A China, como já sabemos, permitiu que o coronavírus se espalhasse durante seis semanas em dezembro e janeiro, antes que Xi admitisse publicamente a existência da doença. De modo que não causa espécie que os americanos e o povo chinês estejam exigindo mudanças políticas de base, perceberam que a verdadeira doença é o comunismo. Foto: "Voluntários da comunidade" do Partido Comunista montam guarda em frente da entrada de uma área residencial enquanto medem a temperatura de um homem em uma rua de Pequim, China, 23 de fevereiro de 2020. (Foto: Nicolas Asfouri/AFP via Getty Images) |
Em julho do ano passado, cinco analistas americanos que têm estado sistematicamente equivocados nos informaram: "a China não é uma inimiga nossa."
Na realidade, desta vez eles estavam tecnicamente certos. A China comunista não é uma inimiga nossa. Ela é a inimiga.
Depois que baixar a poeira da pandemia do coronavírus, os americanos não deveriam esquecer os descalabros da campanha de Pequim contra os Estados Unidos.
Por mais de um mês, o Ministério das Relações Exteriores do governo central e o Global Times do Partido Comunista vem procurando sujar a imagem da Administração Trump. A campanha atingiu o ápice em meio a uma série de tuítes da estrela da hora da vez de Pequim, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores e diretor adjunto do Departamento de Informações do ministério.
Em 12 de março, por intermédio de um tuíte, ele acusou as autoridades dos Estados Unidos de "imorais". Horas antes, ele havia tuitado que o "paciente zero" se encontrava nos EUA e sugeriu que o exército americano "trouxe a epidemia para Wuhan", assinalando que os EUA estavam travando uma guerra de germes.
No mesmo dia, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying, chefe de Zhao,distorceu o testemunho de Robert Redfield, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, ao tentar provar que o surto do coronavírus começou nos Estados Unidos.
No dia seguinte, 13 de março, o Presidente Donald J. Trump, em uma entrevista coletiva à imprensa no Rose Garden, minimizou as mensagens flagrantemente hostis. Primeiro ele teceu comentários sobre a conversa que teve com o governante chinês Xi Jinping e depois salientou, ao se referir aos líderes chineses, "eles sabem de onde o coronavírus veio".
Na realidade ela é pior, se considerarmos que as autoridades chinesas de fato sabiam onde o coronavírus se originou. Nesse caso, essas autoridades, ao não medirem esforços para jogar a culpa nos EUA, mostraram mais uma vez a inerente hostilidade à estrutura dos Estados Unidos.
Lamentavelmente não há como dissuadir Pequim. Em 13 de março, o Departamento de Estado dos EUA convocou o embaixador chinês Cui Tiankai para protestar contra a campanha de desinformação do Ministério das Relações Exteriores. Apesar da advertência, em 16 de março, via tuíte, o embaixador chinês na África do Sul, Lin Songtian, continuou promovendo a teoria de que o coronavírus não se originou na China.
Visto daqui, parece que as relações entre os dois só irão piorar. Para começar, a agência oficial de Notícias Xinhua News de Pequim ameaçou cortar o envio de "suprimentos médicos", "mergulhando" assim os Estados Unidos em um "incomensurável mar de coronavírus".
De acordo com o consultor comercial de Trump, Peter Navarro, Pequim já nacionalizou uma fábrica americana que produz máscaras de proteção. Além disso, Maria Bartiromo, da Fox Business Network disse reiteradamente na frente das câmeras que os chineses forçaram pelo menos um navio carregado de máscaras de proteção, luvas e demais equipamentos de proteção que estava indo para os Estados Unidos a retornar à China.
A ameaça de Pequim de interromper o fornecimento de suprimentos médicos e causar danos aos americanos só incentivará os EUA a reduzirem o comércio com a China ou, mais precisamente, a não permitir que o comércio retorne aos níveis pré-coronavírus. A redução do comércio, segundo alguns, é a única maneira de longo prazo que resta aos EUA, já que os comunistas chineses procuram usar seu papel central de manufaturação para disseminar o totalitarismo e promover outros objetivos geopolíticos anátemas às democracias ocidentais.
O corte de vínculos ainda deixará o comércio em níveis elevados, pelo menos no início. No entanto, o grande volume comercial, frequentemente chamado de "lastro" nos laços China/EUA, provavelmente não estabilizará as relações entre os dois países.
