Após a Segunda Guerra Mundial e os horrores do nazismo e do estalinismo, um princípio central das democracias ocidentais tem sido o de que é possível julgar pessoas, mas não ideias e opiniões. A Europa agora está permitindo que grupos perigosos que defendem os "direitos humanos" e islâmicos de se servirem de tribunais para restringir as fronteiras da nossa liberdade de expressão, exatamente como acontecia nos julgamentos encenados na União Soviética. "Antirracismo militante será para o século XXI o que o comunismo foi para o século XX", previu o proeminente filósofo francês Alain Finkielkraut.
No ano passado Christoph Biró, consagrado colunista e editor do maior jornal austríaco, Kronen Zeitung, escreveu um artigo repreendendo "os jovens sírios movidos a testosterona, que realizam ataques sexuais extremamente agressivos" (isso antes das agressões sexuais em massa ocorridas na Passagem do Ano Novo em Colônia, Hamburgo e outras cidades). O artigo provocou muita controvérsia, atraindo um grande número de reclamações e protestos. Biró foi obrigado a se afastar por quatro semanas do trabalho por conta desses ataques e posteriormente (sob pressão) admitiu ter "perdido o senso de proporção". Promotores em Graz acusaram recentemente Biró de preferir "discursos de incitamento ao ódio", após uma queixa apresentada por uma organização de direitos humanos chamada SOS Mitmensch. O caso será decidido no tribunal.
Jornalistas, escritores e intelectuais em toda a Europa agora são obrigados a levantarem a mão direita perante um juiz e jurar dizer a verdade, somente a verdade, e nada a mais que a verdade - como se não fosse o que eles estivessem dizendo o tempo todo e ser o motivo deles estarem agora sendo processados. É alarmante, mas muito comum hoje em dia, onde o "discurso de incitamento ao ódio" virou uma arma política para amordaçar aquele que pensa diferente de você.
O regime democrático não tem o direito de polemizar o conteúdo de artigos e charges. Nós no Ocidente pagamos um preço altíssimo pela liberdade de poder ler e escrevê-los. Não cabe àqueles que governam conceder o direito à liberdade de pensamento e de expressão, que pertence à livre iniciativa nas democracias. O direito de expressar a nossa opinião custou muito caro, mas se não for exercido pode desaparecer rapidamente.
Uma nova frente legal, grotesca, foi aberta em Paris. Começou o julgamento do filósofo francês Pascal Bruckner onde ele iniciou sua defesa com uma citação de Jean-Paul Sartre: "as armas são carregadas de palavras". Bruckner, um dos mais famosos ensaístas da França, está sendo julgado por ter se pronunciado contra os "colaboradores dos assassinos do staff na redação da revista Charlie Hebdo".
"Vou citar os nomes: as organizações 'Os Indivisíveis" de Rokhaya Diallo, 'Os Nativos da República' e o rapper Nekfeu que defendia 'uma fogueira para aqueles cães' da Charlie Hebdo, todos aqueles que vêm justificando, com ideologia, a morte dos doze jornalistas".
Inúmeras testemunhas testemunharam em defesa de Bruckner: "Riss" editor da Charlie Hebdo, Laurent Bouvet cientista político, Sihem Habchi ex-presidente da "Nem Prostitutas nem Submissas" além do filósofo Luc Ferry. Bruckner usou o termo "colaborador" para lembrar "aqueles jornais que justificavam o extermínio da Résistance e dos judeus" durante a Segunda Guerra Mundial. Sihem Habchi se manifestou sobre o perigo do "fascismo verde", o islamismo.
O veredito de Bruckner será anunciado em 17 de janeiro. "Bruckner prestou depoimento diante da 17ª Câmara (tribunal), que frequentemente se comporta como coveira da liberdade de expressão", comentou o importante e corajoso Website e movimento político Riposte Laïque.
Esses julgamentos políticos sobre o Islã começaram em 2002, quando um tribunal de Paris deliberou sobre uma queixa contra Michel Houellebecq, que na novela Platforme chamou o Islã de "a religião mais estúpida de todas". O escritor Fernando Arrabal, detido por blasfêmia em 1967 na Espanha de Franco, foi chamado por Houellebecq para testemunhar no tribunal. "Que felicidade estar em um julgamento por crimes de opinião", ressaltou Arrabal em Paris. "Zaragoza, Valladolid, Santander", o dramaturgo nomeou uma série de cidades espanholas. "Esta é a lista das prisões onde estive por ter cometido o mesmo crime que Houellebecq".
