O cristianismo está prestes a desaparecer na terra onde nasceu, incluindo Belém (foto). Conforme explica Justus Reid Weiner "a sistemática perseguição aos cristãos árabes que vivem em áreas palestinas está sendo enfrentada com um silêncio quase que total pela comunidade internacional, ativistas de direitos humanos, mídia e ONGs... Em uma sociedade onde os cristãos árabes não têm voz nem proteção, não causa espécie que eles estejam indo embora". (Imagem: Daniel Case/Wikimedia Commons) |
No momento em que os cristãos em todo o mundo muçulmano sofrem das mais variadas formas de perseguição, o tormento dos cristãos palestinos é raramente ouvido.
Ele existe. A Open Doors, fundação beneficente voltada para os direitos humanos que acompanha a perseguição de cristãos, observa que os cristãos palestinos sofrem um "alto" nível de perseguição, cuja causa é segundo suas próprias palavras a "Opressão Islâmica":
"Já aqueles que se convertem do Islã para o cristianismo se defrontam com pior perseguição e é difícil para eles frequentarem com segurança as igrejas existentes. Na Cisjordânia eles são ameaçados e vivem sob enorme pressão, em Gaza sua situação é tão perigosa que eles praticam a fé cristã em absoluto sigilo... A influência da ideologia islâmica radical vem atingindo novos patamares e as igrejas históricas têm que agir de forma diplomática em sua postura frente aos muçulmanos".
Dito isso, ao passo que relatos sobre a perseguição aos cristãos emanam regularmente de outras regiões de maioria muçulmana ao redor do mundo, como por exemplo: Paquistão, Egito e Nigéria, para citar apenas três exemplos, muito pouco é mencionado em relação aos cristãos que vivem sob o governo da Autoridade Nacional Palestina.
Por que isso? Será que é porque eles sofrem expressivamente menos perseguição do que seus correligionários que vivem nas demais regiões do mundo muçulmano? Ou é devido à sua singular situação, por se encontrarem em uma região altamente disputada, muita rixa política e midiática em jogo ?
O ensaio "The Persecution of Christians in the Palestinian Authority, (A Perseguição aos Cristãos sob a Autoridade Nacional Palestina)", do Dr. Edy Cohen, publicado pelo Centro de Estudos Estratégicos Begin-Sadat em 27 de maio, percorreu um longo caminho para responder a essas perguntas.
Primeiro, ele documenta três episódios recentes de perseguição a cristãos, nenhum deles foi relatado pela assim chamada "grande mídia":
"Em 25 de abril, os moradores aterrorizados do vilarejo cristão de Jifna, perto de Ramala, foram atacados por muçulmanos armados, pelo fato de uma mulher do vilarejo ter prestado queixa à polícia de que o filho de um importante líder da Fatah havia atacado a família dela. A resposta: dezenas de homens armados da Fatah foram ao vilarejo, dispararam centenas de tiros para o alto, atiraram coquetéis molotov xingando aos berros, vandalizando a propriedade pública. Foi um milagre não ter havido mortos nem feridos..."
"O segundo incidente ocorreu na noite de 13 de maio. Os vândalos invadiram uma igreja da comunidade maronita no centro de Belém, a profanaram e roubaram equipamentos caros pertencentes à igreja, incluindo as câmeras de segurança."
"Três dias depois, foi a vez da igreja anglicana no vilarejo de Aboud, na região oeste de Ramala. Vândalos cortaram a cerca, quebraram as janelas da igreja e entraram. Eles a profanaram, vasculharam à procura de objetos de valor e roubaram uma enorme quantidade de equipamentos."
"Segundo a página no Facebook da igreja maronita de Belém, esta é a sexta vez que ela esteve sujeita a atos de vandalismo e roubo, houve até um incêndio criminoso em 2015 causando danos consideráveis, forçando a igreja a fechar as portas por um longo período de tempo".
Esses três ataques, que ocorreram no espaço de três semanas, se encaixam no mesmo padrão de abuso pelo qual passam normalmente os cristãos em outras regiões de maioria muçulmana. Ao mesmo tempo em que a profanação e pilhagem de igrejas são lugar comum, também o é a multidão de vândalos muçulmanos que se levanta contra as minorias cristãs, sempre que estas, vistas como dhimmis, ou seja: de terceira categoria que amiúde se espera que esses "cidadãos" sejam gratos por serem tolerados, ousam querer defender seus direitos, como ocorreu no vilarejo cristão de Jifna em 25 de abril:
"os vândalos instaram os residentes (cristãos) a pagarem a jizya, imposto a ser pago por cabeça, cobrado ao longo da história das minorias não muçulmanas que viviam sob domínio islâmico. As vítimas mais recentes da jizya foram as comunidades cristãs do Iraque e da Síria sob domínio do Estado Islâmico".
