Apesar do regime chinês afirmar que "derrotou" o coronavírus, o vírus está castigando a China numa segunda onda. As políticas iniciais de Xi transformaram um surto local em uma pandemia e agora estão forçando a China a enfrentar mais uma vez o inferno da doença. A China pode mentir sobre as estatísticas, mas o vírus terá a última palavra. Foto: Um vendedor entrega um pacote de comida a um cliente sobre uma barricada em Wuhan, província central de Hubei na China em 6 de abril de 2020. (Foto by Noel Celis/AFP via Getty Images) |
A China "derrotou" o coronavírus e declarou "vitória", é o que nos diz a mídia do Partido Comunista.
No entanto algo esquisito aconteceu no meio do caminho para a vitória. A segunda onda do vírus está sacudindo a China. A segunda onda está ceifando vidas, inclusive as narrativas do propagandismo do Partido. A mais perigosa dessas narrativas é aquela que diz que o governante Xi Jinping, com o mandato vindo do céu, tem a obrigação de dominar o sistema internacional.
Após declarar em 19 de março que não havia mais novas infecções, a China asseverou que o vírus tinha sido contido. Desde então, Pequim vem reportando dezenas de novos casos todo santo dia, sustenta, contudo, que praticamente todos são "importados", em outras palavras, os infectados vieram de outros países.
Das raríssimas transmissões ocorridas no país, a maioria, segundo Pequim, foi transmitida dos casos importados.
O número oficial de mortes e de novas infecções apresentados pela China, no entanto, só pode ser conversa para boi dormir. As autoridades chinesas estão tomando medidas que, na prática, são inconsistentes com os dados oficiais segundo os quais não há novas infecções.
Senão vejamos, em 27 de março Pequim fechou todos os cinemas em todo o país, depois de reabri-los apenas uma semana antes.
Em Xangai, as atrações turísticas que acabaram de retomar as operações foram fechadas novamente. O município voltou a fechar o deck de observação da Torre de Xangai, o edifício mais alto da China e a Oriental Pearl Tower que fica nas proximidades. A Jin Mao Tower está fechada "para intensificar ainda mais a prevenção e controle da pandemia." Madame Tussauds, o Shanghai Ocean Aquarium e o Shanghai Haichang Ocean Park estão às escuras, bem como os setores internos de outras 25 atrações.
Shanghai Disneyland? "Temporariamente Fechada ao Público até Segunda Ordem."
Xangai não é a única metrópole que está apagando as luzes. Em Chengdu, bares de karaokê e cibercafés também foram fechados dias após a província de Sichuan ter aberto todos os pontos de entretenimento.
Fuyang, na província de Anhui, decretou o fechamento de "pontos de entretenimento" e piscinas cobertas. A província de Henan fechou os cibercafés.
Até Henan colocou em quarentena uma região inteira, o Condado de Jia, porque médicos de lá testaram positivo para o coronavírus.
Em 31 de março, a ESPN revelou que o governo central da China adiou a retomada dos esportes coletivos.
Os vestibulares em todo o país , o gaokao, foi adiado em um mês, para julho.
O regime também não reagendou os principais eventos políticos, as reuniões anuais do Congresso Nacional do Povo e a Conferência Política Consultiva do Povo Chinês, ambas inicialmente agendadas para o início de março.
E finalmente, as autoridades da província de Jiangxi não estão permitindo que ninguém da vizinha Hubei entre em seu território, o que leva a crer que elas não acreditam que a epidemia tenha acabado naquela província infestada pelo coronavírus.
E isso é relevante? É sim: Xi Jinping acha que ele deveria governar o planeta. "A China, país onde o vírus apareceu pela primeira vez e ceifou as primeiras milhares de vidas, agora está usando a disseminação global da doença para reforçar uma campanha cada vez mais eloquente e aguerrida de liderança global que está exacerbando um conflito de anos com os EUA", segundo um artigo no Wall Street Journal de 1º de abril.
Conforme o Global Times do Partido Comunista publicou triunfantemente em 30 de março "as Mancadas em Relação ao COVID-19 Sinalizam o Fim do 'Século Americano'."
Para jogar para escanteio os Estados Unidos e conquistar a liderança mundial, a China contratou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), para dizer que a resposta da China ao coronavírus mostrou a "superioridade do sistema chinês e que essa experiência é digna de ser imitada por outros países". Então Pequim se pôs a montar um grande circo de "doação" de equipamentos médicos e kits de diagnóstico, principalmente para a castigada Europa.
E por fim, Xi Jinping, já no início da primeira semana de fevereiro, forçou a China a voltar ao trabalho para mostrar que o país tinha acabado com a epidemia.
No entanto, nenhum desses espetáculos circenses convencerá ninguém se novamente o vírus causar estragos na China. Infelizmente para Xi, é isso mesmo que está acontecendo: as pessoas na China estão se infectando de novo. Tomemos como exemplo Dongguan, área industrial no sul da província de Guangdong, onde os trabalhadores que retornaram aos seus locais de trabalho trouxeram consigo o coronavírus, forçando as autoridades de saúde a colocar em quarentena outros trabalhadores. O líder chinês pode colocar em movimento a economia ou conter o coronavírus, mas ele não tem como fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Quando a segunda onda de infecções por coronavírus castigar duramente a China, a fanfarronice de Xi Jinping sobre a superioridade do comunismo chinês começará a soar sem pé nem cabeça, absurda até.
As políticas iniciais de Xi transformaram um surto local em uma pandemia e agora estão fazendo com que mais pessoas fiquem doentes, forçando a China a enfrentar mais um inferno da doença. Os kits imprecisos de diagnóstico e os equipamentos de proteção de má qualidade da China doados aos quatro cantos da terra e as novas infecções mostrarão a verdade: o comunismo é incompetente, para não dizer totalmente maligno.
O comunismo incompetente e maligno, por sua vez, significa que o declínio previsto da América por Xi terá que ser adiado novamente para outro dia.
A China pode mentir com estatísticas, mas o vírus terá a última palavra. A "vitória" sobre o COVID-19 e sobre os Estados Unidos ainda é uma miragem.
Gordon G. Chang é o autor do livro The Coming Collapse of China e Destacado Senior Fellow do Gatestone Institute.