Os palestinos da Faixa de Gaza estão furiosos de novo, desta vez, afirmam eles, porque lhes ofereceram bilhões de dólares para melhorar suas condições de vida e construir uma nova e pujante economia. Foto: Caminhões com ajuda da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina chegando à Faixa de Gaza vindos de Israel pelo posto de fronteira de Kerem Shalom, 12 de maio de 2019. (Foto: Said Khatib/AFP via Getty Images) |
Os palestinos da Faixa de Gaza estão furiosos de novo, desta vez, afirmam eles, porque lhes ofereceram bilhões de dólares para melhorar suas condições de vida e construir uma nova e pujante economia.
Ismail Haniyeh, líder do grupo terrorista palestino Hamas que governa a Faixa de Gaza, deu a entender que a oferta foi proposta pelos Estados Unidos. No entanto, ele não forneceu maiores detalhes sobre os rumores da oferta e disse que o Hamas a recusou porque ela estava condicionada ao desarmamento de grupos terroristas da Faixa de Gaza e ao reconhecimento do direito de Israel existir.
Ao recusar abertamente a oferta, o Hamas e seus aliados palestinos mostram, esta não é a primeira vez, que achar que uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos pode ser alcançada via expressivos investimentos em projetos econômicos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza é falsa e hipócrita.
Tal expectativa é realmente infundada, conforme comprovado por fatos históricos.
Após assinar o Acordo de Oslo entre Israel e a Organização de Libertação da Palestina (OLP) em 1993, os palestinos receberam dezenas de bilhões de dólares da comunidade internacional, principalmente dos EUA. Pelo que se sabe o aporte do dinheiro tinha como objetivo não apenas ajudar os palestinos a construírem uma economia forte, mas também para incentivar moderação e pragmatismo nos palestinos, em particular em relação a Israel. O dinheiro, em outras palavras, visava assegurar que os palestinos não se juntassem ao Hamas e demais grupos terroristas que buscavam a destruição de Israel.
Passados mais de 26 anos da dita assinatura de "Oslo", o Hamas, apoiado pelo Irã e seus aliados entre eles a Jihad Islâmica Palestina (PIJ), estão muito mais fortes, política e militarmente, do que eram quando o processo de paz entre israelenses e palestinos começou. Eles estão mais fortes por conta dos bilhões de dólares que a comunidade internacional esbanjou com os palestinos por quase 30 anos.
Graças ao financiamento internacional aos palestinos, o Hamas, cujo estatuto conclama flagrantemente a eliminação de Israel, tornou-se tão poderoso e influente que chegou a vencer uma eleição livre e isenta nas eleições parlamentares palestinas de 2006.
Um ano depois, o Hamas também obteve uma vitória militar quando seus membros realizaram um golpe de Estado contra a Autoridade Nacional Palestina que na época controlava a Faixa de Gaza usando de violência para tomar o controle da região.
Os palestinos ficaram extremamente felizes em aceitar os bilhões de dólares de doadores ocidentais. No entanto, quando os palestinos foram às urnas para votar nas eleições de 2006, eles não escolheram candidatos palestinos que defendiam a paz com Israel. Muito pelo contrário, a maioria dos palestinos votou consciente e orgulhosamente nos candidatos do Hamas que prometiam nunca reconhecer o direito de Israel existir e que continuariam com a jihad (guerra santa) até a "libertação de toda a Palestina, do rio (Jordão) ao mar (Mediterrâneo)".
A vitória eleitoral do Hamas em 2006 deveria ter servido como alarme para os doadores ocidentais de que o conflito entre israelenses e palestinos não tem nada a ver com dinheiro, empregos ou projetos econômicos.
Os doadores deveriam ter entendido já em 2006 que seus dólares e euros não fazem a mínima diferença para os corações e mentes dos palestinos e que a única maneira de viabilizar uma mudança é através da educação, educação para a paz e tolerância e não educação para a jihad, terrorismo e lavagem cerebral contra Israel.
Parece impossível para os doadores ocidentais entenderem que algumas palavras de um terrorista mascarado ou de um pregador odiento em uma mesquita têm mais peso do que todos os dólares e euros que eles possam doar. Na hora do vamos ver, os palestinos seguirão o que o terrorista ou o pregador disser (ou ordenar) que façam e não o que Washington, nem Paris, nem Bruxelas nem Londres disserem.
Visto por este ângulo, fica fácil entender porque os palestinos estão agora jogando confete em cima do Hamas por sua recusa em aceitar US$15 bilhões em ajuda de órgãos ocidentais para projetos econômicos na Faixa de Gaza. Ao que tudo indica o Hamas e seus apoiadores estão até ofendidos com a oferta porque ela requer interromper os ataques terroristas contra Israel, desarmar todos os grupos terroristas na Faixa de Gaza e reconhecer o direito de Israel existir.
