Os dirigentes da facção Fatah do presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Palestina reagiram à inauguração de um novo shopping center em Jerusalém Oriental, no qual a maioria dos funcionários e clientes é árabe, de uma maneira que escancara como os líderes palestinos continuam torpedeando o que for positivo ao seu povo. Foto: um supermercado da rede Rami Levy em Jerusalém Ocidental. (Imagem: Yoninah/Wikimedia Commons) |
Os dirigentes da facção Fatah do presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Palestina estão furiosos. Parece que um empresário judeu israelense acabou de construir um shopping center em Jerusalém Oriental e a maioria dos funcionários e clientes são árabes.
Os líderes da Fatah apregoaram o boicote ao shopping.
A Fatah, que via de regra é retratada como uma facção moderada pela mídia ocidental, reagiu ao empreendimento do shopping de modo a escancarar a maneira pela qual os líderes palestinos continuam torpedeando o que for positivo ao seu povo.
Onde já se viu um líder condenar um projeto que fornece empregos a centenas de pessoas de seu povo? Onde já se viu um líder convocar seu povo a boicotar um shopping ou um supermercado que oferece preços competitivos em roupas e alimentos? Onde já se viu um líder retratar a abertura de um projeto comercial que beneficiará seu povo como catástrofe ("nakba")?
Rami Levy, empresário e proprietário da terceira maior rede de supermercados de Israel, investiu mais de US$50 milhões na construção de um shopping no Parque Industrial Atarot, na região nordeste de Jerusalém. Apesar do chamamento ao boicote, alguns palestinos alugaram lojas dentro do shopping, considerado um modelo de convivência entre árabes e judeus. O novo shopping também possui um espaçoso supermercado pertencente à rede de supermercados de Levy.
Os supermercados de Levy tanto em Jerusalém quanto na Cisjordânia são muito procurados pelos consumidores palestinos. Eles dizem que os preços de lá são mais baixos do que os das empresas árabes. Talvez seja por esta razão que centenas de palestinos tenham se dirigido ao recém inaugurado supermercado no shopping quando da sua inauguração em 8 de janeiro. Os supermercados israelenses contratam centenas de palestinos da Cisjordânia, bem como residentes árabes de Jerusalém, que trabalham lado a lado dos colegas judeus.
Segundo Levy, metade de seus 4 mil funcionários são palestinos ou árabes israelenses. "Comecei a dar emprego a palestinos e árabes israelenses no primeiro empreendimento Rami Levy, uma barraca no mercado Mahane Yehuda, em Jerusalém, inaugurado em 1976. Os árabes já faziam parte dos primeiros funcionários", salientou ele.
"Os funcionários continuam trabalhando na Rami Levy Hashikma, nossos atacadões, e muitos subiram na carreira, juntamente com a empresa. O primeiro funcionário que contratei há 35 anos é um homem chamado Ibrahim, árabe de Jerusalém Oriental, que permanece na Rami Levy, atualmente é diretor de logística. Outros funcionários árabes israelenses e palestinos que se juntaram à equipe de Rami Levy também foram promovidos a cargos de direção e gerência. Rami Levy não discrimina o candidato conforme a etnia, gênero ou religião ao contratar e promover funcionários. Todos os funcionários, sejam eles palestinos ou israelenses, são tratados igualmente e recebem os mesmos benefícios. O salário se baseia unicamente no cargo e desempenho do funcionário. A meta da Rami Levy é dar a mesma oportunidade a todos os funcionários de alcançarem o sucesso. Tal objetivo só pode ser alcançado se o princípio da igualdade for implementado em todos os ofícios da empresa".
Para os funcionários do alto escalão da Fatah de Abbas, no entanto, a imagem de palestinos e judeus trabalhando em harmonia é repugnante. Eles não gostam da ideia de trabalhadores palestinos estarem recebendo bons salários e serem tratados com respeito pelo empregador israelense. Eles também não gostam de ver consumidores palestinos fazendo fila para comprar alimentos e mercadorias de melhor qualidade oferecidos a preços competitivos. As autoridades da Fatah preferem ver seu povo desempregado ou pagar mais caro no mercado palestino do que fazer as compras em um shopping center de propriedade de um judeu.
