Embora não esteja claro o que o presidente dos Estados Unidos Joe Biden quis dizer ao se referir aos Estados Unidos estarem na liderança de uma nova ordem mundial, seu histórico dos últimos 15 meses indica que ele é formado por uma economia americana fragilizada pela inflação, guerra na Europa, alianças desfeitas no Oriente Médio e crescente incerteza na Ásia. (Imagem: iStock) |
O presidente dos EUA, Joe Biden, recentemente encerrou suas observações na Rodada de Negócios com uma confusa referência a uma "nova ordem mundial". Ele afirmou o seguinte, segundo a transcrição da Casa Branca do seu discurso:
"isso acontece a cada três ou quatro gerações. ... Quando as coisas estão mudando. Nós vamos, haverá uma nova ordem mundial e nós temos que estar na vanguarda, liderando-a. E nós temos que unir o restante do mundo livre nesta empreitada."
Do que o presidente estava falando? Aquelas palavras vieram no final de seu discurso, ele não entrou em detalhes sobre o seu significado. Provavelmente, ele estava se referindo às mudanças em andamento nas estruturas de poder global pós-Segunda Guerra Mundial, mas será que Biden tem um plano para o papel a ser desempenhado pelos Estados Unidos nessa nova ordem mundial e qual seria a cara dela, uma vez que a Europa se encontra potencialmente envolvida em uma guerra considerável?
O povo americano ficou encarregado de encontrar as pistas e tentar descobrir o que as palavras de Biden poderiam significar. O máximo que podemos fazer é examinar as políticas por ele implementadas durante os primeiros 15 meses que esteve no cargo para ver se algum elemento de seu plano para os Estados Unidos nesta "nova ordem mundial" pode ser descoberto.
O impulso político central que motiva tanto Biden quanto os democratas vem sendo a "Revolução Verde". Dadas as gigantescas reservas de energia e know-how tecnológico dos Estados Unidos, o país irá liderar o "esverdeamento" do planeta e fornecer suprimentos de energia seguros e estáveis para o Ocidente e a seus aliados e parceiros? A resposta, curta e grossa é: não. A China domina a produção de materiais de terras raras, painéis solares e aerogeradores, seis dos 10 maiores produtores estão sediados na China Comunista. Indubitavelmente, os Estados Unidos não estão liderando a nova ordem mundial "verde" e Biden, ao que tudo indica, não tem nenhum plano pertinente de como chegar lá além de impingir rupturas radicais em nosso estilo de vida e uma dependência ainda maior da China.
Outras decisões de Biden no que diz respeito a questões energéticas são igualmente desconcertantes. Ao assumir o cargo, Biden jogou uma pá de cal no Gasoduto Keystone XL americano, mas deu sinal verde ao gasoduto Nord Stream 2 da Rússia que amarraria a dependência da Europa ao gás da Rússia. Ele também se opôs aos esforços do Congresso de introduzir sanções ao gasoduto no período que antecedeu a invasão da Ucrânia. Na qualidade de embaixador dos EUA na Holanda, fui um veemente defensor da política do governo Trump de se opor ao Nord Stream 2. Na mesma linha, Biden, em seu primeiro dia no cargo, inequivocamente voltou ao Acordo de Paris sobre o clima, comprometendo novamente os Estados Unidos a este pacto extremamente equivocado.
Em vez de apoiar a independência energética dos Estados Unidos e a produção de petróleo e gás, Biden deixou os consumidores americanos na mão enquanto os preços da gasolina nos EUA dispararam para algo em torno de US$4 e US$7 por galão. A crise energética é tão grave que o governo Biden está considerando comprar petróleo do Irã e da Venezuela. Quando se trata de petróleo e gás, ao que tudo indica, a nova ordem mundial de Biden continuará a política de diminuir a independência energética americana e aumentar a dependência dos EUA de atores estatais mal-intencionados, ironicamente financiando o empenho destes atores em solapar os Estados Unidos na ordem global.
A Europa de hoje, um continente consumido pelo medo da guerra com a Rússia, faz parte da visão de Biden da nova ordem mundial? Seu apoio ao Nord Stream 2 parece que só encorajou a Rússia, juntamente com o debilitamento da produção fez com que os Estados Unidos comprassem meio milhão de barris de petróleo por dia da Rússia. A US$110 por barril, os contribuintes americanos estão, portanto, financiando a máquina de guerra russa com mais de US$20 bilhões por ano. Já que os presentes que a Administração Biden deu à Rússia: o gasoduto Nord Stream 2 e a prorrogação do Novo Tratado START por mais cinco anos, não deram certo para os EUA, nem para povo da Ucrânia nem para a Europa, será que Biden irá alterar ou reconsiderar seu plano para uma nova ordem mundial? Em entrevista que foi ao ar no dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia, o "czar do clima" da Administração Biden, John Kerry, mostrou que a administração ainda estava mergulhada nas fantasias da "Revolução Verde", lamentando:
"mas igualmente importante, você fará com que o povo perca o foco... Espero que o presidente Putin nos ajude a permanecer no caminho certo com respeito ao que precisamos fazer pelo clima."
