Em 3 de dezembro, a Assembleia Nacional da França aprovou uma resolução adotando a definição de antissemitismo da Aliança Internacional para a Lembrança do Holocausto. O deputado Meyer Habib, que apoiou a resolução, fez um discurso apaixonado e comovente, destacando a extensão da ameaça antissemita na França de hoje e a íntima relação entre o ódio aos judeus e o ódio a Israel. Foto: Assembleia Nacional de Paris. (Imagem: Daniel Vorndran/DXR/Wikimedia Commons) |
Em 3 de dezembro, a Assembleia Nacional da França aprovou uma resolução adotando a definição de antissemitismo da Aliança Internacional para a Lembrança do Holocausto. A resolução ressalta que a definição "abrange manifestações de ódio contra o Estado de Israel justificadas apenas pelo sentimento da percepção do país ser o judeu coletivo". O deputado Meyer Habib, que apoiou a resolução, fez um discurso apaixonado e comovente, destacando a extensão da ameaça antissemita na França de hoje e a íntima relação entre o ódio aos judeus e o ódio a Israel:
"desde 2006 doze franceses foram assassinados na França porque eram judeus. Apesar dos judeus representarem menos de 1% da população do país, metade dos atos racistas cometidos na França são perpetrados contra judeus. O antissionismo é a demonização obsessiva de Israel e um abuso da retórica antirracista e anticolonial que tem como objetivo privar os judeus de sua identidade".
Ele salientou que foi extremamente difícil obter os votos necessários para aprovar a resolução devido a generalizada e profunda falta de "coragem política", lamentavelmente uma propriedade via de regra ausente na França quando se trata de antissemitismo e de Israel.
Os líderes políticos franceses não raramente declaram que a luta contra o antissemitismo é de extrema importância, eles dizem isso sempre que um judeu é assassinado no país. Ao que tudo indica, o único antissemitismo que eles estão dispostos a combater, no entanto, é o de direita. Pelo visto eles se recusam a enxergar que todos os judeus assassinados ou atacados na França desde 2006 foram vítimas de antissemitas islâmicos e que os líderes políticos franceses nunca dão um pio em relação a isso. Parece que eles escondem o antissemitismo islâmico, incorporado no Alcorão e nos hádices, intensificado na década de 1930 pela amizade dos nazistas com o Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, regido pelo ódio muçulmano aos judeus com base no ódio muçulmano dito como "legítimo" por causa de crimes sionistas".
Os líderes políticos franceses pelo visto também se recusam a ver outra forma de antissemitismo que está em franca ascendência: o antissemitismo de esquerda. É exatamente esse antissemitismo de esquerda que usa a máscara do antissionismo para disseminar o ódio contra os judeus.
Os líderes políticos franceses também nunca falam sobre a maneira com que a grande mídia francesa trata Israel ou sobre as consequências que esse tipo de tratamento em artigos e reportagens geram. Eles constantemente e de forma espúria descrevem Israel como um país do mal, cujos soldados, entra dia, sai dia, matam levianamente árabes e cujos cidadãos "ocupam ilegalmente" territórios (apesar de estarem lá há mais de 3 mil anos) que poderiam pertencer a outras pessoas e que eles as privam cruelmente de tudo.
Os líderes políticos franceses não criticam os artigos e reportagens anti-Israel: a maneira com que a maioria deles se refere a Israel é tão anti-Israel quanto os piores artigos. O próprio governo também não age com mais apreço. Quando judeus israelenses são assassinados em um ataque terrorista, o governo francês emite um comunicado "deplorando" o ataque, pede "contenção" a Israel, que evite "iniciar um ciclo de violência". Quando um ataque ocorre na parte leste de Jerusalém ou na Cisjordânia, o comunicado menciona que tanto "Jerusalém Oriental" quanto a Cisjordânia são "territórios palestinos ocupados ilegalmente por Israel". É uma forma de afirmar que os judeus não deveriam estar lá, que as vítimas são os culpados e que aqueles que os atacam têm bons motivos para tanto.
Em 12 de novembro quando o Secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo afirmou que as comunidades judaicas nos territórios em litígio não violam o direito internacional, o governo francês imediatamente emitiu um comunicado destacando que "a política israelense de colonização nos territórios ocupados palestinos é ilegal ao amparo do direito internacional, em particular com respeito às Leis Humanitárias Internacionais".