Em vez de comemorar a inauguração do shopping que oferece oportunidades de emprego a dezenas de palestinos além de praticar preços mais baixos, as autoridades da Fatah veem nisso um plano israelense para "debilitar" a economia palestina. "Foi um dia triste para Jerusalém", realçou Hatem Abdel Qader Eid, funcionário de alto calibre da Fatah, ao se referir à inauguração do novo shopping. "Este projeto visa minar o comércio árabe em Jerusalém e subordiná-lo à economia israelense."
As centenas de palestinos que se acotovelavam no novo shopping no dia da inauguração, no entanto, ao que tudo indica, discordam da imagem sombria pintada por Abdel Qader Eid. O enorme número de pessoas que lá se aglomeravam, é sem sombra de dúvida positivo: mostra que os palestinos são clientes como em qualquer país do mundo que preferem produtos de melhor qualidade a preços mais baixos. Para eles, esse não foi um "dia triste", como disse o representante da Fatah, mas sim empolgante. Finalmente um shopping foi inaugurado perto da casa deles, oferecendo uma ampla gama de produtos a preços competitivos.
Não obstante, Abdel Qader Eid estava certo em relação a uma coisa: seu lamento com respeito à ausência de investidores e capital palestinos. "Os capitalistas palestinos são covardes", ressaltou ele. Os investidores palestinos, salientou Eid, bem que poderiam ter inibido Rami Levy de construir o novo shopping se eles tivessem investido na construção de um shopping palestino. "É verdade que há empresários palestinos com muito dinheiro. Mas apesar de serem muito ricos, são medíocres quando se trata de disposição e formação".
Lamentavelmente o representante da Fatah está dizendo que os empresários palestinos não botam fé no povo, preferindo investir seu dinheiro em outro lugar.
Osama Qawassmeh, outro cacique da Fatah, foi ainda mais eloquente quanto ao incitamento. Ele advertiu que qualquer palestino que faça compras ou alugue algum espaço no novo shopping será acusado de "trair a terra natal". Ele continuou com a velha ladainha das calúnias palestinas, segundo as quais, comprar produtos israelenses é um ato de "apoio aos assentamentos e ao exército israelense".
O incitamento da Fatah contra o novo shopping center não caiu no vazio. No dia em que o shopping foi inaugurado, palestinos lançaram um sem-número de bombas incendiárias no complexo, forçando os compradores (palestinos) a fugirem para salvar a própria pele. Por sorte ninguém ficou ferido, nem houve prejuízos materiais às lojas ou veículos que se encontravam no estacionamento.
A campanha de incitamento contra o shopping de Levy começou há vários meses, quando ainda estava em fase de construção, continuando até hoje. Já que a campanha deu com os burros n'água não conseguindo impedir a abertura do shopping, a Fatah e seus seguidores apelaram para ameaças e violência. As ameaças estão sendo dirigidas a consumidores e comerciantes palestinos que alugaram algum espaço no novo shopping. Os vândalos que atacaram o shopping com bombas incendiárias poderiam ter ferido ou matado palestinos. Os vândalos, que segundo consta são afiliados à Fatah, preferem que seu povo morra do que deixar que se divirtam ou comprem produtos a preços atraentes em um shopping israelense.
Ao liderar a campanha de incitamento e intimidação, a Fatah de Abbas está mais uma vez mostrando a sua verdadeira cara. Como é possível imaginar que Abbas ou algum de seus subordinados da Fatah venham algum dia a fazer a paz com Israel, quando não conseguem sequer tolerar a ideia de palestinos e judeus trabalharem juntos para o simples bem comum?
Se um palestino que compra leite israelense é considerado traidor aos olhos da Fatah, não é difícil imaginar o destino de qualquer palestino que ouse ponderar sobre um entendimento com Israel. Se ele tiver sorte, terá um encontro íntimo com uma bomba incendiária. Se ele não tiver sorte, será enforcado em praça pública. Como isso se reflete na disposição palestina de participar de um processo de paz com Israel?
Bassam Tawil, árabe muçulmano, radicado no Oriente Médio.