A falecida escritora italiana Oriana Fallaci, também foi processada pelo seu livro La Rage et l'Orgueil ("A Raiva e o Orgulho"). O jornal francês Libération chamou-a de "a mulher que difama o Islã". Mais tarde o semanário satírico Charlie Hebdo, e seu editor Philippe Val, alvos de organizações islâmicas, também foram forçados a comparecerem no tribunal.
A sentença de morte imposta a Salman Rushdie em 1989 pelo líder supremo do Irã Aiatolá Khomeini parecia coisa do outro mundo. O Ocidente não levou isso a sério. Desde então, no entanto, essa fatwa foi assimilada de tal forma que as ameaças de hoje à liberdade de expressão são feitas por nós mesmos. Agora é o Ocidente que condena escritores e jornalistas.
Tornou-se praticamente impossível listar todos os jornalistas e escritores que tiveram que se defender em tribunais por conta de sua maneira de pensar sobre o Islã. Citando o escritor franco-argelino, Boualem Sansal autor do romance "2084", extraído de uma entrevista concedida ao Libération: "estamos cientes do perigo, mas não sabemos como agir por medo de sermos acusados de ser anti-imigrante, anti-Islã, anti-África... A democracia, assim como o rato, será engolida pela serpente". E será transformada em "uma sociedade que sussurra".
Jornalistas estão sendo processados mesmo se questionarem o Islã durante um debate na rádio. É por isso que hoje em dia a maioria dos escritores e jornalistas só cochicham em relação às consequências da migração em massa na Europa, o papel do Islã na guerra dos terroristas contra as democracias e as ofensivas dos sultões contra a liberdade de expressão.
As Brigadas Vermelhas, grupo terrorista comunista que arrasou a Itália nos anos 1970 cunhou a palavra de ordem: "golpeie um para educar cem. "Se você alvejar um, você intimida coletivamente. É exatamente esse o efeito desses julgamentos políticos sobre o Islã. O debate está acabando rapidamente.
Em 9 de dezembro, Terminou na Holanda o julgamento pelo "crime" de "discurso de incitamento ao ódio" contra Geert Wilders. O corajoso político holandês perguntou aos seus simpatizantes se eles queriam "menos marroquinos" no país. Ao condenar Wilders ontem, o tribunal criminalizou a liberdade de expressão pela primeira vez na história holandesa. (Wilders foi absolvido em um julgamento semelhante há cinco anos).
Na França Ivan Rioufol, um dos colunistas mais respeitados do jornal Le Figaro, teve que se defender em um tribunal contra a ação da "Coletividade Contra a Islamofobia". O escritor Renaud Camus, que explanou a teoria da "grande substituição", que sustenta que a França está sendo colonizada por imigrantes muçulmanos com a ajuda dos políticos mais influentes, foi acusado de preferir "discursos de incitamento ao ódio". Marine Le Pen também teve que comparecer perante a justiça. Na Alemanha, houve o caso de Jan Böhmermann, um comediante que satirizou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan na televisão. Logo depois juízes alemães levaram a julgamento Lutz Bachmann, fundador da "PEGIDA", movimento anti-islamização. No Canadá o ensaísta e jornalista Mark Steyn foi acusado de "flagrante islamofobia" por um "Tribunal de Direitos Humanos" (e depois inocentado). Lars Hedegaard, presidente da Sociedade Imprensa Livre dinamarquesa, também foi acusado de preferir "discursos de incitamento ao ódio" (mais tarde absolvido) contra o Islã.
É fundamental que esses escritores e jornalistas sejam absolvidos. No entanto o objetivo desses julgamentos não é a busca da verdade, é intimidar o público e restringir a liberdade de expressão no tocante ao Islã. Estes são expurgos cuja meta é "reeducá-los". Lamentavelmente como podemos ver pelo julgamento de Wilders, muitas vezes eles têm entregue o resultado esperado.
Depois da invasão russa da Tchecoslováquia em 1968, os romances de Milan Kundera desapareceram das livrarias e bibliotecas. A elite intelectual estava estéril e em estado de isolamento. Cinemas e teatros ofereciam apenas performances soviéticas. Rádios, jornais e televisões transmitiam unicamente propaganda. Os russos recompensavam os burocratas que pressionavam escritores e jornalistas e puniam os rebeldes. Aqueles que se manifestavam muitas vezes eram obrigados a trabalhar como trabalhadores não qualificados. Praga, inquieta e fascinante, se tornou silenciosa e sussurrante.
Na Europa, agora, a mesma cortina de ferro está se fechando.
Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.