Peter Daszak estava incumbido de defender o regime de Pequim, papagaiando a conversa fiada de que o SARS-CoV-2 se originou em outro lugar e que de alguma forma chegou à China. Foto: Daszak acena para a mídia do interior do hotel Wuhan Hilton Optics Valley em Wuhan, China em 6 de fevereiro de 2021. (Foto: Hector Retamal/AFP via Getty Images) |
Peter Daszak é, em muitos aspectos, um representativo personagem mundial que lida com a prevenção de doenças. Como presidente da EcoHealth Alliance, Daszak gastou milhões de dólares em subsídios do National Institutes of Health nos últimos anos. O foco nº1 da organização é a prevenção de surtos de doenças emergentes, como os coronavírus. Ele estava envolvido até o pescoço com o Instituto de Virologia de Wuhan (WIV) visto que a sua organização havia financiado a pesquisa que o laboratório estava fazendo do coronavírus em morcegos quando o surto do COVID-19 explodiu no final de 2019.
Ainda no início da pandemia, em 18 de abril de 2020, Daszak enviou um e-mail ao Dr. Anthony Fauci agradecendo seu posicionamento de descartar a ideia de que o COVID-19 poderia ter se originado em laboratório, "em nome da nossa equipe e de nossos colaboradores". Em vista dos conhecimentos que temos hoje, essa possibilidade ainda está sendo investigada. O presidente Joe Biden ordenou que as agências de inteligência dos Estados Unidos fossem a fundo para averiguar as origens do COVID-19 e informá-lo dentro de três meses.
No dia seguinte Fauci respondeu ao e-mail de Daszak, agradecendo-o pelo seu "atencioso e-mail". Pela manhã naquele mesmo dia, Fauci foi questionado abertamente durante uma entrevista coletiva à imprensa com respeito àquela real possibilidade. Ele respondeu que a evidência científica "é totalmente consistente com a transmissibilidade de uma espécie de um animal para o ser humano". Esta troca de e-mails encontra-se em mais de 3.200 páginas de e-mails de Fauci que o site BuzzFeed obteve por meio de uma solicitação com base na Lei de Liberdade de Informação, recentemente postada na Internet.
Daszak é amigo do peito do Instituto de Virologia de Wuhan e do governo comunista chinês que o administra há anos. Seu papel na tentativa de desacreditar a teoria do vazamento do laboratório tem sido alvo de um minucioso olhar em meio a uma importante guinada na atenção da mídia em direção à teoria do vazamento, tendo como pano de fundo as revelações sobre os laços do próprio Daszak com o Instituto.
Logo no início da pandemia, Daszak estava por trás da elaboração de uma carta aberta, assinada por vários cientistas, rejeitando categoricamente a ideia de que um acidente de laboratório no WIV poderia ter liberado o vírus na cidade de Wuhan. Daszak não revelou seu conflito de interesses ao assinar a carta, que iria receber uma cobertura significativa da imprensa alardeando a espuriedade da teoria do vazamento de laboratório.
As boas novas de tudo isso é que ao fim e ao cabo Daszak se declarou impedido de fazer parte de uma comissão sobre o COVID-19 criada pela revista médica The Lancet depois que seus conflitos de interesse em relação ao WIV vieram à tona. A má notícia é que, até então, Daszak estava incumbido de defender o regime de Pequim, papagaiando a conversa fiada de que o SARS-CoV-2 se originou em outro lugar e que de alguma forma chegou à China. "Havia um vírus da Tailândia parecido com o SARS-CoV-2 e também no Japão e no Camboja. A EcoHealth Alliance já está começando o trabalho de rastrear suas origens", sustentou ele na mídia estatal chinesa no início do corrente ano.
Pior do que isso ainda é que Daszak foi o único representante dos Estados Unidos apontado para um painel de 10 pessoas convocado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório do painel, divulgado em fevereiro, foi rechaçado até pelo governo Biden como sendo superficial e pouco convincente. O relatório da equipe conjunta da OMS-China explicou contundentemente como a pandemia começou com base em pouquíssimas evidências. Além disso, as autoridades chinesas não cooperaram integralmente com a investigação.
Quanto à confiança da população, no entanto, a pior é que só tomamos conhecimento do conflito de interesses envolvendo Daszak por causa da solicitação da FOIA do arquivo de e-mails de Anthony Fauci. Isso significa que ninguém na OMS, ao que tudo indica, se tocou que os flagrantes laços financeiros de Daszak com o Instituto de Virologia de Wuhan, que ele havia financiado com US$600 mil para realizar pesquisas sobre coronavírus em morcegos, poderiam ser impeditivo para que ele participasse de um exame minucioso dos procedimentos, registro de informações, rotinas de anticontaminação e outras práticas.
Daszak salientou a um repórter em abril que "não há conflitos de interesse" em trabalhar em defesa da WIV e de Shi Zhengli, sua principal pesquisadora de coronavírus em morcegos.
Richard H. Ebright, professor de biologia química da Rutgers University, que vira e mexe é citado em reportagens da mídia como especialista em coronavírus e saúde pública, salientou em abril que "seria difícil imaginar uma mentira mais deslavada" do que a de que Daszak não tem conflito de interesses em relação ao WIV.
Lamentavelmente, não há nada de novo em descobrir evidências da influência nociva da China nas organizações internacionais de saúde pública. A própria OMS foi duramente criticada pela Administração Trump por passar a mão na cabeça da China na esteira do surto e por seu viés pró-China.
Em nosso trabalho investigativo publicado até o presente momento, nós do Government Accountability Institute temos nos focado nos Peters Daszaks da vida ao redor do mundo e, não são poucos. São as feras nos diferentes segmentos de mercado e de profissões. Eles são seduzidos pelo governo chinês por intermédio de inúmeros incentivos e acabam cumprindo as ordens deles. Mesmo os bem intencionados no setor de saúde pública não estão imunes às sutilezas e aos graduais extras que os chineses têm para fazer uso da liberdade proporcionada pelo Ocidente em seu próprio benefício. O problema é generalizado e a extensão irá chocar muitos americanos.
Peter Schweizer, presidente do Governmental Accountability Institute, é ilustre membro sênior do Gatestone Institute e autor dos best-sellers Profiles in Corruption, Secret Empires e Clinton Cash, entre outros.