"As transações comerciais aumentam ou reduzem a probabilidade de conflito?". O já falecido cientista político de Harvard Samuel Huntington, fez esta pergunta em The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order. "A premissa de que elas reduzem a probabilidade de guerra entre nações não tem comprovação alguma, além disso, inúmeras evidências apontam para o contrário".
Altos patamares de comércio não impediram a eclosão da Primeira Guerra Mundial, apontou ele naquela obra monumental. Huntington baseando-se no trabalho de outros, observou: o importante é a expectativa. "A interdependência econômica fomenta a paz", escreveu ele, "só 'quando os países acreditam que altos patamares comerciais irão continuar por um bom tempo'." Se, por outro lado, os parceiros comerciais "não acreditarem que altos patamares de interdependência irão continuar, é provável que a consequência desabe na guerra."
Donald Trump acredita que o comércio entre os dois países irá aumentar, ele afirmou em 13 de março que a China irá comprar US$250 bilhões a mais de produtos americanos segundo o acordo comercial Phase One assinado em 15 de janeiro. No acordo Pequim se compromete, em termos gerais, que num período de dois anos irá aumentar a compra de bens e serviços dos EUA no valor de US$200 bilhões em relação aos níveis de 2017.
No entanto, o otimismo de Trump não é o mesmo de Pequim. Ao usar a epidemia como desculpa, a China agora pressiona para alterar os termos do acordo, empurrando com a barriga as obrigações de compra, cerne do acordo no que diz respeito aos EUA.
O Global Times observa que a pandemia inibe a demanda chinesa por produtos americanos, mas isso não é necessariamente o suficiente para se dar as costas aos termos do acordo.
Por que não? Afinal de contas Xi Jinping sabia da epidemia de coronavírus muito antes de autorizar a assinatura do acordo na Casa Branca. Em fevereiro, ele disse que presidiu uma reunião do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista em 7 de janeiro, na qual emitiu ordens para conter a epidemia. O conhecimento de Xi em 15 de janeiro sobre o surto e sua pressão por um alívio agora, portanto, o fazem parecer cínico. É altamente provável que desde o início, ele não tinha a menor intenção de honrar a sua parte do acordo. É bom lembrar que Xi quebrou suas promessas de setembro de 2015 feitas ao ex-presidente Barack Obama de não militarizar as ilhas artificiais da China e não hackear os Estados Unidos para fins comerciais.
De qualquer maneira, é dado como praticamente certo de que no corrente ano o comércio sino-americano encolherá. Desvencilhar o comércio estaria de acordo com o declarado desejo de Trump de trazer a manufatura de volta para casa.
Evidentemente o presidente vem pensando nessas questões há muito tempo. Em 21 de julho de 2017, por exemplo, ele emitiu um decreto sobre a Avaliação e Fortalecimento da Base Industrial da Defesa e Manufatura e a Resiliência da Cadeia de Suprimentos dos Estados Unidos. O estudo sobre a Base Industrial de Defesa, como é conhecido, expôs as vulnerabilidades americanas e levou a ações para incentivar a volta da manufatura ao país. Agora, Donald Trump pode usar seus amplos poderes concedidos segundo o International Emergency Economic Powers Act of 1977 para dar continuidade a esse processo crucial.
Obviamente, a guerra não resulta inevitavelmente quando os países "desvencilham", "desacoplam" ou "desengatam" suas economias. No entanto, a China e os EUA também estão se afastando à medida que os americanos se acautelam em relação ao estado chinês cada vez mais beligerante, que já mostrou que tem, por exemplo, pouca relutância em causar danos aos americanos.
A China, como já sabemos, permitiu que o coronavírus se espalhasse durante seis semanas em dezembro e janeiro, antes que Xi admitisse publicamente a existência da doença. De modo que, não causa espécie que os americanos e o povo chinês estejam exigindo mudanças políticas de base, perceberam que a verdadeira doença é o comunismo.
O coronavírus prova que, para os Estados Unidos e para o Mundo Livre, o comunismo da China é o inimigo - que realmente conta.
Gordon G. Chang é o autor do The Coming Collapse of China e Senior Fellow do Gatestone Institute.