É como se estivesse acontecendo em um sonho ver um grupo islamista acusar o outro de ser "benevolente" demais quando se trata da implementação da lei da sharia. Mas não é como em um sonho quando um grupo terrorista ameaça escritores e mulheres.
É o que está acontecendo nos dias de hoje na Faixa de Gaza, onde defensores do Estado Islâmico estão acusando o Hamas de não impor leis islâmicas rígidas na população palestina, como se o Hamas endossasse uma abordagem liberal e de mente aberta em relação àqueles que violam as leis da sharia.
Membros do Estado Islâmico em Gaza. (imagem: Estado Islâmico, vídeo do YouTube) |
Até o começo desta semana, o único assunto dos palestinos na Faixa de Gaza era o de como reconstruir casas e edifícios destruídos na última guerra entre o Hamas e Israel.
Entretanto, hoje em dia, só se fala sobre as ameaças do Estado Islâmico a poetas, escritores e mulheres.
Não é nenhum segredo que o Estado Islâmico está presente na Faixa de Gaza. Segundo informações de lá, diversos membros do Hamas estão irritados e outros grupos salafistas-jihadistas já se juntaram ao Estado Islâmico, alguns já estão combatendo juntamente com o EIIS grupos na Síria e no Iraque.
No início do ano, foi revelado aqui que o Estado Islâmico já começou a operar na Faixa de Gaza, apavorando o Hamas.
No entanto o Hamas continua negando a presença do Estado Islâmico na Faixa de Gaza. "Não há membros do Estado Islâmico na Faixa de Gaza," segundo Eyad al-Bazam, porta-voz do Ministério do Interior do Hamas.
Entretanto, muitos palestinos não levam a sério as negações do Hamas e continuam desconfiados.
Nos últimos dias, dois panfletos distribuídos separadamente, assinados pelo Estado Islâmico, ameaçavam atacar poetas e escritores devido a sua "libertinagem" e ateísmo". Os panfletos citam os nomes de poetas e de escritores, causando pânico entre os palestinos na Faixa de Gaza.
Nos panfletos também consta um ultimato às mulheres palestinas para usarem trajes islâmicos ou enfrentarem punições do estilo do Estado Islâmico, provavelmente apedrejamento até a morte. A ameaça deixa a falsa impressão de que, no governo do Hamas, as mulheres podem usar trajes de banho na praia e andar pelas ruas de Gaza City de minissaia.
É isso que acontece quando um grupo fundamentalista acredita que outro grupo fundamentalista não é radical o suficiente.
"Nós admoestamos os escritores e poetas sobre suas declarações libertinas e atitudes ateístas", segundo se lê em um dos panfletos. "Damos três dias aos apóstatas para desistirem da apostasia e da libertinagem e voltarem à religião do Islã".
As três ameaças emitidas pelo Estado Islâmico provocaram fortes condenações de muitos palestinos. Essa é a primeira vez que ameaças dessa natureza foram feitas contra poetas e mulheres.
Muito embora o Hamas tenha condenado qualquer ligação com as ameaças, representantes do Fatah na Cisjordânia se apressaram em acusar o movimento islamista, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, de estar por trás dos panfletos.
O analista político palestino Naji Sharab explica que qualquer tentativa de negar a presença de terroristas do Estado Islâmico na Faixa de Gaza é "irrealista".
"Não tem como negar a existência do Estado Islâmico (na Faixa de Gaza) como um grupo pequeno ou como indivíduos", segundo ele. "Os panfletos distribuídos nesta semana não poderiam ter vindo de nenhuma organização palestina".
Os palestinos salientam que os dois panfletos não são os únicos sinais da presença do Estado Islâmico na Faixa de Gaza. Eles dizem que as bandeiras do Estado Islâmico podem ser vistas em várias partes da Faixa de Gaza, principalmente em estádios de futebol e edifícios públicos. Além disso, adesivos do Estado Islâmico podem ser vistos em para-brisas de muitos veículos.
Ultimamente, os palestinos dizem que as famílias começaram a anexar emblemas do Estado Islâmico em convites de casamento enviados a parentes e amigos. Fotos de palestinos mortos em combate enquanto lutavam ao lado do Estado Islâmico do Iraque e da Síria aparecem em diversos lugares, especialmente em mesquitas e centros educacionais.
Obviamente tudo isso acontece enquanto o Hamas continua insistindo que o Estado Islâmico não está operando em Gaza.
Os que estão levando as ameaças a sério são os escritores e as mulheres cujos nomes aparecem nos panfletos.
Amal Hamad, membro da União das Mulheres Palestinas, manifestou profunda preocupação em relação às ameaças do Estado Islâmico. "Estamos avançando para o que há de pior na Faixa de Gaza", reclamou ela. "Consideramos as forças de segurança do Hamas responsáveis pelos panfletos de intimidação e terror". Ela juntamente com um grande grupo de mulheres na Faixa de Gaza, realizaram uma reunião de emergência para discutir as implicações das ameaças.
A julgar pelas reações, fica claro que muitos palestinos, incluindo o Hamas, estão extremamente preocupados com a presença do Estado Islâmico na Faixa de Gaza. Mesmo que o grupo terrorista ainda não tenha muitos combatentes na Faixa de Gaza, ele já conta com inúmeros seguidores e admiradores.
Fica claro que, se e quando, o regime do Hamas entrar em colapso, a Faixa de Gaza não cairá nas mãos de palestinos menos radicais.
A Faixa de Gaza já se tornou um "Emirado Islamista" governado pelo Hamas juntamente com outros grupos radicais como a Jihad Islâmica.
Embora o Estado Islâmico tenha conseguido se infiltrar na Faixa de Gaza, a chance dele entrar na Cisjordânia é zero. Isso graças a presença das Forças de Defesa de Israel (IDF em inglês) na Cisjordânia. A Autoridade Palestina e seu Presidente Mahmoud Abbas sabem muito bem que sem a presença da segurança israelense na Cisjordânia, a região cairá facilmente nas mãos do Hamas ou do Estado Islâmico.
É importante que se tenha em mente que os países europeus, que ora estão votando a favor de um estado palestino, podem na realidade estar abrindo caminho para a tomada de poder do Estado Islâmico.