Esse tipo de reação está em conformidade com as posições adotadas pelo governo francês nos últimos anos: quando o presidente dos EUA, Donald J. Trump reconheceu Jerusalém como a capital de Israel e mudou a embaixada dos EUA para lá, o presidente da França Emmanuel Macron classificou a medida de "erro grave" e enfatizou que a embaixada francesa permaneceria na fictícia capital de Israel, Tel Aviv. Um comunicado oficial salientou que a França é "amiga da Palestina" e apoia "a criação de um estado palestino, tendo Jerusalém como capital". A França não reconhece Jerusalém como parte do território de Israel: o consulado francês em Jerusalém é descrito em documentos oficiais franceses como "consulado francês em Jerusalém", a palavra "Israel" é omitida. Quando cidadãos franceses residentes em Israel votam, os votos daqueles que se encontram em Jerusalém são contados separadamente dos votos de outros lugares do país.
No Instituto do Mundo Árabe, financiado pelo governo francês e por países árabes, inaugurado no centro de Paris em 1987, as conferências e exposições são via de regra regadas a ódio anti-israelense. Na atual exposição de nome "AlUla, maravilha da Arábia ", os visitantes se deparam com um mapa onde todo o território de Israel está coberto com o termo "territórios palestinos". Quando organizações judaicas protestaram, a palavra Israel foi finalmente adicionada ao lado do termo "territórios palestinos".
A grosso modo todos os assassinatos de judeus que ocorrem na França não só são cometidos por muçulmanos antissemitas, como também por muçulmanos que erroneamente colocam em pé de igualdade os judeus franceses e o "Israel criminoso". Mohamed Merah que assassinou crianças judias em Toulouse,disse a um policial que as matou porque "os judeus matam crianças palestinas" e que ele viu "inúmeras reportagens na TV francesa que mostravam isso". O que ele disse não motivou o governo francês a pedir às emissoras de televisão francesas para que tomassem mais cuidado para evitar o que poderia ser considerado incitamento ao ódio e ao assassinato.
No presente momento Meyer Habib é praticamente o único parlamentar francês a condenar o antissemitismo, antissionismo, preconceito anti-israelense na mídia francesa e o posicionamento anti-Israel do governo francês e de muitos políticos. Ele está cansado de receber ameaças de morte de cunho antissemita, sua família e ele precisam viver sob proteção policial 24 horas por dia. Ele representa os cidadãos franceses que vivem no exterior, em Israel, Itália e Turquia, seria impossível ele ser eleito em algum lugar do território francês.
Habib também salientou que a resolução de 3 de dezembro não passa de uma resolução. Somente uma parca minoria de deputados votou a favor dela. A única razão pela qual ela foi aprovada é porque muitos deputados se abstiveram. Inúmeros votaram contra e mais uma vez declararam que se orgulhavam de ser "antissionistas". Seja como for, a resolução não irá virar lei e não dará em nada.
É dado como praticamente certo que tanto a mídia francesa quanto os líderes políticos e o governo não mudarão suas posições hostis em relação a Israel. Nenhum líder político francês apoia Meyer Habib nem ousa discordar das declarações do governo francês em relação a Israel, a não ser salientar que o governo francês ainda é muito pró-Israel.
À medida que a demografia muda a passos largos na França, a mídia, os líderes políticos e o governo se comportam no estilo maria-vai-com-as-outras. Os judeus se tornaram uma parcela da população que vem encolhendo gradativamente, somente 0,6% do total, portanto sem peso político. Na outra ponta a população muçulmana da França se encontra em franco crescimento, já passando dos 12%. Já é praticamente impossível vencer uma eleição no país sem o voto muçulmano.