A Faixa de Gaza, lar para cerca de dois milhões de palestinos, precisa urgentemente de projetos econômicos. É absolutamente necessário cada centavo para enfrentar o altíssimo índice de pobreza e desemprego.
O Hamas, não é de se estranhar, quer que a ajuda financeira venha de mão beijada, sem dar nada em troca. Conforme explicou o líder Haniyeh, o Hamas não pode e não irá desistir da "resistência" contra Israel e nunca reconhecerá o direito do país existir. Para o Hamas e seus apoiadores, o desejo de eliminar Israel e de assassinar judeus é a sua prioridade Nº 1, mesmo que isso venha à custa direta e calamitosa de seu povo. Não dá nem para imaginar o que US$15 bilhões poderiam fazer em prol de dois milhões de palestinos na pequenina Faixa de Gaza.
Haniyeh admitiu que a oferta financeira oferecida ao Hamas poderia transformar a Faixa de Gaza na "Cingapura do Oriente Médio". Isso, porém, não é o objetivo do Hamas. Longe disso, o objetivo mais importante declarado pelo Hamas é ver Israel desaparecer e os judeus desaparecerem da pressuposta "Palestina ocupada", muito embora os judeus tenham vivido lá ininterruptamente por mais de três mil anos.
O mais desconcertante é que é difícil encontrar um palestino que tenha a coragem de confrontar o Hamas e proclamar que a nova geração de palestinos merece um lugar ao sol. Muito pelo contrário, alguns palestinos da Faixa de Gaza tomaram as ruas para elogiar o Hamas por ter rejeitado o "suborno" de US$15 bilhões de doadores ocidentais.
Durante uma manifestação pró-Hamas na Cidade de Gaza em 27 de julho, o porta-voz do Hamas, Abdel Latif Qanou, enviou a seguinte mensagem aos doadores ocidentais:
"o Hamas continua comprometido com o projeto de resistência e está se preparando para a libertação (de toda a Palestina, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo). Não faremos nenhuma concessão e não abriremos mão de nenhum milímetro da terra palestina", nem mesmo em troca de bilhões de dólares, nem em troca de todos os tesouros do mundo".
É importante observar que o Hamas e muitos palestinos estão sendo totalmente honestos sobre suas intenções de cometer uma carnificina. O que eles estão dizendo, na cara dura, com todas as letras é: "recusamos, total e inequivocamente mudar nossas políticas ou abandonar nossas armas em troca do seu dinheiro. Se vocês acham que podem nos subornar para mudarmos nosso comportamento, porque é isso que vocês fazem muitas vezes no Ocidente, desculpe, não vai funcionar."
É exatamente por causa dessa profunda diferença cultural que o Hamas e outros palestinos rejeitaram num piscar de olhos a visão do presidente dos EUA, Donald J. Trump para o acordo de paz abrangente entre Israel e os palestinos, chamado "Paz para a Prosperidade".
O plano propõe um fundo de investimento de US$50 bilhões para projetos de infraestrutura e negócios, a maior parte destinada aos palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. A meta do plano é criar novas oportunidades para as empresas palestinas, aumentar o comércio com os países vizinhos e ajudar os palestinos do setor privado a capitalizarem as oportunidades de crescimento, melhorando o acesso às economias vizinhas mais robustas.
Além disso, o plano visa reduzir os problemas relacionados ao crescimento econômico palestino, abrindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza aos mercados regionais e globais:
"Investimentos de monta em transporte e infraestrutura ajudarão a Cisjordânia e Gaza a se integrarem às economias vizinhas, aumentando a competitividade das exportações palestinas e reduzindo os transtornos com transportes e viagens..."
"Com potencial de assistência de mais de US$50 bilhões em novos investimentos num espaço de tempo de 10 anos, 'Paz e Prosperidade' representa o esforço internacional mais ambicioso e abrangente oferecido ao povo palestino até agora. Ele tem condições de transformar fundamentalmente a Cisjordânia e Gaza e de abrir um novo capítulo na história palestina, um capítulo caracterizado, não por adversidades e perdas e sim pela liberdade e dignidade".
Enquanto o plano Trump e os doadores ocidentais assumem que a "dignidade" dos palestinos pode ser alcançada por meio de investimentos em larga escala em projetos econômicos, o Hamas e seus apoiadores dizem que é um insulto à sua dignidade oferecer-lhes dinheiro em troca do desmantelamento de grupos terroristas e pedir que deem um basta ao tsunami de foguetes que lançam contra Israel ou mesmo o reconhecimento do direito de Israel de existir. Nesse ínterim, os palestinos continuarão recebendo dinheiro do Ocidente, isso se o Ocidente for mentecapto o suficiente para continuar doando. Será que os europeus querem que os árabes terminem o trabalho que Hitler começou? Mas da próxima vez que os palestinos forem às urnas, os doadores ocidentais podem esperar que eles voltem a votar na jihad.
Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém, também é Shillman Journalism Fellow no Gatestone Institute.