O novo livro de De Villiers está sacudindo a França. Les cloches sonneront-elles encore demain? ("Os Sinos da Igreja Tocarão Amanhã?"), está chocando a nação. França, a "filha mais velha" da Igreja Católica, está se transformando em "a filha mais velha do Islã". "Com arrogância, eles (extremistas muçulmanos) nos exortam a reescrever a história da França à luz da contribuição da civilização islâmica", sustenta De Villiers.
De Villiers destaca que:
"A França tem experimentado muitas adversidades no decorrer de sua história. Mas pela primeira vez ela tem que enfrentar o medo de desaparecer. Na França há dois grupos: uma nova população que transita com orgulho e uma população exaurida, que sequer está ciente das condições necessárias para a sua própria sobrevivência".
De Villiers pinta um quadro sombrio do catolicismo francês: "Avignon não é mais a cidade dos papas e sim dos salafistas". Em Saint-Denis, onde estão enterrados os reis franceses e Charles Martel, "agora imperam túnicas e barbas e as meninas usam véus islâmicos". Se uma paróquia ainda está ativa, é graças ao zelo da comunidade cristã de africanos e tâmeis. "O cemitério dos reis é apenas um enclave. Ele pertence a uma história já sem valor".
Os sinos das torres das igrejas do livro de De Villier estão ficando cada vez mais silenciosos em Boissettes (Seine-et-Marne) e nos arredores de Metz, onde os sinos da Igreja de Sainte-Ruffine foram obrigados a manter silêncio pelas autoridades do estado secularista. O mesmo aconteceu no vilarejo bretão de Hédé-Bazouges onde o silêncio é interrompido pelo som daquilo que De Villiers chama "o clero da jelaba" (manto usado pelos norte-africanos) − a chamada dos muezins à oração. Isso está acontecendo em todos os lugares da França.
Será que a França irá em breve proibir o toque dos sinos da Catedral de Notre Dame? Isso já aconteceu em Boissettes e nos arredores de Metz, onde os sinos da Igreja de Sainte Ruffine foram obrigados a manter silêncio pelas autoridades. Enquanto isso as chamadas dos muezins à oração islâmica continuam a ser propagadas. (imagem: Wikimedia Commons) |
"A França já não é mais um país católico", ressalta Frederic Lenoir, editor-chefe do Le Monde des Religions. O jornal Le Figaro perguntou se o Islã já pode ser considerado a "religião primordial da França".
Estima-se hoje na França que para cada muçulmano praticante há três católicos praticantes. Mas se a análise for aprofundada, a previsão é a de que esta proporção irá em breve se inverter. Se compararmos somente a frequência semanal da ida à mesquita na sexta-feira e da ida à igreja no domingo, o cenário fica claro: 65% dos católicos praticantes têm mais de 50 anos. Em contrapartida, 73% dos muçulmanos praticantes estão abaixo dos 50. A tendência indica que na França há atualmente três jovens muçulmanos praticantes para cada jovem católico praticante.
O mesmo acontece em relação a construção de novas edificações religiosas. Hoje já há cerca de 2.400 mesquitas na França, em comparação com 1.500 em 2003: "este é o sinal mais ostensivo do rápido crescimento do Islã na França", de acordo com a revista semanal Valeurs Actuelles. Praticamente duas novas mesquitas são construídas a cada semana, vale notar que este é o ritmo da expansão dos lugares de culto muçulmanos na França nos últimos 10 anos. O recorde é da Córsega: em 2003 não havia nenhum lugar de culto muçulmano, agora há 11.
Os países muçulmanos estão financiando de maneira generosa as mesquitas da França. A ajuda financeira do exterior cobre em média 50% do custo total: no caso da Grande Mesquita de Estrasburgo, 37% vieram do Marrocos, 13% da Arábia Saudita e do Kuwait. Em Roissy-en-Brie, o Sultanato de Omã contribuiu com 1,8 milhão de euros, vale dizer dois terços do orçamento. Em Marselha, o Qatar irá fornecer 25% da ajuda financeira.
Charles Adhémar, cientista político francês, também teceu comentários sobre a "de-cristianização e gradual islamização da França". O quadro do último ano foi extremamente chocante: um padre católico foi assassinado dentro de uma igreja francesa por extremistas muçulmanos, líderes muçulmanos pedindo a transformação de igrejas vazias em mesquitas, cristãos devotos arrastados para fora das igrejas de Paris antes delas serem demolidas. Até Lourdes, localidade católica mais famosa da França, está em crise por falta de peregrinos.
O catolicismo francês está testemunhando um trágico declínio, pego entre a cruz e a espada: o secularismo de estado e o Islã político. "Em quarenta anos a França se tornou a nação da Europa Ocidental onde a população de origem muçulmana é a mais importante", ressaltou o Osservatore Romano, o diário oficial do Vaticano. "É possível que o Islã esteja ultrapassando o catolicismo".
Isso explica porque para 45% dos católicos franceses o Islã representa uma "ameaça". É por isso que nos últimos anos um número cada vez maior de intelectuais franceses, principalmente autores seculares, publicaram livros soando o alarme em relação a esta superação no desempenho religioso.
Um desses autores é Pierre Manent, que no livro La situation de France escreve que "estamos testemunhando a propagação e a consolidação do domínio das práticas muçulmanas e não seu encolhimento ou relaxamento".
Outro é Éric Zemmour, inimigo público número um da esquerda francesa, ele acaba de escrever um novo livro Un quinquennat pour rien ("Um Mandato de Cinco Anos para Nada" − quinquennat é o mandato de cinco anos do Presidente da França), em que ele conclama "uma revolução cultural cujo único caminho é vencer a guerra das civilizações que está em andamento em nosso país".
Danièle Hervieu-Léger, a renomada socióloga da religião, também publicou um livro que soa como um veredito:Catholicisme, la fin d'un monde (Catolicismo, o Fim de um Mundo"). Hervieu-Léger inventa uma palavra para descrever o fim: "exculturação". Isso faz lembrar não uma batalha que está em andamento, mas uma que já acabou.
Na batalha entre "o cubo e a Catedral" − o Arche de la Défense construído em Paris por François Mitterrand como símbolo da modernidade e a Catedral de Notre Dame − o cubo está ultrapassando a igreja. Ambos são dominados pelo crescente islâmico.
Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.