A meia dúzia de gatos-pingados que ainda criticam o Islã e o antissemitismo muçulmano na França são impiedosamente assediados por organizações islâmicas e implacavelmente condenados pelos tribunais. Há poucos dias, em 4 de dezembro, um promotor público solicitou ao tribunal que condenasse Christine Tasin, presidente do movimento anti-islâmico Republican Resistance. Em junho de 2017, ela escreveu um artigo com os seguintes comentários: "os atos de fúria antimuçulmana são inevitáveis a curto e médio prazo em todos os países europeus, incluindo a França, que estão passando por uma invasão muçulmana" e "o Islã é passível de ser incompatível com a civilização ocidental". Tasin foi acusada pela Associação contra a Islamofobia na França (CCIF) de incitar o "terrorismo antimuçulmano". A CCIF, é uma organização criada pelos Muçulmanos da França, braço francês da Irmandade Muçulmana. O promotor salientou que as queixas prestadas pela CCIF eram "perfeitamente válidas" e que Tasin "precisa de um corretivo". Ela corre o risco de ser a primeira pessoa na França a ser condenada à prisão pelo "crime" de "islamofobia".
Muitos integrantes da manifestação islâmica e da esquerda contra a "islamofobia" ocorrida em Paris em 10 de novembro último, gritavam palavras de ordem flagrantemente antissionistas, como "Israel Assassino" e "Palestina irá vencer". Vários manifestantes carregavam bandeiras da Palestina e do Hamas. Por outro lado, uma manifestação ocorrida uma semana depois condenando o terrorismo islâmico, reuniu menos de 2 mil pessoas.
Quando o Presidente Macron inaugurou o Centro Europeu do Judaísmo em 30 de outubro em Paris, ele citou o nome de todos os judeus recentemente assassinados na França. No entanto, ele não citou o nome dos assassinos. Ele simplesmente condenou a "besta imunda", uma expressão criada por Bertolt Brecht, agora frequentemente usada na França para incriminar simpatizantes dos nazistas. Ele mencionou ameaças representadas por "aqueles que querem semear ódio e dissidência" e manifestou apoio aos muçulmanos feridos em um fracassado ataque contra uma mesquita em Bayonne, no sudoeste da França. Ele falou de maneira positiva de uma época em que grande parte da Espanha era muçulmana, salientando que, em Andaluzia, "apesar dos judeus serem dhimmi, (súditos não muçulmanos, submetidos a certas restrições e impostos específicos) eles desenvolveram uma cultura extraordinária".
A autora Barbara Lefebvre viu nessas palavras um elogio aos judeus, a aceitação do dhimmitude (sendo governado pelo Islã como cidadão "tolerado" de terceira classe, às vezes tendo que pagar um imposto de "proteção") e da submissão que vem por tabela. Ela escreveu que "fazer alusões à peste marrom e às horas sombrias da nossa história para evocar a ameaça enfrentada pelos judeus que vivem hoje na França é um insulto histórico, insulto à memória das vítimas e insulto político" e que o discurso de Macron abriu caminho para condenar os judeus franceses a "saírem do país ou se fecharem em uma bolha da comunidade, como dhimmis na terra do Islã ".
Na Europa, a França não é nenhuma exceção. O antissemitismo está avançando por todo o velho mundo e muitas vezes é moldado no Oriente Médio. No entanto, as autoridades só falam sobre "antissemitismo de direita".
Na Alemanha, o Órgão Federal para a Proteção da Constituição conduziu um estudo com o objetivo de analisar os ataques de muçulmanos perpetrados contra judeus do país em 2017, mas, de forma contundente, se recusou a dizer que esses ataques eram antissemitas elegendo atribui-los a "crenças religiosas e culturais que os imigrantes muçulmanos trazem consigo" para a Alemanha.
O Ministro das Relações Exteriores da Alemanha Heiko Maas ressaltou, como se desculpando, que os muçulmanos que chegam à Alemanha "vêm de países nos quais os poderosos incitam o ódio contra judeus e Israel". Um estudo realizado no Reino Unido pelo Institute for Jewish Policy Research mostrou que o anti-semitismo é mais comum nos muçulmanos britânicos do que nos demais cidadãos do país, contudo o estudo foi reportado somente na imprensa judaica britânica.
O antissemitismo de esquerda está presente em toda a Europa. Seus adeptos, como acontece na França, não medem esforços para esconder e blindar o antissemitismo do Oriente Médio.
No Reino Unido, os antissemitas se filiaram ao Partido Trabalhista pela via da esquerda. O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, foi recentemente acusado pelo rabino chefe da Grã-Bretanha Efraim Mirvis de "racismo antijudaico".
