A Autoridade Nacional Palestina e seus aliados políticos na Cisjordânia lançaram uma campanha diplomática e midiática para obter apoio mundo afora para rejeitar o plano de paz no Oriente Médio a ser anunciado por Trump, também conhecido como o "Acordo do Século." Foto: Presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o Presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas em 3 de maio de 2017 em Washington, DC. (Imagem: Olivier Douliery-Pool/Getty Images) |
Ao que tudo indica, os palestinos estão se mobilizando em duas frentes no sentido de solapar o plano de paz do presidente dos EUA Donald Trump no Oriente Médio, também conhecido como o "Acordo do Século".
A Autoridade Nacional Palestina e seus aliados políticos na Cisjordânia lançaram uma campanha diplomática e midiática para obter apoio mundo afora para rejeitar o plano a ser anunciado por Trump. O Hamas, a Jihad Islâmica e demais grupos extremistas palestinos, por sua vez, já estão acenando que irão recorrer à violência como meio de solapar o "Acordo do Século".
Na semana passada, o Hamas exortou o Bahrein a não permitir que o "inimigo sionista macule suas terras" participando da conferência econômica.
De uns tempos para cá, os palestinos intensificaram os ataques ao plano de paz ainda não oficializado, particularmente depois que o governo dos EUA anunciou que revelará as cláusulas do aspecto econômico do "Acordo do Século" em uma conferência no Bahrein no final de junho. Os palestinos manifestaram forte oposição à conferência, salientando que a boicotarão, apesar de seu objetivo ser o de melhorar as condições de vida dos residentes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Em uma rara demonstração de convergência, a facção governista Fatah, do presidente Mahmoud Abbas e seus rivais Hamas e Jihad Islâmica estão afirmando que os palestinos não só boicotarão a conferência do Bahrein, mas que todos os países convidados também deveriam rejeitar o convite para participar da conferência.
Os palestinos estão concentrando seus esforços no sentido de persuadir os países árabes a boicotarem a conferência do Bahrein. Eles estão aterrorizados que os países árabes se rendam à pressão dos EUA e participem da conferência, fazendo com que, conforme sua leitura, sejam abandonados pelos seus irmãos árabes e fiquem isolados no cenário internacional.
Além do Bahrein, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos anunciaram que enviarão representantes à conferência sobre os aspectos econômicos do futuro plano de paz patrocinado pelos EUA. A Jordânia, Egito e Catar também deverão participar da conferência, apesar da feroz oposição palestina.
Na semana passada Abbas esteve no Catar e na Jordânia com o propósito de persuadir os dois países a se juntarem ao boicote palestino à conferência do Bahrein. O máximo que Abbas conseguiu tanto do Catar quanto da Jordânia foram as declarações lacônicas de praxe de apoio à causa e aos direitos dos palestinos. A esperança dos palestinos de que o Catar e a Jordânia endossassem publicamente o boicote palestino não se materializou.
Até a Arábia Saudita e o Bahrein, país que sediará a conferência, fizeram declarações manifestando apoio político total aos palestinos, ao mesmo tempo ignorando o pedido de boicote à conferência sobre os aspectos econômicos do futuro plano de paz. Os árabes sempre se destacaram em dar falso apoio aos palestinos, mas na realidade oferecem muito pouco de apoio concreto.
Ecoando o temor de serem abandonados pelos irmãos árabes, as autoridades palestinas estão agora apelando publicamente a esses países árabes para que boicotem a conferência sobre os aspectos econômicos do plano no Bahrein. Eles chegaram a avisar que a participação na conferência será considerada um ato de traição aos palestinos e árabes. Inúmeras facções palestinas incluindo a Fatah, deixaram claro que todo e qualquer árabe que comparecer à conferência econômica será considerado traidor.
Em outras palavras, os palestinos estão ameaçando diretamente os chefes de estado árabes a serem tachados de traidores por "conluiar" com o governo do presidente dos EUA Donald Trump e Israel para liquidar a causa e os direitos nacionais palestinos. A ameaça sem precedentes é um indício da crescente enrascada e sensação de isolamento dos palestinos, visto que os países árabes aparentam estar dando as costas a eles.
Ademais, a ameaça é um sinal do avolumamento das tensões entre a liderança palestina e os chefes de estado árabes, que ao que parece estão fartos da intransigência e da recusa palestina em se ajustar à nova realidade no Oriente Médio, particularmente a contínua interferência do Irã nos assuntos internos dos países árabes.
