiros... no qual foram assassinados mais de 30 homens, mulheres e crianças, aparece hoje em quatro livros, todos fazem parte do currículo nas escolas da UNRWA. Em todos eles ela é retratada como heroína e mártir da Palestina".
De acordo com os livros escolares utilizados nas escolas da UNRWA, os judeus não têm nenhum direito, nem status legítimo em Israel. A presença judaica no país é negada nos livros de história, geografia e de religião. Nenhuma referência é feita nos livros quanto à história dos judeus em toda a região, seja nos tempos bíblicos ou romanos. Também é negada qualquer ligação dos judeus à sua antiga capital, Jerusalém, apresentada como cidade árabe desde a sua criação há milhares de anos. A presença dos judeus em Jerusalém hoje é apresentada desconcertadamente nos livros como uma agressão contra o caráter árabe da cidade.
E não para por aí, nos livros escolares, tanto os administradores como os professores da UNRWA demonstraram orgulhosamente a sua aprovação ao terrorismo e ao ódio em inúmeras ocasiões, incluindo o recente massacre do Hamas, em 7 de Outubro, de acordo com um relatório publicado pela UN Watch, organização não governamental de direitos humanos independente, bem como o IMPACT-se.
Outro exemplo, Adnan Shteiwi, professor de matemática da UNRWA, enalteceu Diaa Hamarsheh, autor do ataque a tiros em Bnei Brak, em março de 2022, no qual ele assassinou quatro civis israelenses e um policial, como "mártir" cujo nome deveria "permanecer eternamente em letras de fogo, poder e magnificência."
A Escola Secundária Asma para Meninas da UNRWA encorajou as estudantes a "libertarem a pátria sacrificando 'seu sangue', em busca da jihad".
Roni Krivoi, um dos reféns israelenses recentemente libertado do cativeiro do Hamas, relatou que foi mantido prisioneiro num sótão por mais de um mês e meio, a maior parte do tempo passou fome, sem receber tratamento médico. O carcereiro era professor da UNRWA.
Em Gaza, tal qual aconteceu com Ahmad Kahalot, Diretor do Hospital Kamal Adwan, que admitiu ser o equivalente a um general de brigada do Hamas e que 16 funcionários do hospital também eram "agentes terroristas do Hamas", a rede do Hamas e a UNRWA também é ilustrada no conhecido caso do Dr. Suhail al-Hindi.
Al-Hindi serviu tanto como diretor de uma escola de ensino fundamental da UNRWA quanto presidente do sindicato dos funcionários da UNRWA em Gaza. Em 2017, a UNRWA suspendeu al-Hindi depois de receber a informação de que ele tinha acabado de ser eleito para o politburo do Hamas. A UNRWA anunciou que al-Hindi não trabalhava mais para a agência, mas não disse se ele havia renunciado ou sido demitido. Primeiro Al-Hindi disse que "renunciou" da UNRWA, mas depois esclareceu que se tratava de aposentadoria precoce.
O caso de al-Hindi e de outros funcionários da UNRWA suspeitos de apoiar o terrorismo mostra que a UNRWA é "o dinheiro", enquanto criminosos grupos terroristas como o Hamas são "o poder".
A UNRWA tenta manter público o papo-furado de que está de mãos limpas, assumindo uma postura beligerante, porém defensiva contra estas e outras acusações, afirmando publicamente que conduz uma "política de tolerância zero ao ódio".
O site de notícias israelense Ynet, no entanto, escreveu recentemente sobre um relatório do UN Watch:
"No artigo, há cerca de 47 casos documentados do corpo docente promovendo material antissemita, uma vez que aqueles funcionários de escolas violam flagrantemente a política oficial da UNRWA..."
"Há apenas dois anos a UNRWA pediu desculpas devido a ocorrência de casos semelhantes, ela alegou que houve erro e que não ocorrerão no futuro, mas visto este último relatório, a promessa foi feita só para inglês ver."
Um funcionário da UNRWA retratou Adolf Hitler de uma forma favorável: "acorde Hitler, ainda há pessoas para serem queimadas."
Além disso, conforme bem documentado, a UNRWA permitiu que os suas edificações escolares fossem utilizadas pelo Hamas como armazéns de foguetes e outros armamentos, túneis para os terroristas, além de abrigar terroristas jihadistas. O Hamas e outras organizações terroristas apostaram no frenesi mediático que se seguiria se as forças israelenses atacassem uma instituição da ONU (ou um hospital, uma mesquita ou mesmo uma igreja) que estaria sendo usada para fins militares. O Hamas vem lançando foguetes contra Israel de locais que ficam ao lado de escolas da UNRWA e, sempre que possível, disparam do interior das escolas, aproveitando assim o santuário que uma instituição da ONU, especialmente sendo um "espaço protegido" como uma escola, principalmente nestas circunstâncias.