Só nos resta imaginar se alguma das decisões tomadas pelo governo antes da invasão da Ucrânia pela Rússia teria feito alguma diferença e mudado o cálculo do presidente Vladimir Putin em relação à guerra. E se Biden não tivesse aprovado o Nord Stream 2 e mantido a política do governo Trump? E se Biden tivesse atendido aos apelos do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy e de membros do Congresso e decretado sanções antes da invasão de Putin? E se Biden tivesse decidido liderar em vez de seguir a Europa? Aparentemente, na nova ordem mundial de Biden, os Estados Unidos não lideram, somente seguem ou reagem ao que outros fazem.
O que o histórico de Biden nos diz sobre a cara da nova ordem mundial no Oriente Médio? Bem, o presidente está pressionando para que seja assinado um acordo intermediado pela Rússia e apoiado pela China, segundo consta, para acabar com as sanções contra o Irã, retirar a Guarda Revolucionária do Irã da lista de organizações terroristas, o que ela é, e permitir que Rússia compre o "excesso" de urânio enriquecido do Irã, quem sabe para ser usado contra a próxima "Ucrânia"?
A desesperada confusão do presidente de voltar no mau acordo nuclear da era Obama com o Irã está levando aliados dos EUA, como Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, a questionarem seu relacionamento com os EUA e, evidentemente, levando-os a, no mínimo, considerar estreitar os laços com a Rússia e a China. Israel tentou equilibrar os interesses americanos e russos em relação à Ucrânia. Os líderes sauditas e emiradenses se recusaram a atender as ligações de Biden, mas atenderam as de Putin. Também não se pode perder de vista que pouco antes da invasão da Ucrânia, Rússia, China e Irã realizaram exercícios militares conjuntos.
Ao fim e ao cabo, qual é a visão de Biden nessa nova ordem mundial no que diz respeito à China? Não daria para o recado ser mais confuso. O Partido Comunista Chinês (PCC) continua o genocídio contra os uigures em Xinjiang, a supressão das liberdades em Hong Kong, a militarização de pelo menos três das ilhas artificiais que construiu no Mar do Sul da China, o aperfeiçoamento de mísseis hipersônicos e os "destruidores de satélites" que ameaçam Taiwan e a assinatura de novos acordos de amizade com a Rússia. Enquanto isso, a Administração Biden compartilhava dados de inteligência sobre a Rússia com a China. Aparentemente, a Administração alimentava alguma esperança quixotesca de que a China se juntaria aos EUA para desencorajar a Rússia de atacar. A bem da verdade, a China é que estava compartilhando informações de inteligência dos EUA com a Rússia. Alguns poderão se perguntar quem poderia aparecer com a ideia de jerico de que o PCC se juntaria aos EUA para manter a ordem e a estabilidade na Europa.
Na realidade, a visão de Biden de uma nova ordem mundial liderada pelos Estados Unidos parece cada vez mais um novo mundo da desordem. Em vez de articular uma visão clara da liderança americana, nossas ações no cenário mundial têm sido dirigidas pela Rússia, Irã, China e até pela Europa. A situação carcomeu os laços dos Estados Unidos com seus aliados tradicionais, parece que eles estão tendo dificuldades em entender a visão global do presidente e em ver a nova ordem mundial evoluindo de tal forma em que os Estados Unidos estejam na liderança, mas apenas por trás, reagindo aos caprichos dos outros.
De modo que, embora não esteja claro o que Biden quis dizer quando ao se referir aos Estados Unidos estar na liderança de uma nova ordem mundial, seu histórico dos últimos 15 meses indica que ela é formada por uma economia americana fragilizada pela inflação, guerra na Europa, alianças desfeitas no Oriente Médio e crescente incerteza na Ásia.
Se esta for a consequência não intencional da nova ordem mundial de Biden, é hora dele começar do zero. O mundo já sofreu o suficiente. Chegou a hora dele recalibrar o pesadelo global que suas políticas criaram.
Peter Hoekstra foi embaixador dos EUA na Holanda durante a Administração Trump. Ele serviu 18 anos na Câmara dos Representantes dos EUA representando o segundo distrito de Michigan e atuou como presidente e alto funcionário da Comissão de Inteligência da Câmara. Atualmente, é presidente do Conselho de Assessores do Centro de Políticas de Segurança e Ilustre Colaborador Sênior do Gatestone Institute.