Por ora, contra todas as previsões, Kobani ainda está de pé. Homens e mulheres curdos, abandonados pelos Estados Unidos, observados, mas sem ajuda da Turquia, não recuam diante do arrebatador avanço do EIIS no Iraque e na Síria, uma pequena centelha de heroísmo que já poderá estar apagada quando você estiver lendo esse artigo. Por outro lado, o EIIS, bem financiado, armado, cruel, avançando contra Bagdá, com certeza não estará apagado.
Então, a reunião no Cairo do Secretário de Estado John Kerry com o Secretário Geral das Nações Unidas Ban Ki Moon e representantes da União Européia, Qatar e Grã-Bretanha no final de semana foi provavelmente uma coisa boa, certo? Na semana passada, um enviado da ONU estava preocupado que os massacres em Kobani não ficarão devendo nada aos massacres de Srebrenica na guerra da Bósnia. Em coordenação com o Presidente Obama e o NSC, reuniões com o Estado e o DOD em Washington, uma reunião internacional, poderá decidir: a) como tomar medidas imediatas para proteger as dezenas de milhares de pessoas deixadas para trás na malfadada cidade, b) como pressionar os turcos a providenciarem apoio substancial, e c) como o plano de guerra "somente pelo ar" dos EUA deve ser revisado na ausência de tropas "aliadas" em terra.
Já que nenhum plano de combate sobrevive ao primeiro contato com o inimigo, e o fato deste ter sobrevivido ainda menos que os demais, não há porque se envergonhar e lançar mão do Plano B. A não ser que eles não estejam discutindo Kobani.
Eles estavam tentando levantar US$4 bilhões para a Faixa de Gaza, para remover as marcas da guerra pelos foguetes do Hamas contra Israel e contra seu próprio povo. Israel não estava representado.
A reunião do Cairo, fruto da imaginação do Presidente Egípcio Sisi, apelou a Kerry, que parece ainda acreditar que os palestinos têm a chave da glória, ou mesmo da paz. O Qatar prometeu US$1 bilhão, os EUA US$213 milhões, o Reino Unido US$32 milhões e a União Européia 450 milhões de Euros. Na corte da política organizacional internacional, Kobani perde, enquanto os palestinos, inclusive o grupo terrorista Hamas, ganha.
Será que alguém poderia dar alguns trocados para os curdos da Síria? Acima, o Secretário de Estado dos EUA John Kerry (na fila da frente, 5º da esquerda) em uma foto do grupo na Conferência de Doadores para Gaza no Cairo, 12 de outubro de 2014. (imagem: Departamento de Estado dos EUA) |
O verdadeiro vencedor é Mahmoud Abbas, o homem sobre o qual a ideia fixa dos europeus e americanos se concentra em relação aos palestinos. Comentava-se que Abbas fez de tudo para garantir que não estourasse a "terceira intifada". Ele é promovido como "não Hamas," parceiro apontado para receber dinheiro dos europeus, americanos e de ONGs, que poderá ser usado, sem medo, para rearmar o Hamas e reconstruir os túneis. Todos convenientemente ignoraram o "Governo Unificado" do Hamas/Fatah, que se reuniu no final de setembro para anunciar que concordam, na maioria das questões e, não se ou como colocar os armamentos do Hamas sob controle do Fatah.
Mesmo que, de forma vergonhosa, não estejam pensando em Kobani, pelo menos algumas questões podiam ser consideradas, antes de enviar mais alguns bilhões de dólares para a Autoridade Palestina (AP), onde a cobiça e a corrupção correm soltas:
Abbas e a AP lançam mão de incitamentos cruéis e contínuos, não somente contra Israel, mas também contra judeus e fazem de conta não saberem de nada quando isso acaba em violência. O governo de Abbas escondeu os assassinos de três adolescentes por dois meses antes que as Forças de Defesa de Israel (IDF) os encontrassem. Abbas não tomou nenhuma medida para ajudar Israel a encontrar os criminosos, muito embora a IDF tenha aumentado a segurança para que a AP detesse cerca de 100 agentes do Hamas naquela época. Os palestinos receberam ordens para efetuar múltiplos telefonemas para a polícia israelense com o objetivo de bloquear as verdadeiras chamadas que poderiam ocorrer. Particularmente revoltante foi a atitude dos palestinos que passavam perto de judeus mostrando três dedos, simbolizando os três estudantes sequestrados, representavam "cenas" do sequestro com os meninos retratados como soldados, distribuíram doces para as crianças para festejar a morte deles.
Desde agosto, uma intifada menos atuante está, na realidade, em andamento, principalmente em Jerusalém e no entorno. A linha do bondinho que vai do subúrbio de Shuafat até Jerusalém, projetada para transportar palestinos até o centro de Jerusalém foi vandalizada diversas vezes. Os palestinos destruíram túmulos no Cemitério do Monte das Oliveiras, atiraram pedras e bombas incendiárias em um berçário e daycare center judeus entre outras coisas, que pode ser visto aqui e aqui.
O Hamas e o Fatah concordam que a independência de 1948 foi um erro da comunidade internacional às custas dos palestinos, necessitando ser revertida. Hamas é uma religião corrupta, com os crentes em revolução armada, Fatah é secular, corrupta e acredita em negociações até que a revolução armada seja viável.
O incitamento anda de mão em mão com os preparativos para a guerra. O Fatah também afirma estar produzindo foguetes, exibindo na TV russa uma instalação de produção na Cisjordânia. Um jornalista palestino informou à RT, "no momento em que o conflito em Gaza acabou, os braços armados palestinos recomeçaram a produção de armamentos para repor o estoque, que ficou vazio durante a guerra". O Indispensável Palestinian Media Watch "documentou que o próprio presidente da AP Mahmoud Abbas afirmou, diversas vezes, que se opõe à violência contra Israel unicamente porque no momento não é de interesse dos palestinos. Ele apresentou dois motivos. Primeiro, os palestinos não estão preparados militarmente e, segundo, uma guerra iria devastar a infraestrutura em áreas palestinas".
Abbas e a AP têm sido os gestores corruptos de fundos internacionais, clique aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, para começar. A AP alega que o Hamas desviou US$700 milhões, mas os auditores europeus afirmam que o Fatah não é melhor: clique aqui e aqui.
Abbas quebrou o compromisso que tinha com os EUA de não lançar mão de tentativas de usar instituições internacionais, inclusive a ONU e o Tribunal Penal Internacional, para apresentar acusações unilateralmente contra Israel. Seu discurso perante a ONU em relação a Israel como monstro genocida motivou até o Departamento de Estado a condená-lo como "provocação".
Os combatentes em Kobani descobriram meios de desacelerar o avanço do EIIS, mas lhes faltam armas e inteligência de qualidade para que possam avançar. Nessas condições, de combates imediatos e cruciais, o staff para assuntos internacionais de Kerry deveria procurar ajudar os curdos, nossos amigos e os inimigos mortais do EIIS, em vez de procurar desperdiçar mais fundos internacionais com o Hamas e Fatah, dois lados de um movimento dedicado à destruição.