À medida que os israelenses se preparam para irem às urnas em 17 de março, os palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza se perguntam se eles também terão algum dia o privilégio de realizarem suas próprias eleições, livres e democráticas.
Nas últimas semanas os palestinos lançaram uma campanha para exigirem eleições livres e democráticas. Mas parece que até agora a campanha não sensibilizou ninguém.
Tudo que resta aos palestinos é assistirem, com inveja, os eleitores em Israel exercerem o direito de eleger novos representantes.
A idade média dos dirigentes da OLP é de 75 anos. Os mesmos líderes controlam o Hamas há duas décadas.
A última vez que os palestinos foram às urnas foi em janeiro de 2006, quando votaram para eleger um novo parlamento, o Conselho Legislativo Palestino. A votação terminou com vitória da sigla Mudança e Reforma filiada ao Hamas.
Há exatamente um ano os palestinos tiveram uma eleição presidencial que elegeu o líder da Fatah Mahmoud Abbas.
As novas eleições parlamentares deveriam ter ocorrido em 2010, enquanto as presidenciais estavam marcadas para 2009.
Mas os palestinos não tiveram novas eleições parlamentares nem presidenciais devido à rixa entre a Fatah e o Hamas que atingiu o auge quando da tomada violenta do poder pelo Hamas na Faixa de Gaza em 2007.
A eleição da próxima semana em Israel será a quarta desde 2006, ano em que os palestinos viram pela última vez suas próprias cabines de votação.
Os dois partidos palestinos rivais continuam a responsabilizar um ao outro pela falta de eleições.
Na semana passada Abbas declarou, em um discurso perante o Conselho Central da OLP em Ramala, que ele estava disposto a convocar novas eleições caso o Hamas concordasse com essa iniciativa. Abbas disse que o Hamas não estava interessado em realizar novas eleições.
O Hamas por sua vez, por meio de seu porta-voz Sami Abu Zuhri, afirmou que era Abbas quem estava obstruindo as eleições e "violando o acordo de reconciliação" assinado por ele com o movimento islamista no ano passado.
A verdade é que nem a Fatah nem o Hamas estão interessados em realizar novas eleições parlamentares e presidenciais, cada um por seus próprios motivos.
A facção Fatah de Abbas continua sofrendo com as divisões e lutas internas, que se intensificaram após a morte de seu ex-líder Yasser Arafat em novembro de 2004. Várias autoridades da Fatah na Cisjordânia e na Faixa de Gaza foram expulsas da facção em anos recentes por desafiarem Abbas e os representantes da velha guarda.
O grupo contrário a Abbas na Fatah é liderado (e aparentemente financiado) por Mohamed Dahlan, ex-comandante da segurança na Faixa de Gaza que reside atualmente nos Emirados Árabes Unidos.
Dahlan e pessoas leais a ele também acusaram Abbas de obstruir os esforços para a realização das eleições na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Eles sustentam que o único objetivo de Abbas é permanecer no poder até o último dia de sua vida.
Fora as lutas internas na Fatah, a facção de Abbas ainda precisa dar duro para restaurar a credibilidade entre os palestinos, especialmente em vista do fracasso em implementar reformas de grande vulto e injetar sangue novo em sua liderança.
No início do ano, esforços para conduzir a sétima conferência da Fatah para escolher novos representantes, acabaram fracassando devido aos "agudos" desentendimentos entre os líderes da Fatah.
Os líderes da Fatah dizem que seria impossível realizar novas eleições enquanto o Hamas continuar controlando a Faixa de Gaza. A Fatah insiste que não há nenhuma garantia que o Hamas permitirá uma votação livre e democrática, principalmente enquanto estiver cassando defensores da Fatah na Faixa de Gaza.
Paralelamente o Hamas diz se opor às novas eleições por não confiar em Abbas e na Fatah. Os líderes do Hamas dizem que não haverá eleições livres enquanto as forças de segurança da Autoridade Palestina continuarem prendendo dezenas de ativistas do Hamas na Cisjordânia a cada semana que passa.
Enquanto o Hamas e a Fatah continuam lutando um contra o outro, alguns palestinos decidiram lançar uma iniciativa para pressionar os dois lados a acabarem com a rixa e concordarem em realizar novas eleições tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza.
Dunya Ismail, uma das organizadoras da campanha disse que "cada palestino deveria se livrar do desespero e da frustração e tomar parte na iniciativa de pressionar a liderança política para a realização de eleições o mais rápido possível". Ela e seus colegas foram às ruas para disseminar a mensagem, contudo sem muito sucesso.
No entanto os palestinos provavelmente não terão novas eleições, pelo menos não em um futuro próximo. A luta pelo poder entre o Hamas e a Fatah, que ainda por cima parece estar aumentando, destruiu o sonho palestino de construir uma sociedade livre e democrática.
"Nós falamos todas essas coisas ruins sobre Israel, mas pelo menos a população de lá tem o direito de votar e usufruir da democracia", observou um jornalista de Ramala. "Nós realmente invejamos os israelenses. Nossos dirigentes não querem eleições. Eles querem permanecer no poder para sempre".