Os dito-cujos que agora pressionam os palestinos a realizarem outra eleição "livre e transparente" deveriam checar seus pontos cegos. A UE e outros representantes internacionais que estão dando sinal verde para que o Hamas concorra livre e desimpedido nas eleições, estão facilitando mais uma vitória do grupo terrorista e a certa ascensão ao poder. Foto: uma mulher em Abu Dis, perto de Jerusalém, examina caixas lacradas contendo documentos sob os olhares de um observador da União Europeia, diante dos preparativos nas últimas eleições para o Conselho Legislativo Palestino, em 24 de janeiro de 2006. (Foto: Uriel Sinai/Getty Images) |
Diante da pressão da União Europeia, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, marcou no mês passado, pela primeira vez em 15 anos, as datas para a realização das eleições gerais.
A UE num piscar de olhos comemorou a decisão de Abbas de realizar eleições para o Conselho Legislativo Palestino, a presidência e o Conselho Nacional da OLP.
"Trata-se de uma medida muito bem-vinda, visto que instituições democráticas participativas, representativas e responsáveis são fundamentais para a autodeterminação palestina e construção do país", salientou um porta-voz da UE em Bruxelas. "Nos últimos anos, a UE tem apoiado e financiado sistematicamente o trabalho da Comissão Eleitoral Central para ela se preparar para a realização de eleições livres, transparentes e inclusivas para todos os palestinos."
A UE também exortou as autoridades israelenses "a facilitarem a realização de eleições em todo o território palestino".
Na declaração, a UE não fez semelhante exortação nem ao Hamas nem à organização Jihad Islâmica Palestina.
É importante observar que Israel não impediu os palestinos de realizarem eleições presidenciais e parlamentares em 1996, 2005 e 2006.
Israel permitiu que residentes árabes de Jerusalém (que possuem carteiras de identidade israelenses) votassem e concorressem nas eleições palestinas anteriores.
Israel sequer impediu os residentes árabes de Jerusalém de concorrerem às eleições parlamentares de 2006 como candidatos para cargos do Hamas, movimento islamista que não reconhece o direito de Israel de existir e procura substituí-lo por um estado islâmico.
Também é importante observar que a UE e o restante da comunidade internacional não estabeleceram quaisquer condições para o Hamas antes das eleições de 2006, o que resultou em uma vitória esmagadora do Hamas.
Em 1996 o Hamas boicotou a primeira eleição parlamentar, argumentando que a votação estava sendo realizada como parte dos Acordos de Oslo, assinados entre a OLP e Israel. O Hamas não reconhece os Acordos de Oslo e se opõe veementemente a qualquer processo de paz com Israel.
No entanto, em 2006, o Hamas mudou de ideia e resolveu participar da eleição parlamentar, embora continuasse rejeitando os Acordos de Oslo e o direito de Israel de existir.
No que diz respeito ao Hamas, por que não aproveitar a oportunidade e participar da eleição visto que ninguém diz nada frente à sua hipocrisia nem estipula condições para a sua participação?
A exemplo da eleição de 1996, a eleição de 2006 também foi realizada sob a égide dos Acordos de Oslo, aqueles mesmos acordos que o Hamas continua rejeitando, tachando-os de "catástrofe política" e "crime nacional".
Acima de tudo, o Hamas mudou de ideia no tocante ao boicote à eleição porque se sentia seguro de que venceria a eleição. O Hamas sob a bandeira "o Islã é a solução", prometeu acabar com a corrupção e praticar boa governança para os palestinos. O partido coligado ao Hamas que também concorreu na eleição, o Bloco para Mudança e Reforma, igualmente prometeu aos eleitores que iria recorrer à "luta armada" contra Israel.
O Hamas agora diz que pretende participar da próxima eleição do Conselho Legislativo Palestino marcada para 22 de maio. O programa político do Hamas será conduzido nos mesmos moldes usados em 2006 para seduzir os eleitores palestinos.
Em 2001 a UE proscreveu o braço militar do Hamas e em 2003, sob pressão dos EUA, incluiu o Hamas em sua lista de organizações terroristas. Melhor dizendo, quando o Hamas participou das eleições de 2006, que também foram incentivadas pela UE, o movimento islamista ainda constava na lista das organizações terroristas da UE. No entanto, a UE não tentou impedir a organização terrorista de participar das eleições.