Na semana passada, houve um corre-corre na mídia no tocante à condenação das Forças de Defesa de Israel por elas terem explodido uma escola da UNRWA, apesar da divulgação de que a escola tinha sido usada como depósito de armas e de que foram encontrados túneis terroristas em seu espaço.
Os jardins de infância da UNRWA foram descobertos contendo armas escondidas dentro de brinquedos e até em sacos plásticos da UNRWA, e funcionários da ONU são acusados de serem cúmplices no cativeiro de reféns, apesar dos protestos em contrário. Ao que tudo indica, a "tolerância zero" virou "supervisão zero".
Quando, no passado, eram descobertos foguetes nas escolas da UNRWA, a agência garantia a todos que eles tinham sido entregues às "autoridades locais". Essas autoridades, claro, eram o Hamas, que muito provavelmente as transferia para outro local igualmente inapropriado.
De vez em quando, os funcionários da UNRWA montam um pequeno alarido ou fazem de conta que estão chocados e contrariados perante os doadores ou a mídia, mas ao que consta não fazem nada no sentido de mudar as coisas na prática. Nos altos escalões da gestão da UNRWA, têm havido acusações de graves violações da ética nas formas de nepotismo, intimidação, má gestão de fundos, bem como falta de prestação de contas.
Isto não é coisa de somenos, considerando que em 2022, as contribuições globais anuais só para a UNRWA, fora as doações diretas às agências governamentais palestinas, como o Hamas e a Autoridade Nacional Palestina, e as inúmeras ONGs e demais agências de ajuda especificamente palestinas, de 68 nações doadoras, entre elas a Santa Sé, foi de US$1,1 bilhão de dólares.
Exaustivos relatórios divulgados pela UN Watch e pela IMPACT-se destacaram a influência maligna de organizações terroristas como o Hamas, a Fatah e a Jihad Islâmica palestina sobre as instituições da UNRWA que fingem ignorância ou são entusiasmados cúmplices. As repercussões destas revelações estão se tornando um vergonhoso papelão.
Recentemente o parlamento da Suíça votou pela suspensão do financiamento da UNRWA (US$21 milhões anuais), e classificou o Hamas como organização terrorista e o baniu por unanimidade. "Os brutais ataques terroristas do Hamas contra Israel exigem uma posição clara da Suíça", salientou o parlamento.
Em 2018, a Administração Trump chamou a UNRWA de uma "operação irremediavelmente viciada", e cortou completamente a doação anual de US$300 milhões dos EUA. A ajuda foi restabelecida pelo presidente Joe Biden quase que imediatamente após a sua posse.
Muitos questionaram a própria concepção da UNRWA, uma vez que a ONU já tinha uma agência especificamente designada para refugiados: o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
A UNRWA continua sendo uma organização para refugiados distintamente separada do ACNUR, baseada em duas premissas: primeira, que os palestinos "regressarão" às suas casas em Israel por meio do "direito de retorno", segunda, que nunca haverá uma resolução de não "retorno", tornando assim estes refugiados uma pedra no sapato para Israel.
A primeira premissa efetivamente destruiria Israel ao impor uma mudança demográfica: inundar o país com milhões de palestinos, comprovadamente nada voltados para a paz, para o interior de Israel.
A segunda premissa seria, e vem sendo, efetivamente escravizar os palestinos a exemplo do rostos lacrimejantes que mantêm a "esmola da compaixão" internacional fluindo para os cofres da liderança palestina e da UNRWA.
Talvez esta possa ser pelo menos uma resposta à razão pela qual, quando a UNRWA clamou recentemente por mais dinheiro de ajuda aos palestinos, se descobriu que a organização tinha um armazém inteiro com alimentos que já estavam"saindo pelo ladrão". Quando os habitantes de Gaza tomaram de assalto o armazém em outubro, eles descobriram grandes quantidades de arroz, lentilhas, farinha e óleo de cozinha.
Quaisquer que sejam as esperanças que alguém pudesse alimentar em relação à idoneidade da UNRWA já caducaram há muito tempo e provavelmente já eram descabidas desde o começo. A UNRWA, em seu estado atual, provou ser irremediavelmente problemática, inviável e mais uma mancha enorme na já escandalosamente manchada ONU (clique aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). A agência perpetuou a questão dos "refugiados" mantendo-os em campos e fornecendo-lhes apenas e tão somente os serviços básicos.
Pior do que isso, a UNRWA criou deliberadamente novas gerações de "refugiados", insistindo que os descendentes dos refugiados herdassem o estatuto de "refugiado", o que logo de cara é uma baboseira. Já está mais do que na hora da comunidade internacional e aqueles que realmente desejam um futuro melhor para os palestinos acabarem com a UNRWA e tomarem medidas que realmente ajudem os palestinos a avançarem para uma vida que vale a pena ser vivida.
Bassam Tawil, é árabe muçulmano, radicado no Oriente Médio.