As mulheres que estão sendo estupradas e torturadas com requintes de crueldade nas prisões sírias, são vítimas de líderes palestinos fracassados que, ao que tudo indica, se preocupam apenas e tão somente em manter suas contas bancárias e seus empregos. (Imagem: iStock. Imagem somente para efeitos ilustrativos, não representa a personagem do artigo.) |
Para as palestinas que se encontram na Síria, não havia motivo para celebrar o Dia Internacional da Mulher, data comemorada ao redor do mundo no início do corrente mês (março de 2019). Enquanto em muitos países as mulheres comemoravam, um levantamento publicado pelo Grupo de Ação em Favor dos Palestinos da Síria, uma organização de direitos humanos, revelou que 107 palestinas estavam encarceradas em condições subumanas nas prisões sírias.
As palestinas, segundo o Grupo de Ação em Favor dos Palestinos da Síria foram presas pelas autoridades sírias no início da guerra civil no país em 2011. "As autoridades sírias responsáveis pela segurança continuam mantendo atrás das grades dezenas de refugiadas palestinas desde o início da guerra na Síria", sustenta aquele grupo. Os pesquisadores do grupo disseram que conseguiram documentar os casos de 107 palestinas que ainda se encontram presas, 44 são da região de Damasco, 12 da cidade de Homs, 4 da cidade de Daraa e 41 de diferentes regiões da Síria.
Entre as detentas se encontram estudantes universitárias, ativistas e mães, algumas delas segundo ressalta o levantamento, foram encarceradas juntamente com os filhos. Os "testemunhos de algumas que foram soltas da prisão confirmam que foram submetidas a inúmeras formas de tortura nas mãos dos agentes de segurança sírios" salienta o levantamento. "Vale dizer que as palestinas que estão na Síria foram e estão sujeitas a sequestros, prisões, invalidez e morte em consequência do conflito na Síria que eclodiu em março de 2011."
Outro levantamento do mesmo grupo revelou que desde 2011 morreram 34 palestinas em consequência da tortura nas prisões sírias. Segundo o levantamento, ao todo 570 palestinos, incluindo mulheres, crianças e idosos, morreram nas prisões sírias desde o início da guerra civil no país.
Outro levantamento mostrou que um total de 484 palestinas foram mortas na Síria durante os combates entre diversos partidos rivais: 240 em consequência de bombardeios, 68 em consequência da falta de cuidados médicos e do bloqueio imposto pelo exército sírio no campo de refugiados de Yarmouk perto de Damasco, 28 por franco atiradores, 37 devido a explosão de bombas, 24 por balas perdidas, 26 por afogamento e 5 que foram sumariamente executadas em praças públicas.
Segundo o grupo, um total de 3.920 palestinos foram mortos na Síria desde o início da guerra civil em 2011. Outros 317 palestinos estão desaparecidos e 1.734 palestinos estão detidos em diversas prisões do governo sírio.
Um recente levantamento, idealizado pela agência de notícias turca Anadolu, constatou que as mulheres sírias também estavam sendo torturadas e estupradas nas prisões sírias. A Anadolu realçou que 13.500 detidas pelas autoridades sírias foram submetidas a torturas e estupros durante o período que passaram na prisão. No momento, segundo o levantamento, há 7 mil detentas nas prisões sírias.
Uma ex-detenta, que se identificou com o nome de Rana, contou que enquanto estava atrás das grades, os agentes de segurança sírios queimaram vivas uma mulher e a filha em uma cela vizinha. Ela também contou que outras duas mulheres da cidade de Aleppo foram estupradas por guardas da prisão. Ela disse que foi mantida em uma pequena cela juntamente com outras 15 mulheres que foram submetidas a inúmeras formas de tortura.