Os líderes da OLP que se reuniram nesta semana na cidade de Ramala na Cisjordânia, conclamaram os árabes a atenderem ao chamado palestino de boicotar a conferência do Bahrein. "O Comitê Executivo da OLP apela a todos os países árabes que concordaram em participar da conferência a reconsiderarem a decisão", salientaram os líderes da OLP em um comunicado. Eles também alertaram que nenhum país árabe tem autorização de falar ou negociar em nome dos palestinos na conferência nem em qualquer outro fórum internacional.
O secretário-geral da OLP, Saeb Erekat, também pediu aos países árabes que se comprometeram a participar da conferência do Bahrein a reavaliarem a decisão. "Convocamos os países que concordaram em participar da conferência do Bahrein a reavaliarem a decisão", ressaltou ele.
Elogiando vários empresários palestinos que anunciaram que recusaram os convites dos EUA para participarem da conferência, a Fatah de Abbas, realçou que não hesitará em "expor" qualquer um que ousar violar o boicote palestino ou pensar em "conspirar" contra a causa palestina. "Nossa paciência não irá durar para sempre, estamos acompanhando os esforços de algumas pessoas suspeitas de abrirem canais de diálogo com a administração dos EUA", advertiu a Fatah.
Na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, representantes do setor privado disseram que a mera participação na conferência do Bahrein já é uma "traição ao sangue dos mártires palestinos, ao sofrimento dos detentos e à dor dos feridos. "A causa palestina não está à venda".
À luz dessas ameaças, é difícil ver como algum empresário palestino que vive sob o governo da Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia e do Hamas na Faixa de Gaza se atreveria em dar o perigoso passo de participar de uma conferência liderada pelos EUA, visto que ela é condenada pelos líderes palestinos como "conspiração" para eliminar a causa e os direitos palestinos.
As ameaças palestinas são dirigidas não somente aos empresários palestinos mas também contra os países árabes e seus líderes. Por ora, pelo andar da carruagem, os árabes não estão nem aí para essas ameaças palestinas.
No entanto, enquanto Abbas e os membros do gabinete recorrem à pressão política para persuadir os árabes a boicotarem a conferência, outros grupos palestinos, como o Hamas e a Jihad Islâmica, parecem estar se preparando para uma resposta violenta ao "Acordo do Século" do Presidente Trump. Nos últimos dias, os grupos sediados em Gaza emitiram vários comunicados sinalizando que recorreriam a quaisquer meios disponíveis, incluindo o terrorismo, para frustrar o plano de paz dos EUA.
O secretário-geral da Jihad Islâmica Ziad al-Nakhalah ressaltou na semana passada que a "resistência palestina tem número suficiente de 'coringas' para minar o Acordo do Século". Embora não desse nenhuma informação a respeito desses 'coringas', al-Nakhalah estava, ao que tudo indica, se referindo à possibilidade de que a Jihad Islâmica apoiada pelo Irã recorreria à violência.
A Jihad Islâmica e o Hamas dizem que estão agora cooperando com o Hisbolá, grupo terrorista proxy do Irã no Líbano, para minar a conferência do Bahrein e o "Acordo do Século" de Trump. Na semana passada, o chefe do Hisbolá, Hassan Nasrallah, manifestou forte oposição ao "Acordo do Século" arrancando elogios do Hamas, Jihad Islâmica e até da Autoridade Nacional Palestina.
Esta é a mensagem que os palestinos estão enviando ao mundo árabe: "boicotem o governo dos EUA senão incitaremos os árabes e os muçulmanos contra vocês". O mais preocupante para os líderes árabes talvez sejam as ameaças dos fantoches do Irã: Hamas, Jihad Islâmica e Hisbolá. Agora resta saber se os chefes dos estados árabes serão dissuadidos por essas ameaças ou se irão ignorá-las, correndo o risco de se tornarem alvos dos terroristas palestinos.
Indubitavelmente, os palestinos que estão boicotando uma conferência, cujo objetivo é ajudá-los a irem além da devastação econômica imposta pela liderança, acabarão sendo os grandes perdedores nesse cruel cenário de ódio. Dessa vez, no entanto, parece que os palestinos não só se privarão de bilhões de dólares, como também causarão danos, talvez irreversíveis às relações com influentes países árabes. Sem a menor sombra de dúvida, parece que os palestinos estão caminhando para outra "nakba" (catástrofe).
Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém, também é Shillman Journalism Fellow do Gatestone Institute.