Mormente, como acontece via de regra quando os muçulmanos atacam cristãos em países islâmicos, "apesar dos pedidos de socorro dos residentes (cristãos)" em Jifna," a polícia da ANP não interveio durante a baderna. Eles não detiveram nenhum suspeito". Na mesma linha, "nenhum suspeito foi detido" nos dois ataques às igrejas.
Em suma, os cristãos palestinos estão sofrendo os mesmos padrões de perseguição, como ataques a igrejas, sequestros e conversões forçadas, como seus correligionários em dozenas de nações muçulmanas. A diferença, no entanto, é que a perseguição aos cristãos palestinos "não mereceu nenhuma cobertura da mídia palestina". Na realidade, explica Cohen, "a mordaça total foi imposta em inúmeros casos":
"A única coisa que interessa à ANP é que eventos dessa natureza não vazem para a mídia. A Fatah normalmente exerce forte pressão sobre os cristãos para que não denunciem os atos de violência e vandalismo que costumam sofrer, já que a imagem dela como ator capaz de proteger a vida e a propriedade da minoria cristã sob seu domínio poderia ser arranhada. E muito menos que a ANP seja vista como uma entidade radical que persegue as minorias religiosas. Tal imagem poderia ter repercussões negativas para a incomensurável ajuda internacional e particularmente europeia que a ANP recebe".
Visto de outro ângulo, o feijão com arroz da ANP e de seus apoiadores, mídia e outros, ao que tudo indica, é retratar os palestinos como vítimas da injusta agressão e discriminação por parte de Israel. Essa narrativa poderia ser posta em perigo se a comunidade internacional soubesse que os próprios palestinos perseguem seus compatriotas, pura e simplesmente por conta da religião. Poderia ficar complicado conquistar a compaixão por um povo supostamente oprimido ao se perceber que esse povo oprime as minorias em seu meio.
Extremamente suscetíveis ao perigo de potencialmente ficarem em maus lençóis, os "agentes da Autoridade Nacional Palestina exercem pressão sobre os cristãos locais para que não relatem tais incidentes, que ameaçam desmascarar a ANP como mais um regime do Oriente Médio devotado a uma ideologia islâmica radical," salienta Cohen em outro artigo.
"De longe é muito mais importante para a Autoridade Nacional Palestina manter esses incidentes fora do alcance da grande mídia do que prender os que atacam lugares onde se encontram os cristãos. E nesse sentido eles se saem às mil maravilhas. Na realidade, somente meia dúzia de gatos pingados de insignificantes segmentos de mídia se deram ao trabalho de relatar esses últimos acontecimentos. A grande mídia internacional os ignorou por completo".
Vale dizer que às vezes encontramos uma dinâmica parecida em relação aos refugiados muçulmanos. Embora os políticos e a mídia da Europa Ocidental os apresentem como perseguidos e oprimidos que precisam de uma mão acolhedora, os próprios migrantes muçulmanos não raramente perseguem e oprimem as minorias cristãs que estão entre eles, seja aterrorizando-as em campos de refugiados seja afogando-as no Mediterrâneo.
O triste e simples fato, levando tudo em conta, é que o cristianismo está prestes a desaparecer na terra onde nasceu, incluindo Belém. Conforme Justus Reid Weiner, advogado e estudioso bem familiarizado com a região, explica:
"A sistemática perseguição aos cristãos árabes que vivem em áreas palestinas está sendo enfrentada com um silêncio quase que total pela comunidade internacional, ativistas de direitos humanos, mídia e ONGs... Em uma sociedade onde os cristãos árabes não têm voz nem proteção, não causa espécie que eles estejam indo embora".
Raymond Ibrahim, autor do novo livro, Sword and Scimitar, Fourteen Centuries of War between Islam and the West, é Ilustre Colaborador Sênior do Gatestone Institute e Membro do Instituto de Pesquisa Judith Friedman Rosen do Middle East Forum.