A grande mídia da Europa é tão anti-Israel quanto a grande mídia da França. Em julho Josef Schuster, presidente do Comitê Central dos Judeus da Alemanha, acusou a revista Spiegel de usar "clichês antissemitas" em um artigo com o intuito de difamar Israel. Não se trata de um caso isolado na imprensa alemã. Shuli Davidovich, um adido de imprensa israelense em Londres, já havia ressaltado a questão há uma década:
"sem sombra de dúvida, certos jornais nunca dizem nada de positivo quando se trata de Israel... para alguns, principalmente em jornais como o Guardian, o lado humano do israelense simplesmente não existe. É sempre o capacete, o rifle, o agressor, o ocupador".
Hoje nada mudou. O Guardian vive publicando artigos apoiando o boicote econômico e cultural contra Israel. O colunista Manfred Gerstenfeld apontou a crescente enxurrada de caricaturas antissemitas que agora acompanham artigos anti-israelenses na imprensa europeia. Caricaturas antissemitas, apontou ele, permeiam a Noruega, um país com apenas 700 habitantes judeus. Muitas charges, salientou ele, retratam os judeus como "parasitas", exatamente como na imprensa dos países muçulmanos.
A maioria dos líderes políticos da Europa é tão hostil a Israel quanto os líderes políticos da França. A União Europeia obstinadamente defende a ideia segundo a qual Israel deve retornar à linha de armistício de 1949, normalmente chamada de "fronteiras de 1967". A UE afirma que Israel ocupa ilegalmente "territórios palestinos". Toda vez que Federica Mogherini, que era vice-presidente da Comissão Europeia até o mês passado, fala sobre o Oriente Médio, ela retrata Israel como "força de ocupação". Seu sucessor, Josep Borrell, defende o reconhecimento unilateral do estado palestino. "O Irã quer varrer Israel do mapa", salientou ele, "até aí, nenhuma novidade. É bom ir se acostumando". Nove dos 28 Países Membros da União Europeia - Suécia, Chipre, Malta, Hungria, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Bulgária, Romênia -reconhecem o "estado da Palestina", mas ignoram o fato de que a Autoridade Nacional Palestina nunca renunciou ao seu plano de destruir Israel e tomar o seu lugar, nem parou de cometer atos de terrorismo.
A transformação demográfica ora em curso na França também está se espalhando por toda a Europa Ocidental e a crescente submissão ao Islã está sendo tacitamente aceita pelos detentores do poder em quase todos os lugares. Os partidos políticos contrários à islamização são marginalizados. Alguns líderes da Europa Central como o Primeiro Ministro Viktor Orbán da Hungria, Primeiro Ministro Mateusz Morawiecki da Polônia e o Presidente Miloš Zeman da República Tcheca, são os únicos que rejeitam às claras a islamização de seus países e tomam medidas para coibir a imigração muçulmana. Eles são amiúde condenados pelos líderes da Europa Ocidental que querem forçá-los a receber os imigrantes de braços abertos, aos milhares.
Não é de se estranhar que os informes mostram que o aumento no número de imigrantes muçulmanos tenha levado a um aumento ainda mais generalizado do antissemitismo.
Em 2018 a Agência dos Direitos Fundamentais da UE realizou uma pesquisa de opinião com judeus nos 12 países europeus com as maiores populações judaicas. O levantamento concluiu que "28% já sofreram algum tipo de assédio por serem judeus", "47% estão apreensivos com os insultos e assédios verbais antissemitas e 40% com ataques físicos", "38% pensaram em emigrar nos últimos cinco anos por motivos de segurança".
Outro estudo, realizado pela Universidade de Bielefeld da Alemanha em 2011, mostrou que 40% dos adultos europeus concordaram com a afirmação: "Israel se comporta em relação aos palestinos do jeito que os nazistas se comportavam em relação aos judeus".
Em um artigo intitulado "Judenrein Europe", o comentarista político americano Joel Kotkin escreveu que segundo todos os dados disponíveis, o ódio antijudaico e os preconceitos contra Israel continuarão se espalhando por toda a Europa e que isso pode denotar o fim da presença judaica no velho continente:
"por milênios, após a destruição do Segundo Templo e o início da diáspora, a Europa abrigou a maioria dos judeus do planeta. Esse capítulo da história acabou. À medida que os judeus vão fugindo do continente, no final deste século, só restará o cemitério judeu".
Dr. Guy Millière, professor da Universidade de Paris, é autor de 27 livros sobre a França e a Europa.