Segundo a leitura dos mulás do Irã, as desesperadas investidas de Biden para ressuscitar o acordo nuclear expõem fragorosamente sua tímida liderança, sendo portanto uma deixa para Teerã deitar e rolar e ganhar tempo, extrair mais concessões, alavancar o programa nuclear e se tornar um país dotado de armas nucleares. (Imagem: iStock) |
Desde que a Administração Biden foi alçada ao poder, as negociações sobre o programa nuclear iraniano não levaram a lugar nenhum. Seis rodadas de negociações foram concluídas sem resultados. Por outro lado, dois outros problemas foram longe demais: a política complacente do governo Biden frente ao regime iraniano e o avanço do programa nuclear dos mulás.
Quando a Administração Biden assumiu o cargo, logo anunciou que conteria o programa nuclear do Irã voltando ao acordo nuclear de 2015, conhecido como Plano de Ação Conjunta (JCPOA) que, a propósito, o Irã nunca assinou e que posteriormente levantaria as sanções contra o governo iraniano.
Ao que tudo indica, desesperada para retomar o pacto nuclear, a Administração Biden imediatamente começou a passar a mão na cabeça dos clérigos que governam o Irã. A primeira concessão ocorreu quando o governo mudou a política de pressão máxima da administração anterior sobre os houthis, a milícia proxy do Irã. Mesmo havendo evidências, como um relatório das Nações Unidas mostrando que o regime iraniano estava entregando armas sofisticadas aos houthis no Iêmen, a Administração Biden suspendeu algumas sanções contra os terroristas que a administração anterior havia imposto sobre o grupo.
Logo depois, a Administração Biden revogou a classificação dos houthis do Iêmen de grupo terrorista. Além disso, em junho de 2021, a Administração Biden levantou as sanções de três ex-autoridades iranianas e de inúmeras empresas de energia. Na sequência, num tapa na cara do povo iraniano e nos defensores da democracia e dos direitos humanos, o regime iraniano, poucos dias depois, escolheu a dedo um genocida para ser seu próximo presidente. A Administração Biden então anunciou que também estava considerando suspender as sanções contra o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.
Segundo a leitura dos mulás do Irã, as desesperadas investidas de Biden para ressuscitar o acordo nuclear expõem fragorosamente sua tímida liderança, sendo portanto uma deixa para Teerã deitar e rolar e ganhar tempo, extrair mais concessões, alavancar o programa nuclear e se tornar um país dotado de armas nucleares.
Apesar de toda essa política de incentivos e afagos, os mulás do Irã continuaram a dar desculpas esfarrapadas, aparentemente para arrastar as negociações sobre o programa nuclear. Uma das últimas propostas apresentadas foi a necessidade das potências mundiais esperarem até que o recém eleito presidente do Irã, Ebrahim Raisi, assumisse o cargo antes da retomada das negociações.
A esta altura já faz mais de um mês que Raisi está no cargo de presidente do Irã, no entanto não houve o menor interesse da República Islâmica em reiniciar as negociações, na realidade, o tempo todo, o regime parece ter acelerado o enriquecimento de urânio num grau apropriado para fabricação de armas nucleares. Esta escalada causou apreensão entre alguns líderes europeus e, surpreendentemente, levou a UE a pressionar Teerã a retornar imediatamente à mesa de negociações. "Pedimos veementemente que o Irã volte à mesa de negociações de forma construtiva e sem mais delongas. Estamos disponíveis, mas a janela de oportunidade não ficará aberta para sempre", alertou um porta-voz do ministério da Alemanha.
Após asseverar que retomariam as negociações tão logo Raisi assumisse o cargo, agora os líderes do Irã estão dizendo que provavelmente não voltarão às negociações sobre o programa nuclear antes de 2 ou 3 meses. "O... governo considera que uma verdadeira negociação é uma negociação que produza resultados palpáveis, que permita que os direitos da nação iraniana sejam respeitados", salientou o ministro das relações exteriores, Hossein Amir-Abdollahian em uma entrevista transmitida pela televisão estatal iraniana. Ele ainda lembrou que as negociações sobre o programa nuclear são "um dos pontos da política externa e da agenda do governo... o outro lado sabe muito bem que a transição leva de dois a três meses para que o novo governo reúna conhecimento e comece a tomar decisões".
Como a política nuclear do Irã, no entanto, não é definida pelo presidente nem pelo ministro das relações exteriores, tal declaração soou como mais uma desculpa esfarrapada do regime para ganhar tempo e alavancar o enriquecimento. É claro, o líder supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, é quem tem a palavra final nas questões nucleares e de política externa do Irã.
No momento, o regime iraniano está segundo consta de 8 a 10 semanas de obter os insumos adequados para a produção de armas nucleares. "O Irã violou todas as pautas estabelecidas no JCPOA e está apenas a cerca de dez semanas de adquirir os insumos adequados para a fabricação de armas nucleares", ressaltou o ministro da defesa de Israel, Benny Gantz a embaixadores de países membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas em uma reunião no Ministério das Relações Exteriores de Israel em Jerusalém em 4 de agosto de 2021. "Chegou a hora de agir, palavras não bastam. É hora da diplomacia, da tomada de providências nas esferas econômicas e até militares, caso contrário, os ataques irão continuar."
Mais uma vez, parece que os mulás do Irã estão jogando com maestria contra a Administração Biden e a UE, paralisando as negociações sobre o programa nuclear, ganhando tempo para obter mais concessões e acelerando o enriquecimento de urânio e o programa nuclear a ponto de estarem na iminência de disporem de uma bomba atômica.
Dr. Majid Rafizadeh é estudioso de Harvard, estrategista e consultor de negócios, cientista político, membro do conselho da Harvard International Review e presidente do International American Council on the Middle East. Ele escreveu vários livros sobre o Islã e a Política Externa dos EUA. Contato: Dr.Rafizadeh@Post.Harvard.Edu