Na Europa há um defensor solitário dos cristãos perseguidos: o Primeiro Ministro da Hungria Viktor Orbán, que a grande mídia adora atacar. Nenhum governo europeu investiu tanto dinheiro, relações públicas no âmbito internacional e o tempo gasto neste tópico. (Foto: Laszlo Balogh/Getty Images) |
"Há uma ininterrupta perseguição de cristãos. Por meses a fio nós bispos estamos gritando aos quatro ventos o que está acontecendo em Burkina Faso" salientou recentemente o Bispo Kjustin Kientega, "mas ninguém nos dá ouvidos." "Evidentemente", concluiu ele, "o Ocidente está mais preocupado em proteger seus próprios interesses".
Em uma série de tragédias transnacionais que vêm ocorrendo ultimamente, 14 cristãos foram assassinados em um ataque contra uma igreja em Burkina Faso, 11 em um ataque contra um ônibus no Quênia e sete num ataque do Boko Haram na República dos Camarões. Esses três ataques com mortos e feridos, todos na mesma semana, perpetrados por islamistas, dá uma ideia da intensidade e frequência da perseguição global contra os cristãos.
O Bispo Kientega reportava o seguinte caso: o Ocidente não dá ouvidos ao sofrimento deles. "Embora o governo belga tenha decidido enviar caças F-16s à Líbia em 2011 para proteger os civis ameaçados por Gaddafi, em 2014 não tomou nenhuma medida concreta para ajudar as minorias do Iraque", escreveu Le Vif.
"Hoje predomina o silêncio ensurdecedor nos espaços dos nossos parlamentos, bem como nas agremiações e nos círculos acadêmicos. Por que essa relutância que beira o total abandono de populações em perigo?"
Enquanto os cristãos da Síria e do Iraque sofriam com a violência de islamistas radicais em 2014, um grupo de parlamentares franceses urgiam a França a mostrar solidariedade com aqueles cristãos. Contudo, na frente do Palais Bourbon (Palácio Bourbon) em Paris, apareceram somente entre 200 e 300 manifestantes, entoando as palavras de ordem "Hoje o Oriente, amanhã o Ocidente". Líderes cristãos condenaram o governo britânico por não acudir os cristãos perseguidos. "Essa triste indiferença levanta a questão da nossa capacidade de acreditar em nossos valores humanistas", escreveu o jornalista francês Christian Makarian. Não é preciso ir muito longe para entender a indiferença da Europa em relação à sorte dos cristãos orientais; trata-se do eloquente resultado da inércia e da indiferença, um mal-estar que devora o velho continente. É uma traição cínica e o maior sinal do quão entorpecida se tornaram as democracias liberais.
Na Europa, no entanto, há um defensor solitário dos cristãos perseguidos: o Primeiro Ministro da Hungria Viktor Orbán, que a grande mídia adora alfinetar e atacar. Nenhum governo europeu investiu tanto dinheiro, relações públicas no âmbito internacional e o tempo gasto neste tópico. Escrevendo no Foreign Policy, Peter Feaver e Will Inboden explicam que a ajuda aos cristãos vem de "poucas organizações de ajuda humanitária como a Knights of Columbus e a Aid to the Church in Need, além do governo húngaro". Só a Knights of Columbus levantou US$2 milhões para a reconstrução da cidade iraquiana cristã de Karamlesh.
"Os que estamos ajudando agora poderão nos dar a maior ajuda para salvar a Europa," ressaltou Orbán recentemente na conferência internacional On Christian Persecution 2019, organizada por ele em Budapeste. "Estamos fornecendo aos cristãos perseguidos o que eles precisam: moradias, hospitais e escolas e recebemos em contrapartida o que a Europa mais precisa: a fé cristã, amor e perseverança". "A Europa está calada," enfatizou Orbán. "Uma força misteriosa cala a boca de políticos europeus e mutila suas mãos." Ele salientou que a questão da perseguição aos cristãos deveria apenas e tão somente ser considerada um problema de direitos humanos na Europa. Ele insistiu em dizer que os cristãos "não podem ser mencionados sozinhos, só juntamente com outros grupos que também sofrem de perseguição por conta da fé." A perseguição aos cristãos "está, portanto, inserida na família heterogênea de grupos religiosos sendo perseguidos".
De acordo com Tristan Azbej, Secretário de Estado da Hungria para a Ajuda de Cristãos Perseguidos, o governo de Orbán é o primeiro governo europeu a ter uma Secretaria de Estado especial "com uma única função: cuidar e monitorar a sorte e as condições das comunidades cristãs ao redor do mundo e se preciso for, fornecer ajuda."
"Até agora desembolsamos 36,5 milhões de dólares para fortalecer as comunidades cristãs, onde quer que elas estejam. Isso porque não queremos, segundo nossos princípios fundamentais, que os membros das comunidades cristãs deixem seus lares, o que queremos é capacitá-los a se fortalecerem e lá permanecerem. Nosso princípio é levar ajuda onde ela for necessária e não trazer problemas onde eles não existem, ainda pelo menos. Nesse contexto já reconstruímos casas para 1200 famílias cristãs no Iraque para que pudessem retornar. Estamos construindo escolas para os cristãos no Oriente Médio juntamente com a Igreja dos Caldeus e a Igreja Ortodoxa Síria. Nós cobrimos as despesas médicas dos hospitais cristãos, três deles na Síria; estamos nesse momento reconstruindo 33 igrejas cristãs no Líbano e também estamos executando um amplo programa de construção e desenvolvimento na planície de Nínive".
