O regime islamista que comemorou seu 40º aniversário em 10 de fevereiro ocupa o primeiro lugar no ranking das execuções per capita. Foto: fuzilamento de homens curdos entre outros pelas forças do regime islamista do Irã, em 1979. (Imagem: Jahangir Razmi/Wikimedia Commons) |
No dia 10 de fevereiro do corrente ano, o regime iraniano comemorou oficialmente o 40º aniversário da tomada do poder. O partido fundamentalista e islamista do aiatolá Ruhollah Khomeini surpreendeu a comunidade internacional e o povo iraniano quando em 1979 se assenhorou da revolução. O exitoso sequestro do poder sacudiu a política mundial.
Ainda que algumas pessoas estivessem cientes das intenções do partido islamista, muitos não se deram conta da dimensão das habilidades organizacionais do partido e do seu poder. Para angariar tanto a confiança quanto a lealdade da população, o aiatolá Khomeini e seus seguidores inicialmente se retrataram como figuras espirituais que não almejavam governar o país. Muitos, incluindo diversos partidos políticos também acreditaram que durante o período de transição, os mulás, ora no governo, abririam mão do poder conquistado.
À medida que os mulás começaram a cativar apoio, eles se empenharam e procuraram abocanhar ainda mais suporte seduzindo outros grupos sociais. Os seguidores mais radicais de Khomeini asseguraram às nações de diferentes religiões, como cristãos e judeus, que sua segurança e seus interesses seriam objeto da mais alta prioridade assim que o novo governo estivesse engrenado, funcionando a contento. Esses grupos muitas vezes negligenciados responderam de maneira positiva a essas promessas. Quando uma delegação da comunidade judaica visitou o fundador do establishment teocrático antes da revolução, Khomeini, ao garantir a segurança dessa comunidade, emitiu a famosa fatwa (decreto religioso) adiantando:
"No sagrado Alcorão, Moisés, saudações a ele e a todos os seus, é mencionado mais vezes do que qualquer outro profeta. O profeta Moisés era um mero pastor quando enfrentou o poder do faraó e o destruiu. Moisés, representante de Alá, falou em nome dos escravos do faraó, dos oprimidos, dosmostazafeen do seu tempo. Moisés não tem nada a ver com esses sionistas mais parecidos com os faraós que governam atualmente Israel. E os judeus do nosso país, descendentes de Moisés, também não têm nada a ver com eles. Reconhecemos os judeus daqui separados dos sionistas sanguessugas e sem Deus."
O aiatolá também adiantou a outros grupos minoritários religiosos que eles estarão sob a égide da nossa proteção:
"No Islã, cristãos, judeus e zoroastristas são aceitos como iguais, a menos que se tornem uma quinta coluna da intromissão estrangeira nesse país. Judeus são aceitos como judeus, mas não como defensores da agressão sionista".
De modo que, pelo exposto acima, caiu como uma bomba na cabeça daqueles que depositaram sua fé no partido radical de Khomeini, que logo após sua ascensão ao poder, aquelas garantias foram para o vinagre, num piscar de olhos. O aiatolá se pôs a priorizar o projeto islamista, a lei da Sharia foi imposta tim-tim por tim-tim. "Morte à América" e "Morte a Israel" viraram palavras de ordem entoadas nos órgãos mais influentes, bem como nas ruas. Quem quer que se levantasse contra essas leis duras e ao mesmo tempo vagas, muitas vezes sofria as últimas consequências, execuções rápidas, sem direito a nada. O líder da comunidade judaica, Habib Elghanian, homem de negócios e filantropo, foi executado logo de cara. Sua neta, Shahrzad Elghanayan, escreveu que a execução ocorreu "após um julgamento de 20 minutos cujas acusações foram forjadas". Seu assassinato mandou um duro recado segundo o qual, sob o novo sistema da Sharia, outras religiões não seriam toleradas. O estado de direito já era.
