Em 8 de junho cerca de 250 mil pessoas participaram da Parada do Orgulho Gay em Tel Aviv. Turistas de todo o mundo vieram a Israel para assistir e participar do evento. O tema do evento deste ano foi "A Comunidade Faz História", uma referência à comunidade LGBT de Israel.
Nesse ínterim, enquanto os israelenses estavam festejando a tolerância nas ruas de Tel Aviv, seus vizinhos palestinos estavam ocupados fazendo exatamente o contrário: eles estavam exigindo que os responsáveis por produzir programas humorísticos para a televisão sobre gays na Faixa de Gaza fossem demitidos.
O polêmico programa, chamado "Fora de Foco", suscitou duras condenações dos palestinos, que agora pedem a punição dos responsáveis por "insultarem os valores árabes e islâmicos".
Na sociedade palestina e árabe, a homossexualidade é duramente rechaçada e estigmatizada. A homossexualidade é ilegal sob o domínio do Hamas na Faixa de Gaza e dezenas de palestinos gays fugiram para Israel por temerem perseguição e assédio. Na Cisjordânia as leis da Autoridade Palestina também não protegem os direitos dos palestinos gays.
Enquanto os israelenses festejavam a tolerância na Parada do Orgulho Gay em Tel Aviv, seus vizinhos palestinos estavam ocupados fazendo exatamente o contrário: eles estavam exigindo que os responsáveis por produzir programas humorísticos para a televisão sobre gays na Faixa de Gaza fossem demitidos. Foto: dezenas de milhares de participantes tomam parte na Parada do Orgulho Gay que acontece anualmente, neste ano em 8 de junho de 2018 em Tel Aviv, Israel. (Foto de Amir Levy/Getty Images) |
Nas últimas décadas, inúmeros palestinos gays foram mortos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Em 2016 o Hamas executou Mahmoud Ishtiwi, um dos seus principais comandantes militares, de 34 anos, por ser considerado culpado de "torpeza moral", referência velada à homossexualidade. Ishtiwi, que foi morto com três tiros no peito, estaria vivo e em segurança se ele fosse um cidadão israelense. Se ele morasse em Israel, poderia até ter participado da Parada do Orgulho Gay em Tel Aviv sem que tivesse que esconder sua identidade. Mas ele vivia na Faixa de Gaza onde se considera o homossexualismo um pecado que merece ser punido com a morte e foi assim que o puniram.
O caso de Ishtiwi escancara a gigantesca diferença entre a sociedade e a cultura israelense em comparação à palestina.
Israel vem avançando em direção à tolerância e aceitação dos direitos da comunidade gay, enquanto os palestinos continuam intolerantes como sempre foram em relação àqueles que ousam se comportar e se expressar de maneira diferente.
O alvoroço no tocante ao programa de televisão sobre gays na Faixa de Gaza é mais um exemplo de como a sociedade palestina ainda está a anos luz de reconhecer e respeitar os direitos da comunidade gay. O programa, gravado recentemente na Faixa de Gaza, apresenta uma cena cômica em que um ator é flagrado se insinuando sexualmente na frente de rapazes como parte de um programa do tipo "câmera escondida". Em outras palavras, as insinuações sexuais não são reais, são apenas uma brincadeira, os 'participantes' sequer sabiam que estavam sendo filmados.
No mundo palestino, no entanto, isso não é motivo para risos.
Mousa Shurrab, comediante da Faixa de Gaza, idealizador do show ofensivo, está com a corda no pescoço. Em uma postagem no Facebook, Shurrab foi obrigado a se retratar. Ele disse que retirou o vídeo das redes sociais. "Pedimos desculpas a todos os nossos telespectadores" salientou ele. "O programa foi retirado pouco depois de ser postado. Cometemos um erro pelo qual nos arrependemos."
No entanto, o pedido de desculpas do comediante não acalmou os críticos, que foram às redes sociais para expressar sua repulsa ao programa e ao comportamento do comediante.
"De que vale essa desculpa depois que você ofendeu todos os valores religiosos e culturais em nome da fama?" ressaltou Taghreed Alemoure em um comentário no Facebook. Outros usuários do Facebook acusaram o comediante de promover "anormalidades sexuais" e fizeram uso de comentários depreciativos e xingamentos para condená-lo e ameaçá-lo. "Remover o vídeo não te exime desse crime moral" comentou Mohamed Al-Aila.
Alguns palestinos exortaram o Hamas a tomar providências contra Shurrab e os produtores do programa. O pedido não caiu no vazio. O Ministério do Interior do Hamas, sem demora, intimou um dos produtores do programa, Emad Eid, para ser interrogado. Embora Eid tenha sido liberado poucas horas depois, o Hamas afirmou que continuará a investigar o caso.
A agência de notícias Ma'an com sede em Belém, acusada de produzir a comédia, está fazendo de tudo para se distanciar do programa. Em um comunicado, a Ma'an salientou que nunca autorizou a transmissão do programa, alegando que ele foi vazado para as redes sociais. "Um dos atores postou o programa nas redes sociais com nosso logotipo", afirmou a agência de notícias. "Reservamo-nos o direito de entrar com uma ação na justiça contra os responsáveis por esse ilícito". A agência também apresentou um pedido de desculpas aos telespectadores por "melindrar nosso povo e nossos valores".
Nesse ínterim, a Autoridade Palestina iniciou uma investigação própria sobre o programa de televisão, também considerando-o "prejudicial ao nosso povo e a nossos valores". O Ministério da Informação de Ramala emitiu um comunicado segundo o qual estava planejando entrar com uma ação na justiça contra os responsáveis pelo programa.
O que se pode concluir da controvérsia em torno da versão palestina da "câmera escondida"? Basicamente, que é mais seguro ser membro do Hamas do que ser gay. Os líderes palestinos preferem ver jovens palestinos tentando matar israelenses do que falar sobre gays em sua sociedade. No mundo do Hamas e da Autoridade Palestina não há espaço para comédias ou sátiras.
Como poderia haver, se não há espaço para gays ou para alguém que se atreva a mexer em tabus? Não é segredo para ninguém que há gays na sociedade palestina, mas suas vidas são bem diferentes das de seus pares a apenas poucos quilômetros de distância, em Israel. Quão coincidente e simbólico é o fato da controvérsia gay palestina ter aparecido justamente no mesmo dia em que dezenas de milhares de israelenses festejavam o orgulho gay em Israel.
Khaled Abu Toameh, jornalista radicado em Jerusalém, Ilustre Colaborador Sênior do Gatestone Institute.