A liderança da Hungria está chamando a atenção de uma Europa apática sobre o sofrimento dos cristãos perseguidos. "Temos 245 milhões de motivos para estarmos aqui. Esse é o número de pessoas perseguidas diariamente por causa da sua fé cristã," salientou Azbej em 26 de novembro na abertura da Conferência Internacional sobre a Perseguição de Cristãos em Budapeste.
Inúmeros líderes cristãos estavam presentes, entre eles Sua Santidade Mor Ignatius Aphrem II, Patriarca Sírio-ortodoxo de Antioquia e de Todo o Oriente, o Arcebispo Católico Caldeu de Mossul Najeeb Michaeel e o Pastor Joseph Kassab, presidente da Comunidade Evangélica da Síria e do Líbano. Palestrantes católicos também estiveram presentes na conferência. Entre eles se encontravam o Cardeal Peter Erdo, Primaz da Hungria e Arcebispo de Budapeste e o Cardeal Gerhard Ludwig Mueller, ex-superintendente da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano.
O Primeiro Ministro Orbán também se encontrou com líderes cristãos da Nigéria. O Cardeal Malcolm Ranjith do Sri Lanka agradeceu à Hungria e a Orbán pelo apoio e gestos de solidariedade ao povo de Sri Lanka. "Segundo nossa estimativa mais de 90% dos cristãos já deixaram o Iraque e cerca de 50% dos cristãos da Síria também deixaram o país", ressaltou o Patriarca da Igreja Ortodoxa Síria Ignatius Aphrem II em Budapeste. O governo húngaro doou 1,9 milhão de euros para a reconstrução de casas de cristãos em Telskuf no Iraque.
O escritor francês Bernard-Henri Lévy voltou recentemente de uma viagem à Nigéria e retratou o ódio anticristão num longo ensaio no Paris Match: "corpos mutilados de mulheres. Uma menininha estrangulada com a corrente da sua cruz. Outra estraçalhada numa árvore na entrada da sua aldeia". Lévy descreve "a chamada às orações das mesquitas radicalizadas pela Irmandade Muçulmana que se multiplicam na mesma proporção que as igrejas são incendiadas". É por isso que a Hungria também providencia ajuda às comunidades cristãs da Nigéria. Mil cristãos foram assassinados na Nigéria somente neste ano.
A Hungria é o único país da Europa que não só organiza conferências internacionais relacionadas à perseguição de cristãos, como também direciona ajuda feita sob medida para os cristãos do Oriente Médio. O prograna Hungary Helps doa US$1,7 milhão em ajuda financeira a hospitais da Síria. Azbej assinalou que o governo húngaro "comanda programas de ajuda em cinco países do Oriente Médio e em dois países subsarianos" sendo que "um dos programas mais importantes é a reconstrução da cidade de Tel Askuf no norte do Iraque".
A Hungria também doou US$450 mil para a construção de uma nova escola em Erbil (região do Iraque habitada pelos curdos, onde muitos cristãos encontraram refúgio). O cardeal italiano Mario Zenari, enviado do Vaticano para a Síria por um período de dez anos, procurou ajuda do governo húngaro. Líderes cristãos ortodoxos também agradeceram Orbán pela ajuda. Organizações de ajuda humanitária dos Estados Unidos também assinaram acordos com a Hungria no tocante à perseguição de cristãos.
Há dois anos, quando Orbán inaugurou o primeiro Conselho Internacional sobre a Perseguição de Cristãos em Budapeste, ele urgiu a Europa a quebrar as "algemas da correção política" e se posicionar contra a perseguição de cristãos. Ninguém na Europa esperava que ele fosse falar sobre a defesa do "cristianismo". Além disso, o parlamento húngaro aprovou um decreto de iniciativa do governo para chamar a atenção aos ataques contra cristãos e considerá-los como genocídio.
O programa especial "Hungary Helps" foi montado para fornecer ajuda aos cristãos perseguidos da África e do Oriente Médio. "A ajuda deve ser dada onde há o problema em vez de trazer o problema para a Europa," salientou um porta-voz do programa que disse que a "Hungary Helps" desembolsou US$30 milhões em ajuda financeira nos dois últimos anos. Em solidariedade aos cristãos perseguidos, a Hungary Helps incluiu a letra árabe ن, que era pintada pelo ISIS nas residências de cristãos no norte do Iraque com o intuito de identificar os cristãos que haviam se convertido ao Islã, pago a taxa de proteção, fugido ou preferido a morte.
Os demais governos europeus se acovardaram ao extremo. A assim chamada "Europa humanitária" se mantém calada, exalando hipocrisia, frouxidão e cegueira. Os líderes europeus, em vez de ficarem constrangidos, deveriam fazer da condição dos cristãos que vivem sob o Islã o ponto de partida de suas conversações com os muçulmanos. Por que os governos do Reino Unido, França, Alemanha, Itália e outros, países estes muito mais ricos e maiores do que a Hungria, não fizeram o mesmo que a Hungria? Por que eles desligaram os microfones?
"A sorte dos cristãos orientais e de outras minorias é o prelúdio da sua própria sorte,"salientou recentemente o ex-primeiro-ministro francês François Fillon. Gostando ou não, para o "não liberal" Orbán já caiu a ficha. Para os liberais que o criticam, ainda não.
Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.