Há dois anos uma palestina de 18 anos, que se identificou com o nome de Huda, denunciou que foi repetidamente estuprada enquanto esteve presa numa prisão síria. Ela disse que foi presa por membros do grupo terrorista palestino Frente Popular para a Libertação da Palestina - Comando Geral, milícia que trabalha em conjunto com as autoridades sírias na entrada do campo de Yarmouk, onde mora. Antes de Huda ser entregue aos sírios, os sequestradores palestinos a torturaram, também torturaram outras três palestinas que estavam presas.
"Os interrogadores sírios me interrogaram sobre as identidades de mulheres e homens que estavam no campo de Yarmouk... Ao negar que os conhecia, eles me espancaram e me deram choques elétricos. Além disso fui estuprada durante 15 dias. Também acontecia de ser estuprada mais de dez vezes por dia por diferentes policiais e guardas prisionais."
Em seu testemunho, Huda disse que engravidou em consequência do estupro, mas que abortou devido aos espancamentos.
"Eu tive uma grave hemorragia e fiquei desacordada... O estupro de detentas era lugar comum. Uma mulher tentou se suicidar inúmeras vezes, ela costumava bater com a cabeça na parede da cela. Ela sempre perdia a consciência por horas a fio".
Durante o tempo em que esteve encarcerada, salientou Huda, ela viu com os próprios olhos uma mulher de 20 anos que também engravidou depois de ser sucessivamente estuprada:
"Após dar à luz, ela não conseguia ver o bebê nem ficar perto dele na cela... Ela não suportava ouvir o choro do bebê, ela tentou matá-lo para não vê-lo nunca mais. Dias mais tarde um guarda da prisão levou o bebê embora".
O tormento das palestinas na Síria é uma questão que parece não incomodar os líderes palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Esses líderes estão ocupados demais lutando e incitando a violência uns contra os outros, contra Israel e contra os Estados Unidos. Eles esqueceram completamente o sofrimento de seu povo num país árabe como a Síria.
Nas últimas duas semanas, a rivalidade entre a facção Fatah da Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia e o Hamas na Faixa de Gaza, ao que tudo indica, atingiu novos patamares, principalmente depois do Hamas, ao que consta, ter quebrado os ossos de dozenas de apoiadores e autoridades da Fatah na Faixa de Gaza.
O Hamas acusa a Fatah de estar por trás dos recentes protestos contra as mazelas econômicas que assolam a Faixa de Gaza. Como parte de seu esforço de esmagar os protestos, o Hamas enviou seus agentes de segurança às ruas com ordens de quebrarem a rodo braços e pernas de manifestantes. Atef Abu Seif, uma das vítimas que era o porta-voz da Fatah na Faixa de Gaza foi sequestrado e espancado. Ele permanece em estado grave, com braços e pernas quebrados. A Fatah afirma que o Hamas estava por trás do ataque.
As autoridades da Fatah responderam à violenta repressão do Hamas tachando-a de organização terrorista, comparando suas forças de segurança à Gestapo, polícia secreta da Alemanha nazista. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, também reagiu com fúria à violenta repressão a seus apoiadores na Faixa de Gaza. O Hamas enfatizou ele, vai "acabar na lata de lixo da história".
Para as palestinas que estão na Síria, a disputa atual entre o Fatah e o Hamas é a última coisa que lhes interessa. As mulheres que estão sendo estupradas e torturadas com requintes de crueldade nas prisões sírias, são vítimas de líderes palestinos fracassados que, ao que tudo indica, se preocupam apenas e tão somente em manter suas contas bancárias e seus empregos. Nenhuma autoridade da Fatah nem do Hamas nem dos assim chamados "grupos de direitos humanos" do Ocidente nem das Nações Unidas, se manifestou no tocante a essa situação das palestinas na Síria. E por que deveriam, se tudo o que fazem na maior parte do tempo é jogar sujo, dar golpes baixos uns nos outros e ao mesmo tempo incitar o povo contra Israel e os EUA?
Bassam Tawil, árabe muçulmano, radicado no Oriente Médio.