Perseguições a cristãos, baha'is, sunitas e outras minorias religiosas e étnicas passaram a ser realizadas a toque de caixa. Uma das piores execuções em massa de presos políticos perpetrada pelo regime teve lugar quando aproximadamente 30 mil pessoas, entre elas crianças e mulheres grávidas, foram executadas em um espaço de tempo de quatro meses. Segundo uma forte crítica do Congresso dos EUA, os "prisioneiros foram executados em grupos, uns por enforcamentos em massa e outros por pelotões de fuzilamento, os corpos das vítimas foram descartados em valas comuns".
Alguns acreditavam que os líderes radicais do Irã se tornariam mais moderados com o passar do tempo. No entanto, passados 40 anos, o regime intensificou a violência, tornando-se ainda mais agressivo tanto dentro quanto fora do Irã. Devido à glorificação da violência e ao encorajamento do ódio e da intolerância, foram criados grupos terroristas e milícias como o Hisbolá. O Irã não mede esforços no sentido de colaborar com a Al Qaeda e até os dias de hoje treina e dá suporte a inúmeros grupos de militantes. O Irã é declarado o país top patrocinador do terrorismo, entra ano sai ano. A República Islâmica e sua lei da Sharia se transformaram em uma ameaça global.
O regime de Khomeini também ocupa o primeiro lugar no ranking das execuções per capita. De acordo com a Anistia Internacional, o Irã lidera o mundo inteiro no número de execuções de crianças. Não obstante as esperanças de que a violência e o ódio diminuiriam com o passar do tempo, a bem da verdade, aconteceu exatamente o contrário, nos últimos 40 anos, a promoção de sentimentos anticristãos e antissemitas do regime continuou se espalhando e ganhando força.
Mais surpreendente ainda do que o avanço da indiferença do Irã no que diz respeito ao Estado de Direito é que uma parcela de políticos e governos ocidentais tentaram e ainda tentam passar a mão na cabeça desse regime bárbaro. O ex-presidente Obama tomou as rédeas para que fossem suspensas uma série de quatro sanções estabelecidas pela ONU ao governo dos mulás e notoriamente, sem quid pro quo, ao que consta deu aos mulás no mínimo US$150 bilhões. O Diretor do Serviço Nacional de Informações James Clapper removeu o Irã e o Hisbolá da lista de ameaças terroristas aos interesses dos EUA e contornou as sanções para dar ao Irã acesso às escondidas ao sistema financeiro dos EUA. Os mulás, não é de se admirar, usaram-no para promover o terrorismo, financiar o Exército dos Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC) e fomentar ataques.
Atualmente, a União Europeia procura criar novos mecanismos para contornar as sanções dos EUA e tornar mais fácil continuar fazendo negócios com o regime iraniano.
Quarenta anos do regime iraniano deveriam ser uma lição o bastante para a comunidade internacional deixar claro que mimar os líderes iranianos não adiantará nada no sentido de proteger os cidadãos do Irã nem a comunidade internacional. Fazer concessões para os mulás do regime se traduzem apenas e tão somente em fraqueza: eles irão aproveitar qualquer abertura como oportunidade para incrementar o seu poder. A única linguagem à qual o regime fundamentalista responderá é a pressão econômica, política e, se necessário, a militar.
Enquanto governos das potências continuarem a afagar o atual regime, erupções de violência e crimes contra a humanidade irão continuar.
Será que a comunidade internacional ficará inerte e não fará nada nos próximos 40 anos?
O Dr. Majid Rafizadeh é estudioso de Harvard, estrategista e consultor de negócios, cientista político, membro do conselho da Harvard International Review e presidente do International American Council on the Middle East. Ele escreveu inúmeros livros sobre o Islã e sobre a política externa dos Estados Unidos. Para contatar o Dr. Majid Rafizadeh envie um e-mail para: Dr.Rafizadeh@Post.Harvard.Edu