É a mesma UE que agora pede a Israel que "facilite" as próximas eleições, e ao que tudo indica, não se opõe à participação do Hamas. Em vez de instar Israel a "facilitar" o processo eleitoral, a UE teria sido mais útil se tivesse apontado a hipocrisia do Hamas.
Após o Hamas ter vencido as eleições em 2006, a UE reagiu cortando contatos, interrompendo a assistência ao governo liderado pelo Hamas. A UE juntamente com os outros membros do Quarteto do Oriente Médio (EUA, Rússia e Nações Unidas), somente impuseram condições para o reconhecimento do governo palestino depois do Hamas ter vencido a eleição. Os membros do Quarteto deveriam ter imposto as condições antes e não depois da eleição. Eles tinham todo o direito para tanto: o governo liderado pelo Hamas contava que a comunidade internacional continuasse fornecendo ajuda financeira aos palestinos. É como pedir um empréstimo a um banco. O banco se reserva o direito de estabelecer condições para a liberação do empréstimo. Se o solicitante aceitar as condições, ele obterá o empréstimo. Caso contrário, o empréstimo não será liberado.
A UE precisa deixar claro ao Hamas o seguinte: caso haja interesse em participar das eleições, é imperativo aceitar as três condições acordadas em 2010 pelo Quarteto para o reconhecimento de um governo palestino: renúncia à violência, reconhecimento do direito de Israel de existir e o comprometimento de respeitar todos os acordos assinados entre os palestinos e Israel.
A UE e outras representações internacionais, incluindo a ONU, estão cometendo um erro fatal ao não imporem condições para a participação do Hamas nas eleições. Como é que a comunidade internacional irá reagir se o Hamas vencer novamente as eleições parlamentares e se tornar o novo governo palestino?
O governo liderado pelo Hamas, formado após as eleições de 2006, foi boicotado pela UE e pela maioria da comunidade internacional. Por que? Porque o Hamas, segundo eles, é uma organização terrorista. Se for este o caso, então por que a UE e outros países ocidentais não se opuseram à participação do Hamas nas eleições antes dos votos serem depositados nas urnas?
Por acaso o Hamas se tornou uma organização terrorista somente depois de vencer as eleições? A UE e outras representações internacionais pressionaram os palestinos a realizarem uma eleição livre e transparente, na qual o Hamas foi autorizado a participar e ao acordarem na manhã seguinte descobriram que uma organização terrorista (Hamas) havia conquistado a maioria das cadeiras do Conselho Legislativo Palestino.
Os dito-cujos que agora pressionam os palestinos a realizarem outra eleição "livre e transparente" deveriam checar seus pontos cegos. Eles estão cegos para o fato de que a possibilidade do Hamas vencer as eleições parlamentares é bem robusta. Na realidade, eles estão ajudando o Hamas a atingir seu objetivo de vencê-las.
A UE e outros representantes internacionais estão cansados de saber que o Hamas irá concorrer nas próximas eleições e que de novo irá prometer aos palestinos que continuará a "luta armada" contra Israel. Eles podem ouvir claramente o Hamas dizer que seu objetivo é "libertar a Palestina, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo. "Parece que o objetivo do Hamas de acabar o que Hitler começou, aniquilar os judeus, é exatamente o que a UE e a comunidade internacional querem, secreta ou inconscientemente.
Os beltranos que estão dando sinal verde para que o Hamas concorra livre e desimpedido nas eleições estão facilitando mais uma vitória do grupo terrorista e a certa ascensão ao poder. Eles também estão enviando uma mensagem aos palestinos de que a comunidade internacional aceita numa boa a participação de uma organização terrorista em um processo eleitoral, ainda que essa organização esteja clamando abertamente a destruição de Israel. Esta mensagem só pode mesmo encorajar ainda mais o campo extremista dos palestinos e sabotar o futuro de qualquer processo de paz entre Israel e os palestinos.
Bassam Tawil, árabe muçulmano, radicado no Oriente Médio.